Jornalismo-Arte: Bruno Natal

Hora de chamar o compadre Bruno Natal para conversar sobre sua trajetória em um dos meus programas sobre jornalismo e música – e nesta edição do Jornalismo-Arte, ele repassa sua jornada desde o estágio na Conspiração, passando pelo blog URBe, a criação do consórcio de blogs que tivemos juntos (OEsquema), seus documentários sobre música (de dub a Chico Buarque), a criação do Queremos e seu projeto atual, o podcast Resumido.

Assista aqui.  

Bom Saber #031: Bruno Natal

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Velho compadre de outros carnavais, já fiz muita coisa junto com o Bruno Natal e a primeira edição brasileira da Wired, que acaba de sair, foi só mais uma delas. Bruno foi meu sócio no falecido consórcio de blogs OEsquema, capitaneou por um dos principais blogs de música do Brasil (o URBe, que anda num outro ritmo) e fundou a plataforma de shows Queremos. Mas em vez de falar de sua trajetória, assunto para um outro programa futuro, resolvi focar em seu filhote mais recente, o podcast Resumido, e entender sua relação com as notícias, a urgência do jornalismo, o excesso de ofertas e o papel da internet.

OEsquema sobre o capitalismo

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Mais uma reunião de condomínio dOEsquema e partimos do assunto capitalismo para falarmos sobre bilionários, segurança pública, a culpa da imprensa brasileira, empreendedorismo e chanchadas, a vinda do crentistão, crise climática, planos de dominação mundial vilanescos, a compra do próprio imóvel, a cultura dos memes e a subversão da desobediência civil. Mas calma que o papo flui bem.

A volta dOEsquema

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A novidade desta semana é reencontro com meus chapas dOEsquema. Pra quem não lembra, eu, Arnaldo Branco, Gustavo Mini e Bruno Natal conduzíamos um condomínio de blogs que reunia gente de todo o Brasil até 2015, quando resolvemos fechar o site devido à ascensão das redes sociais. Mas a conexão dos quatro continua e por mais que só tenhamos nos encontrado pessoalmente três vezes, seguimos trocando impressões, comentários e opiniões sobre assuntos diferentes. Consegui reunir todo mundo para um papo sobre redes sociais e resolvemos que vamos tentar manter a periodicidade quinzenal. Chega mais.

Depois da pandemia

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O Bruno Natal, meu ex-sócio nOEsquema que agora tá um podcast chamado Resumido, me chamou pra participar de uma live sobre o impacto do coronavírus na cultura – e o papo é esse aí abaixo.

Falando dOEsquema em Porto Alegre

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Eu, Mini, Bruno e Arnaldo falamos do saudoso portal que criamos em 2007 e matamos em 2015 para discutir comunicação e internet e seu futuro a partir de um mundo pós-redes sociais no Festival de Interatividade e Comunicação que acontece nestas segunda e terça, em Porto Alegre. Nossa mesa acontece nesta segunda-feira, às 16h15, na Unisinos – as inscrições podem ser feitas no site do FIC 2019.

O preço da internet

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O inquieto Bruno Natal me chamou pra um episódio de seu novo podcast Resumido, em que ele puxa papo sobre um assunto interessante: os custos da vida digital. Outro Bruno, o grande Torturra, também participou do episódio – ouve aí!

On the run #155: Lincoln Olivetti – Brazilian Boogie Boss (1978-1984)

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E essa mixtape que a Wax Poetics publicou em homenagem aos 60 anos do mestre Lincoln Olivetti, há um ano? O DJ californiano Allen Thayer nem imaginava que faria uma das grandes homenagens ao arranjador que morreu poucos meses após a publicação da mixtape, no início de 2015. Vi lá no URBe. A ordem das faixas vem a seguir.

Dicró – “Disco Voador”
Marcia Maria – “Amigo Branco”
Erasmo Carlos + Tim Maia – “Alem Do Horizonte”
Jorge Ben – “Rio Babilonia”
Tony Bizarro – “Estou Livre”
Painel de Controle – “Black Coco”
Tim Maia – “Não Vá” from Tim Maia
Robson Jorge & Lincoln Olivetti – “Eva”
Emilio Santiago – “Dentro De Você”
Almir Ricardi – “Tô Parado Na Tua”
Cristina Conrado – “Sempre Juntos”
Gang Do Tagarela – “Melô do Tagarela”
Robson Jorge & Lincoln Olivetti – “Aleluia”
Sandra Sá – “Pela Cidade”
Painel de Controle – “Relax”
Dedé – “Sinceramente”
Cristina Camargo – “Moral Tem Hora”
Junior Mendes – “Copacabana Sadia”
Marcos Valle – “Bicicleta”
Sandra Sá – “Se Grile Não”
Claudia Telles – “Conselhos”
Viva Voz – “Fugitivos De Azul”
Jon Lucien – “Come With Me to Rio”
Emilio Santiago – “Velhas Içadas”

No começo do ano fiz minha homenagem à passagem do mago num Vida Fodona especial.

Cinco anos de Queremos

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Já fazem cinco anos que meu compadre Bruno Natal, ex-sócio no saudoso OEsquema, e mais cinco amigos cariocas quebraram a cabeça para conseguir trazer para o Rio artistas gringos que vinham tocar em São Paulo. Testaram uma pré-venda diretamente com o público, dividindo os custos do evento com um grupo que chamaram – e chamam até hoje – de “empolgados” e conseguiram levar um rol de artistas de peso para o Rio, mudando o cenário da cidade e inventando um novo modelo de negócios, já que o Queremos, nome que deram para a iniciativa, está com uma série de novidades para além do formato tradicional. O aniversário já está sendo comemorado essa semana, quando fizeram o segundo show da segunda banda que trouxeram para o Rio, o Belle & Sebastian, mas o aniversário será comemorado com uma festa com show da dupla Rhye e doze DJs no dia 12 de novembro e um livro com todos os pôsteres dos shows que fizeram nestes cinco anos (que inclui gente como Thurston Moore, Yo La Tengo, Chromeo, Of Montreal, Tame Impala, Gossip, Stephen Malkmus, Breeders, Xx, Cut Copy, De La Soul, LCD Soundsystem, National, Primal Scream, Metronomy, Warpaint, Rapture, Franz Ferdinand, entre outros). O livro e os ingressos para a festa podem ser comprados no site do Queremos – e eu conversei com o Bruno sobre este aniversário e outras que ele anda armando lá no Rio, inclusive como anda o URBe depois do fim dOEsquema.

Vocês imaginavam que o Queremos duraria tanto?
Quando a gente fez o primeiro show, a ideia era mesmo fazer aquele show, sem saber que bicho ia dar, então acho que não tinha essa pretensão. A partir do segundo já foi diferente, pois gostamos do resultado e queríamos fazer mais e mais shows, por consequência já imaginando que isso duraria um tempo sim.

O que mudou de cinco anos pra cá?
Tudo! E nada! Hahaha! Mudou a cena do Rio, completamente. Hoje em dia quase todo show vem pra cá, alguns inclusive sem ser pelo Queremos!, o que é ótimo. Mudou muito o mercado de forma geral, com shows se tornando cada vez mais importante nas finanças de um artista, o que valoriza ainda mais o espetáculo. No caso do Queremos! especificamente, mudou bastante. O projeto tornou-se uma empresa, com funcionários além de nós cinco, expandiu fronteiras e hoje opera nos EUA como WeDemand – e globalmente, já tendo realizado shows também no Canadá, Alemanha, Argentina, Chile…. Em termos de formato, o crowdfunding foi dando vez aos pedidos dos fãs por shows através da plataforma. Produzindo muito mais shows e tendo muito mais gente querendo coisas diferentes, hoje a questão é muito mais saber o que vai virar do que levantar o dinheiro antes – embora essa ainda seja a questão as vezes, ou uma combinação dessas duas coisas. Isso ampliou os horizontes do Queremos! e do WeDemand em termos de curadoria e negócios.

E a idéia de fazer o Queremos internamente no Brasil, como anda?
Tem rolado bem. Vários artistas já utilizaram a plataforma pra realizar shows fora de suas cidades. Clarice Falcão, Cícero e Mombojó são alguns deles. Também fizemos shows com o Nouvelle Vague em Fortaleza apenas porque foi possível realizar dentro da proposta da plataforma.

Fala um pouco de como anda o projeto nos EUA?
Buscar espaço com uma proposta disruptiva no principal mercado de entretenimento do mundo não é moleza. O processo é lento, mas temos começado a colher resultados interessantes. Aos poucos os empresários, agentes e produtores vão entendo as vantagens de se trabalhar em cima de informações precisas no lugar de suposições na hora de marcar shows e assim temos trabalhado com artistas maiores, como Trey Songz, e tbm com muitas estrelas do YouTube, como Jack & Jack e Cimorelli.

E o Urbe, como anda? O fato do Globo ter extinto o Transcultura, que você era um dos responsáveis, muda sua abordagem no blog?
2015 foi um ano turbulento para mim no âmbito pessoal, com muitas mudanças. Duas delas foram o fim do portal OEsquema, onde o URBe estava hospeado, após 8 anos, a outra foi o fim da coluna. De volta numa url individual, o URBe passou a demandar mais tempo, que a princípio eu não vinha tendo. Com o fim da coluna, o blog voltou a ter uma importância maior me termos de servir como minha central de ideias e por isso estou retomando o ritmo normal. Ainda não voltei com os textos mais longos, mas em 2016 eles vem.

E o que você tem achado da atual cena carioca? Quem são os nomes da cena que ainda vão aparecer?
Está borbulhando. Tem muita coisa que não é exatamente do meu gosto pessoal, mas é muito legal ver cenas como da Audio Rebel – por onde passam nomes como Ava Rocha, Cadu Tenorio e tantos outros – se firmando. Tem muita banda nova, mas me parece que está tudo ainda muito desconectado. Isso deve mudar em breve, o que vai certamente trazer luz a algo que rapidamente será batizado como algum movimento pela mídia e gerará a usual polêmica e desgaste. Aquela roda de sempre. Mas pra mim, prova de quem tem algo se materializando é que cada vez mais tenho visto artistas de ondas bem diferentes frequentando os eventos um dos outros. Isso é bem legal e pode ser uma marca do que está por vir. Tem uma galera que já está saindo do Rio até, Omulu, Letuce, Leo Justi, Diogo Strausz, Alice Caymmi, Dônica, Ava, Lila, Negro Leo, Séculos Apaixonados, Ricardo Dias Gomes e Marcelo Callado em carreira solo… Tem muita coisa rolando e se expandindo.

OEsquema (2008-2015)

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Hora de fechar mais um capítulo.

Hoje desligamos o site por diferentes motivos, mas principalmente por estarmos sintonizados em frequências diferentes em relação à produção de cada um de nós. E por termos chegado a uma fria conclusão no fim do ano passado.

OEsquema nasceu da necessidade. Eu, Bruno e Arnaldo nos conhecemos online, no início do século, quando o URBe e o Mau Humor ficavam no Blogger e eu pendurava o Trabalho Sujo no já moribundo Geocities. Até que o Pablo e dois amigos vieram com uma história de criar um portal de blogs pra hospedar todo mundo que estava pendurado em servidores gratuitos e tentar criar uma fricção criativa entre diferentes produtores de conteúdo. O Pablo queria o Trabalho Sujo, que nem tinha completado uma década de vida e tinha mais história impressa do que digital, e eu vi uma oportunidade boa de chamar o URBe e o Mau Humor para aquela confusão alto astral.

Mas o Gardenal, o primeiro coletivo de blogs do Brasil, começou a crescer junto com a vida profissional de seus sócios, que não conseguiram gerir o servidor nem como plataforma digital, muito menos como negócio. Entre os problemas técnicos houve um hoje clássico servidor frito que nos fez perder pelo menos dois anos de produção online, uma pequena tragédia que, se por um lado me escaldou a me tornar menos acumulador digital, nos motivou a tentar buscar uma casa própria.

E no dia 8 do 8 do 8, eu, Bruno e Arnaldo convidamos o Mini para inagurar OEsquema. Não tinha plano de negócios nem linha editorial – era simplesmente um lugar para podermos escrever o que quiséssemos de acordo com a nossa vontade. Por assim seguimos os primeiros anos até que começamos a pensar em ampliar a festa, convidando um monte de amigos e amigas pra começar a se publicar sob a nossa marquise. Em comum tínhamos a vontade de distribuir conhecimento e opinião sobre assuntos diferentes, que não eram facilmente classificáveis nas prateleiras ainda utilizadas do século passado, e sermos personalidades individuais em vez de nomes que se escondem atrás de um todo. OEsquema era mais um processo do que um produto. Reunimos jornalistas, escritores, músicos, quadrinistas, fotógrafos, DJs, designers, palpiteiros, deslumbrados e céticos que tivessem uma mentalidade parecida com a nossa, urbanos de vinte e tantos ou trinta e poucos anos entendendo a relação da cultura e do comportamento modernos com as novas cidades e as novas mídias e tecnologias.

Nesses últimos sete anos vieram as redes sociais, a tecnologia móvel, a cultura em streaming e o início de maturidade política brasileira, processos que quase sempre se assemelhavam ao que havíamos pensado quando começamos a por OEsquema em prática. Não pioneiros – fomos os últimos representantes de uma cultura de clusters que foi atomizada e acelerada pelo impacto do mundo online e digital desta segunda década do século 20. Uma cultura que fez artistas se unirem em prol de causas estéticas, comunicadores criar os primeiros jornais, escritores se reconhecer coletivamente através das ideias. Um link que aproximou os primeiros modernistas, os primeiros anarquistas, os primeiros hippies, os primeiros punks, os primeiros hackers e os primeiros indies. E também os primeiros blogueiros, os primeiros videomakers, as primeiras bandas de rock, os primeiros fanzineiros.

OEsquema pertence a essa tradição de querer ficar junto dos outros. Somos a última espécie de uma época em que essa aproximação ocorria de maneira analógica e bem mais lenta. Mesmo que tenhamos nos conhecido primeiro virtualmente para depois nos conhecermos pessoalmente, nós dOEsquema temos os pés no século 20 e, como grupo, nos movíamos mais lentamente que a velocidade exigida pela internet no início desta década.

Com o mundo cada vez mais conectado, cada vez mais pessoas se conhecem simultaneamente, formando grupos que incluem anônimos e celebridades entre listas de amigos, seguidos e seguidores em diferentes plataformas sociais. O volume coletivo está cada vez mais intenso e são raros os maestros que se fazem entender no meio dessa cacofonia geral.

O fim de 2014 trouxe uma sensação de esgotamento para as pessoas no mundo todo relacionado a uma série de fatores diferentes. E, para nós, essa sensação não veio com um gosto feliz de missão cumprida mas também sem o amargor de um relacionamento mal resolvido. Seguimos amigos e próximos e vai ser inevitável que nos encontremos em novas parcerias – talvez agora mais intensas – num futuro próximo. Mas há um sentimento inevitável de falta de propósito, ao menos coletivamente, como cogitamos há quase uma década.

Seguimos cada um em nossos cantos, uns em seus próprios sites, outros firmes em redes sociais, mais alguns aproveitando o período para repensar sua relação com o digital. O Trabalho Sujo a partir dessa sexta assume seu próprio domínio como casa, quando começo uma enorme faxina editorial rumo ao aniversário de vinte anos, em novembro.

OEsquema pode ter terminado, mas a ligação que estabelecemos nestes anos é pro resto de nossas vidas.

Agradeço a todos que estiveram nessa enorme festa – nos encontramos por aí!

Beijos
Matias
PS – A carta de despedida do Bruno tá aqui . Linko as outras quando outras vierem.