Marcelo Camelo e o Ventura

, por Alexandre Matias

Falando em Los Hermanos, desenterrei essa entrevista que fiz, por telefone, com o Camelo, na época do lançamento do Ventura, em 2003, para o site da Somlivre (ah, os anos frila…). Mesmo com o tom sépia de entrevista de época (recente), a entrevista toca em alguns pontos que ainda valem – seja sobre Los Hermanos, mercado fonográfico ou de música pop. No finzinho tem minha resenha do disco.

A terceira vinda dos Hermanos

“Nem se atreva a me dizer de que é feito o samba”, ameaça Marcelo Camelo, vocalista e guitarrista do grupo carioca Los Hermanos logo ao final da música de abertura (“Samba a Dois”), do terceiro disco de sua banda. O tom é imperativo e auto-suficiente, como é o vôo do pássaro (uma andorinha?) estampado na capa do novo álbum. Ao abrirmos o encarte do disco, percebemos que a capa é apenas um detalhe de um quadro em que o pássaro da capa deixa para trás um enorme navio numa noite de inverno (navio que já foi comparado ao Titanic – ou seria a indústria fonográfica per se?). O CD se chamaria Bonança, mas o grupo trocou o nome pouco antes do lançamento, chamando-o de Ventura.

Estariam então os Hermanos entregues à sua própria sorte? O tom sisudo e desconfiado que termina “Samba a Dois” nos faz entrar numa espécie de lado B de O Bloco do Eu Sozinho, o segundo disco da banda. Ventura é mais escuro e fechado que o disco anterior, embora isto não comprometa seu potencial pop (menos explícito, mas sempre presente). Tal tensão prossegue por todo o disco, que mais do que “abraçar o perdedor” – como explica Camelo sobre o enfoque do grupo em suas letras -, parece desafiar o vencedor, dedo em riste, sem medo do desafio e da chacota. Isso explica passagens ríspidas como “Não há ninguém capaz de ser isso que você quer/ Vencer a luta vã e ser o campeão” (“Tá Bom”), “Olha ali quem está pedindo aprovação/ Não sabe nem pra onde ir se alguém não aponta a direção” (“Cara Estranho”), “Olha lá quem acha que perder é ser menor na vida/ Olha lá quem sempre quer vitória e perde a glória de chorar” (“O Vencedor”), “Se não sou eu, quem mais vai decidir o que é melhor pra mim? Dispenso a previsão!” (“O Velho e o Moço”).

O ar agressivo, no entanto, é mínimo se comparado à ostensividade hormonal do pop brasileiro do século 21 – sempre enfático, cheio de si e autoritário, venha de rappers, bad boys, pagodeiros ou cachorras. Os Hermanos sentam-se quase sozinhos do outro lado da gangorra, indiferentes à solidão artística que enfrentam no atual cenário. Sabem que o verão vem, independente do número de andorinhas que vierem. E assim a tonalidade de Ventura varia do amargor próximo ao desespero à tranqüilidade mental induzida – temas explicitados metaforicamente, quase sempre representados por relações amorosas, bem ou mal sucedidas.

O grupo digeriu bem a passagem do megassucesso de “Anna Júlia”, de 1999, para o segundo disco. Decidida a sublinhar os aspectos ignorados do disco anterior, a banda injetou doses pesadas de MPB e de invenção no disco seguinte, muito além das referências ao samba e ao carnaval do primeiro álbum. O resultado foi um disco aclamado pela crítica, mas recebido como “difícil” e “experimental”. Exagero típico da falta de parâmetros da época em que vivemos, afinal O Bloco do Eu Sozinho, de 2001, era o disco mais pop e mais maduro de sua safra e, se os números ao redor do grupo diminuíam, uma base fiel de fãs foi sendo formada, seja seguindo o grupo em shows ou acompanhando a banda pela internet, através do site oficial (www.loshermanos.com.br – que publicou os bastidores da gravação do novo disco) do blog do tecladista Bruno Medina (http://instanteanterior.weblogger.com.br) ou dos muitos sites do grupo pela rede.

A transição do segundo para o terceiro disco é que parece ter sido conturbada. Não bastasse a expectativa natural dos fãs, a antiga gravadora do grupo, a Abril Music, fechou as portas no começo do ano e um ensaio com as músicas novas foi parar na internet. Ao mesmo tempo, o disco, que se chamava Bonança, trocou de nome, sendo batizado Ventura. A sonoridade também ficou mais pesada, seja nas guitarras (um pouco mais sujas) ou no fato de o teclado de Bruno Medina ter se tornado um elemento mais corpóreo do que decorativo, solando menos e engrossando a base estrutural das canções ao lado do baterista Rodrigo Barba e do baixista em estúdio, o produtor Kassin (do projeto + 2, com Moreno Veloso e Rodrigo Domenico).

Camelo e o outro vocalista e guitarrista, Rodrigo Amarante, deixaram pudores rock’n’roll de lado e se dedicaram à velha e esquecida arte do compositor de música brasileira – sem pós-modernismos, onomatopéias, gracinhas, palavrões ou romantismo vazio. Marcelo opta pela postura que dá o clima do disco – sincera e áspera, segura de si e melancólica -, compondo até como personagem feminina (em “A Outra”), característica clássica de um de seus ídolos, Chico Buarque, e levando adiante experiências líricas de O Bloco. Amarante dedica-se à interiorização do dia-a-dia, comparando elementos da rotina a sentimentos (“Parece que foi ontem que eu fiz aquele chá de habu pra curar da tosse e chulé e te botar de pé”, “Até quem me vê lendo o jornal na fila do pão sabe que eu te encontrei”) e finge encarnar vários personagens (“Um Par”, “O Velho e o Moço”). Mas em entrevista por telefone, o vocalista Marcelo Camelo explica que tudo ocorreu bem durante as gravações, fora a notícia do vazamento das músicas para a internet. E aproveita para falar sobre todos estes assuntos discutidos acima.

Quando este novo disco começou a existir?
Não tem um começo específico, porque ele foi composto durante a turnê do Bloco. A gente grava no sítio mais para ter uma paz, colocar as coisas no lugar e se desligar da cidade. Não entramos em um “processo de composição”, num universo de criação. A gente começa a falar no disco novo quando existe uma necessidade de expor várias canções novas que vão amadurecendo na turnê. A criação acontece o tempo todo, ela não existe só num período determinado. Foi assim com o Bloco, foi assim dessa vez.
Nosso trabalho exige uma produção sazonal: a gente lança o disco, faz uma turnê, compõe o disco novo e entra em estúdio. Enquanto isso, a gente vai passando por lugares diferentes, vendo gente diferente e, neste processo, vai surgindo uma necessidade de falar de coisas novas, que vão virando músicas. Então não existe esse afã inovador, essa vontade de mergulhar nas páginas em branco, pelo menos em termos de composição. Isso acontece uma vez que paramos tudo pra fazer o disco, mas até isso, o disco já começou faz tempo. A turnê é o processamento que você precisa pra pensar em novas idéias.

E como foi o lançamento do Bloco do Eu Sozinho?
A gente diminuiu muito os números em relação ao disco anterior, o que foi natural. Mas o engraçado foi que as pessoas não chegaram no Bloco pelos meios convencionais. Houve muita troca de arquivo pela internet, muito boca-a-boca, uma comunicação entre os ouvintes que aconteceu longe da grande mídia. Foi uma divulgação muito mais individual do que coletiva. Quase pessoal, talvez muito pelo fato do disco ser um disco mais pessoal.
Muitos dos que foram assistir a gente na turnê já tinham comprado o primeiro disco, mas de repente, por causa de “Anna Júlia”, ficou ridículo gostar de Los Hermanos. A gente virou Pokémon, tava em tudo quanto é lugar, parte do pessoal que comprou o primeiro disco deixou de lado. E foi convencido a voltar à medida que o Bloco foi crescendo.

