Salve Moraes!

Davi Moraes celebrou o legado de próprio pai nesta quarta-feira, dentro do projeto Releituras proposto pelo Centro Cultural São Paulo, com a participação de velhos compadres. A começar pela própria banda, que entre músicos que trabalham há tempos com o filho de Moraes Moreira, ainda contava com o mestre Jorge Gomes, irmão de Pepeu, ele mesmo um dos Novos Baianos originais. Davi até passeou pela banda que colocou seu pai no mapa ao entoar “Preta Pretinha”, mas preferiu focar na carreira solo do saudoso baiano, em clássicos imortalizados por si mesmo (“Pombo Correio”, “Coisa Acesa”, “Sintonia”) ou por outros intérpretes (como “Eu Também Quero Beijar”, mais conhecida com Pepeu Gomes, “Bloco do Prazer” e “Festa do Interior”, eternizadas por Gal Costa) e hinos do carnaval como “Chama Gente” e “Vassourinhas” (que cantou ao lado da comadre Marcia Castro) e “Dodô no Céu” (que contou com Beto Barreto, do BaianaSystem, na guitarra baiana), além de tocar uma música do próprio Baiana, “Systema Fobica”, quando Russo Passapusso subiu ao palco para atiçar o público da Sala Adoniran Barbosa, emendando “Colégio de Aplicação”. Foi bonito.

Assista aqui:  

Rumo ao vórtex do noise

Mais uma apresentação do Delta Estácio Blues de Juçara Marçal, desta vez no chão sagrado do Centro Cultural São Paulo, e o disco que Juçara Marçal lançou há quase dois anos segue vivo e pulsante, se transformando a cada novo show e maravilhosamente cada vez mais alto – o final noise de “Oi Cats” especificamente atordoou os ouvidos do público. As fronteiras do pós-punk com o noise estão sendo diluídas a cada nova apresentação e na deste sábado a ausência da batera Alana Ananias trouxe Sergio Machado para tocar mais uma vez com seus compadres e a histórica formação do Metá Metá no meio da década passada estava quase toda reunida (com Kiko Dinucci na guitarra e Marcelo Cabral no baixo, claro), celebrando essa descarga de energia e sentimentos que é esse disco maravilhoso.

Assista abaixo:  

Pedro Pastoriz no CCSP

Daqui a pouco, às 19h, Pedro Pastoriz finalmente lança ao vivo seu ótimo Pingue-Pongue com o Abismo, que foi lançado originalmente no longínquo 2020. Tenho feito a direção artística deste momento da carreira do ex-vocalista do Mustache e os Apaches, que começa a engrenar um novo momento de seu trabalho a partir desta terça-feira, quando apresenta este trabalho numa apresentação gratuita na mitológica Sala Adoniran Barbosa, no nosso querido CCSP. Quem vai?

Kika no Centro Cultural São Paulo

Conheço Kika há mais de dez anos, quando ela me cutucou para apresentar seu primeiro disco, o delicioso Pra Viagem, quando eu ainda fazia a curadoria do Prata da Casa no Sesc Pompéia, em mil novecentos e guaraná de rolha, e desde então sigo em sua cola, acompanhando o que ela tem feito nesses últimos anos, seja em carreira solo, na dupla que criou com a eterna parceira Tika ou na homenagem que fez ao Passarim de Tom Jobim. No meio do ano ela me chamou pra conversar porque queria fazer um show celebrando os dez anos de aniversário daquele primeiro disco, mas no meio do papo percebi que ela queria voltar a tocar com a banda que montou naquela época e passear por músicas de seu repertório que puxavam para o acento do reggae, gênero que sempre a acompanhou. E assim ela me chamou para dirigir esse show que fazemos nessa última quinta-feira de setembro na mágica Sala Adoniran Barbosa do nosso querido Centro Cultural São Paulo. A banda é pesadíssima: Loco Sosa na bateria, Victor Rice no baixo, Guilherme Held na guitarra, Cuca Ferreira no sax e flauta e a própria Kika tocando guitarra e teclados, passando pelas músicas mais jamaicanas de seu repertório, com direito a versões maravilhosas no percurso – e é claro que a Tika também não ia ficar de fora e foi convidada para fazer uma participação especial. O CCSP fica na Rua Vergueiro 1000 (na estação Vergueiro do metrô), o show começa pontualmente às 19h e é de graça! Mais informações aqui.

Dreampop da ilha

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Que alegria descobrir que as meninas do quarteto catarinense La Leuca transformaram o show que fizeram no ano passado no Centro Cultural São Paulo, quando eu era curador de música de lá, em um disco ao vivo, lançado em plena quarentena. Em Ao Vivo @ CCSP elas exibem sua doce e frágil psicodelia indie ao mesmo tempo em que nos hipnotizam com riffs e solos de guitarra.

