Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

E essa escalação do Primavera São Paulo que não sai?

Calma que essa imagem não é oficial, embora carreguem alguns nomes que certamente estarão na edição paulistana do festival Primavera. Enquanto outras edições do festival na América do Sul já anunciaram seu elenco e começam a vender ingressos, nada da edição de São Paulo ser anunciada – o que abre mão para artistas do Photoshop abrir suas listas de apostas. Vários itens deixam meio claro que essa versão é falsa – a começar pelo número ridículo de artistas nacionais -, mas vamos combinar que alguns nomes seriam beeem foda se viessem pra cá. Consegue escolher cinco além do Cure, dos Pet Shop Boys e do Blur? Eu fico com St. Vincent, SZA, Blood Orange, Aphex Twin e Fever Ray.

Dentro do espelho

As duplas Antiprisma e Retrato provocaram uma imersão no Centro da Terra com seu espetáculo Reflexvs, quando contraporam suas duas características musicais a um conceito criado para mostrar a natureza dual do encontro dos dois grupos, que tocam como uma mesma banda mas mudam de cara quando assumem suas respectivas personalidades. Este conceito foi descrito pelo poeta Rodrigo Qohen, que narrou a primeira parte da apresentação com uma máquina de escrever enquanto cada uma das duplas apresentava-se sentada no chão do palco, apresentando suas características específicas Elisa Moreira e Victor José, do Antiprisma, puxaram para o folk e para o rock psicodélico, enquanto Ana Zumpano e Beeau Gomez, o Retrato, optaram pelo noise misturado com eletrônica. Na segunda parte da noite, Ana assumiu a bateria e Beeau foi para o baixo, formando a base do Antiprisma, que mostrou suas novíssimas canções pela primeira vez no palco – por vezes com instrumentos acústicos e em outras elétricos. Depois José assume o baixo e Beeau volta para a guitarra, enquanto Elisa segue na guitarra, mas deixa de cantar, deixando os vocais com o guitarrista e a baterista, mostrando as músicas do primeiro disco do Retrato. Uma apresentação conjunta que serviu para os dois grupos entenderem suas semelhanças e diferenças enquanto faziam isso na frente de todo mundo, contando com participações de outros músicos, como os sintetizadores de John Di Lallo, o contrabaixo acústico de Zé Mazzei e o violão e voz de Benti.

Assista aqui:  

Antiprisma + Retrato: Reflexvs

Começamos o segundo semestre no Centro da Terra reunindo no mesmo palco duas bandas que já têm uma conexão univitelina, mesmo que nasceram em épocas diferentes. A Antiprisma já está na estrada há tempos e temos a inglória lembrança de termos desmarcado um show às vésperas da trágica pandemia que abateu-se sobre nós em 2020. Já o Retrato é novíssimo e está começando a lançar seus primeiros fonogramas no mundo. A conexão entre as duas bandas é que o casal Elisa Moreira e Victor José, que forma o Antiprisma, acompanha a dupla Ana Zumpano e Beeau Gomez, que forma o Retrato, como integrantes de sua banda e vice-versa. Foi a partir desta costura que os dois grupos inventaram o espetáculo Reflexvs, que mostram nesta segunda-feira no Centro da Terra, quando aproveitam a misturar suas formações com outras disciplinas, ao reunir Raquel Diógenes nas projeções, Debbie Hell com performances que incluem tinta e papel e o poeta Rodrigo Qohen, que narra os atos na dois, além da presença de John Di Lallo, que toca sintetizadores com os dois grupos e mostra seu próprio trabalho solo, e outras possíveis surpresas. O espetáculo começa pontualmente às 20h e os ingressos podem ser comprados através deste link.

Maria Luiza Kfouri (1954-2023)

Maria Luiza Amaral Kfouri, que nos deixou nesta segunda-feira, é destes personagens ímpares que tanto se repetem na cultura brasileira: uma única pessoa apaixonada pelo assunto que resolve transformar em legado sua paixão. Radialista e jornalista de formação, ela é uma das pioneiras na internet brasileira ao abrir sua coleção de discos no site Discos do Brasil, referência inestimável para qualquer pesquisador da área, principalmente por levar em alta conta algo que é menosprezado pelas plataformas digitais – as fichas técnicas dos discos. Só por suprir esta lacuna gigantesca em nossa historiografia musical, Mana, como era mais conhecida, já teria uma contribuição enorme para nossa cultura – tanto em termos de tradição quanto de modernidade. Que seu legado permaneça vivo.

