Alan Moore x Margaret Thatcher

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Embora muitos associem V de Vingança (1981), de Alan Moore e David Lloyd, a uma visão pessimista do que se tornaria a Inglaterra pós-Thatcher, o fato é que nem seu autor não imaginava que o partido conservador inglês ganhasse as eleições parlamentares em 1983 – explicitamente confirmado no ensaio Behind the Painted Smile, do próprio Moore, sobre sua obra:

Starting with the assumption that the Conservatives would obviously lose the 1983 elections, I began to work out a future based upon the Labour Party gaining power, removing all American missiles from British soil and thus preventing Britain from becoming a major target in the event of a nuclear war. With disturbingly little difficulty it was easy for me to plot the course from that point up until the Fascist takeover in the post-holocaust Britain of the 1990’s.

Mas ele não deixou barato e, anos depois, em 1990, citaria a própria Dama de Ferro numa página memorável de seu Miracleman:

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Esta foi pinçada pelo Bleeding Cool, que também listou outras manifestações anti-Thatcher nos quadrinhos ingleses. A dica foi do Daniel, valeu!

Vintedoze: A noção de normalidade é questionada

Alexandre Matias, Ronaldo Evangelista, Daniel Araújo, Freud, Jung, Cronenberg, John Cleese, Jorge Ben e criatividade.

Demoramos mesmo, culpem os astros! O MP3, no entanto, pode ser baixado aqui.

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O fim de Lost por Daniel Araújo

Lost foi legal pra caralho.

Deve ter um monte de série melhor por aí, mas acompanhar Lost na época em que foi transmitido pela primeira vez foi, como dissemos, legal pra caralho.

Baixar episódio e ficar esperando a filha dormir para poder assistir sem distrações, ficar discutindo teorias com amigos do trabalho, com a Pri (minha mulher e principal companheira de Lost), até com desavisados em bares e restaurantes não era legal? Orra se era! Descobrir detalhes “importantes”, logos Dharma escondidos, números disfarçados, respostas camufladas: muito bom. Essa parte “social”, do esforço coletivo para entender a série, com certeza foi exclusivo de Lost, e eu curti bastante. O ponto alto desse aspecto coletivo foi a heróica rede de amigos gravando a segunda temporada na TV paga para mim, que não tinha cabo, não queria esperar a Globo e ainda não sabia dos torrents. Aê, amigos, valeu! Mas sei que fizeram isso por interesse próprio: se eu não assistisse Lost, eles iriam ter que falar de outra coisa na hora do almoço.

Teve mais coisa legal: a incrível cena inicial nos destroços do avião, a luz da escotilha acendendo pro Locke, o mr. Eko, o “botão”, “NOT PENNY’S BOAT”, o Michael traidor, a volta do Michael na 4a. temporada, the constant, Daniel Faraday, a bomba de hidrogênio, “we have to go back!”, Locke no caixão (duas vezes!), a morte da Alex, Benjamim Linus!, Desmond, o começo da segunda temporada, o cara de tênis vermelho morrendo esmagado, Locke na cadeira de rodas e depois mexendo o pé na praia, “Dude…”, o começo da terceira temporada na vila Dharma, Oceanic 6, deserto da Tunísia, Jacob tocando os personagens, Jacob tecendo uma tapeçaria, o reencontro de Sawyer e Juliet, o monstro de fumaça no templo, o pai do Jack falando “To remember… and to let go”, porra, sei lá, um monte de cenas e seqüências fabulosas.

O último episódio também foi espetacular. Não tem essa de mistérios não-resolvidos. Essa choradeira que o finale não esclareceu nada é ridícula. O finale não era prá explicar nada, era prá servir de despedida. Prá mim, o episódio mais esclarecedor (e o melhor da série), foi o final da 5a. temporada. O que o Jacob fazia ali era a explicação para o que é Lost. Ele pegava o fio da história de cada um daqueles personagens e trançava todas essas histórias entre si numa grande tapeçaria. Aquele tapete que ele aparecia tecendo era a série, era Lost! As “regras”, as imortalidades estranhas, as listas, tudo isso era arbitrário, assim era porque Jacob assim queria, era o desenho que ele queria no tapete.

