“Quando você é preso, é preso para sempre”

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Estreará na próxima segunda-feira, dia 7, dentro da versão compacta do Festival de Veneza, um dos primeiros festivais de cinema a acontecer fora do formato online, o novo documentário da dupla Renato Terra e Ricardo Calil, que dirigiu o já clássico Uma Noite em 67, sobre o terceiro festival da Record. No documentário Narciso em Férias, produzido por Walter Salles, Caetano Veloso lembra da época em que foi preso pela ditadura militar brasileira em 1968, 14 dias após o AI-5 ter sido baixado no final daquele ano. Eis o trailer que acaba de estrear:

O título foi retirado do romance Este Lado do Paraíso, de F. Scott Fitzgerald, e já tinha sido utilizado no livro Verdade Tropical, que Caetano escreveu em 1997, e se refere aos 54 dias em que, além de preso, ficou sem se ver no espelho.

A volta das Go-Go’s

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O documentário The Go-Go’s. batizado apenas com o nome do grupo norte-americano, se dispôs a contar a história da primeira banda superstar formada só por mulheres que também tocavam seus próprios instrumentos. Crias do punk norte-americano, elas foram um dos principais grupos new wave dos anos 80 (tocaram até no primeiro Rock in Rio, em 1985).

E o filme, que estreia no canal norte-americano Showtime no dia primeiro de agosto, também incentivou a volta do grupo, que irá lançar o primeiro single em vinte anos no dia anterior. “Club Zero” já está em pré-venda.

Viva Aldir Blanc!

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Um pouco da importância do mestre carioca Aldir Blanc pode ser absorvida através do ótimo documentário Aldir Blanc: Dois Pra Lá, Dois Pra Cá, dirigido em 2013 por Alexandre Ribeiro de Carvalho, André Sampaio e José Roberto de Morais, que está disponível online. Nele, o boêmio carioca lembra da infância e da adolescência na zona norte do Rio de Janeiro, suas parcerias (João Bosco e Guinga falam sobre este que consideram seu principal parceiro musical), seu envolvimento com o Movimento Artístico Universitário e seu papel na luta pelos direitos autorais, além de ver como Aldir era bom contador de histórias e querido por onde passava.

Dica do Aliche, o diretor do festival In-Edit Brasil.

Um Anthology ao vivo

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No final dos anos 90, os Beastie Boys resolveram tirar uma onda com os Beatles, que encerravam seu Anthology, projeto que consolidou a reputação da banda de Liverpool no final do século passado, e eles mesmos lançaram sua coletânea dupla, batizando-a com o mesmo nome. Beastie Boys Anthology: The Sounds of Science vasculhava a discografia da banda até 1999, cobrindo seus cinco primeiros discos, remixes, sobras de estúdio, lados B e os quinze primeiros anos da banda. Ninguém tinha como saber que eles já haviam passado a metade de suas carreiras e que não teriam mais outros quinze anos pela frente, uma vez que o integrante que botou pilha nos outros dois para que eles se tornassem uma banda, Adam Yauch, partiria para o outro plano em 2012.

Oito anos após a morte de Yauch, os dois beastie boys remanescentes – Adam Horovitz e Michael Diamond – se juntam ao amigo e diretor Spike Jonze para finalmente ter seu Anthology propriamente dito. Beastie Boys Story, que estreou nesta sexta-feira no streaming da Apple, é a versão oficial da história do grupo e um tributo a um amigo que por toda a história da banda, também era um mentor. O documentário devia ter estreado na edição deste ano do SXSW e poderia ir para os cinemas, mas como o coronavírus mudou a cara de 2020, o lançamento ficou apenas no formato digital e, por enquanto, exclusivo para a plataforma da Apple, produtora do documentário, o que restringe bastante seu alcance.

O formato “documentário ao vivo”, que podia transgredir parâmetros cinematográficos uma vez que foi proposto por um diretor com esta afinidade, é apenas o registro dos melhores momentos das três apresentações que Ad-Rock e Mike D fizeram entre 8 e 10 de abril do ano passado no Kings Theatre, no Brooklyn, em Nova York. E o filme da história dos Beastie Boys contada por eles mesmos, talvez a parte final de um processo que começou com o livro de mesmo nome que foi lançado em 2018 e seguiu nas citadas apresentações ao vivo de 2019, não é o documentário definitivo sobre a história da banda – e sim a versão que os dois integrantes querem passar de sua saga para o público, além de ter altas doses de auto-ajuda, ao mesmo tempo em que Adam e Mike explicam como se tornaram gigantescos, quebraram a cara e amadureceram neste processo.

