Magnetismo de longa data

O Campo Magnético que batizou o encontro de Maurício Takara e Guizado nesta quarta-feira no Centro da Terra é o da convivência artística. Os dois já participaram juntos de inúmeros shows e projetos, tocando seus próprios trabalhos ou em bandas de outros artistas numa amizade que atravessa décadas. Mas os dois nunca tinham estado sozinhos num mesmo espaço para criar juntos e entraram numa sintonia fina cada um com suas ferramentas: Takara disparando samples, bases eletrônicas, puxando percussão e até um trumpete piccolo, enquanto Guizado conduziu a partir de seu instrumento, o trumpete, processado por um computador, em que adicionava efeitos, e também sampleando a própria voz. Foram duas longas imersões em que a conexão musical dos dois era quase palpável.

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M. Takara + Guizado: Campo Magnético

Dois instrumentistas gigantes, cada um deles ja dono de uma temporada inteira no Centro da Terra, retornam ao palco do Sumaré para um encontro único. Maurício Takara e Guizado juntam seus instrumentos-base, a bateria e o trompete, respectivamente, a pedais, plugins e synths para desconstruir canções dos respectivos repertórios nesta quarta-feira, na apresentação Campo Magnético. O espetáculo começa pontualmente às 20h e os ingressos podem ser comprados neste link.

Do rasinho às profundezas

Três instrumentos de sopro, um contrabaixo elétrico e base eletrônica – sem violão, sem guitarra, sem vocais, sem percussão ou bateria. Essa formação inusitada é a base do Comitê Secreto Subaquático, formado por Clara Kok, Fernando Sagawa, João Barisbe, Helena Cruz e Luiz Martins, que estreou no palco nesta terça-feira, apresentando músicas que vêm trabalhando desde o início do ano. Trajados com capas de chuva amarelas e vasculhando sonoridades que misturam o andamento incomum tanto da música eletrônica mais experimental quanto na música erudita contemporânea em canções com títulos infames e engraçadinhos como os samples e as intervenções vocais feitas por Lauiz. E o melhor: não parece com nada que você possa associar a algum gênero, artista ou cânone musical facilmente identificável. Soando únicos, passearam por diferentes profundidades sonoras sem medo de levar o público do rasinho às fossas abissais, às vezes numa mesma música. Foi mágico.

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Comitê Secreto Subaquático: Perigosas Criaturas Amigas

Mais uma apresentação de estreia no Centro da Terra, que recebe o primeiro show de um grupo formado por músicos que já circulam na cena independente paulistana, sejam como integrantes das bandas Pelados, Grand Bazaar e Cia do Tijolo ou acompanhando artistas como Ná Ozzetti, Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempó, Sessa, Jadsa e Patrícia Bastos, entre outros. Juntos, Clara Kok (flautas), Fernando Sagawa (saxofones e clarinete), João Barisbe (saxofones e clarinete), Helena Cruz (baixo) e Luiz Martins (bateria eletrônica e programações), formam o Comitê Secreto Subaquático, que investiga os limites entre a a música eletrônica, a música pop e a música de concerto contemporânea e já está engatilhando o primeiro disco ainda para este ano. O espetáculo começa pontualmente às 20h e os ingressos podem ser comprados antecipadamente neste link.

A importância da presença

Na segunda noite de sua temporada Águas Turvas, Dinho Almeida começou mais uma vez sozinho e logo passou a divagar sobre amizade, família e sua banda, os Boogarins, enquanto tocava músicas que, como ele mesmo disse, havia feito para sua bandinha mas que por diversos motivos acabaram não entrando nos discos, além de músicas feitas à luz desta safra de shows que ele imaginou para o Centro da Terra. Mas diferente da primeira apresentação, quando atravessou do começo ao fim sem nenhuma companhia no palco, ele desta vez contou com os irmãos Bebé e Felipe Salvengo na parte final, o que abriu novos horizontes para a apresentação, com momentos de pura ternura e celebração da presença. Foi lindo.

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Chora, piano

Foi lindo o batismo de fogo de Paola Lappicy no palco do Centro da Terra nesta quarta-feira, em seu primeiro espetáculo autoral, Que Mágoa é Essa Que Me Chama?. Apresentando as músicas que se tornarão seu disco num palco pela primeira vez, ela deixou o lugar de instrumentista e musicista convidada para abrir seu coração com suas próprias músicas – e o resultado foi um show, literalmente, de chorar. Acompanhada de Dustan Gallas, Caio Chiarini, Léo Carvalho, Rogério Roggi e Luciana Rosa (além da participação surpresa e arrebatadora de Raquel Tobias), ela passeou por seu repertório quase todo ancorado na sofrência e na tristeza, com variações do termo “choro”, espalhadas pela noite, e deslizou pelo piano, seu instrumento-natal, mas também foi para o violão, sempre segurando com sua bela voz aquelas canções tão tristes, que ainda foram salpicadas por versões de outros temas de fossa, como a clássica “Espumas ao Vento” e a cortante “Alvejante” que reuniu Priscila Senna e Zé Vaqueiro, para encerrar sua apresentação. Chora, peito.

