As 75 melhores músicas de 2013: 46) Caxa Baxa – “Vizualizada”

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Marcelo Jeneci 2013: “A vida é bélica”

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O segundo disco do Marcelo Jeneci, De Graça, disponível para ser ouvido em streaming em seu site oficial, é uma grata surpresa. Não é exagero dizer que Jeneci surgiu de uma brecha deixada aberta pelos Los Hermanos – ao recusar-se se posicionar entre o meio-termo perfeito entre o indie rock brasileiro e o gênero MPB, o grupo carioca preferiu debandar-se em carreiras solo que pareciam preocupadas em negar a natureza pop de seu trabalho original. Sem essa culpa, uma segunda geração do pop brasileiro do século 21 veio de mansinho e encontrou um público prontinho para abraçar esse novo pop brasileiro. Silva, Cícero e Jeneci, entre outros, viram essa brecha dando sopa e se jogaram. Mas no novo disco, Jeneci vai muito além e evolui consideravelmente. Há uma influência, talvez inconsciente, daquele pop brasileiro do fim dos anos 70 que precedeu a primeira onda do rock brasileiro da década seguinte. Me refiro a artistas como o espólio dos Novos Baianos (Baby & Pepeu, Moraes Moreira, A Cor do Som), de autores como Fagner, Belchior e Guilherme Arantes – que viram um novo começo de era bem antes dos “Tempos Modernos” de Lulu Santos e Nelson Motta. A sensação de perceber a aurora de um novo tempo atravessa todo o segundo disco de Jeneci, completamente liberto das referências de MPB genérico que o aproximavam dos Los Hermanos. Sob a produção do Kassin com auxílio do Adriano Cintra, De Graça soa às vezes indie tímido, às vezes pop deslavado e quase sempre ousado e sóbrio, com um pé no Brasil e outro num novo pop mundial ainda em formação. Otimista e cheio de auto-estima, Marcelo Jeneci era o que devia estar tocando no rádio brasileiro. Destaco a épica “Pra Gente Se Desprender”, com suas cordas marítimas, coda instrumental gigantesca e conduzida pelo vocal claro e contemplativo da Laura Lavieri, um momento único na música brasileira deste século:

Dá pra ouvir o disco inteiro aí embaixo – e o La Cumbuca descolou o download.

 

Marcelo Jeneci 2013: “O melhor da vida é de graça”

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E por falar em disco novo, o segundo disco do Jeneci tá vindo aí. Produzido pelo Kassin com o Adriano, De Graça começa a dar as caras a partir de agora, com o lançamento de sua faixa-título, que dá a medida do que aconteceu no encontro dos três.

Madrid 2013: “The One”

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Adriano e Marina já começam a gravar músicas novas do Madrid e aos poucos vão tornando-as públicas. A primeira é essa “The One”, que liberaram para o Trabalho Sujo, e segue o tom caprichado do primeiro disco. “Gravamos seis músicas, vamos lançar como um EP, vamos soltar uma a uma e quando faltar a última soltamos o EP”, me explicou o Adriano, que ainda contou que a bateria da faixa ficou por conta de Nana Rizinni e a guitarra, por André Henrique. Coisa fina.

Jota Quest: “Like the legend of the phoenix”

Enquanto isso, atento às novidades (hehe), o Jota Quest chamou o próprio Mr. Chic (Camilo fala mais da importância dele aqui) para participar de seu novo disco:

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E não foi o único nome de peso no novo trabalho do grupo mineiro. Há pouco mais de um mês, Adriano Cintra twittava que estava em BH produzindo faixas pro Jota Quest:

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Não era ironia e o ex-Cansei de Ser Sexy foi parar no Instagram do próprio Jota Quest:

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Será que pode sair algo bom daí? Existe alguma probabilidade, ainda que pequena (afinal, é o Jota Quest)…

Caxabaxa: “Cê tava online faz um minuto”

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O Caxabaxa é uma das melhores coisas que o Adriano Cintra já fez – e essa música “Vizualizada” é, claro, uma alfinetada, mas não deixa de ser foda.

Olha a letra aí embaixo:

 

Vazou o disco do Madrid

Demorou, mas finalmente apareceu online. E o disco é bom, viu…

Vi lá no Hominis Canidae.

Cansei de Ser Sexy 2012 e uma resposta rápida

Elas já tinham soltado um teaser do primeiro single sem o Adriano e não haviam convencido. Eis que surge a nova música da banda e…

…a música é ruim mesmo. Tão ruim que nem o Adriano aguentou e teve que dar uma sacaneada.

Adriano deixou o Cansei de Ser Sexy no ano passado e no início deste ano decidiu narrar seu afastamento da banda em tons trágicos e intimistas (como é de praxe) em um longo post em seu blog. O texto gigante é cheio de momentos vergonhalheia e facepalm, mas o texto de Adriano, que tem inevitável reflexo em seu próprio método de composição, é excelente e convida à leitura à medida que somos arrastado em uma espiral de bad vibe. Da mesma forma que até hoje espero pelo disco definitivo do Ultrassom (seu projeto solo dos idos do século passado, quando ele era garage guitar hero no circuito Vila Madalena-Pinheiros com o Butchers’ Orchestra), fico agora esperando por um livro dele, autobiográfico ou não.

Madrid em Curitiba

A produtora curitibana Balaclava filmou a apresentação que o Madrid fez na cidade-natal de Marina Vello.

Eles também entrevistaram a dupla Adriano e Marina, que falam abaixo sobre a história da parceria e como o recente passado dance music foi crucial para reinventarem-se na canção tradicional.

 

Madrid no Prata da Casa

Uma sessão de descarrego, madura e moderna

Sei que tou com um monte de shows pendentes pra comentar (e enrolando pra retomar o Vintedoze, mas isso é outra história), mas o fato é que quem foi ao Prata da Casa na terça passada pode ter um gostinho de um dos melhores discos de 2012, com direito a dois brindes. A dupla Madrid – Adriano ex-Cansei e Marina ex-Bonde num portmanteau de seus nomes – subiu ao palco da choperia do Sesc Pompéia acompanhados de um baterista e um guitarrista. Ele ao piano, ela (por vezes) ao violão, os dois dividindo vocais em canções em inglês que saem correndo de seus respectivos e recentes passados musicais na pishta de dança.

Exorcizam beats e berros em duetos dóceis mas austeros, tristes, amargurados mas destemidos, olhando para frente, sempre enaltecendo a canção, este talvez o formato definitivo do século 20, mais que o automóvel, o jazz, a calça jeans ou Hollywood (vintedozers gonna vintedoze). Renegam todo o novidadismo do século vigente com hinos de guerra e baladas melancólicas, que desatam a chorar idas e vindas de relações cotidianas. A ironia ainda segue presente, mas sutil, transbordando apenas nas piadas idiotas que Adriano – confessando o nervosismo ao piano de cauda – usa pra provocar Marina, de salto, saia e cabelão. Mas apesar do formato vintage (remontam aos anos 60 de Serge Gainsbourg, Lee Hazlewood e Nancy Sinatra, a produção do Brill Building, alguma referência à Motown – mas não à Stax), o Madrid está mais próximo de duplas contemporâneas que celebram estes clássicos anos 60, como Mark Lanegan e Isobel Campbell, PJ Harvey e John Parish, Nick Cave e inúmeras divas pessoais. Há uma sensibilidade indie que é inerente ao gosto musical dos dois – e um inevitável parentesco com o projeto individual de Adriano, o Ultrasom.

Sem demonstrar insegurança, mostraram um espetáculo adulto e moderno como poucas vezes se vê no pop brasileiro, que ao mesmo tempo que não corre atrás do último hype para não perder o bonde da história (“been there, done that”, parecem suspirar aliviados) como também não tenta vender a fonte da juventude como uma utopia possível (algo até mais comum, nesta cena brasileira dos anos 10). São apenas artistas cantando histórias, mesmo que vestindo uma outra fantasia de palco. E fazem isso bem, sem afetação nem maneirismos – e além do repertório do primeiro disco, que em breve aparece por aí online, também tocaram músicas do Camera Obscura e do Ladytron, confirmando o apreço por um indie dance que até habita a mesma audiosfera que o Bonde do Rolê e o Cansei de Ser Sexy, mas que circula em horários diferentes, e quase não se encontram. Como o junkie que descobre a academia ou o consumista que alcança o zen do desapego, o Madrid é quase uma sessão de descarrego, mas mais catártico que pesado.

Fiz uns vídeos abaixo, veja aê:


Madrid – “Destroy Everything You Touch”