Renato Teixeira e os Apaches

, por Alexandre Matias
Foto: Carina Zaratin (Divulgação)

Foto: Carina Zaratin (Divulgação)

“Tenho visto e ouvido coisas emergentes na música e no cenário onde a praticamos. Novos grupos revelando novos caminhos. Outras atitudes. Outros ângulos sonoros. A música em si será como sempre foi; feia ou bonita dependendo de quem a ouve. Mas a maneira de ser dessa tribo que está ocupando espaços, traz um ar novo, animador e importante: conteúdo com a qualidade alguns pontos acima” – quem descreve este cenário é Renato Teixeira, ícone vivo da música de raiz brasileira, que acaba de encontrar-se com a banda de rua Mustache e os Apaches para um encontro ao redor de uma de suas canções, “Rio Abaixo”.

A conexão entre as duas gerações foi feita pela filha de Renato, Antônia, amiga pessoal do grupo. “‘Rio Abaixo’ é uma das músicas do Renato que a gente mais gosta”, explica o vocalista da banda, Pedro Pastoriz. “E chegamos nela em uma conversa muito rápida. A princípio é uma música que o Renato não toca muito nos shows, é de um repertório antigo e a composição é de Geraldo Roca e Paulo Simões.”

Renato continua: “A música por ser invisível e inodora, repousa na gravidade da terra eternamente. As clássicas, por exemplo, continuam soando mais belas a cada dia enquanto gerações inteiras vão passando por ela. Reinventar, renovar-se, ampliar horizontes, qualificar a vida dos humanos, são missões musicais. Ouvir música, qualquer uma, é praticar auto ajuda. Os tempos mudam o comportamento conforme a humanidade evolui e é dentro dessa lógica que a arte se orienta para também avançar. Sem ter que ser obrigatoriamente um caleidoscópio de possibilidades nunca vistas de sonoridades inimagináveis, a arte musical jamais se comprometeu com qualquer tendência para ser eficiente. Basta ser do agrado de todos e o assunto estará resolvido. Uma banda como Mustache e os Apaches, a canção do Roca e do Simões, aquele arranjo certeiro que o Sergio Mineiro criou lá nos porões dos anos oitenta mais a vivencia que as canções adquirem com o passar dos anos, tudo isso somado, possibilitou que descontraidamente a gente revisitasse a canção numa manha sol na serra da Cantareira e nos divertíssemos muito com ela.”

“‘Rio Abaixo’ tem lá uma certa ironia, como quase tudo que passa pelo Roca. Tem também um que de deboche que o Simões gosta de camuflar nos seus dizeres. Quando ouvi pela primeira vez, achei que Elis iria gostar; marquei uma visita do Roca na casa dela. Elis ouviu mas não se ligou; então eu gravei no meu disco Garapa. Ficou lindo. Espero que esse numero musical venha agora trazer uma gostosa reflexão filosófica sobre a vida vivida nesse pais tropical onde ‘Rio Abaixo’ é o nome de uma determinada afinação da viola e serve também de dizer popular, quando a gente vê a viola em cacos e nao pode mais deter a evolução dos fatos”, empolga-se o velho compositor.

“Renato é uma figura engraçada, cheio de histórias”, continua Pastoriz. “Ele tava muito curioso pra saber como funcionava essa coisa nossa de tocar na rua, enfim, passamos um dia muito gostoso entre amigos. No final do dia gravamos a música num por do sol incrível com todas aquelas araras, micos e tucanos da Cantareira. Espero que a gente toque juntos algum dia ao vivo, seria legal no futuro gravar mais algumas coisas, veremos!” O próprio Renato vai além e já traça planos: “Pensei inclusive em regravar um dos meus primeiros discos, o “Paisagem” com os Mustaches.”

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