O trabalho no futuro e o futuro do trabalho

dialogando

Fui convidado pela Bia Fiorotto para participar do podcast Dialogando sobre a relação do trabalho com a tecnologia, ao lado do Cris Dias, do Boa Noite Internet – segue a conversa abaixo.

Listen to “#010 – Podcast Dialogando – Como a tecnologia mudou o trabalho?” on Spreaker.

Essa máquina destrói TUDO!

TUDO!

Vi lá no Cris Dias.

Um Toy Story 3 como você nunca viu

Jornalismo troll. Vi no Cris Dias.

Lost por Cris Dias

Falta pouco! Mais exatamente faltam duas horas e meia para o fim daquela que — mesmo que muita gente discorde comigo ao chamar de A Melhor Série da História da TV de Todos os Tempos Ever — mudou a maneira de se contar histórias seriadas na televisão.

Se existe uma coisa que resume Lost em uma palavra é: perguntas. Há uma lista quase que oficial delas e uma maior de perguntas que provavelmente nunca serão respondidas. Enquanto muitos acham que não responder todas elas é motivo certo de decepção quando domingo acabar. Já os roteiristas apostam que muito pelo contrário, responder a todas as perguntas, seja em duas horas e meia ou ao longo de seis anos, é a pior coisa para a série. O segredo de Lost está no chamado espaço negativo literário.

O conceito de espaço negativo é mais famoso nas artes visuais. Dominar o espaço não ocupado pelo seu desenho é, segundo os mestres, tão importante quanto o desenho em si. Algumas obras usam propositalmente o espaço negativo para mostrar uma coisa que você não vê inicialmente. Mas ao contar histórias, especialmente histórias fantásticas como Lost, o espaço negativo literário também é uma ferramenta importantíssima.

O pesquisador do MIT Geoffrey Long contou, quando esteve no Rio para participar do Descolagem ano passado que um dos maiores motivos de ser completamente vidrado em Star Wars foi todo o espaço que George Lucas deixou para a imaginação da molecada. “A gente passava o recreio inteiro discutindo quem era Boba Fett. Eu achava que ele era um irmão perdido de Han Solo.” Por anos a imaginação dos fãs ficou criando uma história para o caçador de recompensas até que um dia, ao lançar o Episódio II: Ataque dos Clones descobrimos quem era Fett… e provavelmente todo mundo achou a explicação uma porcaria. (o filho-clone do Jango Fett? Sério Jorge?)

Ao deixar partes da história no espaço negativo os criadores de Lost sabem que não é uma questão de competir com a versão que as pessoas tem na cabeça para uma resposta. Eles estão competindo com o processo de imaginar e discutir com os amigos o que cada mistério significa. Revelá-lo vai simplesmente acabar com essa conversa. É muita crueldade, é pior que vinte Jar Jar Binks.

No penúltimo podcast oficial de Lost Damon Lindeloff e Carlton Cuse nos convencem de que não queremos saber exatamente o que é a Ilha, o que é ser um candidato e ter cada mistério explicado. Outros já fizeram exatamente isso antes e falharam. “Nós não vamos ter uma cena do arquiteto como em Matrix: Revolutions.”

Matrix, uma série de filmes também cheia de mistérios e revelações teve aquela que provavelmente foi a cena mais chata da história do cinema pop onde um personagem barbudo explica tim-tim por tim-tim — por quase oito minutos! — para o herói que porcaria toda era aquela. Não só a resposta era pra lá de caída como a explicação era tão chata e professoral que provavelmente ninguém conseguia lembrar exatamente o que era aquilo tudo depois dos créditos finais.

No livro oficial da criação de conteúdo transmídia — escrito pelo professor de Geoffrey Long — Matrix é um exemplo (agora) acadêmico de como não se contar uma história. E Lost, que estava começando a ser exibido quando o livro foi escrito, um exemplo de como contá-las bem, com ou sem espaço negativo.

Lost parte do princípio de que tudo que o espectador vai fazer é assistir os 45 minutos semanais de conteúdo e, se gostar do que viu, comentar com os amigos. Lost não requer, como Matrix, que você jogue o videogame, veja os curta-metragens animados ou leia os gibis empacotados exclusivamente junto com embalagens de cereal Acme vendidos apenas nos Kwik-E-Mart vendidos no lado norte de Springfield.

