Marina Santa Helena + Predador x Alien 2

Quantos nichos… Marina hoje é da MTV, mas, na real, é cria da internet. Namorada do Ian (ao fundo na foto), um dos pais do Epic Shit, ao lado do Louback, que tirou e me enviou a foto. Fora que ela não está vestindo a camiseta. Ou será que a camiseta é parte de um viral do lançamento do filme no Brasil? A foto é posada? Foi feita para virar uma t-girl de propósito? A modelo sabe que a foto foi divulgada? E o namorado da modelo? Dúvidas, dúvidas…

E assim me despeço deste jogo, por enquanto. O Trabalho Sujo entra de férias a partir desta sexta e só retomo os trabalhos em outubro. Fica a critério dos outros jogadores me esperar ou continuar o jogo sem minhas cartas, levando em contas as férias. Prefiro a segunda opção, para o jogo não depender de mim.

Quatro na merda


Fotos: Pedro Jansen, com celofane no flash, na noite de criação do Epic Shit

Cansados de resenhar discos, livros e filmes, Pedro Jansen, Renmero, Gabriel Louback e Ian Black resolveram resenhar suas próprias vidas, levando o conceito de coletivo (que repudiam) para o nível umbilical e a linguagem blog para o âmbito do portal, no site Epic Shit – que não é uma revista e nem um blog muito menos manifesto de um novo movimento cultural. Conversei com os caras na semana passada para entender que diabo eles querem com essa merda épica.

Como começou isso? Quem começou?
Renmnero:
Começou em uma sexta dessas qualquer. Estávamos na casa do Ian falando sobre como seria massa trabalhar na BBC e esse tipo de coisa quando ele propôs que a gente começasse a registrar nossas vidas de uma forma diferente. Utilizando fotos e textos nossos. Uma tentativa de resgistrar a awesomeness inerente ao dia a dia – e que a maioria das pessoas ignora ou não sabe reconhecer. Eu já estava afim de fazer algo desse tipo há tempos e embarquei logo de cara.
Ian: A idéia do site vinha se formando há bastante tempo, através de conversas sobre as mais diversas coisas: games, UFC, torrent, quadrinhos, séries, filmes, animes, trabalho, internets, drogas, textos, vídeos, putarias, viagens e música. Certo dia comentei com o Jansen da vontade de fazer alguma coisa, ele ligou o Louback, eu liguei o Renmero, e marcamos de falar qualquer coisa em casa. Nesse dia estávamos viajando sobre o que seria o grande plano da BBC: documentar todo o mundo em HD – eles são dos poucos que disponibilizam coisas em 1080p no YouTube -, e nesse papo surgiu a idéia de documentar, do nosso jeito, o que sentimos sobre o momento em que vivemos, esta grande época. Daí surgiu a idéia disso acontecer em forma de um site. Definimos algumas coisas que gostaríamos de escrever, tinhamos um layout sobrando que serviu muito bem aos nossos propósitos – principalmente para a decisão de usarmos apenas fotos nossas para ilustrar os textos. Montamos uma lista de discussão, que acredito ter sido uma boa, pois através delas ficávamos falando do site, mas também servia para compartilharmos várias informações e opiniões. E o site foi saindo… e saiu.
Louback: O Ian e o Renmero são meio viciados na BBC e no trampo dos caras, conceitualmente. Eles têm catalogado o que acontece com a sociedade, deixando um registro de uma época, uma geração e um momento histórico no curso da humanidade – e tudo em HD, ainda por cima, os desgraçados. Para mim, começou quando os dois chamaram eu e Jansen para produzirmos conteúdo sobre nossa época, sobre o que vivemos, sentimos e experimentamos. se sabemos escrever, então escreveríamos. se sabemos fotografar – ainda que amadoramente -, então fotografaríamos. eu já vinha pensando muito sobre isso e não teve jeito de não cair de cabeça. abraçamos o caos na hora 🙂
Jansen: O que o Renmo e o Lou mandaram define muito bem o que a gente foi pensando nessa primeira “reunião”, em que a nossa intenção era conversar com gente parecida conosco, esse povo que tem mais de vinte e poucos anos, curte música, curte games, curte mulher, curte cinema, curte literatura, curte contracultura, curte umas “coisas diferentes”- UFC, skate depois de velho, deus, tatuagem do Megaman. Fora que, como já te vi falando muito, Matias: “que época pra se viver, hein?” são muitas as coisas que acontecem ao redor da gente e que não só chamam a atenção como marcam pra sempre essa experiência que a gente tá tendo por aqui = sampa, sp, brasil, mundo, vida?. Pra mim, começou mesmo depois da minha volta de uma viagem à terrinha. chegando lá, topei minha infância, minha adolescência, amigos da vida inteira, os caras que jogavam Magic a tarde de sábado inteira e cuja maior transgressão era beber demais aqui e acolá e fumar uns cigarros, caras que são meus irmãos e pra quem eu queria contar como é o mundo que eu vejo – não pela diferença geográfica, mas pela diferença de experiências e nunca julgando um melhor que o outro, mas contando experiências. Aí minha ideia virou: vou contar as coisas da minha vida. tanto da vez em que trombei dois amigos de bicicleta atravessando a cidade pra ir catar uma fita de N64 do outro lado da cidade, acompanhá-los e voltar pra casa deles, na outra PONTA da cidade, até o bico que recebi de uma guria, falando sobre a banda que descobri e pelo jogo que me fascinou. Acho que uma palavra que puxa o Epic Shit é “registro”. E nosso público alvo é o Arnaldo Branco.