A química entre os dois beasties sobreviventes é impecável. O filme de quase duas horas é uma longa apresentação dos dois em formato stand-up, contando suas próprias histórias ao mesmo tempo em que vão ilustrando-a com fotos e vídeos disparados por Spike Jonze. A forma como um passam o microfone para o outro e seu inevitável domínio sobre a plateia nos faz esperar por um momento musical a qualquer instante, como se eles pudessem começar a rimar em cima de alguma base instrumental de surpresa, mas isso nunca acontece. Em vez disso, os dois trocam olhares cúmplices, piadas internas e tiram sarro um do outro como os conhecemos há décadas. Mas nunca voltam a ser uma dupla de MCs – são apenas amigos lembrando de histórias.

Os registros do passado, claro, são deslumbrantes. Especialmente os primeiros anos da banda, quando ainda tocavam hardcore com quinze anos de idade, apresentando-se em programas de TV local e falando de suas raízes punk. Eram literalmente moleques e a simples visão daquelas tenras imagens da inocência de uma juventude que mal sabia o que era ter uma banda de rock já valem o documentário, bem como sua brusca transformação em um trio de rap no momento em que o gênero começava a ensaiar voos mais altos.

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Mas, principalmente, Beastie Boys Story é uma carta de amor a MCA. A imagem de Adam Yauch paira por toda a extensão do filme mais do que a lembrança de um saudoso amigo, mas como se ele mesmo fosse a encarnação do espírito beastie boy. São os momentos mais tocantes e introspectivos do documentário e talvez seja o ponto de desequilíbrio que não o torne perfeito. É como se o Anthology dos Beatles fosse feito para engrandecer a figura de John Lennon. Por mais que, como Lennon nos Beatles, Yauch fosse o ponto de parte e a força-motriz na parte de criação do grupo, ele não era mais importante que os outros dois. Como nos Beatles, não havia um melhor – quando muito, há um preferido. A magia vem do equilíbrio de seus integrantes – e para celebrar o amigo, Ad-Rock e Mike D dão passos para trás, deixando de falar de sua própria importância. A banda não acabou porque seu fundador morreu – caso qualquer um deles tivesse morrido antes, é impossível imaginar que Yauch quisesse seguir o grupo com o outro sobrevivendo.

Os Beastie Boys eram três, o número mágico, e ao enxugar sua importância em si mesmos – a autonomia que conseguiram a partir dos anos 90, depois que se recuperaram do tombo comercial que foi o lançamento do Paul’s Boutique, em 1989 – mudaram a história de seu tempo. Como as principais memórias oficiais de quaisquer artistas, o documentário Beastie Boys Story peca por não ter um olhar externo que se aprofunde na influência e importância do grupo, inclusive para além do rap, e prefere um olhar cândido e tenro sobre o passado e um respeito profundo pelo amigo morto. É uma história pessoal: feridas são expostas e mea culpas são feitos, o que deixa o ar sentimental ainda mais carregado. E mesmo que traga lágrimas aos olhos em vários momentos, é um documento divertido e nostálgico, trazendo surpresas e gargalhadas que temperam o tom emotivo com o melhor gosto que lembramos do grupo. Uma viagem!

O fim dos Beatles chega aos cinemas

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É oficial: a Disney comprou os direitos de distribuição do documentário Get Back, em que diretor Peter Jackson debruça-se sobre o material que outro diretor, Michael Lindsay-Hogg, fez no último mês em que Beatles tentaram manter-se como uma banda, em janeiro de 1969. O projeto Get Back foi originalmente uma tentativa que Paul McCartney fez com o grupo para que eles voltassem a funcionar coletivamente, depois de uma série de brigas em 1968 que culminou com a saída do baterista Ringo Starr do grupo, por uma semana.

Paul sugeriu que os quatro voltassem ao estúdio para tocar clássicos do rock como nos velhos tempos, batizou a iniciativa de Get Back, a partir de uma canção sua, e convenceu os Beatles a deixar uma equipe de filmagem acompanhou o processo. A presença das câmeras – e forçadas luzes coloridas – deixou o clima entre os Beatles, que já estava ruim, pior, e aquele mês assistiu à desintegração do grupo como uma banda. Emblemático que culminasse com a última apresentação ao vivo do grupo, o show de 40 minutos que parou Londres quando o grupo tocou sem anúncio no topo do prédio onde funcionava seu escritório, a gravadora Apple.

