Jornalismo-Arte: Carlos Albuquerque

Maior prazer em receber o mestre Calbuque, o pai do jornalismo dub, na edição desta semana do Jornalismo-Arte e ele recupera sua trajetória desde as primeiras vezes em que começou a procurar saber mais sobre música e, mesmo com formação acadêmica indo para o lado da biologia, como isso o levou para o jornalismo, onde começou a reinvenção da linguagem ao comandar o Rio Fanzine ao lado de Tom Leão, com a benção de Ana Maria Bahiana, inspirando novos jornalistas em todo o país. Ele também fala de sua aproximação com as picapes e seus projetos para além do jornalão, tanto na curadoria musical quanto na internet.

Maria Gasolina cometh

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A Marina (ex-Bonde do Rolê e atual Madrid) abriu sua conta no Soundcloud começando a revelar seu baú de gravações que podem compor seu primeiro disco solo. “London Surf”, a primeira faixa, foi produzida pelo Daniel Hunt, do Ladytron, e rebola entre a dance music do século 21 e as guitarras da surf music.

Vi no Calbuque.

Disco music de protesto

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A disco music sempre foi tratada como escapista ou alienante, mas agora um documentário (ou mockumentário?) tenta recuperar a moral política do gênero, que teria funcionado como grito de guerra para grupos específicos dos anos 70 (negros, latinos, gays, entre outros) para conseguir pautar a sociedade com suas reivindicações depois de se embrenhar na música pop. Essa é a premissa de Secret Disco Revolution, saca só:

O Calbuque entrevistou o diretor canadense Jamie Kastner e fala mais sobre o filme em seu site.

Keith Haring no Brasil

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Guto Barra e Gisela Matta (esta última recentemente morta ao andar de bicicleta no Rio de Janeiro) assinam a direção do documentário Restless: Keith Haring in Brazil sobre as vindas de um dos pais do grafitti moderno ao Brasil nos anos 80, especificamente para a cidadezinha de Serra Grande, perto de Ilhéus, na Bahia. N’O Globo, o Calbuque conversou com Barra, Julia Gruen (da Keith Haring Foundation, que banca o filme) e Kenny Scharf, artista plástico norte-americano, amigo pessoal de Keith, que morreu em 1990, e dono de um dos últimos resquícios da vinda de Haring ao Brasil, um mural pintado no chão. Veja o trailer de Restless abaixo:

 

O Cure e a música digital

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Em entrevista ao Calbuque nO Globo, Bob Smith lembrou do papel pioneiro de sua banda ao divulgar as próprias músicas online e aproveitou para criticar a falta de privacidade dos tempos digitais:

“Lançamos “Five swing life”, em 1997, exclusivamente na internet, e sabemos da importância dessa conexão. Nunca pensamos em processar nossos fãs por baixarem nossas músicas. Mas ao mesmo tempo, não fico contando minha rotina por aí. Não acho que seja interessante saberem o que comi pela manhã ou como estou vestido em casa. Sou de uma turma, talvez antiga, que ainda preza muito a privacidade. Pertenço ao público quando estou em cima de um palco e quando estou dando entrevistas, como essa. Fora isso, tenho uma vida bem simples, que gosto de manter fora dos holofotes.”

O resto da entrevista segue nO Globo – e o Calbuque ainda deixou uns extras de fora… A foto que ilustra o post é do Bragatto, no show de ontem do Rio, que resenhado pelo próprio.

Tumblr do dia: Tilda Stardust

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E aproveitando o encontro de Bowie com Tilda no novo clipe do lorde inglês, o Calbuque desenterrou o tumblr Tilda Stardust, dedicado a mais que a simples apreciação da semelhança física entre estes dois belos espécimes da raça humana, mas a provar que Tilda e Bowie são a mesma pessoa. Veja abaixo:

 

OEsquema 2013: Indieoteca, Nova Carne, Resistro e Calbuque

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Quatro novos blogs já estrearam em 2013 nOEsquema (quem visita nossa home bem sabe), mas nem tivemos tempo de fazermos as respectivas apresentações, devido a como o ano novo está puxado (e isso não é uma reclamação). Por isso peço desculpas aos recém-embarcados passageiros do vôo OEsquema por não ter-lhes apresentado devidamente. Antes de mais nada, não custa realçar que é uma honra tê-los a bordo, Taís, Chris, Cristiano e Calbuque.

