Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

Fernando Botero (1932-2023)

“Morreu Fernando Botero, o pintor das nossas tradições e defeitos, o pintor das nossas virtudes. O pintor da nossa violência e paz. Da pomba rejeitada mil vezes e mil vezes colocada em seu trono”, assim escreveu o atual presidente da Colômbia, Gustavo Petro, em sua conta no Twitter, ao falar da passagem do artista de seu país mais reconhecido no mundo todo, que faleceu no último dia 15.

Adeus aos palcos

Uma provocação sobre lançar um disco de 2020 que ainda não havia sido propriamente lançado acabou tornando-se uma sessão de terapia aberta ao público sobre as dificuldades e o sentido de ser uma mulher artista musical no Brasil atual. Seja tocando seus instrumentos (violão e acordeão) ou apenas no gogó, a cantora e compositora Marília Calderón abriu suas angústias em público, trazendo à tona a personagem Cida, uma versão sua que lhe atormenta em pesadelos. Contando com a ajuda de uma girafa cênica – vivida genialmente pela atriz e sapateadora Paula Ravache, que a ajudou a conceituar o espetáculo -, ela ainda recebeu participações especiais – a atriz Zenaide e a cantora e poeta Socorro Lira – que a ajudaram a ampliar a intensidade de seu drama em canções confessionais que ajudaram a compartilhar sua decisão de encerrar a carreira nos palcos, numa apresentação que misturou show, teatro de revista, vaudeville e comédia. Eu mesmo duvido disso (e falei pra ela, mas dê tempo ao tempo), mas foi um processo bonito de se acompanhar.

Assista aqui:  

Marília Calderón: Que Cida Decida

Como assim último show? No espetáculo Que Cida Decida, a cantora e compositora paulistana Marília Calderón se submeteu-se a uma autoanálise de sua carreira que culminou com uma escolha drástica: fazer sua última apresentação ao vivo. Confrontada pelas questões do meio profissional musical ao mesmo tempo que firmava carreira como psicanalista, ela joga essas dúvidas e ansiedades no meio de seu repertório, transformando o que seria uma apresentação de transição num salto no escuro. Para a noite desta quarta-feira no Centro da Terra, que tem direção musical de Felipe Salvego, ela contará com as participações de Socorro Lira e Zenaide, que adensam ainda mais sua indecisão geral. O espetáculo começa pontualmente às 20h e os ingressos podem ser comprados antecipadamente através deste link.

R.E.M. tocando no Party of Five

Comemorando os 25 anos do disco que viu o R.E.M. deixar de ser um quarteto para tornar-se um trio, após o baterista Bill Berry ter decidido se aposentar, o clássico grupo indie revisita seu ótimo Up em edição comemorativa que será lançada no dia 10 de novembro. Além do disco remasterizado, a nova edição ainda vem com um show inteirinho gravado à época do lançamento… durante as gravações do seriado Party of Five. Foi a primeira vez que a banda foi convidada a participar de um seriado, quando participou tocando no Palace Theatre, em Los Angeles, nos Estados Unidos. Como estavam prestes a entrar em turnê, aproveitaram a oportunidade para ensaiar um show e fizeram praticamente uma apresentação privada para pouco mais de cem fãs, além de integrantes da equipe e do elenco do seriado (você lembra: Neve Campbell e Jennifer Love Hewitt no auge de suas famas, Matthew Fox antes de tornar-se o Jack de Lost). Além da música incluída no seriado “At My Most Beautiful”, single de lançamento do novo disco, o grupo ainda tocou clássicos como “What’s the Frequency, Kenneth?”, “Losing My Religion”, “It’s the End of the World As We Know It (And I Feel Fine)” e “Man on the Moon”. E para anunciar o novo lançamento, que já está em pré-venda, o grupo antecipou mais uma faixa do show que nunca foi lançado, “Daysleeper”, outra faixa de Up.

Ouça abaixo (além de assistir à participação do grupo no seriado):  

Quando o J. Mascis cantou com as Breeders

Na próxima sexta-feira as Breeders lançam a edição comemorativa dos 30 anos do clássico dos anos 90 Last Splash, o disco que consagrou a banda das irmãs Kim e Kelley Deal como algo maior do que um projeto posterior aos Pixies (algo que, ironicamente, aconteceu com a carreira solo de Frank Black). E além do disco remasterizado na íntegra, a nova edição ainda traz um compacto com duas faixas inéditas, esquecidas nos arquivos da banda da época do disco: a novíssima “Go Man Go”, composta com o ex-vocalista de sua banda anterior, quando ele ainda chamava-se Black Francis, e uma inacreditável versão de “Divine Hammer” com o guitarrista do Dinosaur Jr., J. Mascis, nos vocais. O grupo havia mandado uma demo da música para que ele pusesse guitarras e não acreditaram quando ouviram que ele assumiu os vocais da faixa que é uma das grandes assinaturas musicais do grupo. Rebatizada de “Divine Mascis” ela foi apresentada ao público nesta quarta e é de chorar.

