Impressão digital #0032: Os boatos sobre David Bowie

Minha coluna desta semana do Caderno 2 é sobre um boato – que seria melhor se continuasse como boato mesmo…

David Bowie está bem?
O dia em que a terra vai parar

Na semana passada, estive em um evento no exterior em que me encontrei com alguns jornalistas estrangeiros. Entre os pares europeus, um consenso sobre uma notícia que ainda não foi publicada em lugar nenhum. “Parece que David Bowie está morrendo”, disse um deles, expressão triste no rosto. Outros dois confirmaram o rumor, olhares desolados de fãs chocados, e um deles citou um recente especial feito pelo semanário inglês NME aparentemente sem motivos sobre o compositor, talvez um dos nomes mais importantes da cultura do século 20.

Se sua importância é assunto para discussão, sua dimensão não é. Bowie é um dos artistas mais conhecidos do mundo e sua influência – não só musical – pode ser sentida até hoje.

De Lady Gaga a reality shows passando pelas contínuas reinvenções a que qualquer artista deve se submeter: tudo isso é culpa de David Bowie (que além de tudo é um dos dez melhores compositores ingleses do século). Nomes como Iggy Pop e os Stooges, Lou Reed e o Velvet Underground, o Kraftwerk e Brian Eno seriam bem menos conhecidos caso David não tivesse aparecido em suas vidas e os puxado para cima.

Bizarro, portanto, que a sua possível morte esteja sendo cochichada. “É uma espécie de respeito”, disse um dos presentes. “A imprensa inglesa, por mais estranho que possa parecer, às vezes tem disso.”

Mas o que impressiona mesmo é o fato de não haver nenhuma referência online sobre isso. Embora haja algumas citações sobre suas condições de saúde – Bowie não viveu uma vida de santo -, pouco se fala sobre sua condição cardíaca. Ele teria sofrido um ataque do coração em 2004, após um show na Alemanha, quando cancelou sua turnê europeia e foi submetido a uma cirurgia para desobstruir uma artéria – apenas a cirurgia foi confirmada oficialmente.

E nunca mais gravou discos. Seu último álbum de inéditas (A Reality) é de 2003 e a partir disso o compositor se limitou a organizar sua discografia, em várias compilações e lançamentos de shows do passado em novos formatos. Sua produção mais recente limita-se à participação em shows (tocou com Arcade Fire, David Gilmour e Alicia Keys) e discos (TV on the Radio, Scarlett Johansson), além de poucas aparições públicas, quase sempre para receber prêmios.

É louvável que um artista de tal proporção consiga manter tamanho sigilo em relação a um problema de saúde tão grave, ainda mais numa época em que se parece saber tudo sobre todos. Mesmo que não esteja doente, pouco se sabe sobre sua vida há pelo menos cinco anos. Fechou-se em reclusão drástica, justamente um dos artistas que mais transformaram sua vida em palco.

Também é curioso – e irônico – que Bowie repita a trajetória de seu mais famoso personagem, Ziggy Stardust, o astro alienígena andrógino que veio para a Terra alertar sobre o risco que o planeta corria – e que morreu vítima dos humanos, como uma espécie de Klaatu (o protagonista do clássico sci-fi O Dia em Que a Terra Parou, de 1951) do rock.

Tomara que seja só boato e que Bowie fique com a gente por mais vinte, trinta anos. Ele merece, nós também.

Impressão digital #0031

E a minha coluna de domingo no Caderno 2 foi sobre funk carioca e Grand Theft Auto.

Justiça global
Um funk carioca no GTA

No início da semana passada, a 3ª Vara Cível de Barueri, em São Paulo, decidiu que as vendas da versão de um dos games mais populares do mundo, o polêmico Grand Theft Auto (GTA), deveriam ser suspensas em todo o planeta. A decisão foi tomada após a acusação de que uma música usada como trilha sonora da expansão Episodes from Sin City, o funk carioca Bota o Dedinho pro Alto, não tinha autorização para ser usada no jogo.

