“Speak, See, Remember”: Como foram os dois shows de Stephen Malkmus em São Paulo

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É a terceira vez que Stephen Malkmus vem para São Paulo. Suas duas vindas anteriores foram inevitavelmente marcadas pelo trabalho com o Pavement. Natural: na primeira vez, em 2002, dava início a uma carreira solo com músicas que haviam sido compostas para o Pavement, gravadas com uma banda – os Jicks – que só não passou a existir desde aquele disco porque a gravadora Matador preferiu lança-lo com o nome do cantor e compositor; e a segunda, em 2010, quando tocou no festival Planeta Terra com o próprio Pavement, no ano em que a banda resolveu voltar a existir.

Não foi nesta terceira vez que Malkmus veio livre do nome de seu velho conjunto, mas, por outro lado, veio com uma carreira solo na bagagem que já equipara-se, ao menos em idade, ao trabalho com sua outra banda dos anos 90 – são cinco discos com o Pavement e outros cinco com os Jicks, banda que formou ao lado da baixista Joanna Bolme e do guitarrista e tecladista Mike Clark desde o primeiro disco creditado apenas a ele.

Em pleno 2013 e aos 47 anos de idade, submeteu-se uma turnê à moda antiga, fazendo sete shows em duas semanas, percorrendo diferentes estados do Brasil, em vez de só passar por uma ou duas cidades, como nas outras duas vezes. Podia pagar de diva indie e pedir os melhores hotéis e cachês altos, mas preferiu vestir os trajes do operário-padrão do indie rock para passar pelo Rio de Janeiro, São Paulo, Maringá, Belo Horizonte, São Paulo, Porto Alegre e Floripa. Quase 15 anos depois da produtora mineira Motor Music fazer turnês desse tipo com artistas como Seaweed, Man or Astroman? e Superchunk (ah, os anos 90…), um dos principais representantes da primeira divisão deste universo (“bring on the major leagues…”) repete um percurso semelhante. Não irei me espantar se, nos próximos anos, outros grandes nomes do rock alternativo americano e inglês dos anos 90 se submeterem a maratonas do tipo (imagina uma turnê dessas feitas pelo Yo La Tengo, pelo Lee Ranaldo ou pelo Lou Barlow…).

É uma atitude bem mais louvável do que as centenas de bandas (Pavement inclusive) que voltam à ativa apenas para revisitar uma série de canções que fizeram sucesso no passado e lançar um disco fraco com músicas novas (não o Pavement) que é só um souvenir-desculpa da turnê feita apenas para faturar um troco em cima do passado. Nos dois shows de São Paulo este ano, Malkmus fez duas concessões ao antigo grupo, uma em cada show: no primeiro tocou “Speak, See, Remember” do último disco da banda, Terror Twilight; e no segundo tocou “in The Mouth a Desert”, um dos hits que pôs o Pavement no radar norte-americano e, posteriormente, do mundo. No resto das duas noites e em todos os shows da semana passada, dedicou-se apenas à carreira que consolidou nos últimos dez anos.

“Vocês vieram ao show cool, amanhã não vai ser tão cool”, brincou Malkmus logo no início do primeiro show. O show de segunda-feira, no entanto, foi o segundo show do artista marcado na cidade, logo depois que o primeiro, que aconteceria no dia seguinte, teve seus ingressos ingressos. E como boa parte dos fãs já havia garantido ingresso para a noite de terça (que ainda por cima era véspera de feriado) e o preço da noite extra era o dobro da primeira noite, o primeiro show de Malkmus no Beco 203 foi praticamente um sarau para pouco menos de uma centena de felizardos. A ausência de público tornou a dinâmica do show mais intimista e relaxada, enquanto Malkmus conversava constantemente com as pessoas da platéia (alguns bebadaços), quase todas grudadas no palco. Na noite seguinte, tomada por uma pequena multidão umas seis vezes maior, o clima foi mais intenso e elétrico e os diálogos com o público eram dirigidos a todos ao mesmo tempo, com algumas brincadeiras individuais, como contraponto.

Duas noites distintas que tiveram apenas sete músicas em comum, sendo seis do último disco do grupo, Mirror Traffic, e uma “Vanessa from Queens”, do segundo disco, Pig Lib. As músicas restantes, no entanto, não foram divididas de acordo com o clima da noite – “Jo-Jo’s Jacket”, que abriu a primeira noite, poderia tranquilamente estar no meio das faixas curtas e rápidas que abriram a segunda noite – “Tune Grief”, “Senator”, “Planetary Motion”, “Cold Son” e “Tigers” – enquanto “Real Emotional Trash”, da noite de terça, funcionaria magicamente no show para poucos de segunda. Era apenas a mesma banda em duas condições diferentes – um show vazio e um show lotado. E que banda!