Aqui nesse ponto entra a minha teoria mirabolante pro fim da série. Jacob teceu a tapeçaria até ser morto, e passou a tarefa pro Jack, que por sua vez passou pro Hurley. E o Hurley, o cara mais gente-boa ever, fez outra tapeçaria, outro desenho no tapete com as mesmas linhas. Na tapeçaria do Hurley, o Jack tinha um filho, Sun e Jin não morriam, Sawyer era decente, Ben era inofensivo, Locke era confiante, todos eram felizes, não tinham problemas com os pais nem com os filhos e ninguém nunca ia para a Ilha. Ora vejam se não era isso mesmo: Hurley se fez o cara mais rico e poderoso e gente boa e sortudo dos flash-sideways, e não é à toa que ele foi o primeiro a ser “despertado” pelo Desmond, não é à toa que o Ben lhe diz que agora ele deve “cuidar das pessoas” e lhe dá a dica que as coisas só eram cheias de regras porque o Jacob queria, não é à toa que ele e Ben se congratulam pelo trabalho bem feito no jardim da Igreja e certamente não será à toa que o epílogo inédito a ser incluído na caixa com o Lost completo vai ser sobre Hurley e Ben na Ilha – como o Michael Emerson já falou numa entrevista. O flash-sideway não era um purgatório, era o final que o Hurley queria para a série, já que aquele fim com Jack e mais um monte de gente mortos, Ji-yeon órfã, Ilha semi-destruída e tudo mais era muito triste. Olha só, o Hurley já tinha dito que não queria a função de Jacob, ele só mudou de ideia porque viu que era a chance dele de reverter tudo!

Não sei se é isso mesmo, mas que ia ser legal pra caralho se fosse, ah ia.

* Daniel Araújo escreveu este texto pra cá.

Lost por Daniel Araújo

Assisti a primeira temporada de LOST na TV aberta. Sem paciência de esperar a Globo exibir a segunda e sem TV a cabo em casa, organizei um tráfico de fitas VHS gravadas por amigos para poder continuar acompanhando a série. Quando os amigos não puderam gravar o season finale da segunda temporada, peguei um DVD pirata comprado no centro por um colega de trabalho. Na terceira temporada, comecei emprestando episódios baixados por um amigo hacker e no final, no famoso “we have to go back!”, eu já estava um expert em torrent. E a partir da 4a. temporada, pelo menos para mim, já não fazia o menor sentido chamar LOST de “programa de TV”. Acredito que não foi só para mim que a série foi se desincorporando da TV.

A única maneira, hoje em dia, de ter a genuína “experiência LOST” – assistir um episódio sem saber de nada – é assistir pela internet. Quando a TV brasileira exibe o episódio, uma semana depois, já é praticamente reprise, todo mundo já leu na Internet tudo que aconteceu. Pô, quando a TV americana exibe o episódio inédito já é quase reprise, menos de uma hora depois de passar no Canada!

O mais legal de LOST sempre foi extra-TV. Acompanhar e tentar entender LOST sempre foi um esforço coletivo. A série não tem a menor graça para quem não corre pra internet depois de assistir, não debate com uns amigos, não vai atrás das referências espalhadas nos episódios, nunca jogou os joguinhos de realidade alternativa (nome interessante, levando em conta a ultima temporada) ou nunca acessou o site da Oceanic ou da banda do Charlie. Ou se nunca jogou os “números” na mega-sena esperando que algo mirabolante acontecesse. O legal da série era te deixar em “modo LOST” por muito tempo depois do fim do episódio. E para mim o que media a qualidade de um episódio não era o episódio em si – direção, roteiro, fotografia – mas a capacidade do episódio de me deixar encafifado depois que ele terminasse. LOST sempre foi legal pelo que gerava além da TV, e agora chega ao final dispensando totalmente a TV. Talvez ainda não haja um nome para que tipo de obra é LOST, mas certamente já não é mais um “programa de televisão”.

O que eu espero do season finale é isso. Não quero explicações, quero ficar encafifado, pensando durante muito tempo sobre o que foi que eu assisti. Quero o velho “nó LOST” na cabeça. Se o final for
mastigadinho, vai ser muito frustrante.

Até porque, se LOST se espalha para além da TV como o monstro de fumaça, o último episódio não vai ser o fim, vai ser no máximo o começo do fim. Enquanto estiverem discutindo e destrinchando o season finale e a série como um todo, ela não vai ter terminado. Se a série já dispensou a TV para existir, por quê o mero fim dos episódios inéditos iria acabar com ela?

* Daniel Araújo é o ouvinte número 1 do Comentando Lost. Sempre comentou todos os episódios – fiz questão de chamá-lo para escrever. E a ilustra é dele.