A desenvolvedora do jogo, a nova-iorquina Rockstar, já se manifestou dizendo que ainda não foi notificada sobre o ocorrido, mas que assim que isso aconteçer, irá recorrer. A empresa diz que obteve a autorização para usar a música, mas a assinatura no contrato de cessão de direitos autorais não bate com a de seu autor, que recorreu à Justiça para suspender a comercialização do jogo, bem como para exigir uma indenização financeira.

O episódio ilustra bem como ainda estamos na infância de um mundo inteiramente conectado, graças à internet. Anos atrás, dificilmente um jogo global incluiria uma música brasileira que não fosse licenciada por uma gravadora multinacional. Mas, graças à rede, os criadores do jogo não apenas puderam conhecer o funk carioca como pedir a autorização para seu uso. Da mesma forma, a suspensão de um produto de alcance global a pedido da justiça de um país que não fosse seu produtor – ainda mais de um game – seria apenas risível.

Não mais. As duas situações – o funk carioca em um videogame e a decisão judicial brasileira – fazem parte de um novo cenário mundial que desrespeita fronteiras geográficas por definição. E, com isso, legislações nacionais vão ficando obsoletas, ultrapassadas ou conflitantes. Resta saber se chegaremos a um consenso – e se este consenso será uma constituição planetária. Mas, por enquanto, isto é apenas especulação.

Bilu!
O alienígena da voz fininha
Uma reportagem feita com um suposto alienígena no interior de Minas Gerais tornou-se uma das sensações da internet brasileira. Com uma vozinha ridícula em português, o “ET”, autodenominado “Bilu” (sério) é questionado se tem alguma mensagem para nós. Sua resposta já pode ser considerada um clássico de 2010: “Apenas que… busquem conhecimento”.

Impressão digital #0030: A Rede Social e o MP3

Na minha coluna no Caderno 2 desta semana, falo novamente sobre o filme do Facebook, não sobre ele propriamente, e sim sobre uma mensagem que está embutida em seus minutos…

O MP3 e ‘A Rede Social’
O dilema digital para as massas

A Rede Social, novo filme de David Fincher (o mesmo diretor de Clube da Luta e Zodíaco), conta a história de como o site Facebook foi criado – e entra em seu terceiro fim de semana de exibição nos EUA correndo o risco de manter-se como líder das bilheterias desde sua estreia. O resultado pode surpreender quem crê que, para ter um bom desempenho comercial na telona, basta adaptar uma história em quadrinhos, enchê-la de efeitos especiais e exibi-la em 3D.

A Rede Social não tem nada disso: dispõe-se a contar como um gênio antissocial inventou uma ferramenta de socialização digital que tornou-se o maior site do mundo. Denso, frio e devagar quase parando, o filme é o oposto do que se espera de um sucesso hollywoodiano, mas o nome dos envolvidos ajuda a entender o porquê do sucesso – além de Fincher, o filme é escrito pelo mesmo Aaron Sorkin da série West Wing e protagonizado pelos novos galãs Jesse Eisenberg e Andrew Garfield (que fará o novo Homem-Aranha), além do cantor pop Justin Timberlake.

E Justin é o assunto da coluna de hoje. Nem preciso entrar nos méritos de sua atuação (que é boa, mesmo que ele venha da música e não do cinema), mas sim no personagem vivido pelo popstar em A Rede Social. Ele faz as vezes de Sean Parker, cofundador do Napster, o software de compartilhamento de arquivos online que virou a indústria musical – e, em seguida, a do entretenimento como um todo – do avesso.

Em certa passagem do filme, que só estreia no Brasil em dezembro, ele conversa com o personagem de Eisenberg (que vive o criador do Facebook, Mark Zuckerberg) sobre o potencial da rede social criada por ele. E, no meio do papo, cita que, embora todos envolvidos no Napster tenham sido processados e que o software tenha causado a fúria da indústria fonográfica, ele sim, mudou a forma como consumimos música. E pergunta, ironicamente, se alguém ainda entra em lojas de discos para comprar CD.

A ironia se desdobra ao lembrarmos que Justin é um dos principais vendedores de disco da mesma indústria que foi estilhaçada pelo MP3, formato de arquivo que o Napster estabeleceu como padrão para a música no início do século 21. Mas não deixa de ser importante que este tema venha a ser uma das principais questões discutidas – entre outras, bem mais severas – em um dos filmes que, certamente, será um dos mais vistos em 2010. E, como o próprio Mark após o papo com Sean, pode fazer o grande público pensar um tanto sobre este assunto.

Impressão digital #0029: A solução do Belle & Sebastian

Minha coluna no Caderno 2 voltou das férias ontem.

Uma música só para você
A solução do Belle & Sebastian

Ícones do indie rock desde seu primeiro álbum – If You”re Feeling Sinister, e lá se vão 12 anos desde seu lançamento -, o grupo escocês Belle & Sebastian acaba de soltar mais um disco no mercado. Write About Love é seu sétimo lançamento (sem contar os EPs) e, numa época em que qualquer disco pode ser baixado e ouvido com apenas uma busca no Google, a banda inventou uma forma interessante de fazer com que seus fãs comprassem a versão física – o CD – de seu novo álbum.

Muito já foi dito sobre este assunto: uma vez que a música perdeu seu valor comercial ao se tornar facilmente encontrada para download online, como os artistas podem fazer que seus fãs voltem a pagar por música? A primeira resposta já virou lugar-comum: o fã paga para ver o show (que abre uma discussão enorme sobre o que acontece com o artista que não faz apresentações ao vivo, mas isso é outra conversa).

Outros vieram propor mais soluções radicais. Já é clássico o exemplo do Radiohead, que liberou seu In Rainbows para download gratuito e propôs que os fãs pagassem quanto queriam para ter o disco (mesmo que não pagassem nada). A banda Nine Inch Nails transformou seu disco Year Zero em uma plataforma com diferentes versões para download. Quem quisesse ouvir o disco, podia baixá-lo gratuitamente. Se a opção fosse baixar o disco com uma qualidade sonora superior, havia um preço. Outra versão vinha com faixas extras, a um preço maior.

O baterista da banda, Josh Freeze, inspirado neste plano, lançou um disco em que ofertava várias versões com preços diferentes – e as opções mais caras incluíam desde um telefonema pessoal do músico para o fã em agradecimento à compra até um show particular feito para quem pagasse o valor máximo que ele pedia,US$ 20 mil.

O Belle & Sebastian, que se apresenta no Brasil no início de novembro, foi além e acaba de lançar uma promoção junto de seu novo disco que é simples e convincente o suficiente para fazer seus fãs comprarem o pedaço de plástico com as músicas gravadas. Cada cópia de Write About Love vem com um código único que, ao ser digitado no site da banda, permite que o fã participe de uma promoção.

Nela, a banda pede para que o fã escreva em 300 palavras porque o Belle & Sebastian deveria gravar uma música sobre ele mesmo. Quem conseguir convencer os escoceses ganha um senhor prêmio: a banda vai para a cidade do fã, passa uma tarde com ele para, depois, ouvir uma música composta sobre ele. Simples, não? E ainda há quem se pergunte sobre como ganhar dinheiro com música em tempos digitais…

Impressão digital #0028: A cultura do remix

Minha coluna para o Caderno 2 que eu fiz antes de sair de férias…

A arte de recombinar
Remix: Parte da cultura popular

“Tudo é remix”, diz o diretor nova-iorquino Kirby Ferguson no título da série de minidocumentários que lançou online nesta semana, Everything Is a Remix. “O ato de remixar sempre fez parte da cultura popular, independentemente do tipo de tecnologia usada”, explica o diretor no site do projeto, everythingisaremix.info. “Mas coletar material, combiná-los e transformá-los são ações que fazem parte de qualquer nível de criação.”

