Loucuras da Metade da Estação

, por Alexandre Matias

Era pra ter saído no site da revista com a fotinho, tipo parodiando as fichinhas do rock que vinham antes. Mas aí o publicador deu pau e não tá aceitando foto. Quando arrumar no site, eu tiro essa desculpa daqui. Mas, como as coisas do blog da Bizz, é uma parada que tem dia fixo. Ou seja, toda quarta, vamo ter uma dessas.

Figurinha 1: Rodrigo Lariú

Larry You

Nome: Rodrigo de Sousa Lariú
Ocupação: Produtor? Produtor serve pra tudo né… Quando eu quero tirar onda eu coloco diretor de TV.
Data de nascimento: 29/05/1973
Você lembra da primeira vez em que ouviu falar sobre música independente?
Lembro da primeira vez que ouvi música independente sem saber o que era música independente. Foi nos programas de surf, Vibração e Realce, com The Smiths. Antes disso eu ouvia FM e os discos dos meus pais. Eu não fazia idéia do que era o mercado por trás disso. Só fui me dar conta do que era música independente quando fiz minha primeira entrevista para o então fanzine Midsummer Madness, com a banda Squonks, de Niterói – banda da Simone, ex Dash, ex Autoramas; do Leandro atual Stellar e outros dois figuras da cidade. Como fui eu quem entrevistou a banda e escreveu a matéria, percebi a graça de fazer aquilo e não apenas ler o que saia nos jornais e revistas da época. Música ganhou outro sentido, parecia que, mesmo não sabendo uma nota musical, eu fazia parte daquilo.

Quando foi que você percebeu que tinha algo diferente que parecia promissor neste mercado?
Nunca pensei em promissor no sentido financeiro se é isso q você está perguntando. Jamais achei que fosse um mercado promissor ou um bom negócio. O fanzine e depois a gravadora surgiram da frustração de não ter coisas boas para ler e para ouvir. Talvez, a única a vez que pensamos – aí já incluindo meus atuais sócios – em futuro atrelado a mercado independente foi no lançamento dos dois primeiros discos do MM, PELVs e Cigarettes em 1997. De acordo com nossas contas, podíamos ter um lucro de mais de 50% em cada cópia vendida. Podíamos… não tivemos.
Mas se você fala de promissor no sentido artístico, aí foi logo depois desta primeira entrevista com o Squonks. Eu começei a receber várias fitas demos, algumas de amigos zineiros, outras direto das bandas. E quando você começa a receber demos como a primeira do Killing Chainsaw, o vinil do Pin Ups para Stiletto, as duas primeiras demos do Second Come, Virna Lisi, Pato Fu na sua caixa do correio é extremamente excitante.

Qual o melhor show de banda indie brasileira que você já assistiu?
Eu sou muito suspeito para falar isso sem citar qualquer banda do mm. Mas tirando shows incríveis de Valv, ESS, Pelvs, Luisa mandou um beijo, Nervoso, Jess Saes etc, talvez o show do Killing Chainsaw no Retrô na mesma noite que o Cocteau Twins tocou em SP… Foi incrível ! Eles quebraram tudo, Gozo na guitarra era alucinante, as músicas perfeitas, redondas, um barulho dos infernos! E era especial ver uma banda tocando com perfeição as músicas que estavam numa fita cassete que com certeza não estava ao alcance de todos – mas deveria estar! E era por causa de arrebatamentos como aquele show do Retrô que a gente fazia fanzine. Como era possível o RESTO do mundo não conhecer aquela banda? Curiosamente, o Killing foi a única banda que não foi capa nem teve matéria especial no midsummer madness…

Qual o melhor festival independente que você já foi?
Escolher um é difícil. O Screamadelica em São Paulo não foi dos mais organizados mas tinha a melhor escalação pro meu gosto musical – Brincando de Deus, Comespace, Grape Storms e Cigarettes. Os Juntatribos foram um purgatório para quem estava lá mas, vendo agora, em perspectiva, o primeiro Juntatribo foi fundamental. Os de Goiânia na virada do século eram imperdíveis, assim como o primeiro CPF, com as Breeders.

Qual o melhor disco/fita/CD independente brasileiro de todos os tempos?
Porra, só pergunta difícil. Em agosto de 2006 eu acho Thrumming Soothingly – Stellar, a melhor fita, considerando as do MM, e a primeira demo do Killing Chainsaw, a melhor fita, desconsiderando as do MM. E o Better When You Love (Me), do Brincando de Deus, o melhor disco. Mas mês que vem já podem ser outros.

O que você fez neste mercado que lhe deixou particularmente satisfeito e orgulhoso?
Ser sempre do contra, mesmo quando me provam o contrário mais tarde – e atualmente eu admito o erro, antes nem isso. É aquela birra de sempre achar que o mundo conspira contra você – já me fez perceber grandes injustiças como já me fez pagar altos micos. Mas assim que é bom. Os discos que a gente lançou, o festival Algumas Pessoas Tentam te Fuder, o prêmio Indie Destaque – tudo é bola dentro.

Conselho pra quem tá começando
Desconfie do conselho dos outros. Mas escute mesmo assim.

Site e como as pessoas podem te encontrar.
Pô, o site do Midsummer Madness tá uma novela. Tá certo que fomos um dos primeiros selos independentes a ter um website, lá em 1997. Se a gente não o tirasse do ar no começo deste ano ele ia completar 10 anos com o mesmo visual… Daí é foda né. Desde janeiro que estamos quebrando a cabeça com a programação do novo site do Midsummer Madness mas é tudo por uma boa causa: teremos todo nosso catálogo online – quase 500 músicas, parte da história do rock indie nacional –, vídeos, páginas das bandas, voltaremos a lançar bandas – coisa que paramos de fazer com o naufrágio dos CDs e CD-Rs em 2004. Eu acho cada vez mais importante ilhas de música boa no meio da inundação de bandas online que é hoje em dia. Acho que a inflação de bandas em sites como MySpace e Tramavirtual mais frustram e afastam o público “médio” – não o fã inverterado ou aqueles que já são do meio – do que antes, com as fitas e CDRs. Procurar música na internet pode ser neurotizante. É bom quando alguém que você confia dá uma dica certeira e eu espero que o www.mmrecords.com.br vire referência de bom gosto quando entrar no ar, o que deve ser em setembro próximo.
Por enquanto, o site acima tem link prum blog provisório e as pessoas me acham no info@mmrecords.com.br
Com www.mmrecords.com.br no ar, boa parte da história recente do rock brasileiro, do underground também vai entrar no ar junto com o catálogo do mm. Lembra da idéia jurássica da coleção Clássicos MM? Pois é, vai rolar online, com capinha e tudo. Aguarde.