Taís Toti é jornalista como mais da metade de nossos condôminos e cobre cultura em veículos tradicionais há um bom tempo, desde antes de sair de Minas Gerais, onde nasceu. Mas é no Indieoteca (outro blog que eu tunguei da Fubap) que ela se solta e fica à vontade para linkar vídeos que gosta e comentar filmes e discos do jeito que tem vontade. Depois de uma passagem pelo Rio, ela veio parar em São Paulo e quando soube que havia uma vaga no Divirta-se do Estadão, dei o toque para ela, que, depois de muito tempo, veio sentar-se perto de mim na redação do jornal do Limão, quando eu ainda trabalhava no Link. Ela já estava na mira para vir para OEsquema há um tempinho, mas oficializei o convite no final do ano passado, quando ela ameaçou começar um papo que queria desistir do blog, que não tinha mais tempo e não sei o quê… Pois eis o Indieoteca nOEsquema, “ex-indie, atual hipster”, como se autodefine, que já estreou com o Indie Crush desse ano (já falo sobre isso).

Já o gaúcho Cristiano Bastos eu nunca vi mais gordo – nos conhecemos virtualmente e mais por páginas de papel do que digitais. Primeiro graças ao hercúleo Gauleses Irredutíveis (um livro sobre a história do rock do Rio Grande do Sul, escrito com o Alisson Avila e o Eduardo Müller) e depois pela série de matérias que ele tem feito para a revista Rolling Stone, quase sempre sobre política ou música brasileira. Uma delas resultou no documentário Nas Paredes da Pedra Encantada (que dirigiu com Leonardo Bonfim), sobre o clássico Paebiru de Zé Ramalho. Cristiano também mantinha seu Zuboski no Blogger, mas queria começar o blog do zero e perguntou se tinha alguma vaga em nosso condomínio. E assim nasceu o Nova Carne, em que ele se dispõe a tratar de seus assuntos favoritos, além de desenterrar matérias, entrevistas e posts do antigo blog, sempre em versão redux.

O Bruno fala mais sobre o Chris e o Calbuqueno URBe, mas não custa registrar também a enorme satisfação de ter o mestre Calbuque em nosso elenco, um cara cujo principal trabalho autoral na imprensa brasileira é a página dupla Rio Fanzine (ao lado do compadre Tom Leão), que inspirou a criação do Trabalho Sujo ainda no papel e que cheguei a colaborar em sua encarnação nos anos 90 e início da década passada. Além de ser um dos pouquíssimos nomes no mundo a poder usar o termo “jornalismo dub” para se autodescrever.

O fim do Rio Fanzine

O Rio Fanzine desmaterializou-se de vez nessa sexta-feira, deixando a galáxia de Gutemberg para tornar-se mero espectrograma no ciberespaço, como este que vos fala. Página central no caderno de cultura de domingo do jornal O Globo, o Rio Fanzine ocupou, desde sua criação, o pódio privilegiado de reunir todas as manifestações de cultura alternativa que cresciam ao redor do jovem pop brasileiro, que ainda usava bermudas nos anos 80. Pilotada pelos bróderes Tom Leão e Carlos Albuquerque, o Calbuque, a coluna era global e local em uma mesma tacada e a dupla trazia temperos diferentes para o jornalismo cultural da época, buscando novidades nas bandas locais e em tendências globais. Eles falam do ciclo que fecharam ao sair do papel depois de 24 anos no texto de despedida:

Quando o Rio Fanzine nasceu — sob as bênçãos da rainha Ana Maria Bahiana e os posteriores cuidados de dois dos seus súditos — a informação sobre cultura na chamada grande imprensa era reta e vinha do alto para baixo. Era natural que fosse assim. Cultura alternativa, então, nem se falava dela, salvo as pioneiras colunas de Big Boy e Nélson Motta, aqui no GLOBO.

Mas os tempos, eles já estavam mudando. O primeiro Rock in Rio tinha gerado euforia e inquietação. Os ecos punk também podiam ser ouvidos, apesar da distorção. Todo mundo queria fazer alguma coisa — formar uma banda, fazer uma festa, montar um festival, criar uma rádio de rock e até mesmo inserir um fanzine dentro das páginas de cultura de um grande jornal. A terra estava se movendo: era o underground em ebulição. Restava fazer a nossa parte, a nossa obrigação: divulgar isso.

