Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

Lovefoxxx! Há quanto tempo…

A Kátia linkou esse vídeo em que a vocalista do Cansei de Ser Sexy fala de suas novidades para a Bárbara do My Cool.

Air – Love 2

Faz tempo que o Air não acerta com jeito. A dupla francesa que apareceu com o disco Moon Safari no final dos anos 90 não surgiu apenas como um contraponto leve aos beats e vocoders do Daft Punk, mas também como uma versão prog e ainda mais pop do perdido trip hop, que via seus principais autores (Massive Attack, Portishead, Tricky) distanciarem-se da sutileza de seus primeiros discos à medida em que a década terminava. Desde então, Jean-Benoit Dunckel e Nicolas Godin ajudaram o pop francês a se reerguer e a funcionar como ponte entre a geração trip hop e experimentalistas instrumentais da virada do século – nomes como Zero 7, Boards of Canada, Nouvelle Vague, Télépopmusik, The Knife, M83, Röyksopp e Cinematic Orchestra são apenas alguns artistas que tiveram suas carreiras facilitadas pelo fato do Air ter aberto um novo caminho no pop em 1998, trazendo para os anos 90 uma paisagem sonora onírica composta por diferentes usinas de som dos anos 70, como o progressivo pop do Pink Floyd, o jazz funk de Isaac Hayes e, claro, os cenários orquestrados das peças de Serge Gainsbourg (não à toa que capitanearam o disco de estreia da filha de Serge, Charlotte).


Air – “You Can Tell It to Everybody

Se não voltarmos com atenção à Moon Safari, tem-se a impressão de que o disco emplacou apenas o hit “Sexy Boy”, mas ele já é maduro o suficiente para ser chamado de clássico – e faixas como “All I Need”, “Kelly Watch the Stars”, a belíssima introdução “La Femme D’Argent”, “Remember”, a doce “You Make It Easy” e a densa “Le Voyage de Pénélope” ajudam a dar a aura de obra-prima necessária ao disco.

Mas a partir dele, a carreira do Air torna-se errática. Embora sua presença midiática continue constante – em seus primeiros anos, a dupla lança um disco com as primeiras gravações (Premiers Symptomes), uma compilação de remixes (Everybody Hertz) e uma trilha sonora (do filme As Virgens Suicidas), antes de um segundo disco ainda mais setentista que o primeiro (10,000hz Legend). Mas desde 2002, os dois parecem ter se conformado em, em vez de mudar a paisagem sonora do planeta, cuidar apenas de sua pequena e particular biosfera sonora. Os discos seguintes – Talkie Walkie (de 2004) e Pocket Symphony (de 2007) – eram pequenos jardins ou hortas comparados à selva de seu primeiro disco. Em vez de nos perdermos no som, observávamos à distância, quase que com mais curiosidade do que prazer.


Air – “Night Hunter

Love 2, seu novo disco, repara essa falha – e a solução apresentada vem em forma de melodia e, por que não, canções. Em vez de simplesmente propor um planos de cordas, pianos, beats e teclados elétricos, onde a ambientação sonora e os arranjos são postos à frente, a dupla prefere voltar ao ponto de partida do primeiro disco, em que pequenas canções iam, aos poucos, do ouvido para dentro da cabeça, crescendo e expandindo universos sem que o ouvinte sequer percebesse. Talvez isso – mais do que a quietude e doçura musical – fosse o principal responsável pelo clima de sonho da estréia da dupla.


Air – “Be a Bee

E as canções voltam em Love 2 – sem a esquisitice de 10,000 Hz Legend ou a preguiça de Talkie-Walkie. Elas partem de pontos muito simples, como melodias tocadas em um instrumento (a escaleta de “Heaven’s Light”, a frase esticada pelo sintetizador em “Do the Joy”, o sax de “”), riffs de guitarra surf music (“Be a Bee” e “Eat My Beat”) ou de refrões quase infantiilizados (“Sing Sang Sung”, “You Can Tell It to Everybody”) para serem, aos poucos, acrescidas de camadas de instrumentação. Algumas canções refletem isso como fórmula e ecoam diretamente Moon Safari, como “So Light Is Her Footfall”. Contudo, certo clima sombrio contrapõe-se à luz enluarada deste disco, um pé na música africana filtrada pelo sotaque europeu que ganha ares de jazz – como “Love” (que pode soar quase como world music), “Night Hunter” e “African Velvet”, quando não assumem o ritmo como fio condutor (como “Be a Bee”, “Missing the Light of Day” e “Tropical Disease”) que praticamente revelam um novo Air, tenso, pouco amigável, mas igualmente encantador.

É no equilíbrio dessas duas metades que se equilibra Love 2 – de um lado, há o Air clássico, Gainsbourg instrumental, jazz funk para ninar; do outro, o Air da próxima década, mais pé no chão, menos classudo, mais incisivo, direto, reto. Contemplando a mudança de ares que vem por aí, a dupla é otimista – mas não perde o ceticismo.