Então não é a reunião da produção digital de vocês, mas só um recorte. É uma revista? Vocês seguem com seus blogs originais?
Jansen:
Não sei se chamaríamos de revista, porque pressupõe edições, temas… Eu sigo com meu blog original porque muito do que eu escrevo la – receitas, declarações de amor pra minha mulher… – não “cabe” no Epic Shit. Porque no meu blog original, e “pessoal”, falo sem esperar que ninguém me ouça. No Epic Shit escrevo não esperando que alguém me ouça, mas definitivamente querendo falar com alguém.
Louback: Acaba sendo um recorte mais macro, no meu caso. No meu blog, por exemplo, acabo escrevendo mais contos e crônicas. Sentia falta de publicar uma reportagem, ou histórias de pessoas. E também não sei se chamaria de revista, já que é um registro – boa opção de palavra, jansen – geral. Não tem uma temática, pautas, ou assuntos definidos. Pode ter uma crônica, um artigo, uma série de reportagens, ensaio fotográfico, um ato de uma peça ou 6 dicas para viver com sua mulher. Como disse o Jansen, nosso público alvo é o Arnaldo Branco 🙂
Renmero: Não sei se é uma revista. Na realidade nem pensamos muito em definições desse tipo. Apenas concordamos que se queríamos fazer algo, tinha que ser bem feito e direto do coração, com mandou certa vez Bill Hicks. O suporte tinha que agregar fotos, vídeos e textos com harmonia. Encerrei meu blog faz um mês e estava planejando ficar sem escrever nada por um tempo, mas aí apareceu essa idéia e senti que era das coisas que eu tinha que fazer. Tinha até comentado com o Ian que sem querer voltamos a ser “blogueiros” por acidente, não era nossa intenção voltar a blogar ou coisa assim.
Ian: Ontem o Renmero comentou: “voltamos a ser blogueiros” ao que comentei “ex-blogueiros em atividade”. Meu blog está há meses sem atualização, e preferi criar em cima de um conceito que eu venho pensando desde a época do Interney Blogs, mas que só agora coloquei em prática: projetos de conteúdo com começo, meio e fim, como são os discos, as séries, os filmes… os nomes dos projetos já escancaram isso: 365 Evenings, 123 Cassettes… gosto dessa sensação de ter projetos, e não uma única coisa, institucional… Creio que o Epic Shit vai por esse caminho, mas sem um prazo de validade.

A gente nunca para pra pensar em tecnologia quando se fala em registro de comportamento e cultura (talvez até esteja falando-se pela primeira vez agora), mas não dá pra dissociar o fim do século 19 e começo do século 20 dos livros e a segunda metade do século 20 dos discos e o século 20 inteiro dos jornais, revistas e do cinema. Eu fico pirando nisso: faz sentido escrever um livro, gravar um disco ou publicar uma revista – e só – hoje em dia?
Renmero:
Não sei se é uma questão de fazer sentido. Para mim é mais de execução. Acredito que um disco sensacional consegue ser muito mais do que um simples disco, consegue atravessar barreiras entre mídias. Essa travessia constante faz parte do que somos agora, nossos escritores são consultores de tendências, analistas de conteúdo e arquitetos de informação. Viramos fãs deles por causa disso. Claro que houve o ponto inicial da obra, mas rapidamente entendemos muito mais sobre eles – até porque logo buscamos isso e ficamos desapontados se não encontramos. Aprendemos em minutos muito mais sobre nosso autores favoritos do que nossos pais conseguiriam juntar em uma vida. Muitos artistas foram crucificados pos defendiam que não importa o suporte, o que importa é sua expressão. Hoje nós já sacamos isso e aceitamos de bom grado qualquer coisa que ele produzir. De uma forma bizarra estamos mais humanos.
Jansen: Essa é uma coisa curiosa de responder porque tem umas semanas, eu “falava” disso com o Lou: vamos ver o jornalismo morrer como conhecemos hoje? vamos topar com um futuro – e aí tirando toda a ironia das projeções da ficção científica hoje serem mais “piada” que efetivamente resultado – em que as revistas serão lidas num esquema iPad e não comprando na banca? Meu receio era que, assim como em áreas voltadas pra tecnologia, surgisse uma geração de guris que manjassem muito mais dessa comunicação, senão unicamente digital, principalmente digital e que o consumo se direcionasse muito a isso e quem soubesse só escrever, sem pensar em aplicativos, interatividade e outras viagens estaria fudido e mal pago. Lou retrocou sabiamente dizendo que pessoas que sabem escrever – guardando a modéstia um tiquinho só pra não perder o argumento – sempre serão necessárias. podemos não ser os profissionais que comandarão a (r)evolução desse futuro em que o jornalismo é feito de um jeito diferente que o da “nossa época”, mas certamente estaremos enchendo o saco e derrubando umas árvores pra publicar umas coisas. É como ouvir a gravação do Knitting Factory do Jeff Buckley falando em “internet providers”. 92. Internet providers. 2010. Um disco, um livro, uma revista. Faz sentido? Sim, não, sei lá. Tô com essa coisa matutando tem um tempo, esse lance do “sei lá”, nossa geração é dona de falar issso. “E aí, está preocupado?” “sei lá”. “Como vão as coisas, tudo bem em casa?” “sei lá, tá estranho”. Uma indefinição que permeia muitos dos caminhos que a gente percorre todos os dias. E aí, nesse sentido, acho que faz sentido sim. porque a gente constrói o sentido que quer. E pra o Epic Shit, o sentido é o de registro, de deixar uma “marca”. ainda que seja um site.
Ian: Também me pego pirando nessas, mas acho que pouca gente sacou isso. Quando os blogs surgiram, e até antes disso, se pegarmos os caras do Cardosonline, era a tecnologia te permitindo desenvolver os meios, não só de produção como de veiculação… Os meios clássicos do século passado ainda servem como validação, como a oficialização de muita coisa, mas há quem prescinda disso. Eu sinto falta de uma maior exploração da convergência desses meios, tipo neguinho que é músico desenvolver um trabalho, e ao invés dele lançá-lo como disco, fazer todo um site que possa se resolver melhor que qualquer encarte – num mundo em que encarte é praticamente inexistente. Sempre vi banda no final do século passado e no começo deste reclamando de espaço, mas agora que há espaço vejo pouca gente aproveitando-o adequadamente.
Renmero: Engraçado que meio que o trabalho de nós quatro na essência é ajudar pessoas a aproveitar esses espaços, não? tipo o que vamos fazer com os caras da Hierofante Púrpura, em que gravaremos um show instrumental deles na Praça do Por do Sol ainda esse mês e colocaremos no Epic Shit, que pareceu uma coisa tão óbvia tanto para a banda quanto para nós e que não tinha sido feito.

