Play back

, por Alexandre Matias

Há pouco mais de um ano, saiu numoutra Bizz…

Moby, Espaço das Américas, São Paulo – 20 de setembro de 2006

Filas, preço do ingresso, cambistas, pilastras, acústica ruim, política, desorganização, segurança truculenta… Muito se falou sobre a passagem de Moby pelo Brasil em setembro, quando se apresentou duas vezes em São Paulo: a primeira em um hotel com formato de fatia de melancia e outra num galpão do bairro Barra Funda, com ingressos variando entre R$ 140 e R$ 300. Mas pouco se falou sobre música.

Talvez porque não houvesse muito o que falar. Desde que sua pontualidade vegan exigiu começar o segundo show, que aconteceu no Espaço das Américas, nas mesmas 23 horas anunciadas na programação, a apresentação soou profissa e eficaz como um relógio, mas sem um mínimo de calor emocional, pelo menos que viesse do palco. É claro que a música de Moby é muito maior do que o show apenas correto que trouxe ao Brasil – e foi o reconhecimento de seus hits pelo público responsável pela pequena fresta de entusiasmo que se viu naquela terça-feira fria.

O produtor passa boa parte do tempo com uma guitarra pendurada no corpo, cuspindo riffs e tentando solar como se estivesse num show de rock. Mas prestenção: atrás dele tem uma tecladista que tocou “Fur Elise” (a música do caminhão de gás) em versão pseudo-dance, ao seu lado um baterista com permissão para solar (em pleno século XXI, vê se pode!); à frente um guitarrista de verdade e uma cantora virtuose negra. Todos solam, todos dão o sangue e todos conseguem – cada um por vez – empolgar o público. Menos o distante Moby que, como band-leader, não conseguiu grande coisa. Talvez ao protestar contra a Guerra do Iraque e exigir dedos em riste para uma foto em “homenagem” ao presidente norte-americano Bush (qual o endereço do fotolog dele?) foram os poucos momentos em que se comunicou diretamente com o público.

E não foi por falta de tentativa. Fora a boa obviedade de seus hits, Moby teve idéias infelizes e sem-noção, como tocar covers de clássicos do rock como “Sweet Child’O Mine” dos Guns’N’Roses (anunciada como “uma versão samba-jazz” que de samba-jazz não tinha nada – parecia uma versão piorada da versão do Luna), “Break on Through” do Doors e “Creep” do Radiohead. Ainda teimou em tocar uma música do Sepultura, para constrangimento geral da nação.

O lance é que Moby é compositor, e não maestro, embora seu nerd interior ache que seja. Pior: a auto-imagem que ele faz de si é a de popstar, o roqueiro trintão comandando um dos braços da indústria de entretenimento. E por melhores que sejam os músicos, carisma não é algo que se consegue fácil. E Moby, por mais simpático que tente ser, não tem carisma.

O mesmo não pode ser dito sobre suas músicas. Pequenas sinfonias pós-disco, elas fundem cordas de teclado, soul music, beats sintéticos e letras contemplativas, e provocam suspiros coletivos, ondas de urros e mãos jogadas para cima em hits como “Porcelain”, “Why Does My Heart Feel So Bad?”, “Find My Baby”. Além dos sucessos, ele ainda lembrou do tempo em que era um nome importante para a música de pista – bem antes de ser um major player do showbusiness – tocando seus próprios clássicos como “Go!” e “Feeling So Real”. Suas músicas são o cerne da noite, o motivo de quase 5 mil pessoas assistirem a um show pelos telões, porque não dava pra ver o palco direito. E nem parecem ter saído da cabeça daquele carequinha pagando de roqueiro.

E, de repente, não é mais um show de música eletrônica, e sim um evento de pop rock. Dinossauro por opção, o show de Moby faz lembrar dos medalhões do rock’n’roll durante os anos 80, quando Phil Collins, Pink Floyd, Sting e Dire Straits, por mais diferentes entre si na origem, pareciam soar parte de uma mesma tendência musical. Mecânico, correto, inerte – sem alma. Eu não sei ele chegou a vende-la, mas pelo preço do ingresso…