Mas antes que você torça o nariz achando que Ferguson está se referindo às intervenções que DJs fazem em músicas alheias, tome tento. O próprio diretor começa o primeiro capítulo de seu documentário explicando isso: o remix de músicas é só a parte mais conhecida de um evolução criativa que acompanhou a história da humanidade e, devido às leis de direitos autorais criadas durante o século 20, foi interrompido pois ficou impossível usar partes de obras alheias sem que isso significasse
pagamento ao artista original. Mas o pequeno filme conta duas situações que ocorreram no século passado que ajudaram a arte a se livrar da proibição que passou a pairar sobre o processo de criação.

Primeiro, ele cita o escritor beat William Burroughs, que, no início dos anos 60, em Paris, inventou um novo método para escrever livros. Ele datilografava páginas e páginas, depois as recortava e grudava umas nas outras, fazendo nascer, desta forma, novas palavras, frases e expressões – muitas sem sentido, mas e daí? Ferguson sai de Paris em direção a Londres, no final da mesma década, quando surge a banda Led Zeppelin. Incensada em seu país de origem, o grupo, no entanto, demorou para ser
levado a sério nos Estados Unidos porque boa parte de suas músicas “pegava emprestado” riffs, letras e melodias de clássicos do blues. Everything Is a Remix mostra as semelhanças entre velhos blues e músicas do Led Zeppelin.

E frisa que a diferença entre o que a banda de Jimmy Page fazia e o conceito de remix atual é que hoje a recombinação e recontextualização das obras quase sempre apontam quem é o autor original – ao contrário da banda inglesa. Que, por sua vez, teve trechos de suas músicas usados à exaustão por diversas bandas de hip hop – citados no filme.

Impressão digital #0026: A solução do Chromeo

Na minha coluna no Caderno 2 de domingo falei com o Chromeo, que esteve aqui durante a semana.

A solução do Chromeo
Marcas no lugar de gravadoras

“Eu acho que isso vai acontecer esta semana…”, sussurra, cabisbaixo, David Macklovitch, depois que eu perguntei sobre o vazamento online de seu novo disco. O vocalista canadense é a metade nerd da dupla Chromeo, que veio ao Brasil esta semana para um evento promocional, e o grupo é um dos inúmeros artistas que, graças à internet, conseguiu seu lugar ao sol. Às vésperas de lançar seu segundo álbum, batizado de Business Casual, a dupla, no entanto, teme o vazamento do disco na internet antes de seu lançamento. Contradição?

“Nada disso, nós somos totalmente pró-internet e a favor da música livre”, explica David, que, além de se apresentar como Dave 1 na dupla, também dá aula de literatura francesa na Universidade Columbia, nos EUA. “É só uma questão de criar um ‘momentum’, de reunir todas as expectativas em relação ao disco na mesma hora. Para ser uma espécie de um evento. Depois que o disco sair, tudo bem, pode comprar no iTunes, o CD ou mesmo baixar de graça. Eu não ligo. Mesmo. Pois obviamente não vamos ganhar dinheiro vendendo discos.”

A dupla, formada por Dave e Patrick Gemayel (que assina como P-Thugg), existe desde 2004, mas só começou a fazer sucesso em 2006, com o disco Fancy Footwork. Era o auge do MySpace e início do crescimento do Hype Machine (“a nossa Billboard”, explica Dave, comparando o agregador de blogs de MP3 à revista oficial da indústria fonográfica). Agora, estabelecidos, buscam alternativas para continuar sem gravadora.

Dave acredita que, para bandas de pequeno porte, como é o caso do Chromeo, a saída é fazer parceiras com marcas. Ele cita o caso da música que lançaram no final de 2009, Night by Night. Emvez de simplesmente gravar e lançar online, a dupla preferiu transformar a nova música, como eles mesmos dizem, num “momentum”. Para isso, orçaram um clipe caro e buscaram um parceiro para bancar tudo, no caso, uma marca de refrigerantes.

