Revisitando 2016

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O ano está chegando ao fim e eu aproveitei pra recapitular 2016 a partir de post que fiz no meu blog no UOL durante estes 365 dias.

Não vou tentar resumir tudo que aconteceu em 2016 num único post: vou me ater ao que foi assunto nos últimos doze meses aqui neste blog, que está prestes a completar dois anos aqui no UOL. Em vez de fazer uma relação de melhores discos, filmes ou séries, vou me ater a separar o que achei de melhor e de pior no ano que está chegando ao fim. Entre os piores momentos estão inevitavelmente algumas das mortes que ajudaram a temperar este ano tão complicado, mas que também trouxe grandes momentos para uma cultura em plena transformação. Separei um parágrafo do texto original de cada item escolhido e o título do item linka para o post específico, caso você não o tenha lido quando eu escrevi. De brinde, reuni os textos de 10 discos clássicos que comemoraram aniversário este ano. As três listas seguem o mesmo padrão de contagem regressiva.

Os 10 melhores de 2016

10) Rua Cloverfield, 10

Mary Elizabeth Winstead e John Goodman

Mary Elizabeth Winstead e John Goodman

“Rua Cloverfield, 10 é da escola de filmes de terror que flertam com o pop e experimentalismo cinematográfico ao mesmo tempo, como Psicose, O Despertar dos Mortos, O Massacre da Serra Elétrica, Bruxa de Blair, O Homem de Palha, o espanhol [REC] e A Morte do Demônio – embora não seja propriamente um filme de terror. Não é uma obra-prima com algum dos filmes que citei e chafurda na vulgaridade B da literatura pulp e dos seriados dos anos 60 que tanto encantam J.J. Abrams (sua conclusão é o melhor exemplo disso). Mas suas atuações convencem o espectador e a direção transcende o trivial teatro filmado, com closes fortes e ritmo crescente.”

9) Capitão América – Guerra Civil

De frente

De frente

“A Marvel vai mostrando a cara de sua nova fase. Não é necessariamente um universo mais sombrio e opressor como os sinais dados pelas séries em parceria com o Netflix davam a entender. O novo filme aproxima o universo Marvel da realidade, deixando-o menos infantilizado e mais adulto. Mas isso não quer dizer que o tom seja sério e que não há espaço para o humor – muito pelo contrário. O humor agora não é feito mais para rir e sim para aliviar as cenas de tensão e de ação, dividindo a audiência do filme entre a apreensão calada e a comemoração sorridente. Cenas como a do Visão falando sobre comida, a do Homem Formiga conhecendo os outros heróis ou as piadinhas do Gavião Arqueiro ajudam a quebrar o gelo ao mesmo tempo em que mostram uma outra forma de encarar os super-heróis. Mas nada pode nos preparar para o Homem-Aranha.”

8) House of Cards

F.U.

F.U.

“Em seus dois últimos episódios, a quarta temporada de House of Cards abandona qualquer resquício de fraqueza que havia mostrado nos episódios anteriores e ressurge grandiosa, operática, bélica. O drama shakespereano dá lugar a um mosaico político que faz Maquiavel e Sun Tzu sentarem-se em um xadrez brutalmente tenso, impassível entre bombas, metafóricas ou literais. E o gesto final de Underwood trava a temporada num impasse moral que desnuda completamente o jogo político e pode fazer a próxima temporada ser a última da série (embora ninguém tenha confirmado isso). O fato da temporada começar com uma cena de masturbação em uma cela na cadeia e terminar com um assassinato e uma cena de tortura psicológica coletiva diz muito sobre o tom da temporada.”

7) Novos Baianos e Wilco (empatados)

Imagem: Manuela Scapra /Brazil News

Imagem: Manuela Scapra /Brazil News

“Era claro que a noite era voltada para 1972 e os grandes momentos foram os daquele disco. E se Paulinho brilhou nas delicadas “Mistério do Planeta” e “Swing de Campo Grande”, Baby e Pepeu se reencontravam como um casal musical nos solos rasgados de “A Menina Dança” e “Tinindo Trincando”, como fizeram em seu emocionante reencontro no Rock in Rio do ano passado. O único senão era a voz de Moraes Moreira, que não possui aquele antigo doce timbre e em alguns momentos soa sofrível, chegando quase a estragar “Preta Pretinha”. Felizmente, num dos principais momentos da noite, ele canta num tom abaixo e sua volta por um instante a sintonizar com seu timbre do passado – e a faixa que batiza o álbum clássico foi um dos momentos mais tocantes de toda a noite.”

