Quem é Charlie?

, por Alexandre Matias

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O jornalista norte-americano David Brooks, colunista do New York Times, concorda com o apoio à causa do jornal Charlie Hebdo mas faz questão de enfatizar que os Estados Unidos estão longe de aceitar o tipo de humor da publicação francesa. Reproduzo um trecho de seu texto, com a tradução feita pelo Estadão (o original em inglês pode ser lido aqui, a tradução na íntegra aqui):

A reação ao ataque de Paris revela que grande parte da sociedade se apressa em endeusar os que ofendem o ponto de vista dos terroristas na França, mas é muito menos tolerante com os que ofendem seus próprios pontos de vista em seu país.

Basta olharmos para todas as pessoas que reagem excessivamente a agressões muito menores que ocorrem em um câmpus universitário. A Universidade de Illinois demitiu um professor que dava aula sobre a posição da Igreja Católica na questão da homossexualidade. A Universidade de Kansas suspendeu um professor que usou termos duros em um tuíte contra a Associação Nacional do Rifle. A Universidade Vanderbilt criticou um grupo cristão que insistia que a instituição fosse dirigida por cristãos.

Os americanos talvez elogiem o Charlie Hebdo pela coragem de publicar cartuns que ridicularizam o profeta Maomé, mas, quando a ativista holandesa Ayaan Hirsi Ali é convidada para visitar o câmpus, há frequentes pedidos para impedir que ela fale em público.

Portanto, este deveria ser um momento de reflexão. Embora estejamos profundamente abalados pelo massacre dos cartunistas, nesta hora é importante que tenhamos uma visão menos hipócrita em relação às nossas personalidades controvertidas, provocadores e chargistas.

E se nos Estados Unidos – “land of the free” – as coisas são desse jeito, imagina se um cartum como o que estampa a capa do Charlie Hebdo aí em cima fosse publicado na capa de qualquer veículo impresso no Brasil…

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