Polêmica gratuita


Malcolm Gladwell, Chris Anderson e Seth Godin

Pensadores pop discutem sobre o preço do futuro

Em Free, Chris Anderson diz que era digital tornará serviços gratuitos

Nem bem o novo livro de Chris Anderson saiu e ele já causa polêmica. Editor da revista Wired, Anderson criou o conceito da “cauda longa” no livro de mesmo nome (publicado pela editora Campus), em que adapta preceitos econômicos para a era digital. Nele, o autor compara os estágios da indústria cultural antes e depois da internet para sacramentar que estamos saindo da era do mercado de massas para a do mercado de nichos.

Free (trocadilho de “livre” e “gratuito” em inglês), o novo livro de Anderson que será lançado amanhã nos EUA, vai além. Vislumbra que a batalha dos preços dos produtos está passando por uma mudança radical, em que a disputa deixa de ser entre quem tem o preço mais baixo e passa a ser entre quem cobra algo e quem não cobra nada. A partir de exemplos que vão do valor estipulado pelo consumidor para o disco mais recente do Radiohead à publicidade em videogames, passando pelos serviços do Google e a briga entre a Microsoft e o Linux, Anderson profetiza que o futuro não terá preço.

Um dos primeiros comentários sobre o livro veio do escritor Malcolm Gladwell, autor dos best-sellers O Ponto de Virada e Fora de Série (publicados pela editora Sextante). Colunista da revista New Yorker, ele dedicou um longo texto ao livro, em que desancava as teorias de Anderson, perguntando se um jornal como o New York Times seria produzido nos moldes dos grupos de voluntários que alimentam sem-teto.

Anderson rebateu em seu blog na Wired, mas não foi incisivo – limitou-se a dizer que se o que Gladwell dizia era verdade, seus leitores não poderiam ler aquele texto online gratuitamente.

A discussão está longe do fim, afinal o livro sequer foi lançado, mas outro pensador pop entrou na discussão. Seth Godin, um dos principais pensadores do universo digital hoje e autor de livros como O Futuro Não é Mais o Mesmo, A Vaca Roxa e Sobreviver Não é o Bastante (publicados no Brasil pela Campus), comentou a discussão em seu blog, num post batizado “Gladwell está errado“: “Como todas indústrias que estão morrendo, os velhos modelos irão reclamar, criticar e demonizar o novo. Não vai funcionar. A razão é simples: Num mundo livre/gratuito, todos podem participar. E isso é uma mudança enorme”.

Hipster Cafona

Não curto essa onda online de neguinho que faz site só pra esculhambar desavisados. É um desdobramento gigantesco do comportamento online e abrange desde os inocentes que povoam o Pérolas do Orkut aos blogs de desconstrução de celebridades (onde, não custa elogiar, o Te Dou um Dado dá uma aula de edição para essa era pós-reality show) e inclui famosos anônimos, anônimos famosos e personagens como Katylene e Felina, só pra ficar na superfície do assunto. Não desaprovo (parte da reinvenção da época em que vivemos está saindo daí), mas sequer assino os feeds. Mas confesso que há alguma coisa além nesse tumblr carioca chamado Você Não é Hipster, Você é Cafona. Afinal, o braço do “moderno/cool” também está se desfazendo nos dias de hoje e seu poder vem sendo igualmente pulverizado como o de qualquer detentor de autoridade do século passado. E, em crise, passa a conviver na fronteira entre o velho e o novo (que, neste caso, é o cada vez mais subjetivo limite entre o brega e o chique), caindo numa espécie de loop de ironia que, felizmente, começa a ser desmascarado.

Tem a ver com o culto ao Animal Collective, mas isso é papo pra outro dia.

Link – 30 de março a 5 de abril de 2009

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Cultura livre encerra evento com pedido de isenção de taxas


O Ministro Gilberto Gil prova a Free Beer, feita em código aberto (foto: Henrik Moltke)

Acesso aberto e ampliação dos direitos digitais foram conclusões da segunda edição do iSummit, no Rio, que teve participação até da poderosa Microsoft

Em menos de uma hora depois de ter anunciado as duas declarações que resumiram os trabalhos de três dias de discussão e execução de projetos e iniciativas ligadas à cultura livre do segundo iSummit, encontro que aconteceu durante o fim de semana passado no Rio de Janeiro, o advogado norte-americano Lawrence Lessig, idealizador da grife legal Creative Commons, era arremessado para dentro da piscina na cobertura do hotel que sediou o evento, enquanto os participantes e palestrantes do evento bebericavam taças de uma certa “cerveja de código aberto”, chamada Free Beer.

Foram três dias de apresentações e painéis de discussão a respeito de iniciativas e interesses que dizem respeito a certas crises do conhecimento moderno e a modelos econômicos para superá-las de forma sustentável para o futuro. Representantes de instituições como Access to Knowledge, Open Society Institute, Wikipedia e Google estavam presentes e apresentaram exibições ou assistiram-nas, contribuindo para o debate sobre compartilhamento de conhecimento e propriedade intelectual, que teve momentos de frisson, como nas duas declarações que encerraram o evento.