Imagem: Flávio Florido/UOL

Imagem: Flávio Florido/UOL

“Ao lado de Jeff (Tweedy), o guitarrista Nels Cline é o franco-atirador da banda, que eleva o título de guitar hero a um nível de pós-doutorado. Cline sozinho é um show à parte e seus solos traçam uma conexão clara entre Tom Verlaine e Neil Young, ampliando horizontes a cada nota sangrada no palco. O guitarrista Pat Sansone – outro guitar hero – é uma espécie de arma secreta do grupo, revezando-se entre teclados, guitarra, banjo e vocais de apoio. O pulso firme do baterista Glenn Kotche certifica-se que está tudo sob controle enquanto o tecladista Mikael Jorgensen prepara a atmosfera necessária para cada canção. Isso sem contar o desfile de guitarras (são 70 instrumentos de cordas, entre guitarras, baixos e violões), um deleite para os fãs do instrumento, e o apreço pelo detalhe – se eles quisessem que ouvíssemos o som de uma agulha caindo no palco ouviríamos. O som, outro ponto alto desta pequena turnê, estava tão cristalino quanto no Rio.”

6) Dr. Estranho

Benedict Cumberbatch

Benedict Cumberbatch

“É o filme mais maduro da Marvel até agora e, coincidentemente, sua produção mais psicodélica. Toda aura mística e espiritual do médico que sofre um acidente que o impossibilita de continuar seu trabalho era traduzida em imagens grandiosas e espetaculares nos quadrinhos, publicados principalmente na virada dos anos 60 para os anos 70, auge da experimentação lisérgica da cultura pop. Os autores da Marvel do período – especificamente Steve Dikto, que recebe o crédito de autoria do personagem do novo filme – aproveitavam cores e formas para expandir os limites dos quadrinhos em páginas duplas épicas, cheias de detalhes.”

5) Stranger Things e Coquetel Molotov 2016 (empatados)

Onze e a turma

Onze e a turma

“E esse é o grande segredo da série – não é apenas uma coletânea de referências, é uma história bem contada. Não é uma história nova (qual história é propriamente nova?), mas Stranger Things não cai no erro de Vinyl de achar que basta ambientar bem um período e transformar arquétipos em personagens para que as coisas funcionem sozinhas. A motivação de todos os personagens é bem definida e seus atores estão muito à vontade nestes papéis, mesmos aqueles com menor envolvimento com a trama principal (o núcleo adolescente, por exemplo, mereceria uma série própria). Só o Brenner de Mathew Modine que é mal explorado e um personagem que pode ser tão profundo quanto o Walter Bishop de Fringe vira só um vilão do Scooby-Doo. Talvez tenham guardado seus segredos para uma segunda temporada, que parece inevitável.”

Jaloo (Foto: Beto FIgueiroa/Divulgação)

Jaloo (Foto: Beto FIgueiroa/Divulgação)

“Um quarto de século depois dos primeiros rascunhos do mangue beat, a décima terceira edição do festival pernambucano Coquetel Molotov foi a materialização daquela utopia imaginada no início dos anos 90, quando os primeiros agitadores culturais que criaram aquele movimento hoje histórico começaram a se conhecer. Eles imaginavam uma Recife conectada ao resto do estado, do país e do mundo sem fazer escalas pela ponte Rio-São Paulo, refletindo a atmosfera naturalmente moderna da capital pernambucana em uma conversa internacional e moderna, colocando artistas e público numa sintonia alheia às demandas ou exigências do mercado.”

4) Bowie – ★

A capa do último disco de David Bowie

A capa do último disco de David Bowie

“Todo o simbolismo e o hermetismo que Bowie havia colocado em seu vigésimo quinto álbum foi revelado com a notícia de sua morte na manhã da segunda-feira passada. Soubemos que Bowie já vinha se tratando em relação a um câncer por dezoito meses e que gravou o disco como um testamento para os fãs. Daí a ausência da capa. Eis a estrela negra – a própria morte. Encenada e transformada em arte.”

3) Rogue One

Felicity Jones

Felicity Jones

“É um filme de guerra, com cenas de batalhas espetaculares, mas também um filme sobre um universo em expansão: na primeira meia hora somos apresentados a paisagens e planetas novíssimos, que em breve serão habitados em filmes futuros. Mas também há doses pesadas de emoção – dá pra segurar o choro em pelo menos duas cenas – e a palavra de ordem é esperança. Esperança não apenas para o futuro da história nos filmes (afinal, ele antecede a primeira trilogia, iniciada em 1977), mas também para o rumo que a Lucasfilm está levando sua série. E prepare-se para a terceira parte do filme, que ela é de tirar o fôlego – em vários momentos.”

2) Westworld

Evan Rachel Wood

Evan Rachel Wood

“E a HBO conseguiu mais uma vez. Westworld vem superando todas as expectativas, episódio a episódio, e caminha para se tornar o grande evento da TV em 2016, fazendo a emissora recuperar-se do fiasco que foi a primeira temporada de Vinyl e a promissora mas fria The Night Of. Um enorme quebra-cabeças magistralmente montado em frente aos nossos olhos, intercalando a frieza de máquinas com o calor do velho oeste norte-americano, reinventando completamente uma premissa simples de um filme dos anos 70 para o século 21 e enfileirando monólogos magistrais, atuações impecáveis, cenas intensas, diálogos esclarecedores, teorias complexas e revelações sensacionais.”

1) Radiohead – A Moon Shaped Pool

A enigmática capa do disco mais recente do grupo inglês

A enigmática capa do disco mais recente do grupo inglês

“Mesmo que não seja seu último disco (torço que não seja), A Moon Shape Pool entra para a discografia da banda como seu disco mais maduro e mais apaixonado, mesmo que estas paixões venham corroídas. É um disco suave e tenso ao mesmo tempo, de sonoridade grandiosa recolhida em pequenos frascos de som. Por vezes soa folk, por outras árcade e o tempo todo nos conduz com o coração. Mais um disco perfeito produzido por uma banda que segue no auge há vinte anos.”

Os 10 piores de 2016

10) Esquadrão Suicida

Jai Courtney, Margot Robbie, Will Smith, Karen Fukuhara, Joel Kinnaman, Adewale Akinnuoye-Agbaje e Jay Hernandez

Jai Courtney, Margot Robbie, Will Smith, Karen Fukuhara, Joel Kinnaman, Adewale Akinnuoye-Agbaje e Jay Hernandez

“No fim, Esquadrão Suicida parece ser uma versão dos Guardiões da Galáxia vivida pelo Slipknot (nome, aliás, de um dos supervilões secundários). É intenso, é barulhento, faz rir e passar raiva como uma criança birrenta – porque no fundo, ele é só isso: um filme bobo. Tem bons momentos (nenhum deles com o Ben Affleck), mas não vale o preço do ingresso no cinema – nem no pay per view. Espera passar na TV, que é o lugar certo pra um filme desses – faz o tempo passar, dá pra ir no banheiro ou para a geladeira sem precisar apertar o pause ou dormir no meio sem culpa. Ou seja, é melhor que Batman vs. Superman.”

9) Vinyl

Bobby Cannavale

Bobby Cannavale

“Usar uma gravadora como ponto de observação daquela década parecia tão apetitoso quanto assistir às transformações da década anterior a partir de uma agência de publicidade (a premissa da excelente Mad Men). O problema é que, pra começar, Vinyl usava isso apenas como pano de fundo. Misturava biografias e mitologias diferentes em uma narrativa que parecia sofrer dos principais problemas da década. Só quem se beneficiava era a trilha sonora e a direção de arte (que também sofria do exagero da década). Todo o resto era humilhantemente constrangedor.”

8) O fim da tira Chiclete com Banana

Última tira Chiclete com Banana, publicada no dia 8 de maio de 2016, na Folha de S. Paulo

Última tira Chiclete com Banana, publicada no dia 8 de maio de 2016, na Folha de S. Paulo

“Desligar Chiclete com Banana é uma forma de manter-se vivo. Se continuasse, Angeli poderia ficar ainda mais existencialista e a acidez do passado iria dissolver-se num eterno amargor que começaria a lhe fazer mal. A nos fazer mal. Mal, com letra maiúscula. Felizmente, ele percebeu a tempo de fechar o ciclo. E, com o fim de um ciclo, começa outro – será que agora vamos ver graphic novels ou telas imensas feitas por um sujeito que começou desenhando nas páginas de jornal? Grandes artistas passam por grandes mudanças, algumas vezes sem ter a consciência disso, e conseguem se superar mudando completamente o ritmo do próprio trabalho – Picasso, Rothko, Chuck Close, Lichtenstein, Crumb. Talvez o fim de Chiclete com Banana dê início a uma nova fase para Angeli. Estou na torcida.”

7) Batman vs. Superman

Lixo

Lixo

“Não perca seu tempo nem seu dinheiro vendo este filme. Não recomendo nem que você espere passar na TV aberta para assisti-lo dublado. Porque é um dos piores filmes deste século, tranquilamente. Mas eu sei, você é fã de quadrinhos e fã de filmes de super-herói e vai pagar pra assistir a esse filme no cinema, mesmo com todos os pés atrás possíveis. A gente precisa ver pra ter certeza que não estragaram essa mitologia que crescemos vendo, afinal gastaram tanto dinheiro com isso, né? Não pode ser tão ruim. Pois pode. Pode e é. É o cúmulo do lixo filmado, tudo que está errado em Hollywood atualmente, mais um filme de ação hiperbólico rodando em falso. Mas não mata o gênero super-herói nos cinemas, especialmente se a Warner tirar Zack Snyder da jogada.”

6) A morte de George Michael

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“Mais uma vítima deste trágico 2016, George Michael, que morreu no dia de Natal, aparentemente parece não pertencer ao mesmo panteão dourado que reuniu David Bowie, Prince e Leonard Cohen com o passar do ano. Mas, sim, o jovem de parcos 53 anos é um ícone de semelhante estatura. O que talvez tenha a ver com a natureza de sua musicalidade – compositor refinado e popular ao mesmo tempo (características quase excludentes hoje em dia), ele exaltou as culturas dance e gay e ele elevou a música pop a outro patamar.”

