13 de 2013: Terra e água

thewalk-downbythewater

Tive uma crise de pressão alta há um ano e meio e depois de todos os exames, o médico veio com o resultado: “Tudo normal, mas você bebe, fuma, tem quase quarenta anos, sedentário e é jornalista, uma profissão desregrada. Natural que o corpo venha pedir a conta uma hora ou outra. Você vai ter de mudar de hábitos”. Era o chamado que esperava. Sempre deixei minha saúde em segundo plano à espera deste médico, que me dissesse que, por algum motivo, teria de cuidar da minha saúde. Lá estava ele, anunciando uma profecia que eu já esperava ser anunciada.

O destino me ajudou em algumas coisas: ao mudar de emprego, do Link para a editora Globo, parei de fazer plantões aos fins de semana. Mais do que isso – agora eu havia fugido de vez do noticiário mais quente, o que me deu mais tempo para cuidar de mim. E ser vizinho do compadre Camilo Rocha me ajudou também – ele havia começado a caminhar todos os dias pela manhã e no final do ano passado comecei a andar diariamente. Inventei um apelido – uma hashtag – para estas caminhadas: #thewalk, inspirado em um hit da minha adolescência, do Cure.

Elas me obrigaram a por em prática o hábito de acordar cedo. Há uns cinco anos acordo um pouco antes do sol, mas demorava para sair de casa – entre um lento despertar e um longo café da manhã. Agora não: antes das nove já estava na rua, sentindo o frio fresco do ar da matina ao mesmo tempo em que caminho pouco mais de três quilômetros pelo meu bairro. Isso me aproximou ainda mais da minha vizinhança – aos poucos reconhecia o pessoal de uma padaria que pouco frequentava, cumprimentava os porteiros e vigias que estavam sempre no mesmo ponto todos os dias, reconhecia taxistas e outros caminhantes – com bebês, cachorros ou sozinhos – que cruzava pelo caminho. Mais do que botar o próprio corpo para trabalhar (lentamente) começava a entrar em contato com o meu próprio bairro de forma mais íntima, menos à distância. Um aprendizado duplo – que ainda se mantém.

O próximo passo foi retomar a natação, meu esporte favorito. Nadei por dez anos entre a infância e adolescência e a competição contra si mesmo, o silêncio mental submerso e o contato com a água sempre me fizeram um ávido nadador. O problema agora seria recuperar essas atividades quase vinte anos depois de deixar de praticar qualquer exercício físico, mas tem dado certo. Convidei Camilo para repetir a dobradinha das caminhadas, mas ele tornou-se pai no meio do ano, o que lhe obrigou, inclusive, a parar de caminhar. No fim, foi bom: retomar a natação sozinho me colocou em contato com uma das melhores coisas do esporte – o aspecto meditativo de percorrer raias e raias sozinho. E, como nas caminhadas, batizei esse novo hábito com outro apelido – outra hashtag -, #downbythewater, que veio de outro hit, da minha pós-adolescência, da PJ.

O corpo dói no início, a preguiça tenta a não sair de casa, é difícil achar o melhor horário, mas tem valido à pena. Os resultados vêm aos poucos, mas os benefícios são sentidos de cara. Além de sentir o corpo evoluir – o fôlego melhorar, o peso diminuir, a disposição para tudo aumentar -, o impacto mental de colocar-se em funcionamento é crucial para seguir nesta evolução. Uma mudança drástica num ano ímpar, que recomendo a todos os sedentários que conheço. Não é pra largar discos e livros e virar um beato bitolado geração-saúde, contando quilocalorias, nem o infame “projeto verão”. No meu caso está mais para “projeto 100 anos”, que é para lá que eu vou.

O próximo passo é abandonar o cigarro, mas isso é papo pra 2014.