“Fizemos um clipe caro, de orçamento alto, e demos de graça para os fãs. Ao mesmo tempo, tudo foi feito do jeito que queríamos. Você não vê a gente dizendo que amarca é legal ou usando o produto. E, no fim, todos saem ganhando: a gente, que tem controle criativo sobre o que fazemos; amarca, que oferece algo legal para seu público; e, claro, os fãs”, continua Dave, “isso seria impossível numa grande gravadora”. E, mesmo assim, eles têm de ouvir que são uma banda “vendida”.

“A outra opção é assinar o novo contrato que as gravadores estão oferecendo, em que eles controlam sua turnê, seu merchandising, os direitos da sua música… Quem émais vendido? Quem pode fazer o que quiser com o dinheiro de uma marca ou quem vende tudo que faz para uma gravadora ganhar todo o dinheiro?”

Impressão digital #0025: Quem são os hipsters

E o assunto da minha coluna no 2 desta semana foram os hipsters.

A vitória dos nerds
Quem são estes tais hipsters

Há duas semanas, Heloisa Lupinacci, que edita o caderno Link comigo e também assina a Crítica de Segunda do blog de Moda do Estado, me perguntou: “Matias, o que diferencia um indie de um hipster?” Ela havia escolhido esta tribo urbana como tema de sua coluna semanal e, com o cuidado que lhe é peculiar, tentava descrevê-la com referências mais conhecidas em vez de tentar partir para o rótulo puro e simples.

“Hipsters”, para quem não está habituado ao termo, define um novo tipo de personalidade urbana, atenta às novidades que vão da moda à música e novidades digitais.

O termo tem origens no meio do século passado e não constituía uma tribo – era um adjetivo para designar que determinada pessoa estava atenta a novas tendências de comportamento e cultura. Surgiu, nos EUA, mais ou menos à mesma época em que o termo “cool” deixou de significar apenas “gelado” para virar sinônimo de “legal”.

O hipster dos anos 10 não é só alguém atento às tendências em geral – mas a todas as tendências. Discos de vinil, tumblrs, câmeras fotográficas Lomo, máquinas de escrever, aplicativos para o iPhone e roupas de brechó. E, como a Helô definiu logo depois da nossa conversa, “hispter que é hipster não se leva muito a sério”.

Mas olhe para eles – procure pelo termo no Google Images, caso não esteja habituado. Eles evocam os beats, os hippies, a discoteca, o indie rock e a cultura techno – mas por baixo das franjas, dos óculos coloridos, dos cabelos compridos, bandanas e maletas, há outra tribo urbana, tão conhecida quanto as anteriores, mas raramente citada quando se fala em hipsters: os nerds.

No filme de 1984 que os consagrou como tribo (A Vingança dos Nerds, de Jeff Kanew), alguns alunos rejeitados por todos na universidade devido à sua inaptidão social começam a andar juntos e formam um grupo. “Nerd”, originalmente um xingamento, torna-se rótulo e, finalmente, motivo de orgulho, quando os integrantes da fraternidade Lambda-Lambda-Lambda conseguem dar o troco nos playboys arrumadinhos que os infernizam. No final do filme, vencem felizes, assumem suas personalidades sem medo da opinião dos outros e cantam We Are the Champions, do Queen.

Veja a foto acima, quando, no final do filme, os nerds podem ser quem realmente querem. Agora compare às fotos de bandas como Animal Collective e MGMT, ícones hipsters, e chegue à mesma conclusão que tive: os hipsters consagram o momento atual, em que ser nerd é ser cool.

O hit do verão 2011
http://www.myspace.com/ceelogreen. Cee-Lo Green conseguiu de novo. O rapper, que, com o produtor Dangermouse forma a dupla Gnarls Barkley (autora de um dos hits do século, Crazy), acaba de lançar o provável hit do fim do ano. Fuck You é perfeita – ouça-a.

Impressão digital #0024: Daft Punk + Tron

E na coluna do 2 do domingo passado, eu contei a história do Daft Punk para falar da importância deles pra trilha do Tron.