E como fugir da manjada idéia de coletivo? Ou é um coletivo?
Renmero:
Gah, odeio essa palavra. Mas é simples fugir desse estigma: é só não tentar muito, no sentido de trying too hard. Coletivos geralmente são caracterizados por discursos, manifestos e coisas do tipo. Não temos nada disso e nem pretendemos ter. Tanto que tu vês um jogando pro outro a responsabilidade de ter parido o site. Não é nossa intenção sermos reconhecidos como artistas nem levantar bandeira alguma. Estamos apenas fazendo algo que nos pareceu bom de fazer.
Jansen: Exatamente.
Ian: Endosso.
Louback: O insight de “não importa onde esteja o conteúdo, sempre será necessário quem o produza” é o Clovis Rossi. Ouvi uma entrevista dele, sobre os caminhos do jornalismo e perguntaram se ele temia que esse modelo terminasse. “Medo tem que ter as famílias Frias, Mesquita e Marinho. eles são os proprietários, eles precisam ter medo pelo modelo de negócio. Eu só escrevo. Se quiserem um texto meu em um site, eu vou escrever. se quiserem para um jornal, idem.” E também tenho viajado muito nisso, Matias. O mais bonito da sua pergunta não é a resposta, mas a própria pergunta. O mais legal é que se fizer sentido lançar só aquilo, massa. É possível. Se não fizer sentido uma banda apenas lançar um disco e fazer show e utilizar as ferramentas para uma experiência coletiva – admirável mundo novo? -, então massa, porque é possível! A graça que vejo é nisso: é possível. A produção e publicação de conteúdo, seja ele qual for, é possível a qualquer um, de qualquer jeito. E complementando Jansen, tenho conversado com alguns próximos e é um sentimento que tenho visto ser comum. De parecer que a maioria da galera está em um grande “sei lá” com relação à vida, com relação a tudo. Não sei se entra em Semiótica, Psicologia ou sei lá (HA!), mas é interessante ver como tanta gente percebe isso.

Isso eh necessariamente baseado em internet ou tem algum desdobramento offline? Exemplo: o que é mais importante pra vocês, produzir o show da banda ou registrá-lo? Ou é tudo a mesma coisa?
Renmero:
Tudo a mesma coisa. Parto do princípio de que algumas coisas devem ser feitas. Esse show é algo que eu faria mesmo que fosse somente pra uma pessoa assistir. Vivemos fazendo coisas assim, que só interessam a nós e nos sastifazem. Compartilhar com outras pessoas sempre é bom, mas não é obrigatório, até porque certas coisas nem tem como. Considero o Epic Shit algo mais offline do que online. Nossas reuniões não raro duram um dia inteiro e fazemos altas merdas durante. Depois concordamos o que cada um irá fazer e publicamos. Digamos que o site é só a ponta do iceberg. O resto são nossas vidas.
Louback: Produzir o show, assisti-lo ou gravar/escrever sobre ele é tudo importante. A experiência tem sido o mais importante. É tão importante passar a tarde falando sobre as coisas que nos emocionam quanto chegar lá e escrever ou registrar. O registro acaba sendo mais de compartilhar mesmo. Se isso for para o offline – revista, rádio, show, balada, banda, música, o que for -, verei como um movimento natural.
Ian: A tagline do projeto, “abrace o caos”, tem bastante a ver com isso. Tudo o que estiver acontecendo é o principal.

E o quanto isso nao tem de “evasao de privacidade”?
Jansen:
Não saquei.