E por que o Bloco cresceu?
Tem gente que gosta das letras, tem gente que gosta das músicas, e ficou mais fácil pegar um público mais amplo, que passou a prestar a atenção no grupo como um todo. A gente também tem um espírito bem brasileiro, mas sem ser caricatura ou afetado, que acho que as pessoas sentem falta. E tem também o fato da banda abraçar o perdedor como personagem, isso fala muito pras pessoas hoje em dia.
O fato é que a gente tinha consciência que, quando a gente tava dando um show pra 80 mil pessoas, 10% desse público realmente gostava da banda, sabia as letras e queria ver o nosso show. Depois do Bloco, passamos a dar show para mil pessoas, e todas elas sabiam tudo sobre a banda. Isso, ao mesmo tempo que diminuiu a banda em termos de mercado, aumentou em termos de credibilidade. O que foi ótimo, afinal continuamos fazendo o que queremos, e de forma sincera, sem precisar forçar a barra pra qualquer lado.
Hoje em dia, o pessoal vai no show e enche a gente de perguntas no final, sabe todas as letras, canta junto, pede o cover do Belchior (“A Palo Seco”, que o grupo toca nos shows). Isso no Brasil inteiro, de Recife a Porto Alegre.

Vocês se sentem mais próximos do público? Há uma cobrança pessoal por causa dessa proximidade?
Eu acho que as pessoas se atém aos detalhes porque nós somos uma banda que dá atenção aos detalhes, sabe? Mas se a gente não tivesse esse cuidado, o público não iria deixar de nos acompanhar. Agora, já que a gente optou por isso, o público se identifica e entende, por isso há essa demanda.

E como essa demanda se refletiu no disco novo?
De forma muito natural. Você sabe que a criação é um processo paulatino, não é um processo estanque. Ela está o tempo todo em ação, e você vai acumulando as coisas no caminho.

É a segunda vez que vocês gravam num sítio. Como o ambiente funciona neste processo?
Foi em outro sítio, em Petrópolis, não é o mesmo em que gravamos o Bloco. As pessoas pensam que é um troço sagrado, sacro, que só a gente e o Kassin (produtor do grupo) podemos estar ali, isolados. Não há nada ritual, fazemos o disco no sítio para poder nos dedicar mais a ele, para termos menos distrações. As pessoas acham que não podem visitar a gente, e a gente faz a maior festa quando alguém resolve nos visitar.

Uma vez terminada a turnê e começada a gravação, o disco já tem uma cara ou isso vai se formando no estúdio?
Num primeiro momento é só um apanhado de quinze canções, que juntamos no caminho. A liga do disco, o que torna o disco uma coisa só, no fim das contas, como foi no Bloco, acaba sendo a nossa sinceridade para com as músicas. Tudo que a gente fez foi feito por nós mesmos, e a gente acredita nisso. Essa coerência nos faz bem e o público gosta. A cara do disco se faz também pela coincidência dos detalhes, e isso é fruto dessa sinceridade. Cada disco é fruto de um processo diferente e ele acaba tendo uma cara que se reflete nos detalhes do disco.

Houve alguma tensão durante a gravação do disco, pelo fato de ele ser o sucessor do Bloco?
Não, não houve. Há uma coisa que acontece nos shows, que é as pessoas cercando a gente, querendo que a gente tenha alguma resposta, como se a gente soubesse de algo que as pessoas não sabem. Mas é uma característica das nossas letras, eu acho natural que tenha esse retorno. Mas durante a gravação, não sentimos isso…

Como vocês reagiram às críticas que tacharam o Bloco de “disco difícil”? Porque ele é um disco pop, não tão rock quanto o primeiro, mas, mesmo assim, pop.
Eu também acho. Eu não sei, acho que muita gente achou que a gente iria se preocupar em fazer um outro mega-hit, coisa que a gente nem soube como fez no primeiro disco. Eu acho que o Bloco é um disco tão pop como o primeiro e como esse terceiro.

