Santo Kendrick Lamar!

, por Alexandre Matias

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A capa e a contracapa crua do disco novo novo de Kendrick Lamar, que ele mostrou no início desta semana, deu início a uma série de especulações sobre os possíveis significados escondidos que o rapper queria passar ao revelá-las. Além de seu design simples por definição ecoar um dos versos da música “Humble” (“I’m so fuckin’ sick and tired of the Photoshop”), ele também traria uma série de mensagens subliminares, tanto na capa quanto na contracapa.

A capa mostra um Kendrick cansado e abatido, com o olhar perdido em frente a um muro de tijolos, vestido apenas com uma camiseta branca.

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Há quem também tenha visto que o M sobre sua cabeça poderia parecer um par de chifres ou uma coroa… Mas e esse olhar desiludido?

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A contracapa continua no mesmo tom da capa, embore agora Kendrick encare a câmera. Mas o que chamou atenção dos fãs foi que a lista de músicas, alinhada à direita, é riscada por uma divisão de cores, que separa a última letra do título de cada canção. Assim, temos: DATHLAEETE2RDH. Fãs se debruçaram sobre o emaranhado de letras e descobriram a frase EARTH LED 2 DEATH. “A Terra leva à morte”, que parece refletir sobre a finitude da vida neste plano (em comparação ao plano espiritual). Um fã específico, na rede social Reddit, misturou essa frase com o fato do disco ter sido adiado para o dia 14 de abril (e não dia 7, como Kendrick havia dado a entender na faixa “The Heart IV“, que ele mostrou no fim do mês passado.

Mas parece que até o fato do disco ter sido adiado foi programado. Pois assim, ele disfarçaria a intenção de lançar o disco na Sexta-Feira da Paixão. Lá vai a íntegra do post do sujeito:

Here me out for a second… this idea just hit me, and I love it so much that it actually scares me that it won’t happen because it’s so good…. kendrick is release TWO albums first one comes out on Good Friday (the day Jesus was killed) the title of this album is called DAMN. It’s track listing is an anagram of the last letters spelling out “earth led 2 death” which has a meaning related to the people of earth condemning Jesus to the cross and his death. This album has a sad and depressed looking album cover and it’s tracks are all bangers that complete destroy the rap industry.. turning it on its head. Kendrick goes in on everyone and basically just “crucifies” the entire game (already so much speculation on HUMBLE. in terms of his attacks on other rappers including big sean and drake)
This album has mixed reviews and thoughts by fans at first… Although the work on this LP is on a new level, and the lyrics are absolutely insane .. many people will still have question marks saying this isn’t a typical kendrick album. Where’s the deep meaning? This was just him making a bunch of bangers and taking people down. But then…..2 days later…
SUNDAY (Easter) The day Jesus returns from the dead.
A NEW ALBULM called: “Nation”
When put along side the other the duel album becomes “Damn Nation” aka “damnation”.
This is album is much deeper, speaking the current political climate and other aspects of culture. What most people would describe as a TPAB sequel. And it represents the RESURRECTION of the new rap game.
Kendrick is our rap savior
drops the mic

O Rai Faustino (quem diria que os primeiros youtubers de música iam ser os de rap?) deschava melhor essa teoria:

Viagem? Eu também achava, até que o disco foi lançado – corroborando essa teoria em uma série de detalhes espalhados pelo disco. A começar pela primeira música, “Blood” (hã? hã?) em que Kendrick “morre”: “you have lost something… you’ve lost your life”, diz a personagem antes do som seco de um tiro. Há várias outras referências à morte, sangue e sofrimento pelo disco – sem contar o fato de, no clipe da faixa “Humble“< o próprio Kendrick montar sua Santa Ceia particular. Santa Ceia, você sabe, foi a última refeição feita por Jesus Cristo antes de ser morto. É a base da missa (a hora da homilia) e aconteceu na Sexta-Feira Santa. Ou, melhor, a Sexta da Paixão. Ao final da faixa "Fear" ouvimos a voz de Kendrick de trás pra frente, que o blog Pingeons & Planes inverteu para ouvir o que ele falava:

“Every stone thrown at you resting at my feet / Why God why God do I gotta suffer / Pain in my heart carry burden for the struggle / Why God why God do I gotta bleed / Every stone thrown at you restin’ at my feet / Why God why God do I gotta suffer / Earth is no more, won’t you burn this mufucka?”

Mais referências à Jesus Cristo, religião e morte.

Daí que o Sounwave, um dos produtores do disco, lança, como quem não quer nada, um tweet cogitando que há uma outra versão para o disco:

O tweet que remete às clássicas provocações de Morpheus no filme Matrix (“What if I told you…?”) foi seguido de outro tweet, apenas com a data de hoje e uma foto justamente do próprio Morpheus:

A imagem de Kendrick Lamar em seu perfil no Spotify foi substituída por esta abaixo, irmã da capa de Damn., mas com mudanças importantes: o muro atrás dele é azul, ele está olhando para a câmera com um olhar mais convicto e, se o o próximo disco, que deverá ser lançado no Domingo de Páscoa (data da ressurreição de Cristo), se chamar mesmo Nation e seguir o design da capa de Damn., o “O” da palavra Nation pode ficar sobre sua cabeça, como uma auréola:

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Vermelho x azul, Bloods x Cribs, as clássicas gangues de Compton, vizinhança em que Kendrick nasceu, imortalizadas em dois discos. Vermelho e azul também são as cores das pílulas que Neo pode tomar em Matrix: uma para continuar no mundo de fantasia gerado por computadores e a outra para acordar e ver a realidade como ela é. Em “The Heart IV”, Kendrick teria feito referência a estes dois discos, na frase “dropped one classic, came right back ‘nother classic, right back / My next album, the whole industry on a ice pack / With TOC, you see the flames”. TOC seria uma sigla para The Other Colour, A outra cor, o segundo disco que ele lançaria em seguida (em que veríamos as “chamas”, em oposição ao primeiro disco, que colocaria toda a indústria “em um pacote de gelo”). Fogo x gelo, vermelho x azul.

Damn. também seria uma crítica ao estado do rap atual: sintético, monocórdico, autorreferencial, quase eletrônico. Seria o próprio Kendrick mostrando que se ele quisesse jogar esse jogo faria com um braço nas costas – e faixas como “DNA”, “Feel” ou “Lust” mostram isso na prática.

O disco lançado à meia-noite da sexta, seria então, não apenas a “morte” de Kendrick, mas a morte do rap, o estágio letárgico e repetitivo do gênero atualmente. O disco Nation mostraria justo o contrário – mas seriam as mesmas músicas em novas versões ou músicas completamente novas?

Santo Kendrick Lamar!

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