Vida Fodona #800: 28 anos do Trabalho Sujo

Virando o disco mais uma vez.

Ouça aqui:  

Reverência ao mestre

“Edu, você é um craque!”, disse o próprio Edu Lobo, citando seu mestre e compadre Tom Jobim ao lembrar de quando gravou sua deslumbrante “Pra Dizer Adeus” ao lado de no início dos anos 80. Edu lembrou do causo logo depois de mais uma versão cortante para um de seus maiores clássicos no show em que comemorou seus 80 anos nessa sexta no teatro B32. O maestro está em ótima forma e conduziu as quase duas horas de autorreverência com uma banda à sua altura: regida pelo pianista Cristóvão Bastos, reunia nada menos que Mauro Senise e Carlos Malta (sopros), Jorge Helder (contrabaixo), Jurim Moreira (bateria), Paulo Aragão (violão), Kiko Horta (acordeon) e Marcelo Costa (percussão). Edu começou a viagem ao seu passado pelas imbatíveis como “Vento Bravo”, “Bancarrota Blues” e “A História de Lily Braun” para depois começar a receber seus convidados cantores. Começou com a novata e maravilhosa Vanessa Moreno, com quem dividiu a “Dança do Corrupião” com a letra que Paulo César Pinheiro anos depois e a emocionante “Choro Bandido” para depois deixá-la sozinha nos vocais de “Tango de Nancy” e “Ave Rara” . Depois veio Ayrton Montarroyos, que dividiu com Vanessa a maravilhosa “Primeira Cantiga” para depois fazer sozinho “Circo Mistico” e “A Moça do Sonho”. Zé Renato entrou em seguida e, sozinho, segurou “Nego Maluco” e uma versão linda de “Salmo”. Edu voltou com “Pra Dizer Adeus” e depois convidou mais uma vez Vanessa, em “Ciranda da Bailarina”. Zé Renato juntou-se aos dois numa rara versão para “Lero-Lero”, que Edu disse, rindo nervoso, ter feito sob ameaça de uma fã. Então Monica Salmaso entrou para fazer, sozinha, “Canto Triste” e “Ode Aos Ratos” e depois dividir “Cantiga de Acordar” com Edu e e Vanessa. Quase no fim do show, lembrou de quatro de suas obras-primas com os quatro convidados: “Upa Neguinho”, “Ponteio”, “Canudos” e “Na Carreira”, que parecia ter encerrado a noite. Mas um dos grandes momentos foi quando a banda voltou no bis e Edu e Monica derramaram-se no hino “Beatriz” para depois chamar todos e finalmente encerrar com “Corrida de Jangada”. Uma noite mágica.

Assista aqui:  

Colosso brasileiro

Fazia tempo que um show não me emocionava tanto. Ver Edu Lobo às vésperas de completar 80 anos entregando-se a um repertório ao mesmo tempo mágico e intenso, tanto do ponto de vista temático quanto musical, me proporcionou uma sensação que há muito tempo não tinha, quando nostalgia e lembranças pessoais misturam-se à importância de uma obra com mais de 60 anos de idade e algumas canções tatuadas em nosso inconsciente como só hinos e orações conseguem se embrenhar. Com uma banda à sua altura – o maestro Cristóvão Bastos ao piano, o preciso Jurim Moreira na bateria, o gigante Jorge Helder no contrabaixo acústico e o grande Mauro Senise nas flautas e sax -, Edu ainda contou com o vocal e presença de palco deslumbrantes de Vanessa Moreno que, mesmo que caçula ao lado de mestres, estufou o peito e fez-se enorme. E olha que do lado de Edu Lobo isso não é fácil, afinal estamos falando de um compositor que é o ponto de convergência entre Chico Buarque e Tom Jobim, um lugar única na música brasileira – e do mundo. Mas ao contrário de seus compadres, Edu solta-se completamente no palco, deixando a timidez ou o tédio da labuta diária em último plano para encontrar com todos que vieram o reverenciar. E desfilou sua magnitude entre obras-primas de seu lado épico (“Casa Forte”, “Ave Rara”, “Vento Bravo”, “Zanzibar”, “Corrupião”) com suas celebrações à canção popular (“No Cordão da Saideira”, “Frevo Diabo”, “Choro Bandido”, “Gingado Dobrado”), suas deslumbrantes canções de amor (“A Mulher de Cada Porto”, “Noite de Verão”, “Sobre Todas as Coisas”, “Canto Triste” e “Pra Dizer Adeus”, desabei nessas duas últimas) e o cortejo do Circo Místico que ergueu com Chico (“Na Carreira”, “A História de Lily Braun”, “Ciranda da Bailarina” e “Beatriz”, esta acompanhado apenas do piano de Cristóvão), além de seus hits imortais (“Ponteio”, sua versão para “Trenzinho Caipira” de Villa-Lobos e “Corrida de Jangada”, que encerrou o show). Isso tudo completamente à vontade para brincar com sua idade, comemorar a inelegibilidade do “imbroxável”, como zombou, antes de levantar os dedos fazendo o L de Lula (para deleite do público), saudar seus velhos camaradas e elogiar a jovem cantora que o acompanhou nesta noite, além de apresentar uma música inédita, “Silêncio”. Um show para lavar a alma e começar bem a segunda metade de um ano que está sendo incrível.

Assista aqui:  

Quando Gil e Iza se unem…

iza-gil

Não sei o que me deixa mais maravilhado neste encontro da Iza com o Gilberto Gil tocando “Upa Neguinho” do Edu Lobo: se é a fantástica voz de Iza, que é seu principal talento, infelizmente tão pouco explorado, ou o exímio violão ancestral de Gil, talvez o maior nome do violão no país (no mundo?) atualmente – e não estou falando em virtuosismo em nenhum dos dois casos.

Uma música só é pouco: eu queria era um disco só disso.E o Dwarf descolou o link da live toda. Demais!

“Andar com Fé”
“Não Chore Mais”
“A Novidade”
“Upa, Neguinho”
“A Paz”
“Se Eu Quiser Falar com Deus”
“Drão”
“Esotérico”
“Tempo Rei”
“Esperando na Janela”
“Three Little Birds”
“Vamos Fugir”
“Aquele Abraço”
“Palco”

On the run #168: A Home Away from Home

A-Home-Away-From-Home

Que mixtape maravilhosa essa A Home Away from Home, selecionada pelo jornalista e DJ Allen Thayer para o sensacional blog norte-americano Aquarium Drunkard. O subtítulo da seleta, Brazilian Covers of International Pop & Rock Hits, entrega seu intuito: pinçar clássicos do pop internacional que foram regravados por artistas brasileiros. Allen não se restringe a uma época específica e mistura as versões de Caetano, Elis Regina, Rita Lee, Bossa Rio, Bola Sete e Edu Lobo pra músicas dos Beatles, passando por várias versões de Sérgio Mendes, Gal cantando Dylan, Gil revisitando Blind Faith, Nara Leão cantando Cat Stevens, Seu Jorge cantando David Bowie e pérolas como Erlon Chaves visitando Quincy Jones, Agnaldo Timóteo cantando Procol Harum, Carmindo Trio tocando Elton John, Manito tocando Blood Sweat & Tears e muito mais. No blog, ele comenta, em inglês, a escolha de cada uma das músicas. E como ele anuncia que é o volume 1, fico à espera do próximo. Dicaça da Ju, valeu <3

Studio Rio Presents with Bill Withers – “Lovely Day”
Sivuca – “Ain’t No Sunshine”
Walter Wanderley – “Just the Two of Us”
MPM Propaganda (com Erlon Chaves) – “Tatuzinho e Leite Glória”
Erlon Chaves – “I Say A Little Prayer”
Elizeth Cardoso – “Primavera (We Could Be Flying)”
Sergio Mendes & Brasil ’66 – “Scarborough Fair”
Zimbo Trio – “Bridge Over Troubled Waters”
Nara Leão – “Pai e Filho (Father & Son)”
Agnaldo Timóteo – “Esse Amor Que Eu Não Queria (A Whiter Shade of Pale)”
Seu Jorge – “Rebel Rebel”
Gimmicks – “It’s Too Late”
Gal Costa – “Negro Amor (It’s All Over Now, Baby Blue)”
Leno e Lilian – “Dias Iguais (Day After Day)”
Salinas – “Atlantis”
Caetano Veloso – “Medley: Nega Maluca/Billie Jean/Eleanor Rigby”
Bola Sete – “Polythene Pam/She Came In Through The Bathroom Window”
Elis Regina – “Golden Slumbers”
Bossa Rio – “Blackbird”
Sergio Mendes & Brasil ’65 – “All My Loving”
Caetano Veloso – “For No One”
Rita Lee – “And I Love Him”
Sergio Mendes & Brasil ’66 – “With a Little Help From My Friends” (1968)
Edu Lobo – “Hey Jude”
Sergio Mendes & Brasil ’66 – “Chelsea Morning”
Astrud Gilberto – “Beginnings”
Sergio Mendes & Brasil ’66 – “For What It’s Worth”
Manito – “You’ve Made Me So Very Happy”
The Gentlemen – “Não Sei Quem Sou (Baby, I’m – A Want You)”
Carmindo Trio – “Goodbye Yellow Brick Road”
Gilberto Gil – Can’t Find My Way Home

Parado no meio do mundo

Edu Lobo via André Mehmari, via Ronaldo.