TV Serge Gainsbourg – Parte 8

Historie de Melody Nelson é o principal feito musical de Serge Gainsbourg. Se “Je T’Aime…” o transformou em uma personalidade global, o disco que tornou-se culto lapidava esta personalidade à minúcia, num auto-retrato pop feito por um ex-pintor que abandonou as telas por considerar-se apenas bom. Mellody Nelson conta a saga da personagem-título, uma adolescente inglesa que, andando de bicicleta, quase é atropelada pelo narrador francês do disco, o próprio Serge, que vinha dirigindo seu Rolls Royce prateado. A saga medieval da princesa salva pelo príncipe encantado vem para um século 20 em que tribos indígenas e aviões a jato convivem lado a lado (e culminam com o trágico fim do disco, em “Cargo Culte”) e Serge Gainsbourg molda sua personalidade pública para a segunda metade de sua vida. Recém passado dos 40 anos e com uma modelo de vinte e poucos a tiracolo, ele assume o papel de velho pervertido desde o tom de sua voz, cada vez menos cantado e mais falado, sussurrado, enquanto culmina a parceria com o maestro e arranjador Jean-Claude Vannier em um disco com menos de meia hora de duração e em que cordas derretidas misturam-se com baixo funky e guitarra psicodélica, funcionando como um pano de fundo quase surrealista para os gemidos de Jane e as baforadas de Serge. E é incrível descobrir que quase todas as faixas do disco renderam um especial de televisão.


Serge Gainsbourg – “Melody”


Serge Gainsbourg & Jane Birkin – “Ballade de Melody Nelson”


Serge Gainsbourg & Jane Birkin – “Valse de Melody”


Serge Gainsbourg & Jane Birkin – “L’hôtel particulier”


Serge Gainsbourg & Jane Birkin – “En Melody”


Serge Gainsbourg & Jane Birkin – “Cargo Culte”

Complexo de Baader-Meinhoff

Nem sabia que o poster desse filme O Grupo Baader-Meinhoff era do Shepard Fairey, do Obey Giant, não…

4:20

Lúcio Ribeiro e a múmia

Falcão e Massacration foram a melhor coisa do VMB desse ano (não que eu tenha assistido mais do que os links que me passaram preu ver) – e além de evocar o Powerslave e a Vovó Mafalda numa mesma faixa, ainda tiveram a manha de assustar o Lúcio aos 4:09, que twittou:

cacete, q susto. Depois achei q era o thiago ney, haha

Tecladêra

Eis o fin”zinho” de “Lucid Dreams” que eu falei que, sozinho, valeu o preço do show. A Flávia que filmou.

4:20

Uma mensagem de Jello Biafra para a indústria fonográfica nos anos 80

E isso anos antes do MP3… Tirei daqui.

TV Serge Gainsbourg – Parte 7


Serge Gainsbourg & Jane Birkin – “Elisa”

A inglesa Jane Birkin já era escolada no jet set quando conheceu Serge Gainsbourg. Foi o primeiro nu frontal da história do cinema (e onde melhor do que em Blow Up, de Antonioni, isso poderia acontecer…) e freqüentava a Swinging London dos Beatles (ex de John Barry, o autor do tema de James Bond, ela atuou em Wonderwall, filme cuja trilha era assinada por George Harrison – e que serviria de referência para uma certa canção dos anos 90), mas chegou crua e morrendo de medo na França, quando foi trabalhar ao lado de Serge.


Jane Birkin – “Jane B.”

(Aqui vale um parêntese para lamentar a ausência de filmes estrelados por Gainsbourg no YouTube – ele que, além de seus próprios projetos pessoais, era sempre chamado para fazer o papel de vilão – e quase sempre se afundava na poltrona quando o público comemorava as cenas em que seus personagens encontravam seu fim inevitável)


Serge Gainsbourg – “Manon”

A princípio, os dois não se bicaram, mas logo a cortesia de Gainsbourg cativou a pequena inglesa, quase vinte anos mais nova que ele e uma das model/atrizes mais bem pagas do final dos anos 60 e os dois eram vistos badalando por Paris. O caso ficou sério e Jane tornou-se a principal musa da vida de Gainsbourg, num casamento que atravessou inabalado os anos 70, além de dar a luz à Charlotte Gainsbourg.


Serge Gainsbourg – “Sous le Soleil Exactement”

Mas o principal feito do casal – e o maior da carreira de Serge – foi o single “Je T’Aime… Moi Non Plus”, que Serge havia gravado com Bardot e engavetado em seguida devido à repercussão interna causada pelo single. Vivendo com Jane, ele assumiu sua obra máxima – “a canção definitiva de amor”, ele dizia – e a pôs na rua, causando o maior furor que uma única canção pode provocar em todo o planeta – um feito que nenhum artista pop, inglês ou americano, conseguiu causar.


Jane Birkin & Serge Gainsbourg – “Je T’Aime Moi Non Plus”

Composta sobre uma base melosa e derretida, “Je T’Aime…” pode soar até ingênua em tempos pós-Madonna, mas foi ela quem abriu caminho para que o sexo pudesse ser usado como elemento pop. O que era implícito no rebolado de Elvis e nos cabelos dos Beatles era escancarado na troca de gemidos entre Serge e Jane, simulando um orgasmo ao mesmo tempo em que exaltavam o sexo casual. “Te amo…”, dizia o título, “eu também não”. A gemedeira extrapolou barreiras lingüísticas e a canção tornava-se um sucesso e um problema onde quer que era ouvida. Garantiu a excomunhão do diretor da gravadora que a lançou, foi banida pelo próprio Vaticano, além de censurada em diversos países, inclusive na Inglaterra e no Brasil.


Serge Gainsbourg & Jane Birkin – “69 Annee Erotique”

Mas o casamento de Serge e Jane não culminaria na polêmica de um single. Os dois estenderiam seu relacionamento em um disco que, sem dúvida, é a obra mais importante de Serge Gainsbourg em relação à sua personalidade pública, o disco que o consagrou como um autor sério e distinto, um dos principais nomes de sua época: Histoire de Melody Nelson. Falo dele já, já.


Serge Gainsbourg & Jane Birkin – “Slogan”