Abaixo, o vídeo que fiz desta mesma apresentação:

Liniker & Os Caramelows no CCSP

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E a última atração da minha curadoria de música no Centro Cultural São Paulo é o show que Liniker & Os Caramelows fazem nesta quinta, às 21h, na Sala Adoniran Barbosa (mais informações aqui).

Foi bom demais – obrigado a quem esteve junto.

Max B.O. no CCSP

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Nesta quinta-feira, Max B.O. lança seu disco mais recente, O.M.M.M. no Centro Cultural São Paulo, às 21h (mais informações aqui).

Fora do Centro Cultural São Paulo

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Depois de sair no Diário Oficial e na Monica Bergamo acho que já é público: não sou mais o curador de música do Centro Cultural São Paulo.

Foram quase três anos que me ajudaram a entender melhor a máquina estatal e a cabeça dos artistas, políticas culturais e o porquê da burocracia, a precaridade da cultura do ponto de vista público e a perseverança de artistas e produtores de fazer acontecer. Mas, mais do que isso, foram quase três anos convivendo nas entranhas deste maravilhoso transatlântico de concreto estacionado num canteiro entre a 23 de Maio e a Rua Vergueiro. Principal centro cultural brasileiro, o CCSP também é a matriz do próprio conceito de centro cultural no Brasil – e sua natureza urbana, sem porta de vidro nem ar condicionado, é um dos melhores e mais sólidos exemplos paulistanos da tão falada apropriação do espaço público.

Mais do que fazer parte da história deste aparelho mágico, sou grato em conhecer as pessoas que fazem as coisas funcionarem ali dentro e de me ver como parte deste time. Heróis que ganham míseros salários para, na raça, preservar este templo à cultura que repousa na cabeceira da Avenida Paulista. O conceito de servidor público ganha uma conotação quase romântica quando aplicado à gestão cultural e o sangue e o oxigênio do Centro Cultural São Paulo só circulam graças a essas pessoas, que enfrentam condições risíveis de trabalho e uma vasta burocracia para que quase um milhão de pessoas por ano circule por seus corredores e jardins.

Ali aprendi que o ofício de curador é mais do que o de programador – e que o que parece ser um emprego dos sonhos (escolher artistas pra tocar num dos palcos mais emblemáticos da cidade) é só 20% do trabalho. Os outros 80% misturam burocracias de contratação, pareceres e justificativas, questões técnicas, pouco dinheiro – na maioria das vezes, nenhum -, bater agendas, checar cronogramas, equilibrar a grade de programação, conversar com artistas estabelecidos, de médio porte ou em formação sobre as vantagens e dificuldades de se realizar um evento no espaço, negociar com produtores, empresários, técnicos e roadies. E, claro, criar coisas novas.

Sobre isso não tenho a menor modéstia pra dizer que consegui realizar sonhos impossíveis. Entre consolidar um mês só para novas bandas (o Centro do Rock, por três anos consecutivos), colocar quatro das melhores bandas de São Paulo para tocar no mesmo palco simultaneamente (com o projeto Bicho de Quatro Cabeças, que reuniu Metá Metá, Hurtmold, Bixiga 70 e Rakta) ou reunir quatro entidades femininas num mesmo espetáculo (Alessandra Leão, Luiza Lian, Quartabê e Ava Rocha), passando por três Viradas Culturais, por uma colisão entre rap e percussão (o Centrífuga, pilotado por Kamau e Ari Colares), um evento em homenagem aos discos de vinil (Cultura do Vinil), as três edições do Women’s Music Event, conferências sobre Mário e Oswald de Andrade do ponto de vista da música (Conferências sobre uma Amizade, na semana MariOswald, com apresentações de José Miguel Wisnik, Tom Zé, Iara Rennó, Elo da Corrente e Ronaldo Fraga), uma celebração ao tropicalismo (com uma conversa com Tom Zé e audição comentada do Tropicália ou Panis et Circensis), quatro edições dos Concertos de Discos (uma sobre discos clássicos lançados em 1967, outra sobre a história do rock brasileiro, outra sobre Baden Powell e a última sobre música de pista brasileira), um evento para quebrar as barreiras entre popular e erudito (a Mostra de Cordas Dedilhadas), dois eventos em homenagem a ícones paulistanos (Viva Walter Franco e Viva Made in Brazil) e vários outros projetos.

