Impressão digital #126: O futuro do Facebook

Aproveitei o gancho do bilhão de cadastrados no Facebook na semana passada para falar um pouco sobre o futuro da rede social na minha coluna no Link de hoje

O primeiro bilhão do Facebook e o futuro das redes sociais
Acabou o encanto de retomar amizades

Nunca fui fã do Foursquare. Marcar presença nos lugares a que vou, para que todos vejam, me parece fútil e assustador ao mesmo tempo. Mas entendo quem usa. É prático para lembrar lugares onde você conheceu certa pessoa ou o dia de uma reunião apenas pelo histórico de check-ins. E os comentários dos usuários ajudam a escolher um restaurante próximo de onde você está.

Na semana passada, Luiz Horta, colunista de vinhos do caderno Paladar do Estado, comentou no Facebook uma outra utilidade do Foursquare: descobrir onde os chatos estão. É perfeito – antes de decidir a qual restaurante ou cinema ir, basta checar a rede social e ver se algum mala já deu as caras lá para saber onde não ir. Por dois microssegundos pensei em aderir apenas para isso. Mas logo em seguida, a vontade passou. Entrar em mais uma rede social?

O que nos traz de volta ao Facebook, que na semana passada estufou o peito para dizer que já tem 1 bilhão de usuários. O número parecia vir antes, mas essa contagem já era em conta-gotas. A marca dos 800 milhões foi atingida em setembro de 2011, enquanto a dos 900 milhões só veio em junho deste ano.

É um número impressionante e muito bem vendido. Certamente o Google conecta tanta gente há mais tempo, mas não soube faturar em cima. O bilhão do Facebook, porém, esconde uma desaceleração drástica no crescimento da rede social. No Brasil, a adoção foi tardia, beneficiando o Facebook por mais tempo. O País era considerado uma das últimas fronteiras do site. Rússia e China são as próximas. Zuckerberg não sepultou o Orkut de vez. Sua popularização por aqui desde 2010 ofuscou a rede social do Google. Mas, em 2012, a ascensão já é menos íngreme do que antes. O que nos acende duas perguntas: já passamos o ápice da grande era do Facebook? E qual a rede social tomará o seu lugar?

A primeira pergunta não pode ser respondida neste ano. O Facebook deve continuar a crescer, mas há uma diáspora lenta e gradual do condado virtual de Mark Zuckerberg e isso vem acompanhado de vários questionamentos: estamos nos expondo muito? Estamos perdendo muito tempo online? O Facebook é uma empresa confiável? Meus relacionamentos pessoais precisam ser expostos tão escancaradamente?

Já a segunda pergunta não é tão hermética, mas o presente já dá dicas de como será o futuro próximo. Eu não quero entrar no Foursquare. Eu adoro o Instagram. Tentei usar o Flickr e não me dei bem com ele. Nunca nem entrei no LinkedIn e acho interessante o funcionamento de rede social do YouTube. Cansei do Twitter (embora ainda o use) e estou familiarizado com o Facebook. Entrei em redes sociais das quais nem mais lembro a senha. Em outras palavras: não sei se existirá uma rede social para substituir o Facebook.

Vejo cada vez mais redes sociais de nicho, para reunir apenas alguns amigos sobre apenas um assunto. Acabou aquele momento de encantamento, aquela hora em que você se lembra de pessoas do passado e adiciona amigos com quem não falava há décadas. Boa parte desse encantamento é autoindulgente – adicionamos um amigo que nos faz lembrar de nós mesmos em uma determinada época de nossas vidas. É claro que há exceções e várias amizades são retomadas. Mas, de uma forma geral, vivemos um momento social em que finalmente lembramos por que esquecemos de certas pessoas de nosso passado – pois elas não tinham de serem lembradas mesmo.

O Facebook se perde ao se vender como uma máquina de publicidade. Tenho a impressão que até o fim do ano que vem estaremos nos conectando ao Facebook como se pudéssemos ver um canal de TV apenas com comerciais.

O futuro pertence a redes pequenas, que se conversam e se interligam, muitas vezes conectadas pelos logins de grandes players – Facebook, Twitter, Apple, Amazon, PayPal, Google, Microsoft. Isso, portanto, o que não quer dizer que esta nova década será menos centralizada e controladora.

A pergunta não é quem substituirá o Facebook, mas até quando ele será relevante para a maioria das pessoas.

