Cinco Perguntas Simples: Hermano Vianna

, por Alexandre Matias

1) O disco (como suporte físico) acabou?
Acabou sim – e nao há volta.

2) Como a música será consumida no futuro? Quem paga a conta?
Qual conta? A das gravadoras? A do leite das crianças dos artistas? Há muitas experiências em andamento, dos pagamentos voluntários do Jamendo as parcerias com os camelôs do tecnobrega. Até agora a saída mais fácil tem sido os shows ao vivo – aí você me pergunta: e os compositores que não tocam ao vivo? Acho que vão ter que combinar com as bandas que tocam suas músicas outras maneiras de ganhar dinheiro. Mas acho que estamos caminhando para um estado no qual o “musicar” e mais importante que o produto final “música”. Tiro essa ideia do Gilbert Rouget, um antropólogo que estuda a música dos pigmeus há muito tempo: “O que o grupo tem obviamente em vista é o prazer de produzir a música coletivamente, muito mais que o produto em si mesmo. Em resumo, por mais inseparaveis que sejam, é o musicar que lhes importa, a música como resultado só aparece depois disso”. Por isso gosto do remix, mas por outros motivos. O importante não é o remix em si, mas a atividade de remixar – quanto mais gente remixando ao mesmo tempo mais a brincadeira fica melhor.

3) Qual a principal vantagem desta época em que estamos vivendo?
Variedade – todo mundo pode “musicar”.

4) Que artista voce só conheceu devido às facilidades da época em que estamos vivendo?
Muitos – só por causa do Overmundo, que existe há pouquíssimo tempo, já conheci o Umagoma, os Indios Eletronicos, o Stereovitrola, o Retrigger, o coletivo P.U.T.A., o Fungos Funk, o Pandora no Hako, e tanta gente bacana mais que seria difícil chegar na minha mão por outro caminho…

5) O estado da indústria da música atual já realizou algum sonho seu que seria impossível em outra época?

Quando eu li sobre house pela primeira vez em 1987 demorei varios meses para conseguir escutar o que era – ontem li pela primeira vez sobre a nova evolucao do juke, nova dance music de Chicago – já escutei tudo via internet – é uma maravilha, acho que quem nunca viveu sem internet nunca poderá dar o valor devido à nova situacao – para mim ainda parece um sonho.

* Hermano Vianna, antropólogo, é curador do Tim Festival, consultor da Rede Globo e mentor do Overmundo, além de autor de livros básicos como O Mundo Funk Carioca e O Mistério do Samba.