Se você quiser participar do ARG, contribuir para a Lostpedia, ouvir o podcast oficial, ir na Comicon… ótimo, você terá uma experiência muito mais legal do que os meros mortais que só ficam na frente da TV. Mas os produtores nunca se esquecem que, no fim das contas, a maioria das pessoas fica na base dessa pirâmide do engajamento e o conteúdo dado a elas deve ser mais do que suficiente para deixá-las vidradas por seis anos na série.

Sim, é importante saber quem vai substituir Jacob, o que são os flash-sideways e por que Rodrigo Santoro precisava ficar indo ao banheiro toda hora. O resto fica por conta do espaço negativo. Aliás, deixa eu contar minha teoria de quem é o Homem de Preto…

* Cris Dias é outro que também é dos tempos da internet a diesel no Brasil…

A natureza tem um valentão…

…e seu nome é VESPA.

Vi no Cris Dias.

Se preocupar com a vida alheia: um esporte brasileiro


Big Julgamento Brasiu, de Cris Dias

A ópera-sabão dos Nardoni é só a continuação em escala macro do novelismo brasileiro, uma das facetas mais tediosas e deprimentes do país, que faz milhões estacionarem no Big Brother ou na Caras e torcer para anônimos ou famosos se darem mal. Faço minhas (quase todas) as palavras da Ana:

VÃO ARRUMAR ALGO PRA FAZER. PELO AMOR DE DEUS. Vão trabalhar, vão ler pra ver se entra algo nesses espaços ocos que vocês chamam de cabeça, vão cuidar dos filhos de vocês para que eles não caiam da janela, vão cozinhar, vão votar no BBB. Vocês são a CABEÇA VAZIA do CORPO que é a SOCIEDADE

Eu até entendo que ela quer dizer que votar no BBB é melhor do que participar desse circo (e é), mas não custa olhar um pouco mais de longe e perceber que, no fundo no fundo, dá no mesmo.

Mas a parte de cuidar dos próprios filhos eu fiz questão de negritar. Eis uma preocupação que, graças à rotina, parece apenas uma amolação. Toda a merda dos Nardoni não aconteceu por outro motivo.

A cultura do remix

Conforme prometido ontem, segue meu capítulo do livro Para Entender a Internet, do Juliano Spyer. O livro é uma compilação digital de vários textos que buscam explicar conceitos básicos da natureza digital. Além do meu texto, o livro ainda conta com textos de Sérgio Amadeu sobre pirataria, André “Maratimba” Passamani sobre P2P, Carlos Merigo sobre propaganda, Raquel Recuero sobre redes sociais, Soninha sobre eleições e internet, Interney sobre blog, do Kazi sobre beta, Fábio Fernandes sobre cyberpunk, Cris Dias sobre capital social, Luli Radfahrer sobre mobilidade, Zé Murilo sobre ecologia digital, Felipe Fonseca sobre lixo eletrônico, Ana Brambilla sobre jornalismo colaborativo e Rodrigo Savazoni sobre exclusão digital, entre outros. Segue o meu texto abaixo, mas ele também se encontra aqui (com os devidos links para a expansão dos conceitos). O livro ainda não existe em papel, mas pode ser baixado em PDF aqui.

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Cultura do remix

O termo remix surgiu nos anos 70, quando produtores e DJs descobriram que era possível mexer na música depois que ela havia sido gravada. Um conceito de certa maneira novo, a pós-produção ajudou a maturidade do rock nos anos 60, quando, liderada pelos Beatles, toda uma geração se dispôs a alterar a própria obra com efeitos, superposições e modulações que podiam mudar sutil ou completamente o que havia sido registrado em estúdio. Mas o que o produtor americano Tom Mould descobriu quase sem querer que era possível aproveitar este novo recurso e aplicá-lo em um mercado ainda mais recente, o da disco music. Ele quem começou a explorar as possibilidades de uma mesma música ser esticada, às vezes por mais de dez minutos, caso fosse necessário. Ciente da novíssima habilidade dos DJs de Nova York no final dos anos 70 (que, sozinhos, começaram a grudar as músicas umas nas outras, juntando batidas semelhantes e encaixando as músicas umas nas outras), Mould percebeu que poderia ajudar a movimentação da pista de dança se fizesse discos que ajudassem o DJ – afinal, discos eram seus instrumentos. E assim foi inventando novidades como o breque instrumental no meio da música – que poderia ser usado ou para prolongar a duração da música, usando-se dois discos, ou permitir que uma nova música entrasse -, o single de 12 polegadas (com sulcos mais largos, em vez do compacto de sete) e, finalmente, o remix.

