Live At The Fillmore East March 6 & 7, 1970 (Neil Young Archives – Performance Series) – Neil Young & Crazy Horse

, por Alexandre Matias

Duelo de sangue azul

Gotas de sangue. Assim soam as notas trocadas pelas guitarras de Neil Young e de seu fiel escudeiro Danny Whitten neste soberbo registro do lado oculto da música country, a história que Dylan e a Band prefereriram não se envolver. Jovem velho como Bob, Neil se entregou de forma mais dramática à eletricidade e dançou com a música caipira de outro país (ele é nativo canadense) como se esta fosse a própria morte. No primeiro volume dos arquivos do avô do grunge (ironicamente rotulado como “volume 2”) que finalmente vêem a luz das lojas, acompanhamos uma versão ao vivo de uma fase incomparável de sua carreira, o equivalente à turnê de 1965/66 de Bob Dylan. É o momento em que Neil abandona Crosby, Stills e Nash rumo à sua própria carreira solo e encontra na Crazy Horse a melhor montaria para suas canções. E no que sobrou destas duas noites na famosa casa nova-iorquina (mesmo que longas, são apenas seis faixas – o resto perdeu-se com o tempo), vemos não apenas banda e compositor se encaixarem e sentirem-se à vontade musicalmente, mas o embate frontal entre as guitarras de Neil e Danny, que morreria de overdose de heroína dali a dois anos, fato que mexeu profundamente com seu parceiro. Uma cozinha de sonho (Talbot e Molina da Crazy Horse e o Forrest Gump do rock, Jack Nitzsche, no piano elétrico) cria o ambiente perfeito para duelos memoráveis em que o sangue voa como se saísse de bocas esmurradas, agulhas trocadas ou dedos gastos num instrumento de rock, com versões fodonas para épicos como “Down by the River” e “Cowgirl in the Sand”.