Impregnado pelo zeitgeist

, por Alexandre Matias

A Gi Ruaro mandou, lá de Londres, sua opinião sobre esse tal Scott Pilgrim, que por aqui só estréia em novembro. Estou lendo o quadrinho agora, o máximo que conheço do filme são as carreiras dos dois principais envolvidos – Cera e Wright. Vamos às suas impressões:

“Fui ver Scott Pilgrim vs The World com um amigo meu que é fanático pelos quadrinhos. Eu não tinha lido nada e, assim como Kick-Ass, fui ver o filme sem saber muito sobre o que esperar – o que foi bom. Mas também, ruim, pois não posso dar opinião sobre a adaptação. Não curto quadrinhos, mas gosto de filmes baseados neles, além de gostar de games, cultura pop e… bem, cinema pipoca. Ou seja, adorei Scott Pilgrim bem massa.

Michael Cera faz papel de… Michael Cera. Vamos combinar: ele não consegue fugir da estigma Socially Akward Penguin ambulante. Calhou de Scott Pilgrim ser como o Michael Cera e, pronto, funciona – até mesmo quando ele está lutando.

Ramona é realmente a garota mais cool do planeta e os sete exs tem visuais e ‘poderes’ que os transformam em ícones instantâneos. Levando em conta que o filme é baseado num quadrinho com uma legião de seguidores, o filme é bem bom e funciona para fãs e não-iniciados.

O diretor, Edgar Wright, é conhecido pelos seus filmes anteriores Hot Fuzz e Shaun of The Dead. Mas aqui nas terras britânicas, o trabalho que o tirou do anonimato foi Spaced. A série de TV não teve muita repercussão na época pois foi lançada no mesmo período que The Office (de Ricky Gervais), mas tem roteiro brilhante de Simon Pegg (que também atua nos dois filmes de Wright) e sua direção ficou famosa pelas cenas surreais, edição rápida, referências pop jogadas na tela a cada ângulo – além do humor completamente nonsense. Ops, acabei de definir Scoot Pilgrim também!

Foi ótimo ter visto Spaced antes de ver Scott Pilgrim porque eu entendi que o visual e cadência do filme não eram gratuitos, mas fazem parte da bagagem de Wright. Aliás, li no Twitter que Scott Pilgrim é Spaced com Street Fighter. Concordo.

Mas como é que o filme fez tão feio nos Estados Unidos na semana de estréia se tem tantos elementos a seu favor? Na minha opinião é que Scott Pilgrim é um filme para quem tem menos de 25 anos. Não é tão nauseante quando Speed Racer, mas é colorido e veloz – talvez rápido demais para os que não fizeram parte da geração dos games. Há referências sonoras o tempo todo: Mario, Zelda, Sonic, Street Fighter, erro no Mac, start-up do Windows. E os vilões se transformam em moedas. E músicas que te fazem se sentir triste e pensar sobre a morte e tals. Meu pai não ia entender nada mesmo.

É um filme tão contemporâneo, tão impregnado pelo zeitgeist de agora, tão pop que infelizmente será considerado datado ano que vem. Juro. Sabe a cena em Kick-Ass, quando o vídeo faz sucesso no YouTube, quantos hits tinha? 3 milhões. Hoje em dia qualquer vídeo de gato andando em esteira rolante tem mais do que isso. O mundo avança rápido ao próximo meme e o tempo de finalização de um filme já é demorado demais para acompanhar as mudanças de uma geração que não pára.

E como disse Jason Schwartzman (que faz o papel do vilão Gideon Gordon Graves), Scott Pilgrim nunca poderia ter sido feito em 3D. Ainda bem, porque a quantidade de informação na tela ia furar os olhos protegidos pelos óculos de plástico.”

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