O conceito de remix, no entanto, não podia ficar limitado à pista de dança. Afinal, ele trata de um processo que começa a reverter o detalhismo cartesiano que categorizou o mundo em compartimentos tão diferentes que parece não ter conexões entre si. Aos poucos redescobrimos pontos em comum em áreas que antes julgávamos completamente alheias umas às outras – intersecções entre arte e dinheiro, ciência e religião, paixão e lucro – que nos fazem repensar completamente o cenário em que habitamos. Estamos, como Mould no final dos anos 70, descobrindo que existem formas de facilitar a vida de cada um dos DJs do mundo – e todo mundo é um DJ em potencial. Como tal, todo ser humano edita sua própria realidade a partir de sentimentos, conceitos, princípios e valores que são, voltando à metáfora, as canções que ele quer que o resto do mundo ouça. Com os recentes avanços tecnológicos que tivemos ao final do século passado, começamos a remixar a realidade de forma mais drástica e consciente, seja no controle remoto, no uso da internet e em tudo que consumimos.

Mais do que na música, que ainda mantém alguns setores completamente alheios ao remix, a realidade atual é completamente remixada. Entre as roupas customizadas e os carros tunados, há um sem-fim de produtos que estão sendo reinventados por seus consumidores – além de tantos outros produtos que foram feitos para ajudar as pessoas a criar, mais do que a simplesmente remixar. Se antes temíamos que a sociedade do consumo nos padronizasse e uniformizasse, estamos vendo um movimento bem diferente acontecendo hoje em dia – e a cada dia que passa, mais temos possibilidades disponíveis para alterar a nossa rotina.

Esse processo de remisturação é o oposto do que aconteceu, voltamos à música, quando o áudio começou a ser gravado. Artistas que nunca haviam aspirado o sucesso além de sua própria comunidade aos poucos se viram transformados em pequenas celebridades, vendendo um novo tipo de som novíssimo para o público em geral pelo único fato de ser gravado. Se antes a música popular era um processo coletivo, sem duração, gênero musical ou autoria definidos, à medida em que o século 20 amanhecia, surgiram novos astros de uma música que, devido a limitações técnicas (só era possível gravar três ou quatro minutos), passava a ter um tema só e começo, meio e fim. Assim surgiu o jazz, o blues, o tango, a moda de viola, o samba, o baião, a rumba, o country e o frevo, por exemplo, gêneros musicais que eram praticados na rua por todos que, quando um Robert Johnson ou Luiz Gonzaga chegava ao estúdio, era personalizado em um músico, quase sempre “o rei do tipo de música tal”.

Estabelecida com o advento da mesma inovação tecnológica que deu origem aos idiomas modernos, aos países, aos livros e ao jornalismo (a palavra impressa), a autoria, como todos estes conceitos anteriores, vem, no entanto, sofrendo uma drástica derrocada que acompanha os primeiros passos de uma nova consciência planetária. O meio ambiente, o capitalismo moderno e a cultura pop funcionaram como agentes cruciais no despertar dessa sensação de que todos nós somos responsáveis por todo o planeta. A internet só nos conectou. Encontrou um ambiente propício para acelerar a troca de idéias e de informação a ponto de tornar-se, em pouquíssimo tempo, no sistema nervoso da humanidade.

Do mesmo jeito que o gênio não é alguém que veio do nada e venceu por conta de seus próprios esforços (sempre procure o contexto de onde o sujeito veio antes de comemorar a vitória da individualidade), a criatividade também não pertence a um só indivíduo. E se o século 20 consolidou o conceito de autoria graças à várias revoluções tecnológicas do fim do século anterior (a fotografia, a rotativa, o gravador de som e de imagens – basicamente invenções ligadas ao processo de registro), a revolução tecnológica que assistimos hoje é baseada em exposição, distribuição e troca. Estamos dispostos a fazer o conhecimento planetário possa se tornar acessível a todos os seres humanos e temos cada vez mais consciência disso – como do nosso papel de agente desta distribuição, atuando como um DJ que, de acordo com as “músicas” (sentimentos, conceitos, princípios e valores) que escolhe, atinge um determinado tipo de público.