A volta dos robôs
Daft Punk e a trilha de Tron

Um dos filmes mais esperados do ano vem sendo aguardado também por sua trilha sonora. Tron: O Legado é a continuação do filme que, em 1982, apresentou o universo digital para toda uma geração que se encantava, pela primeira vez na história, com computadores pessoais e videogames, itens que não existiam até então. Tron não apenas cativou esta primeira geração digital como facilitou a vida de quem não conseguia entender como uma rede de computadores interligados entre si funcionava e para que ela servia.

Mas, por mais que o novo filme esteja sendo aguardado, um dos grandes nomes da produção nem sequer aparece no filme. A dupla francesa Daft Punk é um dos principais nomes da música do século 21 e seu visual robótico e retrô se encaixava perfeitamente no imaginário de Tron. Tanto que o anúncio de que os dois seriam os responsáveis pela trilha de O Legado, feito em março do ano passado, foi recebido com festa até por quem não estava esperando nada do novo filme.

A trilha de Tron tem tudo a ver com a trajetória do Daft Punk. A dupla surgiu no fim dos anos 90 junto de uma nova onda de artistas franceses, mas logo ganhou notoriedade graças ao fato de ir além da música. Primeiro com clipes e depois com filmes inteiros – seu segundo disco, Discovery, foi feito para funcionar como trilha sonora de um anime japonês feito especialmente para a dupla (e por um mestre desta arte, Leiji Matsumoto). Depois, eles mesmos se dispuseram a dirigir um filme: Eletroma, um road movie etéreo sobre uma cidade de robôs.

Com a trilha de Tron eles voltam ao cinema – e a pressa por novidades, típica da internet, fez que algumas versões da trilha vazassem antes de seu lançamento. Todas, sem exceção, falsas e desmentidas pela própria dupla, que, apesar de prezar pelo anonimato (seus rostos estão sempre ocultos por máscaras de robô), é bem enfática em relação ao que lançam. Contudo, as faixas falsas continuam saindo – e encontraram até fãs. Mas os dois garantem que a trilha sonora só será ouvida quando o filme for lançado, no fim do ano. Difícil é saber como eles vão conter o vazamento destas, tão típico desta era digital.

Do pop ao prog
Sigur Rós e Justin Bieber: tem a ver?

O DJ norte-americano Nick Pittsinger, que assina como Shamantis, fez uma experiência com a música U Smile do ídolo teen Justin Bieber e a deixou oito vezes mais lenta. Qual foi a sua surpresa ao descobrir que agora, com 35 minutos de duração, a faixa ficou parecida com as músicas intermináveis do grupo prog indie islandês Sigur Rós. Até os fãs desta banda concordam. Para ouvir, visite o site soundcloud.com/shamantis.

Impressão digital #0023: Quem será o DJ Cremoso?

Minha coluna no 2 de ontem foi sobre o tal DJ Cremoso

A maionese do brega
Quem será o misterioso DJ Cremoso?

Você conhece a música. Mas há algo diferente nela, desde o andamento até os timbres usados na parte instrumental. O vocal é o mesmo da música original, mas, independentemente de ser rock, dance ou simplesmente pop, ela ganha uma batida dançante que fica entre uma espécie de levada caribenha e um suingue eletrônico tosco, de baixa tecnologia. Assim são os remixes do misterioso DJ Cremoso, que, desde o início do ano, vem adaptando hits internacionais para o balanço chinfrim do tecnobrega.

Tecno… o quê? O tecnobrega é um gênero musical que surgiu a partir do brega do Pará – que é bem diferente da música cafona de nomes como Odair José ou Waldick Soriano. No Norte do Brasil, essa música brega não teve vergonha de assumir seu nome e virou um estilo musical próprio, levando canções românticas para multidões paraenses.

