Depois da internet

, por Alexandre Matias

Materinha no Link de hoje.

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Novas formas de se ouvir música

Com o MP3, os hábitos dos ouvintes mudaram radicalmente e, aos poucos, as pessoas descobrem como isso é ótimo

O MP3 matou o CD, as gravadoras estão em crise, quem baixa música da internet é pirata e vai demorar um tempo até nós, brasileiros, termos lojas de música digital à altura das que já existem nos países desenvolvidos.

Parece que o caos se instalou no mundo da música, não é? Desde que o Napster, o primeiro programa de compartilhamento de arquivos pela internet, foi criado em 1999, as coisas mudaram tanto nesse mercado que a quantidade de desinformação que circula por aí não é pequena.

Vamos reescrever então o início deste texto.

Não, o MP3 não matou o CD, as gravadoras começam a se adaptar, existe uma infinidade de música grátis e legal circulando na rede e já é possível comprar arquivos digitais sem ter de adquirir o disco inteiro, inclusive no Brasil.

O fato é que a internet mudou completamente nossa relação com a música. Se antes era só ouvir na rádio, ir até a loja ou ler na revista para ficar sabendo quais os principais lançamentos do mês, hoje a quantidade de fontes de informação cresce em velocidade exponencial.

O mesmo acontece com as formas que bandas novas e artistas à margem do sistema das gravadoras multinacionais encontram para divulgar seu trabalho, por meio da rede mundial de computadores.

E – agora vem a boa notícia para você, leitor – multiplicam-se as opções para qualquer um ouvir música, seja pagando ou de graça, por meio da internet. O Link desta semana tem uma proposta simples e, ao mesmo tempo, ousada: ajudar você, leitor, a mergulhar nesse incrível mundo da música digital.

Ouvir sem comprar
Quem é novato encontrará dicas para ir se acostumando aos poucos com a novidade. Já os mais escolados poderão ir mais fundo nesse oceano musical que é a web.

E, veja bem, todas as dicas incluídas nesta edição são 100% legais. Então, mãos à obra.

A primeira sugestão vai para quem ainda não se sente à vontade para abrir mão do CD, mas fica com uma cara assim meio sem graça quando, em uma roda de amigos, alguém afirma, com toda a convicção, que CD é coisa do passado.

De fato, a música não precisa mais de um suporte para ser vendida e transportada. Mas isso não quer dizer que o Compact Disc morreu. Ele continua a ser uma forma de se ouvir música. Só que, pouco a pouco, deixa de ser a principal.

Mas não é motivo para comprar gigabytes e gigabytes de música em MP3. Que tal começar ouvindo música no seu PC, em “streaming” (sem baixar o arquivo), organizar playlists e ver o que acha da idéia?

É o que faz o biólogo Luciano Steves, de 48 anos. “Para que possuir música se posso ouvir um monte de coisas online?”, diz. Ele trabalha boa parte do dia no computador e, para se distrair, utiliza os serviços do Sonora e do Yahoo Music.

O Sonora também vende música, mas Luciano não sucumbe à tentação. “Não faço questão de ter uma coleção grande de músicas. Prefiro criar uma playlist que possa escutar de qualquer computador.”

É claro que ele precisará “possuir” música quando decidir comprar um toca-MP3. Só que Luciano ainda não chegou lá. Nem está com pressa.

Garimpo musical
O universitário Ronald Rios, de 18 anos, está na outra ponta da nossa aventura musical. Ele vive para cima e para baixo no Rio, onde mora, com seu aparelho portátil de MP3.

Seu toca-MP3 é dos mais baratinhos, com pouco capacidade, mas Ronald conhece bem o caminho das pedras para achar música nova na web. Suas principais fontes de pesquisa são blogs de MP3 e o site musical Pandora (que não funciona mais no Brasil), onde descobre novos artistas que usam a internet para mostrar seus trabalhos.

Quando encontra algo diferente, Rios recomenda em seu blog, o www.rockdeindio.com. Um exemplo recente foi o Coconut Records, projeto-solo do ex-baterista do Phantom Planet, Jason Schwartzman.

O blogueiro descobriu o som por indicação do baixista do Weezer, gostou e incluiu em seu blog o link para o Coconut na comunidade virtual MySpace (especializada em música).

Os blogs de MP3 podem ser divididos em dois grupos. O primeiro reúne links para CDs inteiros transferidos para MP3 e disponibilizados online. Em geral, violam direitos autorais.

O segundo grupo é recente. Descobre artistas que disponibilizam MP3 de graça na internet, mas que estão soltos à procura de ouvintes. São fios da meada na rede global.

“Ninguém conhecia no Brasil e um monte de leitores curtiu a minha sugestão. Alguém até criou uma comunidade no Orkut para o Coconut graças à indicação”, diz.

Já a universitária Juliana Leuenroth, de 22 anos, busca na rede material raro de artistas que ela já curte, de performances ao vivo a covers bizarras. “Travis cantando Britney Spears é impagável”, ri.

Também existem na web diversos sites que identificam o gosto musical do internauta, a partir daquilo que ele já conhece, e o apresentam a bandas e artistas que tenham a ver com seu gosto musical.

Fica fácil ampliar seus conhecimentos musicais assim, não?

* com Gustavo Miller

Um mergulho na música digital

Seja o ouvinte novato nos downloads ou veterano do MP3, não faltam dicas para aproveitar a experiência ao máximo

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Clique aqui para ver o infográfico em PDF.

Para quem já está habituado a baixar MP3 e a descobrir novos artistas sem precisar da ajuda do rádio ou de revistas, um guia para se aprofundar na música digital parece básico e didático demais, feito apenas para novatos que começam a usar a inevitável rede.

Será? Com tantas mudanças e novidades acontecendo sem parar, é possível que haja um site, um serviço, um programa que tenha passado despercebido até para os que já habitam as profundezas do enorme oceano que é a música digital.

Mas como ainda tem gente molhando os pés na praia, não vamos nivelar ninguém por baixo. As dicas abaixo servem para os diferentes níveis de imersão em que diferentes usuários se encontram. E, à moda não-linear da época em que vivemos, este guia não é um passo-a-passo. É possível praticar diferentes etapas sugeridas abaixo sem ter passado por outras. O único pré-requisito é conectar o computador à internet. A partir daí, é ao gosto do freguês.

Afinal, baixar MP3 em programas de compartilhamento de arquivo do tipo P2P (peer-to-peer) como Kazaa, Emule e Soulseek é só uma das possibilidades. Mas como a troca de músicas entre fãs ainda é vista como pirataria pela lei, procuramos opções que se mantenham dentro da legislação e não infrinjam direitos autorais dos intérpretes e compositores.

Para os iniciantes, mais do que sair baixando músicas aleatoriamente, é preciso, primeiro, se habituar com esse novo jeito de ouvir música.

Baixar MP3 para ouvir em aparelhos portáteis é uma variante moderna de compilar uma fita cassete para ouvir no carro ou Walkman, com a diferença de que a “fita”, no caso, pode ter uma capacidade enorme e não há o desgaste de som que acontecia com os antigos cassetes toda vez que eram regravados. Além disso, você não precisa ouvir as músicas enquanto passa para o aparelho – é só arrastar os arquivos e pronto.

Lojas online e sites oficiais de artistas também são boas pedidas para quem está começando. Procure no Google por seu artista favorito – se ele estiver sintonizado com a nossa época, terá um site em que é possível, ao menos, ouvir trechos de suas músicas. Muitos artistas estão pouco a pouco percebendo que a influência da rede não prejudica seu trabalho e disponibilizam até mesmo MP3 gratuitos em suas páginas pessoais.

Mas é sempre bom lembrar que a grande qualidade desse novo tempo é a possibilidade de descobrir artistas que, não fosse a internet, sequer seriam conhecidos em suas cidades. Por isso, ouça seus favoritos, mas abra seus ouvidos para o novo.

Para quem está começando, outra dica é organizar os MP3. A maior parte dos programas que ripam CDs está conectada ao banco de dados CDDB, que cadastra todos os lançamentos em nível global. Mas quando o programa não reconhece o disco, ele copia as músicas com títulos como “Faixa 1” e “Artista Desconhecido”. Isso pode parecer irrelevante no começo da experiência, mas é imprescindível na segunda fase, quando programas online podem indicar artistas novos e desconhecidos a partir do seu gosto musical.