Link – 3 de setembro de 2012

Além do game overVida digital: Phil Libin (Evernote)Novo iPhone novoImpressão digital (Alexandre Matias): A Gina Indelicada e os dilemas superficiais do novo séculoHomem-Objeto (Camilo Rocha): Entrevista com Reed Hastings (Netflix)No Arranque (Filipe Serrano): O efeito social ultrapassa os limites do FacebookA garota que mudou a escola pelo Facebook, o MIT no Brasil, lei apressada para crimes digitais e Obama25 anos de Street Fighter

Impressão digital #121: Gina Indelicada

Nesta edição do Link, escrevi sobre a tal Gina Indelicada

Gina Indelicada e os novos dilemas de um novo século
Menos direito autoral e originalidade e sim marketing pessoal

Os diálogos são curtos e aparecem no chat do Facebook. As conversas usam a informalidade típica da web, usando ‘q’, ‘vc’ e palavras sem acentuação. A imagem da pessoa é um avatar com um rosto conhecido. Identificada por Gina, ela é questionada por um usuário: “Gina, dá uma dica pras meninas q procuram um menino romantico, sensivel, atento, amoroso, bonito…” E responde: “Olha, a dica é que esse tipo de menino tbm está a procura de meninos”.

O rosto de Gina é o de uma loira de beleza publicitária clássica bastante conhecida por brasileiros ao adornar a caixa de palitos da marca que leva seu nome. Mas, online, virou a Gina Indelicada, uma página no Facebook disposta a responder perguntas com gracinhas e grosserias. Ela foi criada em 14 de agosto e na sexta-feira já se aproximava dos 2 milhões de fãs.

Seu criador, o mineiro Henrique Lopes – que assina Ricck Lopes –, de 19 anos, se tornou uma celebridade-relâmpago. Seu nome ganhou mais destaque depois de a fábrica de palitos da Gina original manifestar surpresa com o sucesso inusitado de sua garota-propaganda. Especulou-se a possibilidade de processo, mas logo a empresa disse que consideraria falar com o rapaz para pensar na estratégia digital da marca.

O contato entre uma empresa de 65 anos e um garoto de 19 logo foi notado. Ricck foi entrevistado tanto pela revista norte-americana Forbes em seu site quanto pelo humorista Danilo Gentilli no programa Agora é Tarde.

Ricck aparenta um bad boy dos anos 50, jeans, jaqueta, barba por fazer, topetão, e fala como um publicitário monótono. Diz mais de uma vez que Gina Indelicada é o resultado de pesquisas que faz na internet e que seu sucesso não é puro acaso. “Como estou no início da minha faculdade e, logicamente, da minha carreira, eu preciso ter cases (pronuncia-se “queises”) pra que isso me dê credibilidade”, disse ele a Gentilli, monocordicamente, como se estivesse recitando um texto decorado, numa fala sem graça e previsível.

A seu favor, Ricck tem outros “queises” no currículo: o perfil no Twitter @VouConfessarQue (onde se apresenta como “o segundo Twitter mais retuitado do mundo, perdendo só pro Justin”) e a página no Facebook Muito Tédio, que tem quase 800 mil fãs. O sucesso de Gina Indelicada é um passo natural nessa escalada.

Mas logo vieram críticas sobre a originalidade das piadas grosseiras de Gina No Facebook, a página Gina Kibadora Indelicada lista tweets de pessoas desconhecidas que escreveram as mesmas respostas atravessadas da personagem (a frase citada no início do texto é uma delas). “Kibar”, na internet, é copiar sem dar a autoria, e tem origem nas acusações contra as piadas de Antonio Tabet, do Kibe Loco, que assume piadas alheias com a marca de seu site.

Ricck se desculpou no Twitter usando a pior das justificativas. “Eu contratei uma pessoa e ela fez isso. A maioria sem eu saber. Eu cuidei da parte de criação e estratégia”, escreveu. A discussão sobre autoria e humor não é nova. Falamos do tema no Link em junho, na reportagem “Piada tem dono?”, da repórter Tatiana de Mello Dias. Mas, se a marca de palitos tivesse contratado os préstimos de Ricck, assumiria a derrapada?

Pois no fim das contas, a questão em relação a esse caso é menos de direito autoral e originalidade e mais sobre marketing pessoal e oportunidade de trabalho, podendo ser resumida num curto momento da entrevista de Ricck a Gentilli: “Depois cê dá as dicas pro meu Facebook?”, sugere Gentilli, 500 mil fãs em sua página oficial. “É nóis!”, responde Ricck, sorrindo.