Falar demais sobre a propria vida, como se isso interessasse a alguem 😛
Jansen:
É como o Renmero falou bem: já convivemos com isso há uma cara e acho que o que mais protege a gente dessa coisa de se expor – sem nem pensar no interesse de alguém por isso – é que sempre miramos pra fora, nos tomamos como exemplos porque somos caras, que têm vidas, que têm minas, que têm trampos e daí… Um exemplo: no dia da reunião que pariu o Epic Shit, comentei com os guris que andava preferindo o bourbon ao scotch. Emendei que essa predileção passava longe de ser um reflexo do consumo constante de um e de outro e daí a predileção, mas que hoje, se páro pra comprar uma garrafa de uísque, levo um JD ou JB e não um Label qualquer. Não é pela coisa, não virou carne de vaca, é algo que ainda choro quando vejo o preço no super, Mas é algo que é uma experiência minha, ligado a certas histórias e apegos e isso com aquilo vira evasão de privacidade e relato de preferências. deve interessar a alguém. hehe
Louback: Do cacete, né? Murro no estômago, que a todo instante somos confrontados… Seja twiter, facebook ou nossos blogs. Tive certo receio disso também, mas a ideia – o esforço, na verdade -, é um registro do que nos permeia. No fim, claro que o assunto somos nós, nosso mundo. Tanto que uma das pirações minhas é: o que é importante escrever? Produzir um show – e registrá-lo – do Hierofante na Praça do Por do Sol, é importante para uma classe média, consumidora de Cultura, blablabla. Existe algo que seja relevante a todos? Um assunto inerente ao Homem?
Renmero: Jamais esquecer a história da arte: “look. look at me.”
Ian: Na reunião que decidimos pelo site, chegamos ao momento de perguntar qual seria o nosso público alvo: alguém mandou um “o Arnaldo Branco” – que acabou ficando no FAQ -, mas também concluímos que o melhor era não decidir por um público, e sim escrever o que desse na telha e esperar pra ver que tipo de gente vai se juntando ao redor. faz parte da experiência, do abraçar o caos…

“Abrace o caos” eh eufemismo pra “let it be”, hein.
Ian:
Faz bastante sentido. Pensei em “It’s the End of the World…” do R.E.M., mas Beatles tá mais apropriado.
Louback: Mas ó, vejo o Let it Be mais uma coisa de “deixe estar”, de passar incólume às vicissitudes dessa vida. Acho que é um caminho bacana também, de tentar contornar o furacão e trilhar um caminho mais “pacífico”. Ainda assim não conformado, mas não entrando no caos. O “abrace o caos” imagino o maluco tentando atravessar o furacão, pelo meio… de “encarar o infinito”.
Renmero: Na realidade eu acho que encaro essa expressão de uma forma diferente dos outros caras. No meu raciocínio, abraçar o caos é nada mais do que fazer o que tem que ser feito. Arcar com consequências e meter a cara. Nada aqui é pra fazer sentido mesmo, abraçar a incoerência de tudo é uma forma de se manter são. Abraçar o caos é nunca virar fã de Travis e dizer “why does it always rain on me” e tal.

O fim de Lost por Gabriel Louback

Texto de fã não é e nunca será imparcial. Dito isso, afirmo: fui e sou fã de Lost. Então serei exagerado na medida que me é possível, como fã, e na proporção que é esperada de alguém assim.
Lembro quando meu irmão chegou um dia e disse “Gá, você precisa ver esse seriado, sério. Muito bom!” Comecei a assistir do 3º episódio da 1ª temporada. Foi assim que conheci a AXN. A hora de Lost era sagrada em casa. Ninguém atendia telefone e se meu pai, coitado, chegasse em casa no meio do episódio, só ia receber um abraço quando aparecesse o robozinho vermelho do JJ Abrams.

No Twitter, comparei Lost ao Show de Truman, não o filme, mas o programa mesmo, dentro do filme. Velhinhas e suas almofadas estampadas com o rosto do Truman, o gordinho na banheira e as pessoas chorando e torcendo pelo Truman como se fosse um conhecido, um grande amigo. Minha comparação foi mais ingênua, dizendo que ao fim de Lost, viraríamos uns para os outros e diríamos: “Hum… o que mais está passando na TV?”

Ledo engano. Lost acabou de terminar pra mim e não quero ver, nunca mais, TV. Claro, é um exagero, mas eu disse que ele viria. A sensação, no momento, é de desamparo, como se eu fosse um órfão. E somos, eu e você, que era e é doente por Lost. É o fim de uma era. Quando comecei a assistir o seriado, morava com meus pais e cursava a faculdade. Hoje estou formado, saí de casa, casei e ontem estava tão ansioso para assistir ao último episódio como se tivesse começado a assistir à série na semana passada. Lost fez parte da minha vida.

A música tema, quase clássica, dessa temporada ainda está na cabeça e preciso me segurar para não chorar. Exagero? Dane-se. Decidi assistir sozinho ao The End, diferente do que foi o seriado inteiro, porque ninguém mais entenderia. Se eu choro com reportagem do Globo Esporte sobre a despedida do Juninho Paulista, que dirá no último episódio do meu seriado favorito.