5) A morte de Leonard Cohen

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“Não há, no entanto, tristeza, nem lamento, nem arrependimento, nem dor. Velho desde jovem, Cohen morre tão enfático, decidido e sutil quanto em seus primeiros discos, uma alma quase fantasmagórica que agora vive para sempre em uma curta (14 discos em quase meio século) mas profunda obra. Por isso não chore. Não ceda às emoções. Não entregue-se ao pessimismo. A morte de Leonard Cohen era tão certa quanto foi seu nascimento. Não sofra por um futuro sem ele, iríamos viver isso. Aproveite este último capítulo para celebrar sua existência e comemorar a sua própria maturidade.”

4) A morte de George Martin

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“O barateamento das tecnologias de gravação, o surgimento do hip hop e da música eletrônica e a excelência dos atuais programas digitais de edição de som permitiu que as gerações de produtores seguintes se inspirassem no legado de Martin com os Beatles e fossem além. Hoje há pelo menos três gerações de músicos que não tocam instrumentos musicais e sim outros músicos – um espectro gigantesco que abrange Brian Eno, Dr. Dre, Teo Macero e Lee Perry, que ainda inclui multiinstrumentistas como Prince e Brian Wilson – que deve sua existência ao casamento pioneiro entre os Beatles e George Martin. São dois legados diferentes que se misturam, mas igualmente importante para a cultura atual: o do grupo e o do produtor.”

3) A morte de Carrie Fisher

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“Não era mais uma donzela em pânico esperando ser salva por seu herói, mas ela mesma era uma heroína e fazia parte da gangue. E em Carrie Fisher a personagem cresceu significamente – ao ser interpretada por uma atriz nascida no showbusiness (filha do cantor Eddie Fisher e da atriz Debbie Reynolds), a personagem ganhava uma dose de cinismo, arrogância e despeito que nunca estiveram em uma personagem mulher num filme que atingira um público tão grande. Ela era herdeira direta das protagonistas dos filmes da nouvelle vague francesa: Luke, Leia e Han Solo pareciam ser uma versão norte-americana do trio protagonista do Jules e Jim de Truffaut e uma frase do próprio Godard (“Tudo que você precisa em um filme é de uma garota com uma arma”) é a base para sua presença na tela durante os três primeiros filmes da saga Skywalker. E, claro, assistir as transformações sociais do mundo nos anos 60 ainda criança fez que ela levasse aqueles valores para um personagem que iria mudar a forma como as mulheres se viam fora do cinema.”

2) A morte de Prince

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“Era uma versão masculina da Madonna que tocava todos os instrumentos que queria aprender, um George Clinton que pilotava uma espaçonave sexual, inventor de um funk sintético recheado de soul music e coberto pela estética do rock. Ele ajudou a soul music e a discoteca a se transformarem no R&B moderno ao acompanhar a evolução apontada pelo hip hop tocando instrumentos em vez de discos. Um explorador sônico que usava timbres eletrônicos como desculpa para desbravar ambientes musicais improváveis – e grudentos.”

1) A morte de David Bowie

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“Bowie transformou a sensação de estranhamento que todos nós sentimos – em maior ou menos escala – em grande arte. Estranhamento em relação ao mundo, à sociedade, à vida, a si mesmo. Contemporâneo da geração de ouro da história do rock (era cinco anos mais novo que Paul McCartney, dois anos mais novo que Pete Townshend e Eric Clapton), ele chegou tarde nos anos 60 para garantir presença no panteão que mudou a história da cultura ocidental. Mas não sem motivo. Ao lançar a própria carreira no final da década do rock clássico, ele a sincronizou com um momento único na história da humanidade e fez-se notar pela primeira vez lançando uma música sobre a solidão no espaço sideral e o olhar frio e distante sobre o planeta, a Terra, o mundo, nós mesmos.”

Dez discos clássicos que fizeram aniversário em 2016

10) 25 anos de Bandwagonesque

bandwagonesque

“Sem pretensões mercadológicas, planos de negócios, shows em estádios ou discos de diamante, o Teenage Fanclub conseguiu sintetizar a essência da canção pop em um disco ousado por sua despretensão e marcante por sua simplicidade. Doce e direto, Bandwagonesque sobrevive não apenas como um registro do início do fim da era da canção ou como souvenir nostálgico daquele período, mas como um disco de música pop deveria soar, por definição. Essencialmente humano.”

9) 40 anos do primeiro disco dos Ramones

ramones

“A essência dos Ramones era sua unidade: tudo soava como uma coisa só. Não importavam os instrumentos, baixo, guitarra e bateria seguiam o mesmo ritmo. Os temas das músicas menos ainda – podiam estar cantando sobre nazismo ou sobre dançar, o tom era sempre o mesmo. As músicas pareciam as mesmas e duravam dois minutos cada. Os músicos pareciam o mesmo e seguiam mal encarados independentemente da reação da plateia. O baixista gritava “1-2-3-4″ e as músicas começavam com a mesma grosseria que terminavam. Os Ramones eram repetitivos, monótonos, barulhentos, ameaçadores – essa era sua magia. Aos ouvidos do século 21 os Ramones soam quase inofensivos, mas no meio dos anos 70 era o patinho feio, uma mancha grosseira na bela paisagem do rock de então. Foram eles que plantaram a semente que mudou tudo.”

