O dia em que a Nação Zumbi encontrou os Young Gods

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“É uma orquestra de noise”, me explica, empolgado, Jorge Du Peixe, vocalista da Nação Zumbi, em entrevista ao telefone. Ele comemora finalmente o encontro nos palcos com seus ídolos Young Gods, um dos grandes pilares da música eletrônica e do rock industrial europeus, que acontece durante esta semana, com shows em São Paulo e no Rio, e culmina com uma apresentação conjunta em julho, no festival de Montreux, na Suíça, que comemora sua quinquagésima edição.

“Mas é uma conversa antiga”, lembra o vocalista, explicando que os grupos se conheceram na primeira turnê europeia da banda brasileira, há vinte anos, quando Chico Science ainda era vivo. “E é uma admiração mútua, eles já conheciam o som, mesmo porque Franz (Treichler, líder da banda) é filho de brasileiros. A gente tava num festival na Dinamarca e viu o show. A gente já conhecia, mas foi muito impactante ver aquela massa sonora ao vivo. Lembro que eles tocaram com o Ministry. A gente trocou CDs e começou uma conversa, mas aí aconteceu o que aconteceu com Chico em 97 e não retomamos essa conversa. Mas Franz continuou vendo nosso trabalho e quando pintou essa oportunidade no festival de Montreux, que vai ter um momento “a Suíça encontra o Brasil”, ele lembrou da gente, me deu um toque e a gente começou a se conversar.”

As duas bandas começaram a trocar figurinhas pela internet e resolveram fazer os shows coletivamente, as duas ao mesmo tempo, tocando músicas uns dos outros. “Eles chegaram aqui na semana passada e já estamos no quinto ensaio, tá tudo funcionando muito bem, a eletrônica com a percussão, tá muito forte”, comemora Jorge, que não descarta novos shows e até uma colaboração autoral com o grupo suíço. “Mas agora não deu tempo, ficamos focados no ensaio e na dinâmica do setlist”, explica, citando clássicos dos Young Gods como “Skin Flowers”, “Le Rouge” e “Kissing the Sun” e músicas da Nação como “Defeito Perfeito”, “Um Satélite na Cabeça” e “Maracatu Atômico” como parte do repertório.

O show em São Paulo acontece nesta quinta-feira, no Cine Joia, e no Rio de Janeiro acontece na sexta, no Circo Voador. Estou com três pares de ingressos para quem quiser assistir ao show de São Paulo. Para concorrer é só comentar abaixo que música da Nação Zumbi você queria ver sendo tocada ao lado dos Young Gods e por quê. E não esqueça de deixar seu email para que eu entre em contato em seguida.

Mr. Deep Funk no Brasil

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O lendário DJ inglês Keb Darge apresenta-se na edição desta sexta-feira da clássica festa Talco Bells e eu pedi para que ele separasse cinco faixas – entre as inúmeras raridades – que deverão estar em seu set desta noite. Mas antes, pedi para o Filipe Luna, um dos capitães da Talco, apresentar o DJ e falar de sua importância para o universo do soul e do groove:

“Quando a gente começou a curtir mais discos de soul e funk mais obscuros, tinha um nome que sempre era mencionado: Keb Darge. Era ele que discotecava no Madame Jojo’s, clube do SoHo londrino, e tornou o clube, um antigo bordel, icônico por tocar as músicas mais maravilhosas e obscuras que você já ouviu. Todos nossos amigos que iam pra Londres voltavam maravilhados dizendo que era a melhor noite que havia (pelo menos pra quem curtia esse som).

Keb é o cara que descobre as pérolas e por isso ele é uma referência para nós. Começou no Northern Soul, depois praticamente criou o gênero Deep Funk (lá na noite do Madame Jojo’s), que eram compactos de 7 polegadas muito, mas muito obscuros, de artistas que, na maioria das vezes, só tinham lançado um ou dois discos. Muitas das músicas que nos influenciam estão lá nas coletâneas lançadas por Keb no selo BBE ou na Kay Dee Records (do DJ Kenny Dope).

Como todo DJ que é bom de faro para descobrir coisas novas, Keb já está com o pé em outros sons além do soul e funk. Já teve uma coleção de R&B e Rockabilly e agora está investindo 60’s garage – músicas que ele tem mostrado ao redor do mundo e que estão balançando muitas pistas de dança. Para nós, será uma honra e um sopro de originalidade trazer o Keb pra tocar na Talco.

Já são 8 anos tocando soul e funk nessa festa, “criamos” alguns hits na nossa pista e é sempre bom trazer alguém que pode tirar a nós e nosso público da zona de conforto com um repertório de altíssima qualidade. Vai ser sensacional ter essa experiência acontecendo na nossa festa e a gente não vê a hora de ceder os toca-discos para Keb Darge.”

E agora as cinco pérolas escolhidas pelo mestre:

Sands of Time – “Red Light”

“Em primeiro lugar no momento está ‘Red Light’, de The Sands of Time, lançado pelo selo Sterling. Comprei de um vendedor dos Estados Unidos há uns seis meses e depois descobri que só existem cinco cópias disponíveis no mundo todo. Não é tão pesado quanto as coisas que costumo tocar, mas adoro o sentimento leve, saltitante e feliz que esse disco tem.”

The Savoy’s – “Can It Be”

“Aqui fica mais pesado. Essa canção é conhecida por colecionadores há muitos anos, mas também só existem poucas cópias conhecidas. Está em algumas compilações, mas a qualidade é péssima em relação ao original. Uma faixa poderosa com uma batida que explode nas caixas de som.”

New Fugitives – “She’s My Baby”

“Essa é uma faixa sinistra que não estaria deslocada na cena do punk dos anos 70. Primitiva e assustadora com bastante atitude. Novamente, um compacto muito raro que vai soar novo a todos, menos aos colecionadores obcecados de garage dos anos 60.”

The Tigermen – “Tiger Girl”

“Essa é mais sutil que as outras que sempre agrada às garotas toda vez que toco. Suponho que elas se imaginam sendo as ‘Tiger Girls’ enquanto fazem sua dança provocante. A banda tem apenas dois compactos conhecidos: esse e ‘Close the Door’, ambos no selo Buff. Não é tão raro quanto os outros três, mas raro o bastante pra ficar longe das mãos de DJs muquiranas.”

The Spacemen – Modman * Big Sound

“Essa é uma faixa que obviamente foi feita para a cena Mod crescente dos anos 60, nos Estados Unidos que se apaixonavam pelo som britânico da época. Ouvi a música nesse link do YouTube há um ano e fiquei louco pela canção. Não consegui achá-la em lugar nenhum, então fui atrás do cara que havia postado o link e o convenci a me vender sua cópia.”

A festa acontece nesta sexta, no Cine Jóia, a partir das 23h – mais informações aqui.

Feliz aniversário David Bowie

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Hoje é o aniversário de David Bowie e além do lançamento de seu novo disco, também será celebrado o Baile do Bowie, organizado pela Flavia Durante, que acontece no Cine Joia. O nome deixa claras as intenções da festa – é um baile de carnaval pautado pelos personagens e canções do velho inglês. E além das músicas do deus do rock, a festa também vai tocar músicas relacionadas às diferentes fases de sua carreira. A Flavia descolou dois pares de ingressos para quem quiser ir ao Baile – basta responder aí nos comentários qual é a sua música favorita do David Bowie e por que ela tem que ser tocada na festa de hoje, não esqueça de deixar o email para que eu entre em contato. Conversei com ela sobre a ideia da festa e porque ela acontece no começo de 2016… Mais informações na página do evento no Facebook.

Conta a história do Baile de Bowie? Começou por causa do trocadilho, confessa.
Simmm, hahaha! Na verdade foi porque queria fazer uma festa que reunisse rock, maquiagem e fantasia. Como o universo rock anda muito conservador ultimamente, quis trazer a diversidade de volta unindo a montação das festas drag, a maquiagem e o rock. Os fãs e artistas de rock no Brasil encaretaram muito e esqueceram que a maioria de nossos ídolos na música é gay, lésbica ou bi. A ideia foi lembrar isso e também atrair o público LGBTQ que não quer dançar só pop e música eletrônica na noite. Muitos gostam de rock mas não se sentem confortáveis em ambientes onde possam ser encarados ou ofendidos pelos clientes ou pelos donos das casas noturnas. Fiz uma pequena edição ano passado no Alberta #3 mas dessa vez consegui essa data no Cine Joia bem no dia do aniversário do Bowie, o que vai deixar tudo mais legal ainda!