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Paola Lappicy: Que Mágoa é Essa Que Me Chama?

Que satisfação receber nesta quarta-feira, dia 6, no Centro da Terra a cantora, compositora e pianista brasiliense Paola Lappicy às vésperas do lançamento de seu primeiro disco solo. A convidei para apresentar as canções que a transformaram em autora antes que ela definisse como seriam suas versões definitivas ao vivo justamente para experimentá-las neste formato, canções que a acompanham desde a juventude, mas que só após o auge do período pandêmico, ela resolveu colocar para fora, depois de passar anos acompanhando artistas como Fernando Catatau e Bárbara Eugenia. São músicas que falam sobre este período intenso e mórbido que atravessamos muito a partir do ponto de vista do luto, da tragédia e da perda, daí ser batizado de Que Mágoa é Essa Que Me Chama? Junto com ela, Paola reúne uma banda que conta com Dustan Gallas (baixo e piano), Caio Chiarini (violão e guitarra), Rogério Roggi (percussões), Léo Carvalho (bateria) e Luciana Rosa (violoncelo), numa noite que pode verter lágrimas. O espetáculo começa pontualmente às 20h e os ingressos podem ser comprados neste link.

O equilíbrio do trio

“Tem um negócio aí nesse negócio de trio”. O formato trio tem uma força magnética que aproxima e afasta os envolvidos exatamente à mesma medida, fazendo com que a presença individual de cada um acabe buscando um equilíbrio a partir da ausência dos outros e a busca por essas lacunas acaba abrindo suas próprias aberturas para que tudo flua naturalmente. E não importa que tipo de trio, mas quando estamos falando de música, a fluência dessa conexão é exatamente o corpo que a torna possível, como se esse magnetismo se traduzisse em som. E assim foi a apresentação do Thiago França Trio nesta terça-feira no Centro da Terra, encontrando um ponto em comum entre as apresentações que fazia com o codinome de Sambanzo (quando tocava ao lado de seus dois compadres da percussa tanto de Xepa Sounds quanto da Charanga do França, Wellington “Pimpa” Moreira e Samba Sam, e de dois integrantes do Clube da Encruza, Kiko Dinucci e Marcelo Cabral, tocando baixo elétrico) e o trio de free jazz Marginals, composto por Cabral (tocando baixo acústico) e Tony Gordin. Reunindo-se apenas a Cabral e Pimpa, ele enxuga ainda mais o Sambanzo e abre novas janelas de ritmo com o formato trio, apresentando tanto temas que já gravou em seus dois primeiros discos solo (Etiópia e Coisas Invisíveis) e alguns inéditos que deverão materializar-se num novo disco (com outras formações) em breve, entre elas inspirada na coulrofobia do carnaval periférico do Rio chamada apropriadamente de “Fear of the Bate-Bola”. Mas não posso deixar passar minha empolgação ao ouvir um dos meus temas favoritos do saxofonista, a originalmente elétrica “Capadócia”, quase um Talking Heads com o dedo na tomada, vertida a instrumentos acústicos, com pouquíssima interferência elétrica. Foda demais.

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Thiago França: Thiago França Trio

Prazer receber no Centro da Terra mais uma das invenções de Thiago França, que reuniu-se com o baixista Marcelo Cabral e o baterista Welington “Pimpa” Moreira pare retomar composições dos discos que assinou como Sambanzo, Etiópia e Coisas Invisíveis, e buscar novas criações instantâneas e improvisos livres. A formação, chamada de Thiago França Trio, passeia do jazz ao samba a partir da condução da cozinha proposta por Pimpa e Cabral para que o saxofonista e flautista percorra livremente por todo esse espectro musical. O espetáculo começa pontualmente às 20h e os ingressos podem ser comprados antecipadamente neste link.

Sessão de terapia

Sozinho no palco, só com sua guitarra, pedais e máquinas para disparar efeitos, Dinho Almeida se submeteu a uma sessão de terapia em público. Ergueu véus e projetou imagens para criar um efeito cênico que deveria ser central na apresentação que fez nesta segunda, abrindo sua temporada Águas Turvas no Centro da Terra, para logo em seguida começar a conversar com o público sobre aquele processo: subir num palco sozinho e mostrar canções que nunca havia mostrado para mais que alguns amigos, em eventos domésticos. E entre lindas canções de natureza sentimental e confissões espontâneas no palco (e os gritos de seu filho pequeno, que estava brincando na sala de entrada do teatro, aumentando ainda mais a carga emotiva da noite), Dinho abriu-se completamente no palco como se estivesse sentindo a temperatura da água, ele que não sabe nadar. E entre composições inéditas, uma música feita para Ava Rocha (“João 3 Filhos”), outra para Céu (“Make Sure Your Head Is Above”), uma da banda que tinha antes dos Boogarins (Ultravespa, que o fez chorar enquanto tocava) e algumas de sua querida bandinha, o guitarrista goiano começou uma nova fase em sua carreira. É um caminho sem volta.

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