Luê deixa cair

, por Alexandre Matias

lue2019

O encontro da cantora e compositora paraense Luê com o produtor Mateo Piracés-Ugarte, da banda Francisco El Hombre, está começando a causar mudanças em sua carreira. Jogando o foco de suas composições para uma atmosfera jamaicana, ela começa a lançar uma série de singles para experimentar formatos e sonoridades a partir desta sexta-feira (dá pra deixar pré-salvo nas plataformas digitais neste link), quando mostra o primeiro destes frutos, o single “Virou o Zoínho (Viciei)”, que ela antecipa em primeira mão para o Trabalho Sujo.

“O single surgiu depois que a gente ouviu uma música do Wesley Safadão chamada ‘Só pra castigar’, onde ele dá a entender que virar os olhos é o momento do gozo”, lembra a cantora, sobre o começo de seu trabalho com Mateo, “rimos disso e começamos a fazer a nossa versão, que era só uma brincadeira, mas virou música mesmo.” A faixa ainda conta com a participação da cantora Luísa Nascim, vocalista do grupo potiguar Luisa e os Alquimistas: “Ela chegou com um poema lindo em espanhol, sobre corpos em conexão e aquela coisa toda, que ela tinha feito há séculos e não tinha onde usar, encaixou certinho!”

Assim, Luê começou a explorar um novo território temático. “Eu nunca tinha falado disso em música e tem sido bem interessante pra mim esse processo, porque enquanto a música ia nascendo, algumas fichas foram caindo, não só pra mim, mas também pro Mateo e Luisa, sobre a relação com o prazer, nossa relação com o nosso corpo e como nos relacionamos com outro corpo. Falando por mim, eu achava que era sexualmente super livre e coisa e tal, mas percebi que tava condicionada a um sexo raso, onde o prazer do homem é o objetivo, onde a maioria dos caras não sabem o que fazer com o corpo da mulher e são preguiçosos. Nem eu conhecia meu corpo e morria de vergonha de me expressar e hoje pra mim um orgasmo é uma revolução pessoal que me enche de poder.”

“Pessoas são sexuais, acho que é da nossa natureza, mas quando a gente fala de prazer mesmo, para as mulheres o buraco é mais em baixo”, ela continua, “50% das mulheres que têm relações sexuais heterossexuais não chegam ao orgasmo. Às vezes nunca na vida. Não é do interesse do plano de dominação patriarcal que a gente goze, porque uma mulher que goza e compreende seu corpo – e está em paz com ele – é extremamente poderosa. Acho que falar sobre isso é importante pra que uma sirva de espelho para a outra. E que homens também consigam se libertar de seus padrões cansativos que ninguém aguenta mais né?”

Ela também comenta sobre a nova fase. “A ideia é continuar lançando singles e tanto nesse novo quanto nos próximos sou eu dando a cara a tapa e experimentando em outras sonoridades. Cada single um passinho além, gosto dessa inquietação.”

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