Como vai funcionar? Só David Bowie? Tem hora da música lenta? Vai ter banda? É por fases? Quem discoteca?
Vamos ter DJs fazendo especiais de Bowie e tocando suas influências, artistas influenciados por ele e artistas contemporâneos. Com a imensidão da obra do Bowie seria bem possível tocar só músicas dele a noite inteira mas vamos variar os sets, até pra quem ainda é iniciante no universo bowieano poder curtir bastante também. Vou abrir e encerrar a pista. Quem também vai discotecar tocar vai ser o Daniel MS, que é um super DJ e muito fã de Bowie, e o pessoal do Bloco Tô de Bowie, uma turma de amigos fanáticos por Bowie que estreiam neste Carnaval em São Paulo. Eles vão fazer um DJ set recheado de Bowie, claro, mas prometem surpresas! Vai rolar também uma performance do Ikaro Kadoshi, que é uma das melhores drags do Brasil. Ele faz um estilo andrógino, tudo a ver com o Bowie.

Pode/deve ir fantasiado? Melhor fantasia ganha premio?
A montação é muito bem vinda mas não é obrigatório! Mas pra incentivar, vamos sortear um par de ingressos pra qualquer show no Cine Joia em 2016, além de alguns exemplares do CD de Blackstar, lançado pela Sony.

Como você tem visto a transformação da noite de São Paulo nos últimos dez anos? Estamos em uma nova fase de ouro da música?
Sou uma eterna otimista, mesmo com quase 40 anos continuo me divertindo muito na noite de São Paulo. Gosto de transitar por diferentes estilos musicais tanto como público quanto como DJ e acho que há lugar para todos. Só não gosto quando surgem várias festas com os mesmos temas, acho que há muita música bacana pra gente se prender só em um só universo. Ou olhar só pros EUA e Reino Unido quando aqui ao lado, na América Latina, existem artistas maravilhosos. Não existe fase de música ruim, é questão de saber procurar direito as fontes.

E SP como um todo, como anda? Acha que a cidade melhorou?
Moro em SP há quase 20 anos e como sou de Santos, sentia muita falta de lugares abertos pra passear ao ar livre. Me sentia muito indo de uma caixa pra outra, da casa, pro trabalho e pra boate. Hoje em dia é difícil ficar em algum lugar fechado no final de semana com tantas opções de festas nas ruas, em terraços, feirinhas, parques e avenidas abertas, então melhorou muito nessa questão de sentir a cidade. Reparem que as pessoas que mais amam suas cidades, como Santos e Rio de Janeiro, são as que costumam explorá-la mais a céu aberto. Talvez o efeito disso só seja sentido daqui a alguns anos mas acho que vai ajudar a fazer com que sintam São Paulo como suas terras tambem, não só lugar de trabalhar, ganhar dinheiro ou de simples passagem.

Como foi o show do Thurston Moore em São Paulo

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Thurston Moore montou um mini-Sonic Youth para gravar seu novo disco solo, The Best Day. Primeiro veio o próprio Steve Shelley na batera, velho escudeiro de discos anteriores. Para o baixo chamou uma mulher (ninguém menos que que Debbie Googe, ex-My Bloody Valentine) tão experimetalista em seu instrumento quanto sua ex-mulher, Kim Gordon. E para a outra guitarra chamou um clone inglês de Lee Ranaldo, o inglês James Sedwards, um instrumentista educado no rock clássico (o glam era evidente em certos trechos de seu instrumento), mas completamente inserido no contexto de noise e microfonia proposto pelo velho indie.

Mas em sua recente apresentação em São Paulo, esse formato foi quebrado devido a um problema de saúde – Steve Shelley descobriu, no Brasil, que havia descolado a retina e por isso tinha de se afastar das baquetas. E o quanto antes, tanto que nem pode subir no palco do Cine Jóia. Em vez dele a produção chamou o baterista que acompanha Jair Naves, Babalu, que foi pego de surpresa com o convite e recebeu aulas de bateria do próprio Steve Shelley durante o ensaio (que deveria ser apenas uma passagem de som). O Lucio, que organizou o show, conta como foi a saga sônica de um baterista desconhecido para o palco com um dos grandes nomes do underground mundial.

Babalu entrou completamente em sintonia com o trio e, apesar do (natural) ar de insegurança no início do show, não comprometeu em nenhum momento, seguindo a cartilha que havia aprendido na mesma tarde à risca. Profissa. À sua frente, três veteranos das cordas elétricas duelavam-se entre espasmos de ruído e delicados dedilhados. O fio condutor foi basicamente o Best Day que Thurston acaba de lançar – a única fuga deste script foram “Pretty Bad” e “Ono Soul”, de seu primeiro disco solo, Psychic Hearts, a última também a única música de outro disco que ele tocou quando trouxe seu Demolished Thoughts ao mesmo palco paulistano há dois anos e meio (além de “It’s Only Rock’n’roll (But I Like It)”, dos Rolling Stones).

Thurston e sua guitarra já são um só faz muito tempo, então ele nem sequer precisa pensar para levá-la de um extremo a outro – é sua assinatura de palco, ao lado de seu grave vocal quase balbuciado e seu ar de criança de dois metros de altura. Esticando músicas do disco desse ano para além dos 10 minutos, ele inevitavelmente caía em breaks instrumentais em que desafiava os outros músicos a sair do formato canção, por mais bruta que fosse sua versão, quebrando-se em tsunamis de microfonia e marolinhas ambient, regendo seus músicos com o braço de seu instrumento. Um show catártico, conciso, intenso e reconfortável, uma vez que sempre podemos reconhecer os mesmos traços que desenharam a discografia de um grupo tão importante para aquele meio quanto o Sonic Youth. Venha mais, Thurston!

Abaixo os vídeos que fiz do show:

Thurston Moore ao vivo no Brasil!

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Mr. Thurston Moore já está de malas prontas para vir ao Brasil no final do ano, quando toca no Popload Gig do broder Lucio, no dia 4 de dezembro. Grande notícia!

Noites Trabalho Sujo fase 3: duas vezes no Rio, abrindo pro Jagwar Ma e pro Washed Out

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A festas da semana passada foram bem registradas pelo site I Hate Flash, que fotografou quando tocamos antes e depois do Jagwar Ma no Rio de Janeiro, antes e depois do Washed Out aqui em São Paulo e quando tocamos ao lado do Dodô na inacreditável Festa Fofoca. Abaixo, um compilado das melhores fotos.

 

Noites Trabalho Sujo + Washed Out

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A boa de hoje é que tocaremos antes e depois do show que o Washed Out faz aqui em São Paulo no Cine Jóia. Os ingressos, que foram distribuídos online de graça, já estão esgotados e a dica é chegar cedo – a noite promete!

Spiritualized no Brasil!

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Mais uma que o Lucio confirma: Spiritualized dia 28 de agosto no Áudio Club, em São Paulo. Foda!

Yo La Tengo no Brasil!

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Boa notícia: o trio de Hoboken dá mais uma vez suas caras em São Paulo (é a terceira vez, depois de dois shows fantásticos no Sesc Pompéia em 2001 e outro show vespertino no SWU em 2010), dessa vez na Popload do Lucio Ribeiro, no Cine Joia. A má notícia é que o preço de R$ 160 na entrada inteira complica bastante pra quem quer ver a banda…

Quem quer ganhar um par de ingressos para o show do Mayer Hawthorne nesta quinta-feira?

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Quinta agora Mayer Hawthorne faz outro showzinho aqui em São Paulo, no Cine Jóia, e o Queremos, que está trazendo o show, me descolou um par de ingressos pra sortear aqui. Para concorrer, basta dizer qual música você quer ver no show – e porquê – aí nos comentários deste post. Mayer convida: