Radiola Urbana apresenta 74 Rotações

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Emicida tocando o primeiro disco do Cartola, O Terno tocando o Lóki? de Arnaldo Baptista na íntegra, os Sebosos Postizos mandando ver todo o Tábua de Esmeralda do Jorge Ben e Luciana Alves e o Marco Pereira Trio visitando todo o Elis & Tom. Eis o cardápio do programa 74 Rotações, terceira edição do projeto do site Radiola Urbana que começou homenageando 1972 em 2012 (com Romulo Fróes fazendo o Transa de Caetano Veloso, Felipe Cordeiro tocando o Expresso 2222 do Gil, entre outros) e no ano passado deu origem a shows que percorreram o país como Karina Buhr tocando o primeiro dos Secos & Molhados, o Cidadão Instigado tocando o Dark Side of the Moon do Pink Floyd e a Céu interpretando o Catch a Fire do Bob Marley. A terceira edição acontece entre os dias 18 e 21 de dezembro no Sesc Santana e os ingressos custam R$ 40 (inteira), R$ 20 (meia) e R$ 8 (comerciário). Bati um papo com o bróder Ramiro Zweitsch, do Radiola, sobre a edição 2014 do festejado projeto.

Como foi que vocês começaram a fazer os projetos para 1974?
Bom, começamos pensando nos discos e percebemos logo que era um ano muito forte de música brasileira: Elis & Tom, Tábua de Esmeralda, Cantar, o primeirão do Cartola, Canta, Canta Minha Gente, Gitã, Lóki? etc. Pensamos em alguns gringos, tipo Authoban e Diamond Dogs mas acabamos decidindo por focar nos brasileiros já que o projeto vem se transformando de um ano para o outro: em 2012 eram 8; em 2013 reduzimos para 4, entre gringos e brasucas; neste ano, 100% Brasil; e no ano que vem queremos muito fazer 65 e 75, vontade essa que a gente já tinha de ter aplicado em 2014 – com shows de discos de 64 -, mas simplesmente não rolou. Tivemos de descartar o Martinho da Vila por conta do show que o Otto vem fazendo desde janeiro e o do Raul Seixas também acabou gerando um outro projeto recentemente. O Cantar a gente queria fazer com a Tulipa, mas ela sabiamente declinou do convite por achar que é o tipo de show que a própria Gal poderia e pode vir a fazer. Fechamos nestes 4 que desenham um panorama interessante da diversidade da música brasileira de 40 anos atrás: a estreia fonográfica de um dos nossos maiores sambistas, o encontro entre aqueles que podem ser considerados nossa maior cantora e nosso maior compositor, um inspiradíssimo disco de rock pós-tropicália e o auge criativo de Jorge Ben — talvez o artista mais cultuado pelas últimas gerações da nossa música (90’s, 00’s, 10’s).

Como foram os convites? Alguém já tinha procurado vocês ou foram vocês que convocaram os músicos?
Fomos procurados por alguns artistas a fim de participar do projeto, mas nenhum deles propôs um disco. Eles escreviam pra gente com mensagens tipo: “pô, o projeto é demais, me convida”. São duas cartas que estão na manga para os próximos anos. Esses nomes que fechamos para 2014 foram todos convidados por nós e aceitação foi imediata da parte deles. O Emicida é um cara que a gente admira muito, que já vem experimentando uns formatos diferentes de apresentação e apostamos que ele vai arrebentar nesse esquema de cantar as melodias lindas do Cartola. A Luciana é uma cantora muito talentosa, que circula mais pelo universo da MPB e não tem nada de pop. Ela vai fazer o show com o Marco Pereira Trio, formado por grandes músicos. O Terno a gente já queria ter envolvido no ano passado, mas eles recusaram nosso convite em fazer Eu Quero Botar o Meu Bloco na Rua, do Sérgio Sampaio, por conta do foco deles em trabalhar nas próprias músicas naquele momento. Os Sebosos já fazem boa parte do repertório de A Tábua de Esmeralda e a escolha era até meio previsível. Vai ser massa porque é um disco amado por todos e foi, inclusive, eleito o melhor de todos os tempos em uma “eleição” que fizemos em 2008 na Radiola. Fora que o próprio Jorge Ben chegou a dar sinais de que poderia fazer esse show e por enquanto necas.

Como vocês se veêm como responsáveis por inspirar projetos paralelos de artistas que admiram, como a Céu, a Karina e o Cidadão – todos incorporando os shows do projeto em turnês específicas?
Ah, sentimos muito orgulho, né? É uma sensação boa de que fizemos as escolhas certas. No caso do Cidadão, a experiência foi quase transcendental, reacendeu meu amor pelo Pink Floyd inclusive. O show da Céu rendeu pacas e ficou também muito clara a afinidade dela com aquele repertório. Os shows da Karina e do Fred 04 também tiveram seus desdobramentos e a gente nunca poderia imaginar que interferiria de alguma forma nas carreiras desses dois artistas que a gente admira desde os primeiros suspiros do mangue beat.

E pra 1975, quais são os grandes discos na mira?
E aí, sugere algum pra gente? Pensamos em Fruto Proibido, Horses, Expensive Shit, Estudando o Samba… Se virar 65, temos planos malignos e infalíveis para A Love Supreme, Coisas, Highway 61 Revisted…

Jorge Ben e o início de uma alquimia musical

Quando tudo começou…

Jorge Ben Jor + Zé Ramalho tocando “Errare Humanum Est” ao vivo em 2012

Foi na gravação de um Luau MTV – e o Mateus antecipou o vídeo (valeu!), mas ele não curtiu tanto assim.

Jorge Ben, Chico Science e a Tábua de Esmeralda

E falando no Ben (“E a Copa?”), que tal esse trecho do recém-aberto acervo do Roda Viva em que, em 1995, Chico Science pergunta ao mestre sobre seu disco mais mítico:

Chico Science: Jorge, sobre essa questão das influências, já começaram perguntando, eu queria perguntar a respeito de um disco. Um que eu acho bem bacana, para mim, é o do Ben Jor que me influencia mais, há outros também, o Tábua de Esmeralda. E eu queria saber o processo de criação desse disco e se você acredita nos deuses astronautas e na agricultura celeste?
Jorge Ben Jor: Acredito, acredito muito. Eu queria dizer que esse foi, para mim, um dos meus melhores trabalhos. Eu posso dizer para você, posso enumerar meus trabalhos, eu posso dizer rapidinho: Samba esquema novo; África Brasil, que já foi o último, mas antes da África Brasil, tem esses dois, o Tábua de esmeraldas, Solta o pavão e o África Brasil. Sendo que o Tábua de esmeraldas, esse meu trabalho na Polygram é o meu melhor trabalho, porque foi um trabalho… Na Polygram sempre tive problemas com trabalho; das pessoas meterem o dedo. Falarem: isso aí não vai vender, é um trabalho muito hermético, então eu falei, vou pedir ordem. Na época, era o André Midani que era o chefe geral, eu fui falar com ele e disse: esse é o meu trabalho, eu queria fazer esse trabalho, esse trabalho é o que eu quero fazer. Mostrei para ele e é um trabalho que eu falei: há muito tempo eu queria fazer. Eu sei que estou falando de uma filosofia que é muito difícil, estou falando dos alquimistas, estou falando da tábua de esmeraldas, estou falando da agricultura celeste, estou falando de filósofos como Paracelso, alquimista, astrólogo e médico sueco, era um herborista considerado pioneiro na farmacêutica ocidental], que tem uma música em homenagem a ele, que é O homem da gravata florida e eu estou falando de coisas que pouca gente sabe. Esse é o trabalho que eu queria fazer e é um trabalho que não vai ser…

Será que alguém descola um vídeo com isso? No site só tem um trecho (de onde eu tirei a imagem que ilustra o post, com o Jorge olhando pro Tárik de Souza, pro Cunha Jr. e pro Chico)…

A Tábua de Esmeralda no Teatro Municipal, ainda em 2011

Pelo menos é a vontade de Jorge, como disse em entrevista à Kamille:

O aguardadíssimo show estava previsto para julho, mas esbarrou em diversos empecilhos que o adiaram, como a atribulada agenda do artista, a busca por patrocínio e a necessidade de reunir novamente a banda que gravou o disco. “Ainda estou contactando os músicos. Já falei com o Dadi (Carvalho, baixista que era da banda de Ben Jor na época e saiu para formar A Cor do Som). Paulinho Tapajós, produtor, está vendo isso. Mas o show sai ainda este ano”, garante. Sobre o local, ele sonha: “Theatro Municipal ou Sala Cecília Meireles seria demais”.

Nesse meio tempo, Jorge ainda viu aprovarem no Ministério da Cultura um projeto em seu nome para captação e realização do show, com custo improvável de R$ 8.613. “Imagina, com esse valor não dá nem para começar”, analisa ele. “Não sei como aceitaram um projeto em meu nome sem autorização minha, mas meus advogados estão vendo isso”.

Outra ótima notícia é que ele vai tocar as músicas no violão, com os arranjos originais. “Não toco mais violão porque não combina muito com certas músicas, preciso de um som mais alto”, minimiza ele, sobre o fato de ter trocado o instrumento com que se celebrizou, com uma incrível levada criada por ele — o tal “samba esquema novo”. “Tenho escutado o ‘Tábua’ todos os dias. Tem música ali que eu nem lembrava mais como era”, confessa, ao eleger o álbum seu preferido, ao lado de, justamente, ‘Samba Esquema Novo’ (1963), que o lançou.

Com energia impressionante aos 69 anos, ele, que faz dois shows por semana (“antes eram mais de 200 shows por ano, este ano pedi para diminuir, porque às vezes tinha que viajar para cidades muito distantes uma da outra”), vai rodar o Brasil com o repertório do ‘Tábua’.

Ou tu não tá sabendo desse papo?

A Tábua de Esmeraldas na voz de outros artistas


Zezé Motta – “Os Alquimistas Estão Chegando os Alquimistas”

O papo do Queremos me lembrou um email que o Mateus me mandou compilando várias versões que ele encontrou por aí para músicas do Tábua de Esmeraldas do Jorge Ben (pra quem não sabe, pode ser que o Jorge Ben faça um show tocando seu clássico disco voltando ao violão que não encosta desde os anos 70 – uma campanha iniciada pelo Queremos no Facebook). Ele não achou nem “Magnolia” nem “Hermes Trismegisto” – e tolerou umas bombas, como a versão da Fernanda Abreu -, mas, c’est une travail sale, sabemos… Só tive que postar:


Ana Cañas – “O Homem da Gravata Florida”


Seu Jorge + Almaz – “Errare Humanum Est”


Mariana Aydar + Duani – “Menina Mulher da Pele Preta”


Fernanda Abreu – “Eu Vou Torcer”


Los Sebosos Postizos – “Minha Teimosia, Uma Arma pra te Conquistar”


Maquinado – “Zumbi”


O Rappa + Lenine – “Cinco Minutos”

Valeu, Mateus!

A Tábua de Esmeralda 2011, confirmado

Pelo próprio Jorge Ben. No papo que rolou entre os dois Brunos (o sócio Natal, que inventou a campanha, e o Maia, que filmou a entrevista) e o ícone, o Grão Mestre Alquimista confirma que já está ensaiando o disco música por música e que o disco vai ser revisitado ao violão – o que quebra um tabu iniciado justamente após o lançamento do Tábua, em 1974 (o disco seguinte, África Brasil, já foi só com a guitarra). Vale ver o vídeo, pois além do momento “David After Dentist” do URBeman, ainda há um bom papo sobre a história do Tábua, do hermetismo duplo do disco e o que o Tábua tem a ver com os emos (wtf).

Jorge Ben já está ensaiando o Tábua de Esmeralda no violão!

Lembram dessa história? Bruno mandou essa nova aí e depois dessa, eu vou pra praia numa bowa… Até segunda – e bom finde!

O que o Jorge Ben já tocou do Tábua de Esmeralda ao vivo

Uma alquimia musical


“Os Alquimistas Estão Chegando os Alquimistas”


“Minha Teimosia, Uma Arma Pra Te Conquistar”


“Magnolia”


“Namorado da Viúva”


“Menina Mulher da Pele Preta”


“Zumbi”

Essa “Zumbi” é do África Brasil, mas também tem versão no Tábua, então tá valendo. A seleção feita pelo povo da Noise.

A Tábua de Esmeraldas e África Brasil em vinil

A Polysom volta para o passado da música brasileira cravando os dois melhores Jorge Bens. Visitei a única fábrica de vinil da América Latina no início do ano, em uma materinha pro Caderno 2.