Aláfia e a queda das máscaras

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“Comecei a conceituar esse novo disco quando escrevi ‘Canção Pra Nós’ e aquele tipo de texto mais reflexivo e um tanto positivo seria o tom do trabalho, parecia uma novidade boa, quase uma maturidade”, me explica Eduardo Brechó, idealizador do grupo Aláfia, que está prestes a lançar seu próximo álbum, Liturgia Sambasoul, que sai no início de outubro, com show no Auditório Ibirapuera dia 13. “No entanto, isso não dá conta de todos os sentimentos que a atual conjuntura nos estimula e este primeiro single foi a última canção que escrevi pro disco.” Brechó se refere à “Faca Fake”, que antecipa em primeira mão para o Trabalho Sujo, que conta com a participação do poeta Sérgio Vaz, cuja letra fala do atentado ao atual presidente da república nas eleições do ano passado, expondo a queda de máscaras que presenciamos neste Brasil de 2019.

“Ela sintetiza bem o que eu imagino pro nosso Sambasoul, no que se refere à música e ao som do disco – timbres, arranjos – posso dizer que este single é um prenúncio do álbum de fato. Fizemos um disco investigando os mistérios do Sambasoul e extrapolando os limites que esse híbrido foi convencionado a ter. Há de se lembrar que em termos de Aláfia estamos sempre partindo e/ou voltando do/ao terreiro”, continua o compositor, que volta a falar da nova faixa. “‘Faca Fake’ começou num rabisco com esse e outros trocadilhos infames que a campanha presidencial do ano passado me sugeriam. Quando a melodia pentatônica apareceu eu adaptei o rabisco a ela e um dia na Amaral Gurgel fiz a parte B pensando na voz da Estela. Só realmente fechei a forma quando fui na casa do Sérgio Vaz pra gravar o poema dele que fulgura o especial”

“Nosso disco de 2017, São Paulo Não É Sopa, foi um todo composto e dedicado à cidade de São Paulo. Depois do primeiro álbum, Corpura, que era bem telúrico e espiritual, procuramos o concreto e o ruído da metrópole. Este terceiro disco é mais terreiro de novo. Super urbano, mas muito terreiro”, continua, aproveitando para falar das mudanças na formação da banda. “Além de banda, Aláfia é um bando em processo, um coletivo fundamentado em colaboração de rua, desde o nosso começo em 2011. A Xênia não conseguiu mais conciliar sua carreira solo com a agenda do Aláfia e não está neste disco. No entanto, outras três vozes maravilhosas serão ouvidas neste disco. A de Damião, guitarrista e compositor – temos dois temas em parceria no Liturgia Sambasoul -, a de Estela e Eloisa Paixão, duas irmãs talentosas que abraçaram a banda e trouxeram uma luz muito especial pro grupo.”

25 discos brasileiros para o primeiro semestre de 2017

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Estes são os 25 brasileiros escolhidos na categoria melhor disco do primeiro semestre deste ano pelo júri da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), do qual faço parte.

Aláfia – SP Não é Sopa
Boogarins – Lá Vem a Morte
Corte – Corte
Criolo – Espiral de Ilusão
Curumin – Boca
Do Amor – Fodido Demais
Domenico Lancellotti – Serra dos Órgãos
Don L – Roteiro Pra Aïnouz vol.3
A Espetacular Charanga do França – Chão Molhado da Roça
Felipe S. – Cabeça de Felipe
Giovani Cidreira – Japanese Food
Hamilton de Holanda – Casa de Bituca
João Donato + Donatinho – Sintetizamor
Juliana R – Tarefas Intermináveis
Kiko Dinucci – Cortes Curtos
Lucas Santtana – Modo Avião
Luiza Lian – Oya Tempo
Matéria Prima – 2Atos
Mopho – Brejo
My Magical Glowing Lens – Cosmos
Rincon Sapíencia – Galanga Livre
Rodrigo Campos – Sambas do Absurdo
Trupe Chá de Boldo – Verso
Vermes do Limbo + Bernardo Pacheco – Berne Fatal
Zé Bigode – Fluxo

Muita coisa boa sendo lançada este ano – e vem mais coisa boa neste semestre. O júri é composto por mim, José Norberto Flesch e Marcelo Costa e no segundo semestre escolheremos mais outros 25 discos. O Pedro antecipou a lista e publicou os links para ouvir os 25 discos em seu blog no Estadão.

“…I want to back to Bahia”

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Zarpo neste sábado rumo a Salvador, onde vou conferir a segunda edição do festival Radioca, que desta vez reúne Carne Doce, Jards Macalé, Karina Buhr, Aláfia e Dona Onete aos locais Josyara, Retrofoguetes e Giovani Cidreira. Também participo de um bate-papo no domingo com a Roberta Martinelli, do Cultura Livre e do Som a Pino, e de Daniela Souza, da Educadora FM, sobre a relação da nova música brasileira com a mídia, com mediação do Luciano Matos, um dos organizadores do festival (mais informações aqui). Mando notícias, valeu!