E quanto ao fim da gravadora Abril, no meio do processo?
As pessoas tendem a colocar a gente como salvadores do mercado fonográfico, líderes de uma nova geração de bandas, e a gente passa meio batido a isso tudo. Não podemos pular para o mercado independente porque precisamos de uma certa estrutura, que o mercado independente não nos dá – pagamos músicos convidados, a nossa equipe e temos essa facilidade de termos nos ritmo pra fazer as coisas. E fora dos palcos, a gente se cerca por uma equipe que cuida de tudo que não for música no trabalho do grupo, pra justamente só nos preocuparmos com a parte artística e criativa do processo. Por isso, a notícia do fim da Abril foi quase um quebra-molas, a gente passou por cima e nem percebeu.

Houve a mudança de nome…
Sim, o disco se chamaria Bonança, mas foi um nome que a gente deu pra gravadora antes do disco pegar o embalo, um nome de trabalho. A idéia era registrar a tranqüilidade que estávamos vivendo, o clima instaurado no sítio, a forma como as coisas estavam fluindo… Tudo dava uma idéia de bonança, mas fomos percebendo que, além de bonança ser um quadro estático, que não se mexe, também daria ao Bloco a condição de tempestade, como no ditado (“Depois da tempestade, vem a bonança”). Pareceria a descrição de um quadro, não o nome de um disco. Aí viemos com a idéia de ventura, que é mais dinâmico e que significa “sorte”, que tem tanto o lado de risco – desde os do mercado até os estéticos, como o risco que corremos de sermos populares – como o lado de ida, de jornada. O título fica assim aberto à interpretação, um convite.

Então a mudança não teve nada a ver com o vazamento das faixas do disco para a internet.
Não, nada a ver. E isso foi algo que não gostamos. Tentaram nos imputar um pioneirismo de algo que não tínhamos nem o controle, não tínhamos influência sobre isso. Mas eu me senti invadido, afinal aquilo foi um ensaio interno que fizemos pra nós mesmos, pra ouvir como ficava, não era pra mais ninguém ouvir. Senti uma certa fragilidade nessa situação. É como se lessem um bilhete que você escreveu pra um amigo ou pra uma namorada. Por isso eu nem quero saber se alguém achou esse disco melhor ou pior o que ouviu nestas gravações. Não dou ouvidos a essa comparação. É como se elas não existissem.

Mas elas mostraram que existia uma demanda no público por vocês.
A gente bem conhece a força da internet. Nosso site foi um grande aliado quando a gente ficou desprovido de mídia. Não conseguimos melhorar esse canal por falta de tempo, é verdade. O site é um dos 10 mais acessados do UOL, o que não é pouca coisa. Mas não dá pra concordar com esse tipo de vazamento.

Mas se vocês lançassem coisas de vocês, aprovadas, primeiro ou apenas no site?
Isso é legal, é algo que queremos fazer.

E quando vocês sabem que o disco está pronto?
A gente sabe. Na hora certa, a gente sabe. É a hora da colheita, que é uma mistura de alívio com recompensa, mas também tem uma certa tristeza, porque um disco, ao mesmo tempo em que é um fardo, um trabalho pesado, também é uma espécie de casa, de cobertor.

Vocês estão assumindo uma postura bem definida entre a música pop e a MPB…
Não gosto disso, acho uma constatação preconceituosa, que acaba dizendo que um gênero é melhor que o outro, que a arte naïf é pior que a arte moderna. Fazemos música brasileira por excelência, porque somos músicos e brasileiros. Se essa referência soa jovem, é porque somos jovens.