“The Rio 2006 Declaration on Open Access” (“A Declaração Rio 2006 sobre Acesso Aberto”) inicia um movimento para isentar de taxas e cobranças quaisquer reproduções de obras que tenha caráter acadêmico e “The Rio 2006 Declaration on Digital Rights Management” (“A Declaração Rio 2006 sobre Gestão de Direitos Digitais”) propõe a substituição do atual modelo de indexação de obras digitais pelas licenças Creative Commons. Anunciadas na última sessão do domingo, as declarações tiveram efeito catártico sobre os participantes, mas não foram seus pontos mais intensos.

Estes aconteceram nos dois primeiros dias. O primeiro quando, de surpresa, a Microsoft, empresa-símbolo das causas contrárias dos intelectuais ali reunidos, foi convidada para a cerimônia de abertura para anunciar um plug-in para seu software Word, que embute uma licença Creative Commons em qualquer documento produzido no programa. A presença da empresa e sua estranha parceria com a marca – mais cessão do que invasão territorial – fez com que ativistas presentes sacassem narizes de palhaço e distribuindo para os participantes. O segundo aconteceu quando a Radiobrás, a empresa estatal de radiodifusão, a nunciou que todo seu conteúdo seria disponibilizado através das licenças CC, inclusive para uso comercial de terceiros, e foi saudada com aplausos entusiasmados.

Pelos corredores, um verdadeiro quem é quem da cultura livre, do ministro da cultura Gilberto Gil, que também participou da abertura do evento, ao escritor Cory Doctorow, de Jimmy Wales, criador da enciclopédia editável Wikipedia, ao fundador da Electronic Frontier Foundation, John Perry Barlow.

Ao mesmo tempo, aconteciam palestras sobre ciência aberta, digitalização de conteúdo em domínio público, educação, jornalismo e licenciamento de conhecimento indígena, exibições da comunidade em 3D SecondLife e workshops do grupo brasileiro Estúdio Livre, que maravilhava os estrangeiros ao compor, gravar, editar e remixar músicas usando apenas softwares livres.

O evento terminou com uma festa no Teatro Odisséia com os VJs-ativistas do Media Sana, o rapper BNegão e sua banda Seletores de Freqüência e o músico Lucas Santtana atuando de DJ. Em comum, o fato de disponibilizarem todo seu conteúdo gratuitamente online – a saber, www.mediasana.org, www.bnegao.com.br e www.diginois.com.br.

* Matéria publicada na Folha dessa terça.

Dada a dica…

O game_cultura festival de jogos eletrônicos | passando de fase | promove a Mostra_BR que tem como objetivo principal divulgar e fomentar a produção nacional de jogos eletrônicos.

Os jogos pré-selecionados entre os inscritos serão disponibilizados para serem jogados durante o evento que ocorre, no SESC Pompéia de 29 de julho a 06 de agosto de 2006.

A mostra tem caráter cultural sendo os jogos apenas submetidos a uma votação de júri popular, não existindo nenhum tipo de premiação, remuneração ou competitividade entre os selecionados.

Poderão inscrever-se na Mostra_BR, jogos independentes para computador ainda não comercializados e demos jogáveis produzidas a partir de 2002, feitos por desenvolvedores em território nacional.

Os trabalhos podem ser submetidos no formato CD-ROM ou DVD-ROM, contendo arquivos instaláveis e|ou executáveis com os jogos|demos. Os jogos|demos deverão ser executados sem a necessidade de outro software, além do sistema operacional e seus “plug-ins”. Os jogos|demos deverão ser compatíveis com sistema operacional Windows XP™.

Cada desenvolvedor poderá submeter mais de 1 (um) trabalho à seleção. Jogos com conteúdos publicitários, promocionais ou de sexo explicito ou que caracterizem qualquer tipo de preconceito, descriminação ou violência não serão aceitos.

O período de inscrição é de 15 a 25 de Junho de 2006, valendo a data de postagem. Inscrições feitas fora desse período serão desconsideradas.

As inscrições deverão ser feitas via Correios enviando:

• CD ou DVD contendo o game|demo
• Formulário de inscrição, impresso, preenchido e assinado.
PARA:
SESC Pompéia A/C Equipe de Cultura Digital e Internet LIvre Rua Clélia, 93 | Cep 05042-000 Tel: 3871-7700 | game_cultura@pompeia.sescsp.org.br www. sescsp.org.br | 0800 118220

Os detentores dos direitos dos trabalhos selecionados cedem o direito para que a mostra possa utilizar trechos e fotos de tela para difusão pela imprensa, para fins promocionais.

O Ato da Inscrição implica na aceitação do regulamento.

Os selecionados serão informados via email a partir do dia 30 de junho e posteriormente divulgado em nosso site:
www.sescsp.org.br

Para outras informações e programação do GAME_CULTURA visite também:
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=15226416