No meio do caminho

, por Alexandre Matias

Resenha do Gossip que eu fiz pra Void, que o Cardoso tá editando em Poa…

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Standing in the Way of Control – The Gossip (Kill Rock Stars)
Entra no YouTube, digita “Standing” “Way” “Control” e “Gossip” e aperta o search. Um dos primeiros resultados é o clipe da música “Standing in the Way of Control”, cheque a descrição pra saber se é o clipe ou um show da banda Gossip, autora desta pérola. Escolha o clipe. Na hora em que o player embutido aparecer, clique pro pause virar play e espere a barra de carregamento completar, antes de começar a assistir – você não quer ser interrompido num momento desses. Solte e comece a ver um desenho animado toscaço e oitentista, que acompanha a surra de guitarras que abre a música (33 porradas, eu contei). Até que entra um baixo cavalgando o bicho disco music e aparece um baixista magrelo com uma máscara de ninja cobrindo o rosto, sobre um cromaqui igualmente tosco ao fundo. As imagens são péssimas (dentes escovados, um Yellow Submarine com a cara do Popeye, listras, a jarra do Ki-Suco), não há glamour nenhum. É quando entra o resto da banda: um baterista – que suspeito ser o mesmo cara que é o baixista –, um guitarrista metido a dândi (franja, bandana no pescoço, bleiser) e a vocalista, uma gordinha branquela com cara daquelas meninas que, tadinhas, foram muito zoadas do pré até a sétima série, quando elas começaram a andar com as meninas que ficaram gatas como escudo. Mas ela já entra cantando e com um vozeirão de fazer neguinho cair o queixo. Estamos em território punk-funk sim, mas invadindo a discoteca pela porta da frente e com um esquadrão antifake. É, os desenhos são feios, os caras são nerds, a mina é gorda – tudo apresentado sem pós-produção, After Effects ou botox. “Isso é a realidade”, parecem cantar, e completam, em uma única música, a lacuna entre a obra do Franz Ferdinand e “House of Jealous Lovers”, do Rapture. O refrão (essa frase de efeito emblemática – “Vivemos nossas vidas atrapalhando o controle”, mal-traduzindo) é cantado quando a surra de guitarras do início volta, atordoando a pista como um estrobo bate-estaca que deixa o colorido anterior preto e branco. Beth Ditto, a vocalista, se joga com tanta vontade que não nos faz desgrudar os olhos dela – sua voz flutua com a graça de uma diva soul e a fisgada de uma riot grrl. O disco segue o tom, mas a música, acima de tudo, causa sozinha. Uma das melhores do ano (em algum lugar entre “Crazy”, “Take Me Back to Your House”, “I Don’t Feel Like Dancing”, “Get Myself Into It” e “Steady as She Goes”), fácil.