Ouça abaixo:  

Genealogia psicodélica brasileira

Pesado esse show que a Bike fez com o Tagore nessa terça-feira no Centro da Terra, enfileirando hits da lisergia brasileira que colocava os dois artistas num cânone viajandão que enfileirava Arnaldo Baptista solo (LSD), Pedro Santos (“Um Só”), Cérebro Eletrônico (“Pareço Moderno”), Júpiter Maçã (“Um Lugar do Caralho”), Fábio (“Lindo Sonho Delirante”), Tom Zé (“Parque Industrial”) e Violeta de Outono (“Declínio de Maio”), entre outros clássicos da música psicodélica brasileira, todos rearranjados com muito peso, microfonia e ritmo, cortesia da química entre os integrantes da banda paulista. O ápice da apresentação foi quando o grupo soltou Tagore em cima de dois hinos do udigrudi nordestino, quando emendou “Vou Danado pra Catende” de Alceu Valença com “Nas Paredes da Pedra Encantada Os Segredos Talhados por Sumé” do mitológico Paebirú, de Zé Ramalho e Lula Côrtes, que contou com uma interpretação possessa do vocalista pernambucano.

Assista aqui:  

Bike + Tagore: MPB ou LSD?

Artistas contemporâneos e da mesma árvore genealógica, embora cada um nascido num canto do país, Bike e Tagore já estiveram juntos outras vezes, mas pela primeira vez criam um espetáculo em parceria, quando se reuniram para apresentar MPB ou LSD?, uma apresentação que funciona como uma jornada à alma psicodélica da música brasileira, cruzando os mares lisérgicos desde os tempos dos Mutantes, passando pelo udigrudi pernambucano dos anos 70, os experimentos paulistanos dos anos 80, o ácido rock gaúcho dos anos 90 e a cena retropsicodélica da qual fazem parte neste século. Essa viagem começa pontualmente às 20h desta terça-feira e os ingressos podem ser comprados neste link.

Fluindo em família

Na terceira apresentação da temporada Águas Turvas que Dinho Almeida está fazendo no Centro da Terra, ele finalmente pode começar sem pisar em ovos e se nas duas segundas-feiras anteriores o guitarrista dos Boogarins esteve sozinho no palco a maior parte do tempo (apenas dividindo-o no final da segunda noite, com os irmãos Bebé e Felipe Salvego), nesta ele começou com um grupo de amigos que é praticamente sua família paulistana: o casal Carabobina – Raphael Vaz, baixista de seu grupo, e Alejandra Juliani -, com seu sotaque andino-psicodélico e a violinista gaúcha Desirée Marantes moram na mesma vila que o compositor goiano, tornando o encontro praticamente um programa de família, que ainda contou com as texturas e beats eletrônicos do parceiro Bruno Abdalah. Juntos, este grupo de camaradas deixou Dinho à vontade para fazer a noite mais experimental de sua temporada até agora, buscando pontos além da melodia e da canção, explorando camadas de drone e som horizontal com sua voz e guitarra elétrica. Uma noite hipnotizante.

Assista aqui:  

Trabalho Sujo All Stars | 15.9.2023

Resolvi fazer uma festa para celebrar a diversidade musical e as diferentes camadas sociais da minha vida, juntando compadres e comadres de diferentes épocas pra discotecar música boa pra dançar sem precisar se gastar até altas da manhã. E nessa primeira edição, chamei camarada de diferentes épocas da minha vida, todos sempre presentes: o papa da dance music no Brasil Camilo Rocha, que está lentamente retornando às pistas de dança; o irmão e patrono do indie paulistano Mancha e a querida Sarah Quines, a dona do canal Garimpo Sonoro e devota do rock clássico, estreando na discotecagem. A festa vai das sete da noite dessa sexta-feira até a meia-noite e eu toco durante toda a noite, reservando uma horinha pra tocar com cada um destes lindos. A festa acontece no Bar Alto (Rua Aspicuelta, 194, Vila Madalena) e a entrada é gratuita (mas sujeito à lotação da casa, por isso não dê mole).

O terror de Johnny Jewel

Quem voltou a dar o de sua graça foi Johnny Jewel, a cabeça por trás dos saudosos Chromatics e capo do selo Italians Do It Better, que acaba de anunciar o lançamento da trilha sonora do filme holandês The Witch, escrito e dirigido por Fien Troch. Com influências confessas John Carpenter, Goblin, e Tangerine Dream, a trilha foi anunciada com a música batizada com o nome da protagonista do filme, uma adolescente de quinze anos chamada “Holly”. É inevitável perceber as referências à trilha do Suspiria de Dario Argento que a banda prog italiana Goblin compôs em 1977. A trilha já está em pré-venda e deverá ser lançada no dia 13 de outubro.

Ouça abaixo: