Instituto tocando Pink Floyd

, por Alexandre Matias

Bem foda o primeiro show da série Toca Aí, que o Sesc está fazendo durante janeiro, que rolou ontem na choperia do Sesc Pompéia. Ganjaman, o maestro do Instituto e, para quem não sabe, completamente fissurado em Pink Floyd, rearrumou a banda para um show para iniciados na banda, e a formação, mais do que eficaz, era reverente: além de Ganja assumir vocais, teclados e piano de cauda, o Instituto Floyd ainda tinha Régis e Catatau do Cidadão Instigado nas guitarras, Marcos Gerez do Hurtmold no baixo e Samuel Fraga na bateria. Juntos, encarnaram o grupo inventado por Syd Barrett por pouco mais de meia hora num show inacreditável.

Em vez de “Time”, “Comfortably Numb” ou “Another Brick in the Wall”, fomos presenteados com versões fiéis para músicas pouco conhecidas para quem só conhece Pink Floyd de orelhada. É o território de discos como Atom Heart Mother e Meddle, de uma banda inglesa tentando levar a influência do blues para outras dimensões. Para se ter uma idéia do tipo de leitura feita, basta dizer que a banda se aventurou por “Echoes” e “Atom Heart Mother”, músicas que, nas versões originais, são épicos que ocupam um lado inteiro do disco em vinil.

No palco, os dois guitarristas do Cidadão Instigado pagavam tributo a um de seus principais ídolos, David Gilmour. Catatau, de timbre mais personalista, até arriscava o tipo de solo e timbres usados no Cidadão Instigado, enquanto Regis Damasceno se revelava discípulo e devoto de forma quase literal do velho guitarrista do Pink Floyd. Gerez também encarnava um bom Roger Waters – um baixista que, sem suíngue, descobriu um groove quadrado que tinha tanto a ver com a psicodelia inicial do grupo com o som cabeçudo que assumiram logo a seguir. E não duvide se Samuel Fraga tenha decidido virar baterista por influência de Nick Mason. Mas o principal nome da noite era Ganjaman, cada vez mais à vontade nos vocais, e debulhando solos em teclados elétricos ou no piano acústico. Regeu um grupo coeso e afiado, que parecia tocar aquelas músicas há alguns bons anos juntos, e ainda chamou um naipe de metais – com o trompetista Guizado entre os músicos – para duas faixas: “Atom Heart Mother” e uma versão emocionante de “Summer ’68”.

A política de não tocar hits do grupo foi vencida ao final, quando, após sair do palco, a banda foi obrigada a voltar ao palco – o show não durou mais do que uma hora. E entre repetir mais uma música e ceder aos hits, foram de “Wish You Were Here”, desta vez liderada por Régis. Repetiram mais uma vez “Have a Cigar” e encerraram um show que, de repente, acontece em outras oportunidades. Encontrei Ganja na saída e ele comentou justamente isso, que ao final do show, os músicos perguntavam-se quando era a próxima. Levando em conta que estamos em janeiro e a São Paulo sempre esvazia nesta época – e que o show de quinta estava lotado -, não é difícil pensar que, a banda repete o show. Tomara.

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