Elga Flanger entre o R&B e o lo-fi

, por Alexandre Matias

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É uma mistura simples, mas pega de um jeito: uma guitarrinha clara e molenga, beats artesanais, uma voz doce sussurrando uma canção soul em inglês que parece ingênua, mas só na superfície, seguida de um refrão tão bobo quanto grudento. “W.T.K.U.B.L.”, primeiro single da cantora e compositora catarinense Elga Flanger, é uma pérola pop irresistível, misturando R&B e lo-fi na mesma medida, soando tão caloroso quanto um abraço – o que, em tempos de distanciamento social, ganha uma profundidade específica. “W.T.K.U.B.L.” é uma ode àqueles clássicos dos anos 90 bem chicletes, só que misturando elementos e técnicas mais contemporâneas da música eletrônica”, ela me explica por email, contando que escreveu uma letra falando sobre experiências que viveu com casos de ghosting – quando uma pessoa cessa todas as formas de comunicação com a outra.

Conheço Elga de outros carnavais, quando ela ainda trabalhava como engenheira de som e fez essa função no programa Vintedoze (não conhece? Saca só aqui) que tive durante 2012 com o Ronaldo Evangelista, mas, embora já tivesse um passado hardcore (teve uma banda com duas amigas chamada Roxanne nos tempos do MySpace), só começou a mexer em seu próprio trabalho autoral há pouco tempo. “O projeto surgiu da minha necessidade de explorar a música além jobs”, ela continua. “Eu estava me limitando a produzir músicas apenas para fins publicitários desde 2013. Em 2015 eu até cheguei a gravar algum material, mas acabei me perdendo no processo e demorei tanto pra terminar as faixas que as músicas pararam de fazer sentido pra mim. A vontade de fazer um som que me representasse ficou reverberando na cabeça durante um tempo até eu fazer uma ruptura real na minha carreira, apostando em novos caminhos.”

“Ano passado fiz minha primeira trilha sonora original pra cinema no curta-metragem Ressurreição, do diretor Otto Guerra, e também participei de apresentações pontuais como tecladista, guitarrista, DJ e projetista de alguns artistas independentes, como Patrícia Coelho, Kia Sajo, Laura Wrona, La Leuca e Frabin”, lista, citando-os todos como inspiração para o novo projeto, que é uma banda de uma mulher só – o sobrenome artístico, claro, vem do pedal que dá o som característico da canção.

Quarentenada em Floripa, ela já tem o material do primeiro EP pronto para o segundo semestre. “Já tenho um próximo single a caminho e um clipe pra finalizar no próximo mês”, explica. “Apesar de ter feito toda a parte musical sozinha, com exceção da masterização do Arthur Joly, na parte visual, tive a felicidade de encontrar excelentes colaboradoras”, como a Nena, do grupo La Leuca, que fez a capa do single.

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