Link – 20 de agosto de 2012

Canal Livre • Homem-Objeto (Camilo Rocha): Além da televisãoRedes sociais só para os íntimosGoogle Now: Ajudante intrometidoNo arranque (Filipe Serrano): Proteger empresa com ameaça vai contra princípio da internet • Andrew Keen e a rede desorientada • Eleição no mural • Impressão digital (Alexandre Matias): As eleições podem acelerar a desimportância do Facebook

Impressão digital #119: Eleições no Facebook

Já tinha tocado nesse assunto e voltei a insistir em como as eleições podem acelerar o cansaço em relação ao Facebook, no Brasil, na minha coluna desta edição do Link…

As eleições podem acelerar a desimportância do Facebook
Um ou dois temas monopolizam o feed

Alguns amigos e conhecidos meus abandonaram o Facebook. Cada um por um motivo diferente ou específico.

Não chega a ser uma onda como a de orkuticídios que começou quando a primeira rede social de sucesso no Brasil se popularizou demais (antecipando o termo “orkutização” que já abordei em colunas passadas). Mas são insatisfações diferentes que fazem muita gente deletar a própria conta ou abandoná-la.

Há quem não confie no fato de um único site centralizar tantas informações sobre tanta gente. Há quem se sinta incomodado com o incessante clima de oba-oba do site – curtições, fotos sorridentes, paisagens, viagens, festas. Há quem discorde das políticas de privacidade da rede social. Ou quem não goste do aplicativo do Feice para o celular. Ou quem cansou do humor nonsense ou das discussões intermináveis. Ou dos perfis falsos. Ou quem não quer manter toda sua vida em um único ambiente, permitindo que parentes, colegas de trabalho e amigos de infância se encontrem num mesmo lugar. Ou de gente que se aproveita do conforto da rede social para destilar ódio, inveja ou preconceitos de toda a ordem. Há quem também não goste de ser tratado como produto ou do excesso de publicidade na rede (que, na minha opinião, é o que vai acabar com o Facebook – não matando, mas o tornando desimportante).

Uma coisa é praticamente consenso inclusive entre os que resolvem continuar no Facebook: existe uma monótona rotina relacionada a um ou dois temas que acabam dominando o feed em uma rede de quase um bilhão de pessoas. Na semana passada, o Facebook anunciou que está às vésperas de atingir essa quantidade de usuários (foram 955 milhões em junho, segundo o instituto de pesquisa norte-americano Nielsen).

Você sabe. Basta entrar na rede social para ver um link que foi postado por dois ou três amigos. Dependendo do teor da notícia, é fácil prever que durante o resto do dia (e da semana), esse link será compartilhado por mais um tanto de outros usuários da rede. Tanto faz se é um vídeo, uma notícia, uma foto ou um tweet redirecionado.

O desdobramento desta primeira etapa são discussões intermináveis em que dois ou três usuários da rede – e amigos seus que, na maioria dos casos, só vão se cruzar porque são seus amigos – monopolizam o debate, deixando a discussão em segundo plano e partindo para ataques pessoais grotescos. Lá pelo trigésimo comentário o tema original da discussão já era. Assistimos a um ataque verborrágico de gente disposta a mudar o ponto de vista alheio a partir de uma discussão pela internet.

E nesta terça-feira começa o horário eleitoral em todo o Brasil e, com ele, efetivamente, as eleições de 2012. Isso significa que não bastasse ter de aturar todo o tipo de gente implorando por seus votos em cartazes, jingles, carros de som, faixas e pichações, ainda vamos ter o desprazer de ver amigos e conhecidos nossos – uns mais prezados que outros – transformando-se em cabos eleitorais amalucados, debatendo questões secundárias ou risíveis para justificar suas preferências políticas.

Idealmente, o Facebook seria uma arena perfeita para um debate político civilizado. Mas, se nem mesmo na televisão os principais candidatos conseguem manter a compostura, o que podemos esperar de eleitores que perdem as estribeiras para tentar aparecer ou convencer o outro de que seu ponto de vista é o melhor?

Por isso, vejo quatro opções desenrolando-se nos próximos meses. Na primeira, continua-se no Facebook e recebe-se uma enxurrada de santinhos digitais, todos eles lutando pela sua atenção, aos berros. Noutra, continua-se usando a rede, mas aprendendo a utilizar os recursos apresentados pela repórter Anna Carolina Papp na matéria nesta edição do Link – usando as ferramentas que a própria rede social oferece para conter a avalanche de opiniões alheias. Numa terceira, simplesmente deixa-se de usar o Facebook enquanto a eleição não termina. E na quarta, finalmente, abandona-se a rede social de vez.

