O dia em que o César tocou com o Wilco

, por Alexandre Matias

cesar-wilco

O mágico show que o Wilco fez no Circo Voador ainda teve uma participação improvisada de um fã no palco – e o César contou o depoimento sobre como foi tocar no mesmo palco que seus ídolos lá no meu blog no UOL.

Quem esteve no Circo Voador no dia 6 de outubro de 2016 (uma data palíndroma – 6102016 – vejam só) sabe que assistiu a um dos shows de sua vida. Mesmo quem não é fã da banda norte-americana Wilco teve que dar o braço a torcer e comemorar a incrível conjunção de fatores que levaram a tal momento histórico. Mas ninguém teve uma história ou um show melhor do que o fã carioca Cesar do Couto, que subiu ao palco após uma discreta insistência, recebeu uma guitarra do próprio Jeff Tweedy e acompanhou a banda na música “California Stars”, com direto a fazer um solo junto com os ídolos.

Ninguém entendeu nada. Estava combinado? Eles já se conheciam? Quem era esse César? Será que ele iria roubar a cena ou fazer um papelão? Mas à medida em que ele começou a tocar a música que a banda compôs sobre uma letra de Woody Guthrie, os fãs perceberam que estavam vendo um dos seus realizar um sonho: tocar ao vivo com seus ídolos em sua cidade natal e delirou junto com o fã-guitarrista, que não parava de sorrir. Cesar toca na desconhecida banda Mimesis, que apesar do nome de banda hippie tem uma sonoridade equivalente à do Wilco (veja no final desse post), e vem para o show de São Paulo que conseguiu comprar o ingresso – e quer entregar um CD de sua banda para seu grupo do coração (além de ver se alguma alma caridosa lhe arruma ingresso para o show de domingo). Ele contou como foi sua aventura com o Wilco, que reproduzo – junto com algumas fotos dele mesmo – abaixo:

“Alguém saberia dizer a distância entre o sonho e a realidade? Pois bem, ontem (quinta, 6) eu percebi, mais uma vez em minha vida, que é possível nossos sonhos se tornarem realidade.

Minhas emoções estavam afloradas desde o anúncio da vinda do Wilco ao Brasil e isso contagiou as pessoas à minha volta. Como todo fã desesperado, comprei o ingresso no primeiro minuto de venda do festival Popload e desde então começou a contagem regressiva para finalmente assistir os caras ao vivo e em cores.

Logo depois, a surpresa de um show na minha cidade. Fiquei louco! “Mais um show?! Que maravilha!” Da mesma forma, comprei o ingresso no primeiro minuto de venda.

Quis o destino que os irmãos uruguaios tivessem seu show cancelado (César se refere ao show que o Wilco faria no Uruguai à época da vinda ao Brasil, que foi cancelado), e abriu mais uma data na agenda dos caras. E aí vocês já sabem o que aconteceu!

Só estou contando tudo isso, porque foi aqui que nasceu a ideia do que fiz ontem.

Como muitos fãs mortais da banda, montei uma operação para comprar os ingressos para o show do dia 9 de outubro. Minha esposa ficou no aplicativo e eu no PC. Aquele dia foi o momento triste da turnê. Não foi triste só para mim, muitos foram lesados pela incompetência da Popload e Ingresso Fácil. Não preciso entrar em detalhes que todos os fãs, até os que estão com ingresso em mãos, sabem o quanto foi escroto o que fizeram conosco. Minha indignação foi externada no Facebook. Logo percebi que não tinha mais o que fazer; era se conformar e ponto. Então comecei a procurar ingressos, mas… nada! Percebi que iria ficar de fora.

Minha frustração era enorme, mas ‘eu queria sonhar meus problemas pra fora’* e então surgiu a ideia de tentar fazer algo que iria marcar positivamente minha vida.

Eu duvido de que alguém, principalmente músico, nunca tenha sonhado em dividir o palco com seus ídolos referenciais. Eu sempre sonhei isso… e, no dia 6 de outubro de 2016, vislumbrei a oportunidade de realizá-lo. E realizei!

Como tudo em minha vida, dividi com minha esposa Roberta Magalhães e, como sempre, ela prontamente comprou a ideia, apoiou-me e encorajou-me a todo instante. Definitivamente eu ‘senti sua mão tocando a minha, e me dizendo por que deveria continuar trabalhando’. E é por essa e outras que eu a amo tanto.

Daí escolhi a música ‘California Stars’, por ser uma música de que eu sempre gostei, e também é a música que vez ou outra há participações. Além disso, não seria uma música que comprometeria a performance da banda, afinal a única coisa que eu não queria era atrapalhar banda e fãs.

Eu já sabia tocar a música como Jeff (Tweedy, líder da banda), mas eu não iria fazer o que ele faz na música, por isso a estudei algumas vezes. Cheguei a fazer umas linhas de guitarra ao estilo Nels (Cline, guitarrista do Wilco), fiz o solo e tudo! Estava tudo de muito bom gosto.

Minha esposa entrou em cena mais uma vez e fez o cartaz. Partimos cedo para o Circo Voador e ainda vimos a chegada da banda, quando conseguimos tirar uma foto, às pressas, com Jeff. Mas até aí ele nem imaginava que eu tinha um cartaz, quanto mais o que nele estava escrito.

Reprodução: Facebook

Reprodução: Facebook

Chegou a hora do show… Eu e minha esposa estávamos em frente ao Jeff. Éramos os primeiros da fila. Começou a todo vapor, e após ‘Art of Almost’ mostrei timidamente o cartaz ao Jeff. Ele leu e deu um sorriso. Eu não queria parecer chato e nem “entrão”, por isso recolhi o cartaz, afinal ele já sabia da minha intenção.

Decidi mostrar o cartaz a todos os integrantes e, quando cada um olhava em minha direção, o mostrava. O John (Stirratt, baixista) também deu uma risada ao lê-lo. Como disse, não queria ficar sufocando os caras.

Antes de iniciar ‘Late Greats’, percebi que Jeff estava com o violão e o capotraste na segunda casa, pensei : ‘babou. Ele vai tocar Califórnia Stars e eu vou ficar de fora.’ Mostrei o cartaz, ele riu e falou: ‘Wait.’ (Espera) Ali, me enchi de esperança… sentia dentro de mim o paradoxo da certeza de que iria rolar e do medo de que não acontecesse.

Eles saíram e eu coloquei o cartaz no palco. Quando voltaram, Jeff olhou e riu de novo. Tocaram ‘Jesus, Etc.’ e, ao terminar, Jeff foi falar com Nels sobre minha intenção, o qual olhou o cartaz, fazendo uma expressão duvidosa, em seguida olhou para mim, que estava com cara de pedinte e mãos de súplica. Talvez por isso, por ter externado meu imenso desejo de estar entre meus ídolos, concordara. Jeff veio me perguntar se eu sabia tocar guitarra e autorizou a minha subida ao palco.

Eu só sabia agradecer. A primeira coisa que falei com ele foi: ‘Obrigado por ter vindo ao Brasil!’ Fiz questão de cumprimentar todos. E aí fui marrento, pedi a ele a guitarra SG. Aquela guitarra é um sonho. Aposto que cairia muito bem em mim! Mas ele disse que aquela não estava preparada, perguntou se eu me importava em usar a Strato – como o cara é humilde! ‘Como assim?! Eu? Me importar? No Problem, Jeff’.

E começou a música. Aí, eu pergunto: ‘Quem, em sã consciência, vai conseguir manter o equilíbrio ao estar do lado de seus ídolos?’ Todo meu estudo foi por água abaixo, então pensei: ‘Vou fazer o trivial, sem medo de ser feliz!’ Afinal, estava me sentindo intimidado com as olhadas do Nels em minha direção. Senti-me sob o julgamento de um professor caxias, mas que, a cada acorde meu, acenava com a cabeça, como quem diz: ‘Você está indo bem, meu aluno’.

Não consegui conter o sorriso, tamanha era a felicidade. Eu só pensava: ‘Não posso decepcionar os caras e nem os fãs’. Eu senti que naquele momento eu devia representar muito bem os fãs brasileiros, deixar a melhor impressão possível, para que eles se sentissem em casa.

Ao terminar aquele momento mágico, só queria mais uma vez agradecê-los. Fiz questão de cumprimentar cada um deles, pois todos têm tamanha importância para a música que fazem. Minhas palavras no palco eram: ‘Thank you, guys! Thank you for coming to Brazil! I love yours songs!’

Foram cinco minutos marcantes na história da minha vida, inclusive acho que consegui desfrutar bem de cada segundo que vivenciei no palco. Ainda deu tempo da minha esposa voar no palco e agradecer também ao Tweddy por ter me oportunizado aquele momento, e em seguida tiramos uma foto.

Reprodução: Facebook

Reprodução: Facebook

Dito isso pessoal, gostaria de agradecer a todos os fãs do Wilco que me receberam como um ‘herói’. Senti que vocês ficaram felizes junto comigo. Posso garantir que foram uma plateia sensacional. A energia no palco estava fantástica, era muita vibração boa que estava ali e isso quem proporcionou fomos nós, fãs. Vocês viram a cara deles em cada música? Tipo: ‘Que porra é essa que está acontecendo aqui?’, ‘Que plateia é essa?’, ‘Por que demoramos tanto para voltar?’

Fizemos a nossa parte, pessoal!

Parabéns para todos nós!

E muito obrigado pelo carinho.

PS.: Ainda não tenho ingresso para o show do dia 9 de outubro, se alguém tiver sobrando para vender, eu compro, ou se a Popload se sensibilizar com a minha história, doe-me um par de ingressos, para eu ir com a minha esposa.

Ainda há ingressos para o show de hoje, que acontece dentro do Popload Festival (e, mesmo num festival, terá a duração de mais de duas horas como o show do Rio) e reforço o que disse o Barcinski em sua resenha de estreia aqui no UOL: o preço está salgadaço, mas se você quiser assistir ao melhor show internacional em solo brasileiro em 2016 não perca a oportunidade.

Olha a banda do César aí:

Na torcida pro César conseguir seu ingresso para o domingo. Ou será que ele já gastou sua cota de sorte? Tomara que não.

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