Como foi o show do Teenage Fanclub em São Paulo

, por Alexandre Matias


Teenage Fanclub – “Start Again” / “Sometimes I Don’t Need To Believe In Anything”

Foi demais.


Teenage Fanclub – “Don’t Look Back”

Pra começar, elogios ao Whisky Festival que, mesmo com seu nome genérico que causava a estranha sensação de estarmos numa redoma de ficção (sabe aquelas novelas em que aparecem, sei lá, umas Lojas Magazine ou Banco Monetário?), fez bonito ao fazer pequeno – e mirar num público bem específico.


Teenage Fanclub – “Baby Lee”

O evento, barato para os padrões de shows internacionais em São Paulo, aconteceu na mesma The Week que assistiu a uma abarrotada apresentação do Franz Ferdinand em 2009. Mas além do Franz ser um nome muito maior do que o Teenage, o evento anterior (houve outro show de rock ali desde então?) também foi a festa de uma marca de bebida, que, ingressos liberados pra geral, fez a boate da Lapa parecer uma panela de pressão, de tanta gente espremida.


Teenage Fanclub – “About You”

Ou seja: podiam socar mais gente, mas preferiram uma lotação que, embora esgotada, passou longe do insuportável. E o fato da banda ser pequena ajudou essa configuração – e a determinar o público da noite. Pequena sim: o Teenage Fanclub em 2011 pode até ser considerada uma banda de média escala se levado em consideração seu passado fonográfico, mas em comparação com outras bandas de hoje em dia, seu alcance é bem restrito e isso fez que a noite de quarta da semana passada fosse focada num segmento bem específico, tanto em termos de gênero musical escolhido (indie rock) e faixa etária (30-40). Não parecia coincidência aquela quarta ter sido a mesma que viu o Milo Garage renascer na Pompéia, longe da pequena Minas Gerais que fez sua fama.


Teenage Fanclub – “Star Sign”

O festival ainda tinha um trunfo particular para meu gosto etílico: a única bebida à venda era o destilado que batizava a noite, para desespero dos cervejeiros. Mas numa noite em que o público-alvo não era “xovem”, beber uísque não foi propriamente um drama para os incautos. Não era o meu caso. E o evento ainda acertou na mosca ao distribuir água mineral, em vez de vendê-la pela metade do preço de uma dose de uísque, como acontece normalmente em São Paulo.


Teenage Fanclub – “I Don’t Want Control of You”

Assim, o público estava longe de uma massa de trendsetters e wannabes fazendo pose uns para os outros e se reconhecia como integrantes de uma tribo cuja identidade coletiva se perdeu no tempo – os indies dos anos 90, que tomavam partido entre Blur ou Oasis, Goo ou Dirty, Nirvana ou Primal Scream e que hoje se espremem entre o indie corporativo (pós-Strokes) e o hipster. E o Lucio, que estava discotecando antes do show começar, preferiu optar por hits de hoje em dia em vez de apelar para o passado (como fez à medida em que o show se aproximava), causando tédio e não expectativa no público que esperava o Teenage.


Teenage Fanclub – “Mellow Doubt”

Dito tudo isso, resta o show, que, mesmo encantando de forma hipnotizante o público presente, não teve o mesmo pique dos shows que fizeram no Brasil em 2004. É a idade batendo no grupo que batizou-se adolescente. Isso reduziu a marcha das músicas que mais empolgaram, mas caiu bem nas faixas mais recentes, em especial as da segunda década de atividade do grupo. Mas se o ritmo já não solta faíscas, isso é compensado com o carisma da banda, incomparável. E bastou passear por uns poucos hits para saber o território em que estava pisando, puxando coros em uníssono, provocando sorrisos largos e corpos sendo carregados em câmera lenta.


Teenage Fanclub – “Sparky’s Dream”

Durante pouco mais de uma hora, tínhamos voltado aos anos 90 – quando tudo parecia tão menos complicado, mais sincero e feliz.


Teenage Fanclub – “The Concept”

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