Impressão digital #0022: O papel da ficção científica

, por Alexandre Matias

Como disse, na minha coluna de ontem no Caderno 2 peguei o gancho do Inception para falar da onipresença da ficção científica nos dias de hoje.

Parece invenção
A influência da ficção científica

Há menos de um mês, neste mesmo espaço, comentei sobre a dificuldade que Christopher Nolan teve para manter o tema de seu novo filme, Inception, em sigilo absoluto. De roteiro complicado e histórias que se superpõem, a produção estreou sexta passada no Brasil com o insosso título de A Origem (sendo que os personagens se referem o tempo todo a uma certa “inserção”).

Mas pode ficar na boa: não vou falar sobre sua história – e recomendo, caso você não o tenha assistido ainda, que se blinde contra possíveis spoilers (o termo em inglês que designa informações que estragam a surpresa de um determinado filme ou série).

A Origem é só mais um dos inúmeros exemplos de como a ficção científica é onipresente no imaginário do século 21. Se formos analisar apenas cinema, os exemplos vão desde nomes gigantes (Matrix e Wall-E) a filmes menores (Moon, Filhos da Esperança, Donnie Darko) e passam tanto por remakes (Planeta dos Macacos, a nova trilogia de Guerra nas Estrelas e o Jornada nas Estrelas de J.J. Abrams) quanto pelos inúmeros filmes de super-herói.

Sim: super-heróis são a forma mais trivial e rasteira de ficção científica. Não são seres fantásticos e mitológicos, embora se comportem como se fossem. Mas por trás de todo super-herói há uma origem explicada cientificamente – mesmo que à base da pseudociência.

Nascido no século 18 com As Viagens de Gulliver (que terá versão para o cinema, com Jack Black, no final do ano), o gênero tornou-se popular no fim do século seguinte graças a nomes como H.G. Wells e Júlio Verne e entrou no século 20 como uma espécie de subliteratura, feita para ser consumida de forma rápida e rasteira. Longe da crítica literária, os autores do novo gênero aproveitaram esta liberdade para usar discos voadores, robôs, viagens no tempo e alienígenas como metáforas para a condição humana. Assim, autores como Isaac Asimov, Arthur C. Clarke, Philip K. Dick, William Gibson e Neal Stephenson podiam criar seus universos livremente, o que serviu de base para a atual onipresença do gênero no mundo todo.

Acontece que esta liberdade que a ficção científica deu a esses autores permitiu que eles pudessem viajar em uma ciência inexistente, imaginária – que serviu como inspiração para muitos cientistas criarem invenções que nasceram na cabeça de escritores.

Eis o motivo do gênero estar em voga atualmente: vivemos num século cujas principais inovações científicas foram imaginadas por artistas. Sim – vivemos em um mundo de ficção científica. E parece que não há nada mais para ser inventado ou imaginado.

Que nada. A Origem – e outros tantos filmes de ficção científica que ainda virão por aí – cogita uma ciência que parece de mentira, inventada. Até que algum cientista se disponha a transformá-la em realidade…

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