Vem cá, Luiza

Vamos começar bem a semana? 7 Estrelas | Quem Arrancou o Céu? é o nome do tão aguardado quarto disco de Luiza Lian, anunciado nesta segunda-feira. Composto em 2019, o disco foi sendo cultivado, gravado, mixado e remixado por ela e seu produtor Charles Tixier no longo período de ruminação a que fomos submetidos desde 2020 e finalmente vê a luz do dia no próximo dia 28, depois de dois singles já anunciados: “Eu Estou Aqui” começa a apresentar o disco na próxima sexta, dia 7, e “Desabriga”, desdobra o disco na semana seguinte, dia 14. E se você achava que o disco de 2018 era foda, prepare-se… A capa é essa aí em cima e o nome das músicas segue abaixo:  

Olivia Rodrigo: “Bloodsucker, famefucker”

E como a Olivia Rodrigo subiu alguns degraus neste novo single, hein? “Vampire”, lançado sexta passada, abre os trabalhos de seu segundo álbum, Guts (programado para sair em setembro), e evolui de uma balada lacrimosa e dramática para um soco na cara de um ex que não poupa palavras para tirar as vísceras de seu alvo: “Seis meses de tortura que você vendeu como um paraíso proibido, eu te amei de verdade, você deve rir dessa estupidez”, destila o rancor em seus versos à medida em que a música vai ficando mais agressiva, “Pois fiz grandes erros, mas você faz o pior deles parecer bom/ Eu devia ter estranhado que você só aparecia de noite/ Pensava que eu era esperta, mas você me fez parecer ingênua/ A forma como você me vendeu enquanto afundava seus dentes em mim/ Chupador de sangue, fodedor de fama, me sangrou até secar como um maldito vampiro”. Na primeira faixa do novo disco, ela segue um crescendo parecido com a faixa-título do segundo disco de Billie Eilish, Happier than Ever, mas trabalha com o mesmo assunto de uma forma muito mais intensa do que a de sua conterrânea da Califórnia. O clipe do novo single, dirigido por Petra Collins, transforma o início da faixa em uma citação de um clássico da Hammer (Drácula, o Perfil do Diabo, com Christopher Lee) num acidente de gravação que transforma-se numa perseguição policial e um ato de desespero, aumentando a tensão do clipe à medida em que a música torna-se mais trágica. Dá pra imaginar direitinho a convulsão catártica do público durante os shows…

Assista abaixo:  

Egrégora musical

Às vésperas de lançar disco novo, Ava Rocha ainda encontrou tempo para revisitar mais um clássico da música brasileira que completa meio século neste 2023 neste fim de semana, no Sesc Ipiranga: o sexto disco de Gal Costa, Índia, que viu ela reunir uma constelação de nomes da música brasileira de seu tempo (Duprat, Verocai, Dominguinhos, Toninho Horta, Luizão, Wagner Tiso, Chico Batera, Wagner Tiso) para cantar um repertório repleto de canções modernas e tradicionais, de Lupicínio Rodrigues a Caetano Veloso, passando por uma música do folclore português arranjada por Gil, Tom Jobim, Luiz Melodia, Jards e Waly, Tuzé de Abreu e a guarânia que batiza o disco. Ava reuniu uma banda à altura do desafio e surfou na intensidade daquela onda e o show conduzido pelo violão de Negro Leo e o teclado de Chicão Montorfano, ainda contou com a bateria de Alana Ananias, o baixo de Pedro Dantas e a guitarra de Fernando Catatau. O resultado daquela egrégora de entidades fez o disco soar tão moderno e ousado quanto em seu lançamento e Ava, no centro daquele altar, invocou a presença de Gal com toda sua graça e força. Foi lindo – e tomara que ela possa voltar a esse repertório de vez em quando.

