O novo filme de Jason Reitman

, por Alexandre Matias

men-women-and-children

Filho de Ivan Reitman (diretor de sessões da tarde clássicas como Caça-Fantasmas 1 e 2, Dave – Presidente por um Dia, Irmãos Gêmeos, Um Tira no Jardim de Infância e Space Jam), Jason Reitman aos poucos vem se firmando como um dos diretores-cronistas desse início de século, pai de alguns filmes que cutucam veias específicas de nossos dias, como Juno, Obrigado por Fumar, Amor Sem Escalas e Jovens Adultos. Seu novo filme, Homens, Mulheres e Crianças, parece vir como um bom comentário sobre nossos dias digitais, veja:

Mas a Gi Ruaro assistiu ao filme no London Film Festival que está rolando essa semana, não gostou e, desapontada, pediu para escrever um texto sobre o filme pra cá. É a velha história: a internet sendo tratada como um universo à parte, não como parte de nós. Fala Gi:

Voyager. Em 1977, NASA enviou uma sonda para o além-sistema-solar. Dentro desta sonda, Carl Sagan fez a curadoria da cultura de nosso planeta azul para o infinito e além. O material é feito para durar bilhões de anos e para que um dia seja encontrado por alguém ou algo ou sei lá. Quem sabe? Estamos lidando com uma escala de tempo e distância que não podemos imaginar. Músicas, ‘olá’ em 59 línguas diferentes, o som das ondas na praia e do vento nas árvores. O som de um beijo. Uma foto da Terra como um pontinho azul. Nossa existência.

Assim começa Men, Women & Children, o novo filme de Jason Reitman. Mas o filme não é sobre Sagan, Voyager ou o universo, é sobre o nosso mundo conectado e as consequências em nossos relacionamentos. Realmente estamos vivendo uma revolução tecnológica e Hollywood ainda não conseguiu capturar em filme como usamos mídias sociais no cotidiano. Então que maneira melhor de demonstrar isso do que reduzir o zeitgeist a uma série de histórias sobre a classe média americana, com educação superior, branca, hétero e egoísta?

O filme tem seus méritos. Talvez seja a primeira vez que vemos World of Warcraft retratado como uma mídia social, que falam sobre as consequências de thinspo na autoestima de meninas, que casais são mostrados jogando Words With Friends na cama, trolling, sexting, cultura de celebridades, paranoia dos pais preocupados com segurança online, pornografia, “let’s occupy Facebook with art”, e “rape culture” – tudo em um só filme. Só faltou #gamergate. Mas ao tentar abordar tanta informação, o filme virou isso mesmo: um monte de referencias perdidas num emaranhado de clichês americanos.

Talvez seja esse o verdadeiro zeitgeist: Hollywood, Jason Reitman e o personagem da mãe preocupada (Jennifer Gardner, mais insípida que nunca) realmente não conseguem acompanhar as importantes mudanças que comunicação online traz a nossa cultura e vida social. Ou ainda, o processo de filmar é longo demais para sobreviver um mundo sempre a busca do Ello perdido.

Dá pra perdoar alguns detalhes, mas nossos avós já estão no Facebook e e vamos continuar fingindo que “os jovens estão fora de controle”? Que videogames são do mal? Que tumblr é só uma plataforma para selfies? Que a grande experiência de viver está offline? Sério mesmo? Sérião, Jason?

O filme é tão desconectado da nossa conectividade (perdão pela pieguice) que é difícil analisar a atuação de Adam Sandler, ou a narração de Emma Thompson falando “titty fuck cum queen” com sotaque britânico, ou Hank de Breaking Bad perdidão.

E que o Carl Sagan tem a ver com tudo isso? Sei lá. Ele não gostou da adaptação de Contatos com Jodie Foster, questionando a ressonância emocional e veracidade do roteiro. Mas esse, esse é o filme que Carl estava esperando. Hashtag só que não.

Tags: , ,