O Rio Fanzine começou a servir, então, como duto de passagem para essa pressão. E que pressão! Tínhamos que falar de novas bandas, novas festas, novos festivais, novas rádios, novos sons e novas tendências, que nenhum assessor ou divulgador faria chegar à redação.

E assim foi. Descobrimos Planet Hemp, Skank, O Rappa, Ed Motta, Los Hermanos e Canastra, entre muitos, mas muuuitos outros. Falamos de discos, livros, filmes e quadrinhos que ninguém estava prestando atenção, numa época em que o “New Musical Express” só era encontrado em algumas poucas bancas da cidade. Detectamos (e condenamos) a presença dos pitboys na noite carioca. Abraçamos a eletrônica nos seus primórdios, mergulhamos na onda grunge, dançamos com os primeiros raps e viajamos com o dub. Falamos até que o futuro da música seria através de uma novidade chamada internet. E acreditávamos, piamente, que nosso dever, se havia algum, era tornar o underground maior.

Dito e feito. Hoje aquele underground do Rio Fanzine está por cima, está em toda a parte.

Particularmente, a coluna tem um significado especial para mim. O Trabalho Sujo, como já disse, não começou online e como o Rio Fanzine, também foi uma coluna de papel num jornal – no caso, o Diário do Povo, de Campinas, onde morei entre 1993 e 2000. Mas em 1995 eu não tinha idéia do que acontecia no jornalismo do Rio de Janeiro – O Globo raramente chegava à redação e quando isso ocorria ia para a mesa do editor-chefe. Criei o Sujo sem referência externa direta, embora tenha conseguido provar sua existência para meus superiores do jornal a partir dos cadernos Zap!, do Estadão, e do Folhateen, ambos voltados para o público adolescente. Mas o meu conceito de coluna não era etário e visava cobrir diferentes focos de uma cultura que eu via aparecendo por todos os lados.

E nessa época nem existia internet direito.

Qual foi a minha surpresa depois de alguns anos publicando o Trabalho Sujo na contracapa do caderno de cultura de segunda-feira em Campinas quando eu descubro que o Rio de Janeiro tem o seu próprio Trabalho Sujo – e que ele é dez anos mais velho que o meu. A empatia foi imediata e a conexão, literal. Na medida em que a internet se popularizava, estreitavam-se os contatos entre pessoas de mesma mentalidade e aos poucos estava trocando emails não apenas com Tom e Calbuque mas também com outros desbravadores do pop nos jornais de suas cidades (Thaís e Weaver no Pub em Fortaleza, o Abonico no Fun em Curitiba, o Ferla em Porto Alegre, Ricardo Alexandre e Tomate no Zap em São Paulo, entre outros), criando uma rede que funcionava como ponto de contato entre a cultura independente e a mainstream (o tal “trabalho sujo” que batizou este site). Logo logo eu não apenas estava publicando nas páginas do RF como passava na banca do Carmo, todo domingo, para garantir meu exemplar do Globo e acompanhar o trabalho dos caras. E, sem perceber, transformei o Trabalho Sujo numa página dupla do caderno de cultura de domingo – igualzinho ao Globo. Com algumas diferenças: eu mesmo diagramava tudo e o Sujo era preto e branco. Mas tínhamos alma de zineiro mesmo trabalhando em redações e eu inclusive fui creditado algumas vezes no RF como editor de um fanzine virtual (que era apenas a versão online da coluna no jornal).

Cabe até uma discussão sobre se o fim do Rio Fanzine tem a ver com o crescimento e popularização da internet, mas ela acaba descambando naquele velho caô sobre o futuro do jornalismo, o que vai acontecer com o jornal no papel, como os jovens se informam, quem é o público de cultura, o que é cultura, como é consumida a cultura hoje – tudo isso me dá uma enorme preguiça só de pensar… Queria só prestar minhas homenagens à dupla, um agradecimento público pelos serviços que os dois se dispuseram a fazer por todo esse tempo e um salve a todos que lamentam o fim da coluna, cariocas ou não: foi bom enquanto durou e que bom que os dois tiveram a consciência de fechar o próprio ciclo.