Pois é inegável que, mesmo com a presença magnética e assinando todas as composições, Malkmus não está sozinho no holofote – e os Jicks são, de fato, uma banda. É claro como ele se apoia musicalmente na escada armada por Mike Clark e como Joanna Bolme funciona contraponto à guitarra do líder do Pavement, todos seguindo o pulso preciso de Jake Morris, o quarto baterista da banda (que já teve nomes como Joen Moen dos Decemberist, Joel Plummer do Modest Mouse e Janet Weiss, ex-Quasi e Sleater Kinney, nesta posição). O entrosamento dos quatro é natural e fácil de ser notado, deixando Malkmus à vontade inclusive para se exibir como músico. É impressionante perceber o quanto ele evoluiu como guitarristas nos anos, mesmo tocando sem palheta e sem dar tanta ênfase aos solos nos discos – o contrário do que faz ao vivo.

Ao ouvir o público brasileiro cantando músicas que nem eram as faixas de trabalhos de discos anteriores dos Jicks, não é difícil imaginar que Malkmus esteja conseguindo distanciar-se do Pavement a ponto de sua carreira solo se tornar equivalente à de sua primeira banda. Suas composições não têm mais o ar juvenil da outra banda porque ele não tem mais vinte e poucos anos – o que deixa suas músicas menos sarcásticas, mau humoradas ou temperamentais, mas elas não perdem o brilho. Pelo contrário, realçam novas qualidades de seu autor, como um lado mais cronista que protagonista, com ênfase a uma guitarra que ecoa o rock dos anos 70, mas sem o tom épico e reverente. Ao final do segundo show, cansado mais visivelmente satisfeito, Malkmus avisou que nos revê no ano que vem, possivelmente para o lançamento do disco que mostrou nas inéditas “Houston Ladies”, “Flower Children” (no primeiro show) e “Scategories” (no segundo). E nesta vez possivelmente virá livre do estigma de sua banda anterior.

Filme parte dos dois shows, veja abaixo:

 

Hoje no Beco

Dentro da programação do festival da Cultura Inglesa, discoteco hoje no Beco, na Augusta, antes do set do Barry, baixista do Fratellis, que é o convidado da noite. Começo a tocar pela meia-noite, quem me acompanha?

Glow in the Dark no Beco

A Glow in the Dark é aquela festa que o Alex faz na Funhouse com iluminação de luz negra e distribuição de canetinhas marca-texto, encorajando o uso de roupa branca pra festa ficar com aquela cara flúor – já toquei umas três vezes nela e é sempre divertido. Como deverá ser a desse sábado, no Beco 203 – e na primeira vez que vejo a Glow ir para um lugar bem maior que o sobrado da Bela Cintra. E como nesse finde tem o fim do horário de verão (infelizmente), minha discotecagem acontece exatamente na mudança do relógio: à uma da madruga que automaticamente vira meia-noite do sábado. Além de mim e do Alex, ainda tocam o Gustavo Jreige, o Marçal Righi, o George Rocha e a Be Garib. Vambora?

E no sábado: Gente Bonita + Banda Uó no Beco 203

E a GB segue comemorando seus primeiros cinco anos de delírio dançante com uma Gente Bonita Clima de Paquera daquelasdessa vez no Beco 203, com abertura da gaúcha Juliana Baldi e apresentação da impagável Banda Uó. Se alguém quiser ir sem pagar, deixa o nome aí nos comentários que eu vou sortear 5 pares de vip até o meio do sábado.

Autoramas + BNegão

Nesse fim de semana também teve Autoramas e BNegão tocando juntos na festa em que fui discotecar no Beco. O encontro foi melhor do que poderíamos prever…

Vai rolar outro?

Dorgas ao vivo

Filmei o Dorgas na quinta passada tocando a minha música brasileira favorita desse ano, “Loxhanxha”. O som tava meio embolado, mas o show foi bem massa.

Sábado de aleluia


Fotos: Camila Mazzini (mais aqui)

Vale a menção aqui à cabulosa festa de sábado passado, ocorrida no já favorito Beco 203, que tirou uma cabeçada de casa e lotou o sábado do feriado de forma inesperada. Teve o segundo round da minha discotecagem contra o Alex e antes de eu passar a discotecagem para a Carol, tive que tocar “Friday” em homenagem a ela (hehehe). E é bom que os mineiros se preparem: nesta sexta tem Gente Bonita em Belo Horizonte. E talvez – TALVEZ – tenhamos festa nova na semana que vem. Aguarde.