Se você já passou dessa fase, resta ir ainda mais fundo. Além de podcasts e blogs de MP3, que ajudam a identificar quem é quem nesse aparente caos da música digital, outros dois tipos de ferramenta facilitam ainda mais a vida do ouvinte.

Sites como o Last.fm e o Musicovery indicam artistas a partir de um primeiro nome escolhido por você. A inteligência dos programas online compara gostos de outros usuários e, a partir do cruzamento de dados, sugere nomes que você nunca tinha ouvido falar, mas que certamente batem com suas preferências. Como diria a Feiticeira, naquele comercial de TV, “não é magia, é tecnologia”.

Para procurar blogs de MP3 que disponibilizam músicas gratuitamente, dois sites são fundamentais. O Hype Machine não apenas cataloga todos os blogs dessa natureza, como, a partir de seu banco de dados, indica bandas e músicas que estão fazendo mais sucesso nesses tipos de site, criando paradas de sucesso completamente alternativas. O Critical Metrics vai além e inclui publicações tradicionais (jornais, revistas e canais de TV) em seu ranking.

Mas o mais importante é que tudo está à sua disposição na web. Nada mais é imposto, tudo depende da sua escolha. E, se ouvir música já era um prazer, escolher a melhor forma de ouvir é um privilégio.

MP3 e indústria fazem as pazes

Gravadoras e lojas aos poucos cedem ao formato digital; serviços online oferecem música nova sem cobrar nada

Aonde você vai quando quer comprar música? Antigamente, quando os endereços eram apenas físicos, a resposta vinha na ponta da língua, quase sempre acompanhada do nome de um vendedor gente boa que dava dicas preciosas sobre artistas que ninguém conhecia.

Esse tempo já era. Hoje, comprar música não diz respeito especificamente a discos (que continuam sendo vendidos, online e offline), mas também a MP3 isolados e discos inteiros digitalizados. E isso não é exclusividade de Primeiro Mundo.

Duas das maiores lojas online do país (a Americanas.com e o Submarino) já oferecem músicas digitais, graças a uma parceria com o site iMusica.
Outras lojas online vendem exclusivamente música digital. A Megastore, do portal UOL, a Yahoo! Música, do portal Yahoo!, e o serviço Sonora, do portal Terra. Nas três, o usuário pode ouvir e comprar tanto discos inteiros quanto canções separadas.

O Sonora sai na frente por oferecer um serviço cobrado mensalmente que permite ao assinante ouvir músicas sem precisar baixá-las, à vontade, além de poder escolher as músicas que quer ouvir, criar sua própria playlist (seleção de músicas) e compartilhá-la com outros usuários do site.

O único problema das lojas brasileiras é a incompatibilidade com o iPod. Como o formato oferecido pela Apple é exclusivo dela (a empresa usa o MP4 em vez do MP3), não é possível comprar arquivos que possam ser deslocados diretamente do computador para o portátil de Steve Jobs.

A iTunes Music Store, loja de música digital mais popular do mundo, por sua vez, não permite que usuários brasileiros façam compras em seu sistema. A Apple não se pronuncia oficialmente sobre uma versão nacional da iTunes Music Store, embora volta e meia surjam boatos de que ela chegará.

Todas as lojas no Brasil explicam que, para encher o iPod com suas músicas, o ouvinte deve comprar a música, gravar um CD com elas, convertê-las por meio do programa da Apple (o iTunes) para, só então, transferi-las para o aparelho – nada prático, nada rápido. Mas isso só acontece no caso do iPod. Outros MP3-players não sofrem deste mal.

Por outro lado, é possível comprar MP3 em outras lojas internacionais, como a Rhapsody (www.rhapsody.com), da Real Networks, e no eMusic (www.emusic.com), usando um cartão de crédito internacional.

Os sites das tradicionais megastores do País, como Fnac, Saraiva e Siciliano, só vendem música em CD. Nada de MP3.