8) 25 anos de Nevermind

Nevermind

“Foi aí que a ficha caiu: a brecha havia rompido o muro. A partir dali a indústria fonográfica e as rádios começaram a perder o controle (mesmo transformando a geração do Nirvana em uma cena comercial, tal como o proverbial bebê engolindo a isca da capa do disco) e as pessoas começaram a conhecer mais músicas. A partir de Nevermind, a brecha, que era um segredo, tornou-se pública e o mundo descobriu o submundo do pop quando ele já era adulto. O Nirvana era só o caçula daquele novo mercado que começaria a transformar completamente a cara do pop a partir dos anos 90. Quando o computador chegou pra facilitar a gravação de discos em casa e a internet chegou para facilitar distribuí-los, toda aquela safra de novos artistas que alimentaria aquele novo sistema já estava pronta. E a música nunca mais seria a mesma.”

7) 25 anos de Loveless

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“Por toda sua extensão Loveless é um sonho tocado no último volume. O estranho assobio produzido pela forma de tocar guitarra de seu líder Kevin Shields é apenas um dos elementos únicos que definem a banda, como a onipresente parede elétrica de microfonia anestesiada, os doces vocais que sussurram no abismo, o acúmulo de instrumentos, a presença quase sutil de uma bateria montada na pós-produção, em loop eletrônico, o efeito entortado que o uso da alavanca de tremolo dá aos acordes secos e multiplicados, as eventuais ondas de ruído que parecem funcionar como abóbodas de catedrais.”

6) 25 anos de BloodSugarSexMagik

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“Todas as faixas daquele novo disco duplo de quase 75 minutos repensavam o delírio adolescente e fazia a banda confrontar os dilemas da vida adulta – principalmente de natureza espiritual e sentimental. Faixas como “Breaking the Girl” e “I Could Have Lied” mostravam um Red Hot Chili Peppers gravando baladas pela primeira vez e um poema de Kiedis encontrado amassado no chão por Rick Rubin foi transformado em um dos grandes carros-chefe da banda, a balada anti-heroína “Under the Bridge”.”

5) 25 anos de Screamadelica

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“”Este é um dia lindo… Um novo dia…”, bradava o reverendo sobre uma base borbulhante, “Nós estamos juntos… Nós estamos unidos… E todos de acordo… Porque quando estamos juntos temos força… E podemos tomar decisões… No programa de hoje ouviremos gospel e rhythm & blues e jazz. São apenas rótulos. Sabemos que música é música”, formalizando Screamadelica como um novo artefato pop: um disco de protesto para dançar e viajar, sintetizado neste discurso sampleado. Uma lição que não tem idade – seja em 1956, 1967, 1972, 1978, 1991, 2016 ou em qualquer outra época – afinal, se Jesse Jackson nos lembra que tudo é música, a própria psicodelia e o Primal Scream, também nos lembram que o tempo não existe.”

4) 30 anos de The Queen is Dead

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“Foi assim que os Smiths abriram um caminho alternativo para o rock, quase trinta anos após sua criação nos anos 50. No momento em que o aspecto guerreiro e trovador do formato se transformava em caricatura ou em algo pior – um mero produto -, o grupo inglês reanimou aquela formação musical para que ela pudesse persistir por mais algumas décadas, apontando para valores considerados secundários no gênero, como a sensibilidade, a timidez, a revolta interior. Um legado imensurável.”

3) 50 anos de Pet Sounds

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“Mesmo que o disco tenha azedado sua relação com seu primo Mike Love, causando o principal cisma na história do grupo, ele é o ápice da carreira de Brian Wilson e dos Beach Boys. A provocação foi entendida pelos Beatles do outro lado do Atlântico, quando Paul McCartney – nascido apenas dois dias antees que Brian – ouviu o disco com a mesma sensação que Brian ouvira Rubber Soul, provocando-o a ser ainda mais ousado com os Beatles, o que lhe fez criar o conceito do disco Sgt. Pepper’s Lonely Heart Club Band, lançado em 1967. Foi apenas um entre os vários artistas influenciados por um disco que foi crucial na transformação que aconteceu nos anos 60 e até hoje faz novos fãs – e que, sem exagero, mudou a cara do pop, que teve no álbum a certeza de que era possível ser mais artístico, autoral e comercial ao mesmo tempo.”

2) 50 anos de Blonde on Blonde

blonde

“São músicas que estão entre as grandes músicas daquele período, independentemente do gênero musical, e, em sua maioria, clássicos do século passado. Da jocosa “Rainy Day Women #12 & 35″ – que abre o disco como uma banda marcial chapada, com Dylan repetindo o trocadilho raso “everybody must get stoned” às gargalhadas, em que brincava com o duplo sentido da palavra “stoned” (apedrejado ou chapado) – à pesarosa “Sad Eyed Lady of the Lowlands”, que ocupa todo o último lado do segundo disco, somos apresentados a um desfile tão impressionante de músicas boas que parece inacreditável que pertençam a um mesmo disco: “Pledging My Time”, “Visions of Johanna”, “One of Us Must Know (Sooner or Later)”, “I Want You”, “Stuck Inside of Mobile with the Memphis Blues Again”, “Leopard-Skin Pill-Box Hat”, “Just Like a Woman”, “Most Likely You Go Your Way and I’ll Go Mine”, “Temporary Like Achilles”, “Absolutely Sweet Marie”, “4th Time Around” e “Obviously 5 Believers” estão todas entre as melhores canções de Dylan e em todas ele consegue equilibrar a autoridade e altivez da arte com a força e crueza do rock.”

1) 50 anos de Revolver

revolver

“A experimentações iam para todos os lados. Solos de guitarra invertidos, canções gravadas em uma velocidade e tornadas mais lentas no estúdio, instrumentos eruditos e estrangeiros, colagens e efeitos sonoros, metais, percussão, microfones colocados em lugares inusitados, cordas inspiradas nos filmes de Truffaut e Hitchcock, letras sobre drogas, morte, sonhos, impostos e um submarino amarelo. Sonatas perfeitas, saudações à vida, composições inspiradas pelos Beach Boys, por Bob Dylan e LSD, romances críveis, palavras de ordem, sentimentos expostos e uma viagem à Índia. Três músicas de George Harrison e uma cantada por Ringo, um conjunto de músicas que não estão entre os grandes hits da banda mas que moram no coração de qualquer fã do grupo.”

E assim despeço-me deste ano que, apesar de tudo, teve seus momentos. O blog volta à ativa no dia 9 de janeiro (ou se acontecer algo urgente, a qualquer momento). Obrigado pela companhia e feliz 2017!

Vida Fodona #549: George Michael (1963-2016)

vf549

“All we have to do now…”

George Michael (1963-2016)

george-michael

Escrevi lá no meu blog no UOL o meu tributo a um dos principais artistas pop da virada do século.

Mais uma vítima deste trágico 2016, George Michael, que morreu ontem, no dia de Natal, aparentemente parece não pertencer ao mesmo panteão dourado que reuniu David Bowie, Prince e Leonard Cohen com o passar do ano. Mas, sim, o jovem de parcos 53 anos é um ícone de semelhante estatura. O que talvez tenha a ver com a natureza de sua musicalidade – compositor refinado e popular ao mesmo tempo (características quase excludentes hoje em dia), ele exaltou as culturas dance e gay e ele elevou a música pop a outro patamar.

George Michael era Pop com “P” maiúsculo – “P” de popular. Músicas reconhecíveis por diferentes gerações, refrões que todos nós sabemos cantar, um buquê de hits que poucos conseguem equiparar. Mesmo com a fugaz dupla Wham!, com quem lançou apenas dois discos ao lado de Andrew Ridgely no meio dos anos 80, já havia deixado sua marca, enfileirando músicas que estão no tecido musical dos anos 80, como a irresistível “Wake Me Up Before You Go-Go”, “Everything She Wants”, a primeira versão de “Freedom”, “Last Christmas” e a imortal “Careless Whisper”, que, por um capricho de algum executivo de gravadora, foi relançada como música solo (abrindo com o clássico solo que, na versão original, entrava só pela metade). Mas a versão original da balada que George Michael compôs aos 17 anos havia sido registrada ainda na dupla que o apresentou ao planeta.

Sua carreira solo, no entanto, não deixa dúvidas. Um rosário de hits que embalou a virada dos anos 80 para os anos 90 com finesse e personalidade, levando para as massas conceitos que, se lançados por outros artistas, talvez não tivessem o impacto que tiveram. “Freedom 90”, “Faith”, “Heal the Pain”, suas versões para “Killer”, “Papa Was a Rolling Stone” e “As”, “Too Funky”, “I Want Your Sex” – é música para não deixar ninguém parado. A imagem que criou para si mesmo – um galã sofisticado que não tinha pudor em descer até o chão – foi o principal veículo para suas canções, mas elas, por si só, eram pérolas que poderiam ter sido escritas por Elton John e Freddie Mercury, dois dos maiores ídolos de George Michael, sem precisar se ater à fórmula ou à estética do rock.

Essa é uma de suas grandes contribuições para a nossa cultura: um compositor vigoroso e requintado que abandonava as amarras do rock em busca de uma nova musicalidade. Ele a encontrou na pista de dança e foi um dos grandes nomes – ao lado de outros titãs dos anos 80, como Michael Jackson, Prince e Madonna – a reinventar a dance music como uma das principais linguagens na transformação musical que aconteceu durante os anos 90. Se esta cultura não é mais vista como subproduto pop ou como uma cena descartável, é inegável a importância de George Michael nesta transição.

Isso sem contar seu papel como baladeiro – e não estou falando de noitadas e sim de grandes composições quase em sua maioria compostas ao piano. Compositor escolado na tradição da canção do século passado, escreveu baladas que, sozinhas, já garantiriam seu status ao lado de nomes como Irving Berlin, Hoagy Carmichael & Stuart Gorrell, Stephen Sondheim, Billy Joel, Leonard Bernstein, Carole King, Elton John e Paul McCartney. “Father Figure”, “One More Try”, “Jesus to a Child”, “Older”, “Kissing a Fool” – música para embalar corações apaixonados ou despedaçados.

E há, claro, toda a questão ligada à sua sexualidade. George Michael passou grande parte de sua carreira escondendo sua orientação sexual, que era clara para seus fãs e detratores – o ícone tornou-se inclusive sinônimo derrogativo para os gays. Não é exagero dizer que ele foi tão – ou mais – importante para seus pares que Madonna. Enquanto a cantora norte-americana abraçava a cultura gay como ponta de uma transformação social que finalmente saía do armário nos anos 90, George preferia colocar-se acima desta discussão, talvez por considerá-la irrelevante para sua carreira. Mas seus fãs sabiam que não era e o abraçaram desta forma, mesmo que ele não quisesse transformar-se em uma bandeira deste movimento.

Talvez tenha sido melhor assim. Deixando sua vida pessoal fora, ele reforçou a importância de sua grande musa – a música. E, com tantos hits e canções grudadas em nosso inconsciente coletivo, talvez ele possa ser resumido na versão que fez em 1990 para o quase-hit “Freedom”, catapultando-a para uma das músicas mais emblemáticas de nossa era. Uma música que foi lançada sem a presença do cantor no videoclipe, contrariando todas as exigências do mercado de entretenimento da época. Saindo de cena, ele deixava a música brilhar sozinha. E a letra, que traduzo

I won’t let you down
I will not give you up
Gotta have some faith in the sound
It’s the one good thing that I’ve got
I won’t let you down
So please don’t give me up
Because I would really, really love to stick around

Heaven knows I was just a young boy
Didn’t know what I wanted to be
I was every little hungry schoolgirl’s pride and joy
And I guess it was enough for me
To win the race, a prettier face
Brand new clothes and a big fat place
On your rock and roll TV
But today the way I play the game is not the same, no way
Think I’m gonna get me some happy

I think there’s something you should know
I think it’s time I told you so
There’s something deep inside of me
There’s someone else I’ve got to be
Take back your picture in a frame
Take back your singing in the rain
I just hope you understand
Sometimes the clothes do not make the man

All we have to do now
Is take these lies and make them true somehow
All we have to see
Is that I don’t belong to you
And you don’t belong to me
Freedom
I won’t let you down, freedom
I will not give you up, freedom
Gotta have some faith in the sound
You got to give what you take
It’s the one good thing that I’ve got, freedom
I won’t let you down, freedom
So please don’t give me up, freedom
Cause I would really, really love to stick around

Heaven knows we sure had some fun boy
What a kick just a buddy and me
We had every big-shot goodtime band on the run boy
We were living in a fantasy
We won the race, got out of the place
Went back home got a brand new face for the boys on MTV
But today the way I play the game has got to change oh yeah
Now I’m gonna get myself happy

I think there’s something you should know
I think it’s time I stopped the show
There’s something deep inside of me
There’s someone I forgot to be
Take back your picture in a frame
Take back your singing in the rain
I just hope you understand
Sometimes the clothes do not make the man

Well it looks like the road to heaven
But it feels like the road to hell
When I knew which side my bread was buttered
I took the knife as well
Posing for another picture
Everybody’s got to sell
But when you shake your ass
They notice fast
And some mistakes were build to last
That’s what you get
I say that’s what you get
That’s what you get for changing your mind
And after all this time
I just hope you understand
Sometimes the clothes do not make the man

I’ll hold on to my freedom
May not be what you want from me
Just the way it’s got to be
Lose the face now
I’ve got to live

Valeu por tudo George Michael. Descanse em paz.

Vida Fodona #345: Direto de Florianópolis

I’m outta here…

Earth Wind & Fire – “September”
Cyndi Lauper – “Girls Just Wanna Have Fun”
Flight Facilities + Giselle – “Crave You”
George Michael – “Faith (Aeroplane Remix)”
Metronomy – “The Bay (Clock Opera Remix)”
Joelho de Porco – “Debaixo das Palmeiras”
Ariel Pink’s Haunted Grafitti – “Pink Slime”
Lucas Santtana – “Vamos Andar Pela Cidade”
Blur – “End of a Century”
Dr. John – “Revolution”
Letuce – “Chess Trip”
Poolside – “Kiss You Forever”
Bob Marley – “Could You Be Loved?”
Lovelock – “Maybe Tonight”
Pink Floyd – “Let There Be More Light”

Come with me.