Algo me diz que a última opção vai ser cada vez mais popular…

Impressão digital #0118: Consumidor x Cidadão

Na edição desta segunda do Link, falei sobre um dos principais dilemas do século digital.

A internet e a encruzilhada entre o consumidor e o cidadão
O mercado nos distrai de interesses reais

Duas matérias nesta edição do Link abordam assuntos aparentemente distintos: a matéria de capa, assinada por Tatiana de Mello Dias e Murilo Roncolato, fala dos problemas que usuários da telefonia móvel no Brasil têm com a péssima qualidade dos serviços das operadoras no País – que a revista inglesa Economist cogitou ser o equivalente do governo Dilma ao apagão elétrico do governo Fernando Henrique Cardoso. Outra matéria, do repórter norte-americano Farhad Manjoo, conta a assustadora história de como o repórter da revista Wired Mat Hanon, em quinze minutos, perdeu o controle sobre todas as suas contas digitais graças ao ataque de um hacker amador.

As duas situações parecem apenas descrições de problemas modernos, que não existiam há quinze anos. Mas, na verdade, são desdobramentos ágeis de uma tendência que atravessou todo o século 20 e foi reforçada nas últimas décadas até ganhar força e velocidade graças aos meios digitais: a lenta transformação do cidadão – e de seus direitos – em mero consumidor.

Isso é bem preocupante. Afinal, todos os direitos do cidadão, uma das principais provas da evolução da humanidade, são substituídos pelos direitos de quem tem dinheiro para pagar pelas coisas. Esta mercantilização da cidadania foi acelerada com o movimento que aconteceu logo depois da criação da World Wide Web, que completou 21 anos há uma semana. O engenheiro inglês Tim Berners-Lee criou o padrão que permitia acessar à internet (que existe desde os anos 60) sem a necessidade de digitar comandos ou de conhecer sites específicos, o que abriu espaço para o surgimento dos programas da navegação gráficos, primeiro com o Netscape e depois com o Internet Explorer. Foi a partir daí que a internet deixou de ser uma rede de contatos entre acadêmicos e entusiastas da tecnologia para ganhar o mundo.

E na metade dos anos 90, houve o primeiro salto de popularidade da rede, quando a maioria das pessoas descobriu que existia “um negócio chamado internet”. E, neste mesmo momento, empresas entraram online, ajudando a batizar essa primeira safra de “o início da internet comercial”.

A partir disso, a popularização da rede quase sempre esteve associada à criação de novas empresas ou como empresas que existiam antes deste momento souberam aproveitar-se desta nova realidade. E, como empresas fazem, entraram nessa para ganhar dinheiro. Até mesmo empresas que não cobram pela utilização de seus recursos – como o Google e o Facebook, por exemplo –, acabam cobrando outro tipo de moeda de seus consumidores: seus próprios dados pessoais. Ecoa na rede um novo ditado que é muito preciso: “Quando você não paga por nenhuma mercadoria, a mercadoria é você”.

Governos e instituições não-comerciais levaram mais tempo para entender a nova realidade e alguns ainda tateiam no escuro. Mas, como as empresas e a lógica comercial dominaram a internet nos seus primeiros dias de maior popularidade, questões de cidadania ficam em segundo plano em relação a questões de mercado.

(E antes que algum neoludita venha reclamar que isso “só poderia acontecer por causa dos computadores e da internet”, lembre-se que o sistema financeiro sabe muito mais sobre cada um de nós – e bancos estão aí há muito mais tempo.)

Por isso a atenção que damos, no Link, a temas como privacidade, à criação de novas leis, à forma como governos e empresas lidam com a inevitável inclusão digital, o futuro dos direitos autorais. Questões políticas que podem parecer tediosas e complicadas, ainda mais se comparadas a tweets engraçadinhos, computadores elegantes, smartphones encantadores, serviços online práticos e úteis.

Temas que podem não ter o apelo sedutor da internet comercial, mas que devem ser acompanhadas de perto, para que a política – e a noção de cidadania – não caia por terra de vez como já acontece na vida offline. Ninguém disse que iria ser fácil…

4:20

Impressão digital #113: Fadiga de Facebook

E na minha coluna no Link dessa semana foi sobre como o Google deve sobreviver ao Facebook.

Está cansado do Facebook? Espere só a eleição começar…
Google pode sobreviver à ascensão do ‘Feice’

Todos querem saber qual será o “próximo Facebook”. Ou pelo menos a rede social vai substituí-lo. Isso em menos de uma década após o Orkut ter aparecido no Brasil dando início a uma sucessão de novos serviços de relacionamento online que foram ganhando adeptos – e ultrapassando os anteriores – pouco depois de os primeiros usuários perguntarem-se “para que serve isso, afinal?”.

Orkut, MySpace, Twitter, Facebook, Tumblr. LinkedIn, Pinterest, Instagram. A lista continua para todos os lados, levando em conta a quantidade de redes sociais de nicho que não param de surgir. Mas a apreensão em relação ao substituto do Facebook não vem apenas a partir da substituição sazonal que já nos acostumamos em relação a este tipo de site. Pelo contrário – a expectativa de uma nova rede social está mais ligada a uma espécie de fadiga que cada vez mais as pessoas estão sentindo em relação à maior rede social do mundo.

Veja o que aconteceu na semana passada, por exemplo. Desde a segunda, à espera da final da Taça Libertadores, que aconteceria na quarta, a rede social foi tomada por uma polarização drástica – corintianos versus anticorintianos versus pessoas que “não supoooooortam ouvir falar em futebol”. Pior que isso é que estes grupos resolveram entupir suas próprias timelines com uma avalanche de imagens, mensagens e links relacionados à disputa. Eu, corintiano, não reclamei. Mas houve quem cogitasse seriamente sair do Facebook.

Isso fora as práticas nada agradáveis que a rede social sempre tenta esconder, como a mudança do e-mail pessoal exposto no perfil de cada um. O Facebook simplesmente sumiu com o e-mail que cada um de seus usuários dispôs para entrar na rede, trocando-o pelo próprio e-mail @facebook.com. É só mais uma na enorme lista de ações desagradáveis praticadas pela rede social.

Mas haverá mesmo uma rede social que suplantará o Facebook? Há quem ainda aposte na tal “camada social” que o Google criou para interligar todos seus produtos, o Google Plus. Mas como há uma oferta cada vez maior de redes sociais de nicho no mercado, não duvide que a presença do Facebook possa ser substituída por vários destes diferentes serviços, cada um deles voltado para uma atividade ou grupo de amigos.

O que nos leva à discussão sobre o tempo de validade do Facebook. Mesmo que continue crescendo, a rede social cada vez mais age como um player de publicidade, interligando seus milhões de cadastrados a empresas que queiram ter acesso a esta base de dados de usuários. Tudo bem que o Google também age como uma empresa de publicidade e que é daí que vem sua maior fonte de renda, mas ele não oferece apenas um ambiente digital de relacionamentos, mas uma série de recursos – mapas, e-mail, o YouTube, o sistema operacional Android, o navegador Chrome, entre muitos outros – que convergem rumo às palavras-chave que caracterizam seu modelo de negócios.

Já o Facebook apenas aprimora um formato já existente. A maior novidade oferecida pela rede ainda é especulação – depois do botão “Curtir”, eles estariam prontos para lançar o botão “Querer”. Mas este botão só facilita a vida dos possíveis parceiros do Facebook, e não oferecem novas formas de interação que vão além das já existentes.

O Google, por sua vez, segue expandindo seus tentáculos. Mostrou no mês passado um novo sistema operacional, um tablet e até seus óculos futuristas, que tiram fotos e filmam, além de enviarem dados por suas lentes. Tudo termina em publicidade, mas são atividades e produtos realmente novos.

A fadiga em relação ao Facebook, por outro lado, está só no começo. E para quem lamenta o cansaço a partir de um jogo de futebol, não esqueça que as eleições vêm aí. E que ela pode dar início a uma evasão em massa da rede social.

Por mais que permaneça atuante por muito tempo (o MySpace ainda existe, não custa lembrar), cogito que o Facebook deve aos poucos deixar de ser tão central em questão de um ano ou menos. Já o Google, por ampliar seu horizonte cada vez mais, deve seguir importante por mais tempo que isso.

Link – 9 de julho de 2012

• Tensão pré-AmazonVida Digital: CatarseOne Laptop per Child: Para educarHomem-Objeto (Camilo Rocha): Dois preços, duas medidas • Impressão digital (Alexandre Matias): Está cansado do Facebook? Espere só a eleição começar… • No Arranque (Filipe Serrano): Como o modelo da Netflix serve de exemplo para novos negócios • Pioneirismo digital • O fim do Acta, malware no iOS, princípios da internet, transparência no Twitter…

Impressão digital #110: Microsoft e Apple, de novo

Minha coluna na edição de segunda do Link foi como a Apple pós-Steve Jobs pode entrar em decadência por falta de inventividade e do futuro estranho da Microsoft…

A Apple pode virar a Microsoft. E a Microsft, pode virar o quê?
MS fará anúncio misterioso nesta segunda

Com o anúncio de uma série de melhorias em software e hardware feito na segunda-feira passada em São Francisco, Tim Cook praticamente encerrou o que Steve Jobs iniciou ao lançar o iPhone. Um plano que começou em 2007, com o evento que reinventou o conceito de smartphone (quando o iPhone foi mostrado pela primeira vez) e que culminou com a apresentação do iPad, há dois anos. Plano que envolvia a criação da economia dos aplicativos e a criação da App Store e que, de acordo com Jobs, terminaria com o lançamento da Apple TV. Com sua própria smartTV, seu smartphone e seu tablet, a Apple tornaria o computador tradicional obsoleto. Tanto que Jobs apresentou o iPad como o primeiro capítulo da “era pós-PC”.

A Apple TV e o novo iPhone devem ser os últimos componentes da fase final de Steve Jobs na empresa. O anúncio da segunda passada apenas azeitou o que já estava engrenado. E, uma vez que as peças finais se encaixarem neste novo ecossistema, a Apple entra definitivamente na era Tim Cook. E resta saber o que o atual CEO fará a partir do plano original de Jobs.

Pois Cook é reconhecido como bom administrador, mas não tem o carisma nem o caráter visionário de seu antigo patrão. Por isso, ele tem duas opções adiante. Numa delas, apenas administraria o que já foi criado, lançando upgrades e afinando soluções anteriores aos problemas do futuro. Na outra, tentaria reinventar a roda da empresa, lançando novos produtos e serviços que tentariam, como Jobs gostava de dizer, “revolucionar” a vida das pessoas.

Aposto que Cook deverá ir pela primeira opção, sem sair de sua zona de conforto para não dar com os burros n’água caso alguma novidade ousada demais não funcionar depois do lançamento. Entre o certo e o duvidoso, a Apple optaria pela primeira opção e perderia o posto de empresa líder para assumir o papel de gigante corporativo de vez.

Foi algo que já aconteceu com a Microsoft. A empresa de Bill Gates nunca teve a aura cool da rival de Steve Jobs, mas houve um momento, lá pela metade dos anos 90, que seu ecossistema era onipresente, principalmente quando embutiu seu Internet Explorer no Windows 95 e estrangulou o primeiro browser gráfico da história, o Netscape. Mas à medida em que a internet foi se tornando mais popular, a empresa patinou em suas escolhas, cresceu demais e suas subdivisões pareciam empresas diferentes. Lançou o Xbox como uma tentativa de criar seu próprio hardware, mas acabou segmentando seu público. De um lado ficaram os usuários do Hotmail e do MSN, do outro os da rede Live (que funcionava através do console de games da empresa), sem contar os do Windows Mobile.

Ao mesmo tempo, o Windows foi perdendo a onipresença, o Office foi ficando para trás com os softwares online, o Firefox e, depois, o Chrome fizeram o Explorer perder mais usuários… e a Microsoft foi ficando cada vez menos relevante. Ela foi o equivalente do Google e do Facebook (ao mesmo tempo) da última década do século 20 e passou a década passada inteira tentando dar alguma cartada para garantir seu futuro.

Tentou por duas vezes comprar o Yahoo, sem sucesso. Fez o mesmo com o Facebook e Mark Zuckerberg desdenhou a proposta. Se associou à Nokia para recuperar terreno no mercado de celulares (e até hoje especula-se que a MS pode comprar a empresa finlandesa de vez). Seu único acerto nos últimos anos foi o dispositivo Kinect. Muito pouco para uma empresa tão grande.

E semana passada viu aparecer mais boatos. Que a Microsoft poderia comprar a rede social Yammer pelo mesmo preço que o Facebook pagou no Instagram. Até que jornalistas de tecnologia dos EUA receberam um convite para um evento que acontecerá na tarde desta segunda-feira. Nem o local foi revelado, só iriam anunciar na segunda pela manhã. E as especulações indicavam que a empresa poderia lançar um serviço de música online de peso ou até mesmo seu Windows Tablet.

Será que a última década da Microsoft funcionará como uma parábola da próxima década da Apple?