O fim de Lost por Renato Cruz

, por Alexandre Matias

Estava desde domingo evitando spoilers (revelações sobre detalhes importantes da história) no Twitter e nos blogs que eu acompanho. Cheguei a ler várias vezes a palavra decepção, mas parava por aí.

Enquanto via o último capítulo de Lost, agora há pouco, lembrei de uma entrevista do cineasta David Lynch sobre o seriado Twin Peaks: por ele, o agente Dale Cooper nunca descobriria quem matou Laura Palmer. A emissora acabou obrigando os produtores a eleger um assassino na segunda temporada, e o interesse pela série acabou.

Eu achava que gostava mais da parte de ficção científica de Lost que da parte mística. (Se você é o único que ainda não assistiu, melhor parar por aqui.) Pois é. Não existia ficção científica. Estava todo mundo morto desde o começo. Não foi por falta de aviso do Richard Alpert. Essa teoria, que se confirmou, surgiu na internet logo após os primeiros episódios, e foi negada várias vezes pelos produtores.

Por isso tantos acontecimentos desafiavam a física, a lógica e a continuidade. Daniel Faraday, afinal, não passava de um pianista mimado. Como a ação do último episódio girou em torno de uma rolha, o principal foram os momentos idílicos e proustianos. Momentos equivalentes à irregularidade no piso que fez Marcel pensar, no livro O Tempo Redescoberto, sobre como todas aquelas pessoas importantes na sua vida, que pareciam pequenas no espaço, eram gigantes no tempo.

No final, não importa qual seja o grande tema de Lost – redenção? As perguntas não foram respondidas porque não tinham resposta. Encontrar o assassino mata a série. O último episódio serviu para destacar que o importante é a jornada. E mostrar como todos aqueles personagens acabaram se tornando gigantes, por todas as horas dedicadas a eles, durante seis temporadas, na minha e na sua vida.

* Renato publicou este texto em seu blog.

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