Isso sem contar os shows: Letrux lançando seu Em Noite de Climão, Luiza Lian despedindo-se de seu Oyá: Tempo, Otto em formato power trio, Baco Exu do Blues fazendo seu Esú, Jards Macalé mostrando seu Besta Fera, Hamilton de Holanda celebrando Jacob do Bandolim, o encontro de Rodrigo Brandão com Azymuth, Rincon Sapiência em dois shows viajando pela música jamaicana, Maglore lançando seu Todas as Bandeiras, Thiago Pethit reverenciando Patti Smith e um retrato considerável da atual música brasileira, com shows de Don L, Edgar, Anelis Assumpção, Deaf Kids, Phill Veras, Ruído/mm, Black Alien, Leandro Lehart, Tassia Reis, Karnak, Violeta de Outono, Douglas Germano, Arto Lindsay, Pin Ups, Nill, Patife Band, BNegão, Rashid, MC Tha, Yma, Juliana Perdigão, Rômulo Froes, Carne Doce, Siba, Karina Buhr, Gangrena Gasosa, Mariana Aydar, Hermeto Pascoal, Rico Dalasam, Saskia, Maurício Pereira, Rodrigo Ogi, Karol Conká, Linn da Quebrada, Liniker, Smack, Gorduratrans, Boogarins, Edgard Scandurra, Garotas Suecas, Maria Beraldo, Di Melo, Ava Rocha, Ana Frango Elétrico, Alessandra Leão, Cólera, Cidadão Instigado, De Leve, Jaloo, Tantão e os Fita, Papisa, Satanique Samba Trio, Mãeana, Jair Naves, Rimas e Melodias, Odair José, Curumin, Glue Trip, The Baggios, entre muitos outros, além de heroicos shows internacionais, com Lee Ranaldo, Ian Svenonious, Holydrug Couple, Norbert Möslang, Belgrado, Laura Jane Grace, A Place to Bury Strangers e Jaz Coleman. Foram mais de cinco centenas de artistas que passaram por lá nestes três anos que estive na curadoria.

Sou especialmente grato à equipe de Salas e Espetáculos, coordenada pelo secular Paulo Jordão, ele mesmo um monumento à resistência cultural, e à de produção, coordenada pela Luciana Mantovani, o mecanismo de precisão que faz o Centro Cultural funcionar, além da equipe de contratos, liderada pela Paloma Galasso, que me ajudava a resolver os problemas à medida em que eles iam aparecendo e de todas as outras pessoas que convivi nestes três anos, dos seguranças ao pessoal do café, passando pela mutante (e paciente) equipe de comunicação, os outros curadores, a equipe da biblioteca e discoteca, alguns que só conheci de nome e outros que só conheço de rosto, pois é muita gente. Além de, claro, agentes, produtores, empresários, técnicos, engenheiros de som, iluminadores, roadies, músicos, intérpretes, compositores e artistas que convivi neste período e me ajudaram a redefinir meu papel como jornalista e a deixar claro meu papel como agente cultural, seja como comunicador, curador ou diretor artístico. E, sem dúvida, a todos os ex-CCSP que passaram por lá antes de minha chegada – o Centro Cultural São Paulo é um trabalho coletivo maior do que qualquer nome e sobrenome que já pisou por lá.

Agradeço particularmente ao mestre Cadão Volpato, que me convidou para o cargo e de ícone indie da minha adolescência e colega jornalista da minha vida adulta passou a chefe e depois chapa, um amigo para o resto da vida, e ao compadre Lucas Uth, que era estagiário quando entrei e depois virou meu assistente (também demitido na mesma ocasião, sendo assim extinta a curadoria de música) e, principalmente, amigo e jovem guru, uma das almas mas puras e doces que conheço, mas não pisa no calo dele não! E que em breve vai ser pai. Valeu rapaz, que viagem tudo isso!

Ainda tenho dois shows programados no Centro Cultural antes da minha saída: Max B.O. na próxima quinta-feira e Liniker e os Caramelows na quinta seguinte e depois sigo meu rumo. Apareça lá para se despedir comigo da minha querida Sala Adoniran Barbosa, me dar um abraço e pensar em coisas novas. Aliás, quem me conhece sabe que já estou armando altas – página virada, novo capítulo. Evoé!

Thalma de Freitas no CCSP

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A cantora carioca Thalma de Freitas apresenta-se ao lado do pai, o lendário pianista Laércio de Freitas, e de Lenna Bahule, neste domingo, às 18h, no Centro Cultural São Paulo (mais informações aqui).

Bruno Capinan no CCSP

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O cantor baiano radicado no Canadá Bruno Capinan apresenta seu álbum Real com participações de Mãeana e Anaïs-Sylla, no Centro Cultural São Paulo neste sábado, às 19h (mais informações aqui).