Assista aqui:  

Alan Arkin (1934-2023)

Embora seja mais lembrado por sua participação em filmes recentes (como Argo ou o Pequena Miss Sunshine, que lhe rendeu um Oscar), o ator Alan Arkin, que morreu neste fim de semana aos 89 anos, foi um dos principais atores de comédia do cinema norte-americano entre os anos 60 e 70, quando estrelou clássicos hoje infelizmente esquecidos como Os Russos Estão Chegando e Ardil 22.

Colosso brasileiro

Fazia tempo que um show não me emocionava tanto. Ver Edu Lobo às vésperas de completar 80 anos entregando-se a um repertório ao mesmo tempo mágico e intenso, tanto do ponto de vista temático quanto musical, me proporcionou uma sensação que há muito tempo não tinha, quando nostalgia e lembranças pessoais misturam-se à importância de uma obra com mais de 60 anos de idade e algumas canções tatuadas em nosso inconsciente como só hinos e orações conseguem se embrenhar. Com uma banda à sua altura – o maestro Cristóvão Bastos ao piano, o preciso Jurim Moreira na bateria, o gigante Jorge Helder no contrabaixo acústico e o grande Mauro Senise nas flautas e sax -, Edu ainda contou com o vocal e presença de palco deslumbrantes de Vanessa Moreno que, mesmo que caçula ao lado de mestres, estufou o peito e fez-se enorme. E olha que do lado de Edu Lobo isso não é fácil, afinal estamos falando de um compositor que é o ponto de convergência entre Chico Buarque e Tom Jobim, um lugar única na música brasileira – e do mundo. Mas ao contrário de seus compadres, Edu solta-se completamente no palco, deixando a timidez ou o tédio da labuta diária em último plano para encontrar com todos que vieram o reverenciar. E desfilou sua magnitude entre obras-primas de seu lado épico (“Casa Forte”, “Ave Rara”, “Vento Bravo”, “Zanzibar”, “Corrupião”) com suas celebrações à canção popular (“No Cordão da Saideira”, “Frevo Diabo”, “Choro Bandido”, “Gingado Dobrado”), suas deslumbrantes canções de amor (“A Mulher de Cada Porto”, “Noite de Verão”, “Sobre Todas as Coisas”, “Canto Triste” e “Pra Dizer Adeus”, desabei nessas duas últimas) e o cortejo do Circo Místico que ergueu com Chico (“Na Carreira”, “A História de Lily Braun”, “Ciranda da Bailarina” e “Beatriz”, esta acompanhado apenas do piano de Cristóvão), além de seus hits imortais (“Ponteio”, sua versão para “Trenzinho Caipira” de Villa-Lobos e “Corrida de Jangada”, que encerrou o show). Isso tudo completamente à vontade para brincar com sua idade, comemorar a inelegibilidade do “imbroxável”, como zombou, antes de levantar os dedos fazendo o L de Lula (para deleite do público), saudar seus velhos camaradas e elogiar a jovem cantora que o acompanhou nesta noite, além de apresentar uma música inédita, “Silêncio”. Um show para lavar a alma e começar bem a segunda metade de um ano que está sendo incrível.

Assista aqui:  

Jesus ao vivo

Sem lançar nada desde seu primeiro disco de inéditas deste século, Damage and Joy, que marcou o retorno da banda em 2017, o grupo escocês Jesus & Mary Chain quebra o jejum e anuncia seu terceiro disco ao vivo, Sunset 666, que será lançado no início de agosto. O registro vem de antes da pandemia, quando a banda abriu para o grupo Nine Inch Nails em uma temporada de seis datas no Hollywood Palladium, em Los Angeles, nos EUA, em dezembro daquele ano e as 12 primeiras faixas do álbum são da última aparição do grupo nesta leva de shows, no dia 15 de dezembro (as outras cinco são do show do dia 11). Entre as canções está o primeiro single do álbum, “Sometimes Always”, versão ao vivo para a canção do disco de 1994, Stoned & Dethroned, em que o vocalista Jim Reid dividia os vocais com Hope Sandoval, do Mazzy Star. Na nova versão, quem assume o vocal feminino é a ex-vocalista do grupo conterrâneo Belle & Sebastian, Isobel Campbell, que também canta na faixa “Black and Blues”, gravada no disco de 2017 com a vocalista Sky Ferreira. O disco já está em pré-venda e a ordem das faixas pode ser vista abaixo, bem como o primeiro single pode ser ouvido: