Gainsbourg, Gainsbourg…

, por Alexandre Matias

Você acertou: o show da Orquestra apertou o gatilho da obsessão e cá estou em meio de mais uma, dividindo com vocês, como sempre. Sempre acompanhei de perto a obra de Serge Gainsbourg e seus discos sempre apareceram em momentos estranhos ou inusitados – fazendo sentido à própria figura que Serge projetou para a posteridade. Apreciador não-linear, fui montar os pedaços que conhecia da biografia do sujeito graças à biografia escrita por Sylvie Simmons, editada no Brasil pela Barracuda. Um Punhado de Gitanes reconhece, de cara, não ser uma biografia definitiva, mas uma introdução à obra e à vida de uma figura sem par na história do século passado.

Serge era, ao mesmo tempo, o maior sabotador e o grande conservador da cultura francesa, reinventando-a para a era da música pop cantada em inglês. Serge é uma espécie de Bob Dylan influenciado por James Brown, ao piano; ou um Phil Spector que, quando sai dos bastidores, vira um Bowie 100% irônico; os Sex Pistols e Malcolm McLaren na mesma pessoa; um Chico Buarque cafajeste e politicamente incorreto. Qualquer paralelo é falho: Gainsbourg era um provocador profissional e um conservador ferrenho, maníaco por controle e pela própria família, obcecado com a própria imagem à ponto de reinventá-la a cada dois ou três anos. Cantor, compositor, cineasta, fotógrafo, celebridade e diretor de arte da própria vida, ele é o autor da música francesa mais conhecida do mundo (“Je T’Aime… Moi Non Plus”), além de emplacar dezenas de hits nas paradas de sucesso de seu país. Era uma máquina de composição no ritmo da Motown, mas com um requinte essencialmente europeu e, sua maior contribuição lírica, apegado à sonoridade de seu idioma. Misturando o francês com onomatopéias, costurando aliterações e jogos de duplo sentido com o som e o sentido das palavras, as letras de sua música sequer precisam de melodia para tornarem-se canções. Una-as a uma herança musical de berço que deu-lhe a formação mais clássica que um pianista noturno poderia ter, e aí está Serge Gainsbourg, que ainda temperava a própria imagem pública como um sujeito insuportável, um bêbado que não parava de fumar um segundo, sempre cercado de mulheres lindíssimas e metido em polêmicas absurdas. E, mesmo assim, mesmo sendo uma celebridade intragável – uma espécie de Pedro de Lara com estilo -, um ídolo pop para várias gerações e uma persona non grata que ridicularizou até o hino da França num reggae gravado com a dupla Sly & Robbie, Serge é tratado em seu país como uma instituição nacional.

A minha trip pelo sujeito começou com a resenha do show da Orquestra Imperial e seguiu na primeira parte de um especial no Vida Fodona. Como disse no programa, não sei se o próximo VF vai ser dedicado ao sujeito ou intercalo com um programa tradicional, mas certamente a parte 2 vem em seguida. Além dos podcasts, resolvi compartilhar alguns pérolas que me acompanharam nessa viagem, caçadas no YouTube. São seções de vídeos – shows, clipes e programas de TV – que contam as diferentes fases da carreira de Serge. Não vou entrar em muito mais detalhes em sua vida e carreira em texto – vou deixar pra falar disso no Vida Fodona e ligar a TV Serge Gainsbourg por uma semana ou duas (vai saber). E os 4:20 também vão na onda – e serão temáticos sobre a França até essa brincadeira acabar.

E se você não sabe falar francês, não liga. Eu também não sei.

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