Os perdedores

, por Alexandre Matias


Proto-indie-estatal: Propaganda do Banco do Brasil com trilha sonora da PELVs.

O Custódio aproveitou o fim de semana de shows em São Paulo para trazer a banda indie carioca PELVs para apresentar-se na cidade, na sexta. E eu aproveitei a vinda da banda para pedir para um texto sobre a PELVs em 2010 para o Dodô, baterista da banda, e ele aproveitou para contar uma das muitas histórias da mais importante banda indie carioca:

“Derrota, minha derrota; mais valiosa que mil triunfos” – escrevi esse verso pensando na PELVs, banda que ajudei fundar em 1992 para acabar com uma dissidência que havia no grupo Verve, que antecedeu toda essa história, e que envolvia uma vontade de cantar em inglês. Tivesse a Verve sobrevivido, com os integrantes da PELVs, seria a maior banda do rock brasileiro hoje. Não foi. Que bom. Pudemos desfrutar da liberdade dos perdedores, dos que não tem fãs a desapontar, dos que não tem criticos a adular, nem gravadora a orientar.

Como músicos, somos, todos, surfistas frustrados.

Criamos, em 1994, um esporte chamado Loud Surf, em que a condição para pratica-lo era estar bêbado, ser um dia de chuva e ondas grandes. Os piores tombos levavam as melhores pontuações. A revista Fluir, pra nosso desconcerto, levou a sério e fez uma matéria. Como trilha sonora, sugerimos nossos heróis Pixies, Lloyd Cole e Dinosaur Jr. que fazem surf music para dias de chuva. No Loud Surf, quem tomava mais tombo vencia a competição. Quem perdia,ganhava.

PELVs é a única banda ainda viva de uma geração de perdedores consagrados – as bandas que cantavam em inglês, no Brasil, na década de 90. Para mim, a maior e melhor geração do rock brasileiro até hoje. Para mim, chato de galochas, rigoroso pra caramba com isso de ser uma banda brasileira, nós, da PELVs, ganhamos nisso também.

E ganhamos dinheiro quando o Banco do Brasil, em 2008, encasquetou que uma canção que compus para a banda (“Baby of Macon” – depois de minha saida, em 1999, uma composição ou outra minha saía da gaveta e era grava pelos caras) e criou sua campanha nacional de sustentabilidade. Mais uma vez, ouvimos: caras, se vocês cantarem em português vocês serão a maior banda do Brasil. Muito obrigado, mas não.

Ontem liguei para o Gustavo Seabra, único da formação original, único a insistir em trazer novos músicos e nao terminar com a banda, pra saber porque afinal, continuar com ela, fazer mais um show pra 25 pessoas. Ele riu e respondeu: porque eu to pouco me fudendo para a quantidade de pessoas que curte a banda. Nessa hora eu entendi. Perdedores sao os outros.

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