Get Back foi arquivado e o grupo passou a trabalhar no que mais tarde se tornaria o disco Abbey Road, mas nunca mais os quatro integrantes da banda estiveram juntos no estúdio, sendo este último disco gravado com no máximo três beatles por vez na sala. Alguns deles mal falavam um com o outro, Paul tretado com John, George tretado com Paul, Ringo de saco cheio dos três. Em 1970, depois do anúncio oficial do grupo, Get Back foi relançado num novo formato – pós-produzido por Phil Spector, que descaracterizou as gravações cruas da época com cordas e coros, o disco transformou-se em Let it Be, nome também do último filme do grupo, extraído das filmagens de Linsday-Hogg.

O documentário que aproximou o diretor de Senhor dos Anéis ao grupo inglês é a versão definitiva deste momento. Trabalhando em cima de todo o material deixado pelo diretor original, Peter Jackson mergulhou no projeto, que finalmente ganhou sua data de estreia no cinema, com o anúncio da entrada da Disney no projeto. Se o coronavírus não atrasar ainda mais, o lançamento está previsto para o dia 4 de setembro. E trará a íntegra do show no terraço da Apple, quando o grupo tocou três vezes “Get Back”, duas vezes “Don’t Let Me Down” e “I’ve Got a Feeling”, além de “Dig a Pony” e “One After 909”, acompanhados do tecladista Billy Preston.

A última locadora de vídeo

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O cineasta inglês Arthur Cauty fez um minidocumentário sobre o único estabelecimento que ainda aluga filmes (e até em VHS!), a inglesa 20th Century Flicks, que foi fundada nos anos 80 e sobrevive a todos os modismos – contando inclusive com duas salas de exibição, a Videodrome, para 18 pessoas, e a Kino, para 11. Que maravilha!

A história dos Beastie Boys

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Os últimos anos foram puxados para os dois Beastie Boys sobreviventes. Depois de lançar sua autobiografia em 2018 e transformá-la em um espetáculo dirigido por Spike Jonze, Mike D e Ad-Rock levam sua Beastie Boys Story para um outro nível e anunciam o lançamento da versão em vídeo de sua história. O “documentário ao vivo”, seja lá o que isso signifique, que será exibido primeiro no SXSW, em março, para depois ir para os cinemas (por enquanto apenas nos EUA) e no serviço de streaming da Apple no final de abril. Sente o trailer:

Spike Jonze, que trabalhou com o trio desde o memorável clipe de “Sabotage”, também anunciou há pouco que iria lançar um livro de fotos que fez com o grupo quando trabalharam juntos. O livro já está em pré-venda e tem essa capa maravilhosa abaixo:

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Miles Davis: “A black Superman”

Quando o diretor Stanley Nelson começou a escrever o documentário que queria fazer sobre Miles Davis, ele tinha como meta tirar a personalidade junkie e problemática que paira sobre o Picasso da música até hoje para mostrá-lo como um artista completo. E o resultado ele traz neste Miles Davis: Birth of the Cool, que chega aos cinemas norte-americanos neste semestre.

De volta à Rádio S.Amb.A.

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O grupo Nação Zumbi reencontra-se com seu primeiro disco sem Chico Science, Rádio S.Amb.A., lançado no ano 2000 pois o disco está sendo lançado pela primeira vez em vinil ao mesmo tempo em que é assunto de um documentário que estreia nesta quinta, com show em que a banda toca todo o disco na íntegra, no Cine Joia, dentro da programação do festival In-Edit (mais informações aqui). Conversei com os produtores do documentário e com o guitarrista Lucio Maia em matéria que escrevi para a Trip – saca só.

“Rolling Thunder Revue” está chegando…

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O segundo documentário de Martin Scorsese sobre Bob Dylan, Rolling Thunder Revue, cujo foco é em sua lendária turnê em 1975, já tem data de lançamento: dia 12 de junho chega à grade da Netflix, segundo o próprio serviço de vídeos sob demanda. Não há muitas informações sobre o filme, exceto que há participações de Joan Baez e Allen Ginsberg e depoimentos de nomes como Patti Smith, Joni Mitchell, Sam Shepard e Sharon Stone – e que é menor do que o documentário anterior de Scorsese sobre Dylan, No Direction Home, que tinha seis horas – este tem apenas duas horas e meia.