Bom Saber #036: Chico Barney

Para começar 2021, chamei Chico Barney, um dos grandes profetas do Twitter brasileiro, para tentar prever o que pode acontecer no decorrer deste ano que está começando – e encontrei um arauto do apocalipse, pessimista a longo prazo com o que está acontecendo com o país, tanto do ponto de vista político quanto social e de comunicação. Ao menos ele espera que a próxima edição do Big Brother Brasil consiga tirar parte do país desse abismo de bad vibe.

Assista aqui:  

Chico Barney, trendsetter

Chico Barney instiga o zeitgeist e em seu soundcloud, relê seus próprios posts antigos em formato de áudio. Será que estamos vendo o nascer de uma nova tendência?


Chico Barney – “Você já psicografou na Bahia? (MP3)

O novo Nirvana

O Terron postou sobre a foto que o Dave Grohl e o Krist Novoselic que foi postada via Twitter dos Foo Fighters e que mostra os dois num estúdio, indicando que alguma gravação vem por aí. E ao compartilhar a notícia em seu reader, Chico Barney cogitou:

Afinal, quem substitui o Rodolfo… E eis que o Albert E. obedeceu. Com isso, eis o novo Nirvana:

O fim de Lost por Chico Barney

Lost seguia a lógica de entretenimento de uma montanha-russa. Quanto mais loopings tivesse um episódio, mais querido pela audiência ele seria. E o último episódio teve tanto disso que muita gente tá vomitando até agora.

O programa foi fiel ao seu preceito mais básico, o de não explicar coisa nenhuma. Desse jeito, as discussões sobre o final da série vão muito além do “gostei / não gostei”, o que condiz bem com o que foi Lost durante essa formidável jornada.

Outro detalhe incrível foi que Lost evidenciou a fraqueza do ensino básico brasileiro, levando em consideração a dificuldade de compreensão a respeito do momento em que os personagens estavam vivos ou mortos.

Para ajudar no brainstorm do Matias, incluo aqui uma canção do grupo Pixote que, no final dos anos 90, já anunciava como seria o final de Lost. Prestem atenção na letra.

* Chico Barney escreveu este texto pra cá.

Lost por Chico Barney

A grande sacada de Lost foi ensinar ao homem comum a se portar feito um mané. Depois de anos sendo motivos de chacota entre a sociedade civil, fãs de Arquivo X, Star Trek e Star Wars tiveram enfim o gostinho da vingança.

Uma não-trama de eternos seis anos conseguiu segurar na frente do computador uma infinidade de pessoas como eu e você, que nunca foram fãs de metal, dão um rolé no shopping com a namorada, eventualmente vão a praia e, vai saber, talvez nem tenham um perfil no Twitter.

Isso porque, principalmente no início, Lost soube disfarçar muito bem. Enquanto ficava apenas sugerindo o que havia de cretino em sua história, a ilha passava muito bem por um entretenimento decente para o cidadão de bem. Tínhamos dramas pessoais plausíveis, ainda que entre sussurros e defuntos na floresta, com personagens até interessantes.

Enquanto tudo era apenas sugerido, como em um soft porn do Multishow, havia beleza e bom entretenimento. Os últimos anos do programa foram como se tivessemos closes ginecológicos em um soft porn do Multishow, destrinchando coisas que não estavam necessariamente acontecendo.

E quando passamos a descobrir o que realmente estavam nos contando, foi um tapa na cara da sociedade – e ficou uma marca estilo “vida longa e próspera” do trekker devidamente vingado.

* Chico Barney é um dos ícones da internet brasileira.

On the Run 64: Jeff Tweedy, personal trainer

“São quase 50 minutos de pura saúde indie”. Assim Chico Barney apresenta a mixtape que fez só com músicas do Wilco para ser ouvida na esteira. Mesmo se essa não for a sua onda, vale a audição.

Chico Barney: Jeff Tweedy, personal trainer (MP3)

“Outtasite (outta mind)”
“I’m always in love”
“Sunny feeling”
“Candyfloss”
“I’m the man who loves you”
“Bull black nova”
“I’m a wheel
“Heavy metal drummer”
“Box full of letters”
“ELT”
“Pot kettle back”
“Wilco (the song)”
“Can’t stand it”
“A shot in the arm”

#trabalhosujoday

O dia em que virei uma hashtag

Estava no táxi e o telefone tocou. Era a Helô. “Matias…”, a hesitação em sua voz disparou minha paranóia, “…você tá sabendo…”, caiu o anúncio da capa, algum repórter passou mal, alguém foi contratado/demitido, “…do trabalhosujoday no Twitter?”, o Google comprou o Twitter, Steve Jobs morreu, mudou a escala do plantã… cuma? Como é que é?

Que porra é essa?

“Er… Criaram uma hashtag no Twitter chamada #trabalhosujoday…”, “mas já tá nos trending topics?” usei a megalomania para ganhar tempo, enquanto meu cérebro zapeava por rostos (representados por seus avatares do Twitter, pois) de amigos ou conhecidos que poderiam ter aprontado essa: Arnaldo, Mutlei, Bruno, Carbone, Cardoso, Fred, Flávia, Danilo, Cissa, Vlad, Mason, Kátia, Dahmer, Pablo, Maron, Serjão, Ronaldo, Terron, Rafa, Luciano, cada um deles com um motivo diferente para tirar onda com a minha cara ao inaugurar uma hashtag em minha homenagem. Pensei nos três ou quatro detratores (acreditem, eles existem – toda Corrida Maluca tem seu Dick Vigarista), mas eles não tem coragem de assumir uma dessas em público. Disse que veria que diabo era aquilo quando chegasse no jornal, para não estragar a surpresa, mas vim com a mesma velocidade que pensei nos nomes e nas possibilidades acima, fiquei juntando peças pra tentar descobrir qual seria a motivação da hashtag – links sobre Brasília? Sobre Beatles? Dia do mashup? Pra notícias sobre cultura digital? Notícias do Link? Links dOEsquema?

As duas últimas opções quase me fizeram chegar na resposta certa. Ao ver o tom dos tweets do #trabalhosujoday logo entendi a brincadeira – e primeiro falo de seu contexto antes de explicá-la.

Como já falei, opto por usar o Twitter como uma forma de disparar links. Os últimos posts da minha conta ficam exibidos na home do Sujo e eu sempre acho que fica estranho, pro leitor que cai na página principal, acompanhar um diálogo pela metade, com pessoas que eles não conhecem. Por isso, resolvi não participar ativamente do diálogo que é o Twitter. Acompanho quase que diariamente tudo que acontece na rede (até por conta do trabalho no Link), mas se alguém me pergunta algo, via Twitter, prefiro responder em mensagem privada (via DM, no linguajar tweet). Na verdade, transformei o meu Twitter numa versão para o antigo Leitura Aleatória, que eu publicava no site. A princípio, vocês chiaram, mas depois se acostumaram.

Por isso, em vez de ficar twittando tudo que eu vejo em tempo real, prefiro deixar tweets programados pra serem postados durante o dia. Ou eu fazia isso (tiro uma horinha pra programar os posts do dia inteiro) ou a regularidade dos tweets ia cair, por isso optei por agendá-los. Na prática também é uma hora pra eu ver o que está acontecendo agora, quais tweets e links que eu favoritei no dia anterior, ler o RSS (cada vez mais abandonado), visitar os sites de amigos.

Mas, na paralela, também venho atualizando as páginas do Sujo pré-OEsquema (antes o Sujo ficava hospedado no quase extinto Gardenal), atualizando tags, vendo se algum vídeo saiu do ar, ajeitando o tamanho de imagens pro novo template, separando as categorias. E nessa visita ao passado, deparo várias vezes com posts que não perderam a validade, que mesmo velhos, ainda valem a visita. Assim, estou retwittando posts velhos do Sujo há pelo menos duas semanas – teve muita gente que achou que o meu Twitter tinha dado pau, mas, não, é assim mesmo.

É aí que entra o tal #trabalhosujoday, que começou com estes três tweets do Chico Barney:

Maldito! Tive que mandar uma mensagem cumprimentando pela genialidade infame (que lhe é inerente, caso não o siga, faça isso), mas quando fui falar com ele, a palavra já estava solta no mundo:

Tati e Ana, repórteres da minha equipe no Link, twittaram não poder fazer piada com a hashtag (podiam, vocês sabem que eu sou um chefe bonzinho), Fred – que também tá aqui no Link – nem pestanejou e lembrou do velho 1999, enquanto o Marcio K foi achar um post do Lucio de 2001 em que ele anuncia o lançamento da Play (que eu editava na Conrad) e o show do Radiohead pro Brasil (em 2002!). Mas a hashtag foi passando entre muitos amigos, conhecidos e leitores, que aproveitavam a deixa para ressuscitar notícias do passado e anunciá-las como fatos recentes. E antes mesmo de eu falar com o Chico Barney (cê sabe que eu sempre demoro quando tou no táxi), ele foi se desculpando:

Como se precisasse. Depois, conversando com ele, ele disse que achou que eu havia ficado puto, como se um tipo de coisa dessas pudesse me deixar puto (aliás, é ruim me deixarem com raiva…), mas eu achei que nem precisava dessa explicação. Mas vou seguir postando link velho, pelo menos até chegar aos posts de setembro, mês que comecei isso (já tou postando os de março…) – embora eu ache que, antes disso, atinjo uma meta pessoal que estabeleci sobre isso.

Mas essa história toda veio mais uma vez martelar questionamentos sobre o que é novo e o que é velho em tempos de internet, sobre a perenidade e a a perecibilidade dos fatos, sobre o papel da notícia e do jornalismo (embora eu só assuma que o meu Twitter seja jornalismo se você aceitar o meu conceito sobre o tema – de que tudo que um jornalista faz, em relação à comunicação e informação, seja jornalismo). O Twitter, como sempre, é só a ponta do iceberg.

E pode ficar tranqüilo que ano que vem eu lembro: dia 24 de setembro de 2009 foi o #trabalhosujoday.

Laerte explica

Não sei se vocês sabem, mas faz algum tempo que o Laerte está blogando e aos poucos descobre a beleza de ter o contato direto com seus leitores via blog. Dahmer pinçou um post da semana passada, em que ele conta quais ferramentas utiliza para fazer suas tiras diárias (e como digital e analógico se completam). Mas vale percorrer por todo o blog (e, calma, imagem é só uma piada do Chico Barney).