Perguntei isso porque queria que você falasse do momento em que a música brasileira atravessa, em que parece que apenas os artistas que cruzam fronteiras entre gêneros conseguem se satisfazer tanto profissional quanto artisticamente.
Entendo. Acho que o pessoal começou a perceber que essa tentativa de abraçar um gênero inteiro, de ser o melhor de todos, é uma causa emburrecedora, e perdida, pois cada vez está mais difícil juntar tantas pessoas em torno de um só tema, de um só grupo.
Fora que a gente – eu, você, a banda, os fãs – é de uma geração que recebeu muita informação, de uma variedade muito diferente. A gente ouve Lulu Santos, Weezer e Cartola, lê Dostoievsky, Garcia Marques e turma da Mônica, assiste filmes de arte e o Te Pego Lá Fora. Isso tornou nossa geração sem utopia, pois temos todas possíveis ao mesmo tempo – e nenhuma delas nos satisfaz, porque sempre queremos outra.
Acho mais legal assim, porque você tende a procurar por coisas que te falem por inteiro, não a apenas uma parte de você, sabe? A conexão entre as pessoas aumenta, embora fique mais difícil rotular, as pessoas reconhecem melhor o que querem. Talvez por isso o mercado esteja passando por essa crise. Mas talvez seja ela que torne possível esse tipo de vínculo entre as pessoas. A gente acaba falando desse sujeito que ganha e que perde, que vive seus altos e baixos, e isso fala com as pessoas. Parece aplacar a solidão moderna. O bom é que eu não preciso fingir, eu realmente acredito no que eu estou falando.

As pessoas não estão mais se identificando com o mercado.
Sim, porque não encontram eco de si. Tentam se achar no que é oferecido e não se acham. Ao mesmo tempo, acontecem milhares de sucessos menores, como a gente, que consegue esse tipo de identificação. Acho que o excesso de informação que a gente tem a disposição hoje faz com que a gente descubra que o tempo não é uma linha, não há vários tempos e épocas, e sim várias formas de contar uma mesma história. Arte é emoção e essas emoções não vão ser inventadas, elas já existem há muito tempo, antes da arte. Essas coisas são atemporais. O que muda é a embalagem, que acaba virando o conteúdo, entende?
Não é que os Beatles ou o Nirvana falaram coisas que as pessoas não esperavam ouvir, mas justamente o contrário. Eles falaram exatamente o que as pessoas queriam ouvir, e por isso fizeram sucesso. São fenômenos de convergência, funcionam como catalisadores de sentimentos. É política, é cultura – música é tudo isso. Esses caras e muitos outros – e nós – são veículos de uma ansiedade popular, que está cada vez mais confusa, perdida. E não só em arte, a gente percebe esta confusão de uma forma geral, em diferentes campos. E as pessoas acham que vão salvar alguma coisa reinventando tudo.
Mas não existe sentimento humano que não tenha sido inventado. Acredito que a gente consiga um público sem ter sucesso no rádio justamente por falar do ser humano como um todo, esteja ele triste ou feliz, ouvindo rock, samba ou MPB. Então não tem essa de “tá mais pra cá do que pra lá”, “é mais rock que MPB” ou “tá no meio dos dois”. Entendo essa necessidade de classificação, mas ela tá falindo, já deu o que tinha que dar. Você liga uma rádio rock e… Quer coisa mais rock’n’roll que o primeiro disco do Tom Zé? Não em termos de música, mas de atitude rock, mesmo. Mas nunca vai tocar numa rádio rock e as pessoas vão ser privadas deste sentimento, desta emoção. Quer dizer, não vão, porque elas vão procurá-la onde quer que ela possa estar. Essa crise de mercado, que é fruto de uma crise de identidade mundial, se é que dá pra chamar assim, é conseqüência disso.

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Ventura – Los Hermanos
Mais sério e menos festivo que O Bloco do Eu Sozinho (em que o grupo afirmava tanto sua maturidade musical quanto a sensação de solidão no mercado fonográfico), Ventura é quase um disco gêmeo de seu antecessor. A ênfase é maior na MPB tradicional do que no samba, vedete do disco passado, e a tônica do disco, a mais incisiva da discografia do grupo, dá uma certa intensidade que era apenas insinuada em O Bloco, seguindo a evolução musical do quarteto carioca. Músicas como “Samba a Dois”, “A Outra”, “O Vencedor” e “Cara Estranho” habitam o meio-termo entre a música pop e a MPB e mostram que o grupo segue firme e forte rumo a um futuro não apenas promissor, mas ousado e inventivo, qualidades raras na música brasileira da virada do século.

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