George Michael x Aeroplane

Que maravilha esse up que o Aeroplane deu no clássico hit do George Michael. Não que precisasse, mas funciona que é uma beleza…


George Michael – “Faith (Aeroplane Remix) (MP3)

Vida Fodona #294: Começo o programa que nem a semana – devagar

Aê, o frio tá indo embora!

Giancarlo Ruffato – “Meu Terrorismo”
Taylor Swift – “White Blank Page”
Neon Indian – “Polish Girl”
Chromeo – “When the Night Falls (Breakbot Remix)”
Glitch Mob – “Drive It Like You Stole It”
Lana Del Rey – “Video Games”
Work Drugs – “Rolling in the Deep”
Holy Ghost! – “Some Children”
George Michael – “Faith (Aeroplane Remix)”
Calvin Harris – “So Close (Benny Benassi Remix)”
Mimosa – “Psychedelic Stereo”
Flight Facilities + Giselle – “Crave You”
Bo$$ in Drama – “Pure Gold”
Toro Y Moi – “How I Know”
Miles Fisher – “New Romance”

Agora sim!

George Michael assassina New Order

Rapaz, que parada triste…

“Careless Whispers” em qualquer lugar

Porque “sexy” é questão de ponto de vista.

4:20

On the Run 51: Avalanches – After the Goldrush

Vamo começar a semana espantando esse frio – pelo menos do cérebro. Enquanto vou escolhendo as músicas pro Vida Fodona de hoje, chovem mixtapes. Vamos começar por essa obra-prima dos Avalanches, que eram do tempo em que se chamava mashup de bootleg ou bastard pop e que a preservação dos direitos autorais do século 20 ainda era motivo de preocupação para os novíssimos players do século 21 (lembro dos caras comemorando o fato da Madonna ter permitido usar o baixo – infelizmente não a música toda – de “Into the Groove” “Holiday” em sua estreia em disco, Since I Left You, o melhor disco de 2001 e, com certeza, um dos pilares da década atual. Mas desde este primeiro disco, o grupo australiano de DJs não lançou mais nada oficialmente, nos deixando nas mãos de heróicos “piratas” digitais que nos trazem tesouros como esse After the Goldrush – um DJ set do ano passado que eu só vi passando por aqui agora… Dava pra falar horas sobre essa seqüência de músicas (especialmente pra enfatizar o fato de um dos melhores “lançamentos” de 2009 ser uma mixtape do ano passado, haha), mas espere os caras engatarem Queen, “Sandwiches”, Daft Punk e Hall & Oates enfileirados – ou deixa eles transformarem uma pérola esquecida dos Beach Boys com um hit dos Chemical Brothers. Nota 10.

Avalanches – After the Goldrush

Bob Dylan – “Why Do You Treat Me Like You Do?”
Beach Boys – “Matchpoint Of Our Love”
Chemical Brothers – “Star Guitar”
KLF – “3 Am Eternal”
Basement Jaxx – “Light Your Lighter”
Artist Unknown – “Shady”
Q Tip – “Breathe And Stop”
Aldo Bender- “Acid Enlightenment”
Thomas Bangalter – “Turbo”
Phoenix – “If I Ever Feel Better (Todd Edwards “Dub Better” remix)”
Mr Oizo – “M Seq”
Felix Da Housecat – “Strobe”
DJ Funk – “Booty Perc-U-Later”
BS 2000 – “Nobody Beats BS 2000”
DJ Funk – “Every Freakin Day”
Aphex Twin – “Afx237 v7”
Shimon & Andy C – “Bodyrock”
Avalanches – “Frontier Psychiatrist”
Bubba Sparxx – “Ugly”
Bobby Digital – “Must Be Bobby”
DJ Zinc – “138 Trek”
Dr Dre – “Forgot About Dre”
Chemical Brothers – “It Began In Afrika”
Underworld – “Rez” /”Cowgirl”
Guns N Roses – “Welcome To The Jungle”
Thomas Bangalter – “Colossus”
Mc5 – “Tonite”
Missy Elliot – “Get Yr Freak On”
George Michael – “Faith”
Destiny’s Child – “Jumpin Jumpin”
Foundation Players – “Fireball”
Eminem – “The Real Slim Shady”
Xpress 2 – “Smoke Machine”
Missy Elliot – “One Minute Man”
J Walk – “Soul Vibration”
Princess Superstar – “Wet Wet Wet”
Queen – “I Want To Break Free”
Detroit Grand Pubahs – “Sandwiches”
Daft Punk – “Oh Yeah”
Hall And Oates – “I Cant Go For That (No Can Do)”
Aphex Twin – “Windowlicker”
Beach Boys – “Johnny Carson”