É uma tristeza que tenha acabado, mas sei que não daria pra ser eterno e prolongar demais seria perigoso. Mas eu sou fã e não quero nem saber. Quero episódios especiais, extras, filme e o que mais for possível fazer. Aí eu lembro do final e os caras colocaram um ponto final. “Era isso que a gente tinha pra contar”.

Sei que nunca lerão isso, mas obrigado JJ Abrams, Damon Lindelof e Carlton Cuse, por terem feito uma das melhores coisas do início desse século. Toda a ‘indústria’ Lost foi algo nunca visto antes, com os ARGs, pistas espalhadas e tal. O que o seriado movimentou foi incrível, reconheço. Mas é o menos importante, para mim. Não escrevo como jornalista cultural, analisando um fenômeno.

O ‘universo’ Lost criado, os personagens e as histórias contadas são o que de mais rico ficam. Tiram sarro de mim pois choro em tudo, mas dessa vez foi diferente. No final, era como se eu estivesse vivendo aquilo com eles, sofrendo junto, rindo junto e, principalmente, chorando junto.

Lost e seu último episódio foram meu Show de Truman e eu sofri como o gordinho da banheira, entregue a um produto cultural televisionado para milhões de pessoas, mas achando que aquela história estava sendo contada só pra mim, sentados um de frente pro outro.

No final das contas, vocês nos fizeram acreditar que somos, cada um, John Locke, especial em si, sem motivo aparente, mas que só é assim porque também acredita ser assim. E, por isso, são uns desgraçados geniais, já que isso é só um seriado e a gente não consegue, nem pode, admitir isso.

***

Depois de ter escrito meu texto de fã, acima, no momento da emoção, vai mais um. Continua sendo de um fã, por isso é também uma explicação do porque considerar Lost tão bom e uma das melhores séries já feitas.

O entrevistador Jimmy Kimmel diz acreditar que a história de Lost não é sobre a ilha, é sobre as pessoas. Mais especificamente sobre Jack Shephard. “Eles não responderam todas as perguntas”, algumas pessoas dizem. 1) Se você considerar que o tema da série eram os personagens e não a ilha, eles responderam todas as perguntas. 2) É clichê, mas o que é mais importante: conhecer novas perguntas ou saber todas as respostas?

“Cada pergunta respondida leva a outra”, diz a mãe de Jacob e do irmão. Se assim fosse, o seriado seria eterno, do tamanho de uma vida. Porque a vida é assim. Quantas perguntas suas já foram respondidas, desde “Posso ir jogar bola lá fora?” pra sua mãe, até hoje? E quantas você ainda tem? A nossa vida vai acabar e ainda não teremos todas as respostas. Se com a gente é assim, porque em Lost não seria?

Sim, eles não responderam por que Jacob e o irmão eram daquele jeito. É verdade, não responderam uma porrada de coisa. Mas a ideia não era essa. “Lost” não é porque estavam perdidos e precisavam de uma bússola. É porque estavam perdidos em si e precisavam de novas perguntas, as perguntas certas. Lost foi “Queremos contar uma história. Conheçam essas pessoas, da onde partiram e onde chegaram.”

Contaram uma história que todos sonhamos, de sermos especiais, de termos um propósito nessa vida. Uma história que nos conduza a isso. Porém, as circunstâncias nos perguntam, como a ilha fez com Jack, Sawyer, Kate, e Locke, e cabe a nós darmos as respostas. Nem todos são especiais, mas todos escolhem não apenas desempenhar, mas escrever seus próprios papéis.

Se JJ Abrams, Damon Lindelof e Carlton Cuse conseguiram passar coisas assim por um seriado de TV norte-americano, não tem como dizer que devido a um último episódio sem todas as respostas o seriado perdeu valor. Pelo contrário. O último episódio foi que comprovou todo o valor que Lost teve ao longo desses anos. “Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos?” Cabe a você fazer as perguntas. Se elas serão respondidas, é outra história.

Namaste.

* Gabriel Louback escreveu estes textos em seu blog.