Eu Nunca Disse Adeus – Capital Inicial

, por Alexandre Matias

Essa resenha foi o abre da seção de discos da Rolling Stone de abril, que ainda tinha essa matéria aí de cima.

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O bom e velho mais do mesmo

Não é que o rock e o pop sejam opostos atraentes ou vertentes complementares de uma mesma história. Rock é teste de sobrevivência – ver quem escapa da máquina de moer carne e quem deixa o cadáver bonito;pop é carisma irremediável – convencer sempre que tudo está legal e que tudo pode mudar. Ambos podem coexistir pacificamente e é essa combinação que faz sucessos tornarem-se clássicos. O rock, no entanto, raramente se dispõe a testar seus próprios limites depois de velho. Isso vale tanto para a idade do gênero quanto para a maturidade de qualquer banda de rock.

Eis aí o Capital Inicial, com quase dez anos de carreira depois de um retorno que parecia mero caça-níqueis típico de sua geração, mas que persiste bravamente como se tivesse começado a existir no final dos anos 90. E mesmo com dois especiais pró-nostalgia veiculados na MTV, é injusto rotulá-los como “banda dos anos 80” – mesmo porque, nem soam mais como uma. Estão sim, exatamente entre o pop e o rock.

E qual é o problema disso? Aparentemente, nenhum. Como o disco de outras bandas que habitam esta zona do crepúsculo (dos Stones ao Police, do A Cor do Som ao Pato Fu), Eu Nunca Disse Adeus é limpo e imaculado – há um capricho na composição e produção que não deixa nenhuma faixa com cara de sobra, existe uma coesão temática e sonora que se desdobra por todo o disco. Se o critério fosse este, Eu Nunca Disse Adeus seria irrepreensível.

Embora o verniz plástico da produção tire qualquer fibra de credibilidade de rua (talvez essa seja justamente a intenção – mais soar rock do que ser rock), o disco começa rock sem pop e “A Vida é Minha (Eu Faço O Que Eu Quiser)” é essencialmente adolescente. Mas é o boi de piranha, aquele que lançam na linha de frente da comitiva pantaneira para saber se a água é própria para o resto da boiada ou não. E uma vez aberto o caminho, é a vez de uma série de baladas (“Aqui”, “Dormir”, “Altos e Baixos”, “Um Homem Só”) e rockinhos light à Maroon Five ou Matchbox 20 (“O Imperador”, “Boa Companhia”, a faixa-título, “Eu Adoro a Minha Televisão”), que são o corpo principal do disco. Não se duvida que eles toquem rock, mas é fácil perceber que eles não tem mais vinte (nem trinta) anos.

Composto quase inteiramente por Dinho e seu fiel escudeiro Alvin L (um Fausto Fawcett Peter Pan que, como você e eu, amava o Bowie e o T-Rex) e produzido pelo mesmo Marcelo Sussekind que acompanha a banda desde a volta, o Capital pós-98 soa tão jovem e agressivo quanto o Oasis (outra banda-fórmula) em seu auge – mas isso não é propriamente um elogio. E assim, o resto do disco (fora “18”, “Má Companhia” e uns riffs aqui e ali) acaba colocando o Capital Inicial na mesma prateleira (embora com um pouco mais de personalidade, é preciso admitir) de artistas pop/rock genéricos como Jota Quest, Danni Carlos, Kid Abelha ou Charlie Brown Jr., gente que preenche a lacuna “rock” nestes festivais de rádio que juntam Chiclete com Banana, Marcelo D2 e Cidade Negra.

O Capital em 2007 é familiar e manjado como os últimos discos do U2 ou as últimas décadas dos Ramones ou dos Stones. Não há choque, não há atrito – como a proverbial banda da propaganda de refrigerante, a juventude do ano 2000 tornou-se ainda mais vazia e sentimental. Tempos neoconservadores: tome nü metal, emocore, axé music e psy trance pra ser jovem nos dias de hoje.

Ou esse rock condensado como Leite Moça. Como os dinossauros já citados ou os parques temáticos que tanto gostamos (Dark Side of the Moon, Tommy, Mutantes, Pixies, Brian Wilson), o Capital Inicial se fantasia de si mesmo e traz o bom e velho mais do mesmo – pra quem ainda precisa de mais do mesmo. As músicas grudam, os refrões funcionam, os riffs são de rock – mas a atmosfera formulaica está presente em todo o disco. Se você só quer o Capital Inicial, vá fundo. Mas se a procura é por algo mais, siga outras pistas.