Do brega veio o tecnobrega, versão eletrônica simplificada do gênero original, que levou aquela lógica para uma nova geração. Nele, a banda era substituída por um DJ e os shows ganhavam ares de rave, com efeitos especiais grandiosos e catarse coletiva incessante. O gênero ganhou notoriedade antes do tempo não por suas qualidades musicais (ainda incipientes), mas por se basear em um modelo de negócios “revolucionário”. Seus artistas não vendiam discos, mas os davam de graça para os camelôs piratearem por conta própria e vender sem repassar o lucro para os autores, que ganhavam dinheiro fazendo shows. A “revolução” vem entre aspas porque o modelo não é autossutentável, como prega o maior entusiasta do gênero tecnobrega no mundo, Chris Anderson, editor da revista sobre cultura digital norte-americana Wired. Mas isso é outra história.

Eis que surgiu Cremoso, que preferiu manter-se no anonimato e usou a internet para divulgar seus remixes. Usando a base eletrônica e todo o auê em torno do tecnobrega para remixar nomes como Lady Gaga, R.E.M., Nirvana, Amy Winehouse, Michael Jackson e Britney Spears (sirva-se à vontade da “maionese do brega”, como ele se autointitula no site soundcloud.com/djcremoso). E o mistério sobre sua identidade segue intacto. Mas, a essa altura do campeonato, isso importa?

Impressão digital #0022: O papel da ficção científica

Como disse, na minha coluna de ontem no Caderno 2 peguei o gancho do Inception para falar da onipresença da ficção científica nos dias de hoje.

Parece invenção
A influência da ficção científica

Há menos de um mês, neste mesmo espaço, comentei sobre a dificuldade que Christopher Nolan teve para manter o tema de seu novo filme, Inception, em sigilo absoluto. De roteiro complicado e histórias que se superpõem, a produção estreou sexta passada no Brasil com o insosso título de A Origem (sendo que os personagens se referem o tempo todo a uma certa “inserção”).

Mas pode ficar na boa: não vou falar sobre sua história – e recomendo, caso você não o tenha assistido ainda, que se blinde contra possíveis spoilers (o termo em inglês que designa informações que estragam a surpresa de um determinado filme ou série).

A Origem é só mais um dos inúmeros exemplos de como a ficção científica é onipresente no imaginário do século 21. Se formos analisar apenas cinema, os exemplos vão desde nomes gigantes (Matrix e Wall-E) a filmes menores (Moon, Filhos da Esperança, Donnie Darko) e passam tanto por remakes (Planeta dos Macacos, a nova trilogia de Guerra nas Estrelas e o Jornada nas Estrelas de J.J. Abrams) quanto pelos inúmeros filmes de super-herói.

Sim: super-heróis são a forma mais trivial e rasteira de ficção científica. Não são seres fantásticos e mitológicos, embora se comportem como se fossem. Mas por trás de todo super-herói há uma origem explicada cientificamente – mesmo que à base da pseudociência.

Nascido no século 18 com As Viagens de Gulliver (que terá versão para o cinema, com Jack Black, no final do ano), o gênero tornou-se popular no fim do século seguinte graças a nomes como H.G. Wells e Júlio Verne e entrou no século 20 como uma espécie de subliteratura, feita para ser consumida de forma rápida e rasteira. Longe da crítica literária, os autores do novo gênero aproveitaram esta liberdade para usar discos voadores, robôs, viagens no tempo e alienígenas como metáforas para a condição humana. Assim, autores como Isaac Asimov, Arthur C. Clarke, Philip K. Dick, William Gibson e Neal Stephenson podiam criar seus universos livremente, o que serviu de base para a atual onipresença do gênero no mundo todo.

Acontece que esta liberdade que a ficção científica deu a esses autores permitiu que eles pudessem viajar em uma ciência inexistente, imaginária – que serviu como inspiração para muitos cientistas criarem invenções que nasceram na cabeça de escritores.

Eis o motivo do gênero estar em voga atualmente: vivemos num século cujas principais inovações científicas foram imaginadas por artistas. Sim – vivemos em um mundo de ficção científica. E parece que não há nada mais para ser inventado ou imaginado.

Que nada. A Origem – e outros tantos filmes de ficção científica que ainda virão por aí – cogita uma ciência que parece de mentira, inventada. Até que algum cientista se disponha a transformá-la em realidade…