Além dos discos
As gravadoras, por sua vez, começam a se mexer e, pela primeira vez, em 2007, as multinacionais começaram a lançar discos primeiro no formato digital para, depois, se for o caso, vender o CD.

Outras empresas do ramo, brasileiras e independentes, já estão cientes da mudança dos tempos. Grandes como a Biscoito Fino e a DeckDisc já vendem MP3 em seus próprios sites.

A Trama criou a TramaVirtual (www.tramavirtual.com.br), já em seu quarto ano de funcionamento, site no qual artistas sem gravadora podem subir suas músicas em MP3 sem precisar pagar nada. E o ouvinte pode baixar sem colocar a mão no bolso. Basta preencher um cadastro simples.

Sites recomendam músicas a partir do seu gosto musical
Enquanto uns preferem comprar, outros se viram para ter de graça. Mas ouvir música online sem pagar não quer dizer, necessariamente, burlar direitos autorais ou lesar o artista.

Há na web uma série de novos recursos que tornam isso possível – além de uma novíssima geração de artistas disposta a não cobrar por sua música, pois sabe que só assim se tornará conhecida do público.

Na primeira categoria estão sites que reconhecem o gosto do ouvinte para, em seguida, oferecer outros artistas afins. Pandora, Last.fm e Musicovery são as ferramentas mais populares, mas não são as únicas.

O Last.fm (www.last.fm) é um site de relacionamentos como o Orkut, só que dedicado à música. O usuário cria um perfil pessoal e baixa um plugin para instalar em seu player de MP3. Em seguida, o site compara a relação de músicas do novo membro com listas de outras pessoas de gostos parecidos. Então sugere novos artistas. Boa idéia, não?

O Pandora (www.pandora.com) e o Musicovery (www.musicovery.com) funcionam de forma parecida, só que o player é o próprio site. Você define um ponto de partida (uma música, um artista) e os sites sugerem músicas que tenham a ver com a escolha inicial. O interessante é que os sites vão ficando mais afiados à medida que você vai dizendo se gosta das sugestões.

A má notícia é que, na semana passada, o Pandora saiu do ar para internautas brasileiros e de outros países, com exceção de EUA e Reino Unido. Uma mudança na cobrança de direitos autorais na internet quase fechou o site de vez, mas usuários nos EUA protestaram e conseguiram que o site continuasse acessível a internautas norte-americanos e britânicos.

Essa decisão pode afetar outros serviços do gênero, o que seria uma pena.

O MySpace (www.myspace.com), maior comunidade virtual dos EUA, é uma ótima fonte para ouvir e, em alguns casos, baixar músicas de artistas, famosos ou não. Mas, sem um sistema de recomendação inteligente, ele é um enorme diretório de música online, sem ponto de partida.

Aí entram os blogs de MP3 e os podcasts. Veículos novíssimos, eles saíram da fase de resgatar música fora de catálogo e começam a apontar para o futuro. Por meio de catálogos online como o Hype Machine (www.hypem.com) ou o Critical Metrics (www.criticalmetrics.com) é possível achar blogs que filtram novos artistas no MySpace e facilitam a vida do ouvinte.

Os podcasts (tipo de programa de rádio que pode ser baixado via internet como um MP3) têm a mesma função. O site do Link (http://link.estadao.com.br) traz um diretório. Outros podcasts são encontrados em endereços como www.odeo.com e www.podomatic.com.

Para o Sonora, música é serviço e não um produto
Um pequeno – mas significativo – detalhe faz da seção de música online do portal Terra, o Sonora, algo diferente das demais. É o fato de tratar música como serviço, e não como produto.

“Sem o suporte, a música pode ser ouvida em qualquer lugar e não apenas quando se tem um MP3”, explica Beni Goldenberg, gerente de produto do Sonora. “Assim, além de vendermos faixas isoladas e discos inteiros, também temos a opção de assinatura, em que o usuário paga uma taxa mensal e pode ouvir quantas músicas quiser, quantas vezes quiser”, diz.

O catálogo do Sonora inclui 500 mil músicas, e a meta para 2007 é dobrar o acervo. Por outro lado, o serviço não revela números de assinantes e de downloads. É esperar para ver se a assinatura digital pega aqui no Brasil.