Máquina do Tempo: 1° a 30 de abril

marvin-gaye
1° de abril de 1984 – Morre Marvin Gaye

claranunes
2 de abril de 1983 – Morre Clara Nunes

jayz
3 de abril de 2008 – Jay-Z funda sua gravadora

beastie-boys
4 de abril de 1992 – Os Beastie Boys tocam com instrumentos pela primeira vez

kurt-cobain
5 de abril de 1992 – Kurt Cobain tira a própria vida

capitol-records
6 de abril de 1956 – A gravadora Capitol inaugura sua lendária sede

billieholiday
7 de abril de 1915 – Nasce Billie Holiday

massiveattack
8 de abril de 1991 – Massive Attack lança Blue Lines

fonautografo
9 de abril de 1860 – O som é registrado pela primeira vez

George-Harrison-Stu-Sutcliffe-John-Lennon
10 de abril de 1962 – Morre Stu Sutcliffe, o quinto beatle

Metallica-Mustaine
11 de abril de 1983 – Dave Mustaine é expulso do Metallica

rem-murmur
12 de abril de 1983 – R.E.M. lança seu primeiro álbum

catchafire
13 de abril de 1973 – Bob Marley lança Catch a Fire

public-enemy-nation-of-millions
14 de abril de 1988 – Public Enemy lança It Takes a Nation of Millions to Hold Us Back

rockforlight
15 de abril de 1983 – Bad Brains lança Rock for Light e inventa o hardcore

mc5
16 de abril de 1969 – O MC5 é expulso da gravadora Elektra

mccartney
17 de abril de 1970 – Paul McCartney lança seu primeiro disco solo


18 de abril de 2013 – Morre Storm Thorgerson, designer do Pink Floyd

leadbelly
19 de abril de 1937 – A revista Life descobre Lead Belly

avicii
20 de abril de 2018 – Morre o DJ Avicii

robert-smith
21 de abril de 2018 – Nasce Robert Smith

troggs
22 de abril de 1966 – Os Troggs lançam “Wild Thing”

yhf-wilco
23 de abril de 2002 – Wilco finalmente lança Yankee Hotel Foxtrot

fullmoonfever
24 de abril de 1989 – Tom Petty finalmente lança seu primeiro disco solo

parklife
25 de abril de 1994 – Blur lança o clássico do britpop Parklife

studio54
26 de abril de 1977 – É inaugurado o Studio 54, a meca da disco music

inhisownwrite
27 de abril de 1964 – John Lennon lança seu primeiro livro

itunes
28 de abril de 2003 – Apple lança a primeira loja de música online

gonzaguinha
29 de abril de 1991 – Morre Gonzaguinha


30 de abril de 1978 – Rock Against Racism reúne 100 mil em Londres

Máquina do Tempo: 1° a 28 de fevereiro

singles
1° de fevereiro de 1949 – A gravadora RCA lança o disco compacto

chico-science
2 de fevereiro de 1997 – Morre Chico Science

sinatra-reprise
3 de fevereiro de 1960 – Sinatra lança sua própria gravadora


4 de fevereiro de 1959 – Nasce Zeca Pagodinho


5 de fevereiro de 2007 – A Apple dos Beatles e a Apple de Steve Jobs chegam a um acordo

bob-marley
6 de fevereiro de 1945 – Nasce Bob Marley

crawdaddy
7 de fevereiro de 1966 – É lançada a revista Crawdaddy, pioneira em falar sério sobre música pop

television-marquee-moon
8 de fevereiro de 1977 – Television lança seu clássico Marquee Moon

beatles-ed-sullivan
9 de fevereiro de 1964 – Os Beatles tocam pela primeira vez no programa de Ed Sullivan e conquistam os EUA

tapestry
10 de fevereiro de 1971 – Carole King lança Tapestry


11 de fevereiro de 2012 – Morre Whitney Houston

rush-moving-pictures
12 de fevereiro de 1981 – O Rush lança Moving Pictures

Black_Sabbath
13 de fevereiro de 1970 – O Black Sabbath inventa o heavy metal

jacob-bandolin
14 de fevereiro de 1918 – Nasce Jacob do Bandolim

groupies-rollingstone
15 de fevereiro de 1969 – As groupies chegam à capa da Rolling Stone

iron-maiden-2000
16 de fevereiro de 1999 – O Iron Maiden apresenta sua formação com três guitarristas

pixinguinha
17 de fevereiro de 1973 – Morre Pixinguinha

mickjagger-brasil
18 de fevereiro de 2006 – Os Rolling Stones tocam pra 1,5 milhão de pessoas na praia de Copacabana

jarvis-michael
19 de fevereiro de 1996 – Jarvis Cocker invade o palco de Michael Jackson

rossini
20 de fevereiro de 1816 – O Barbeiro de Sevilha tem uma estreia caótica

pussyriot
21 de fevereiro de 2012- Pussy Riot apavora uma igreja na Rússia pra gravar um clipe anti-Putin

spice-girls
22 de fevereiro de 1997- Spice Girls conquistam os EUA

Eminem-The-Slim-Shady-LP
23 de fevereiro de 1999- Eminem lança The Slim Shady LP

grey-album
24 de fevereiro de 2004 – Mashup de Beatles com Jay-Z provoca desobediência civil digital

franksinatra
25 de fevereiro de 1995 – Frank Sinatra faz seu último show

daft-punk
26 de fevereiro de 2001 – Daft Punk lança seu clássico Discovery

walter-silva
27 de fevereiro de 2009 – Morre Walter Silva, o “Picapau”, que descobriu Elis Regina

u2-83
28 de fevereiro de 1983 – U2 abraça a política com seu disco War

Máquina do Tempo: 1° a 31 de dezembro

filth-fury
1° de dezembro – Os Sex Pistols falam “fuck” pela primeira vez na TV, Neil Young é processado pela gravadora por mudar seu som e Kenny G segura uma nota por 45 minutos

jjorgeben70
2 de dezembro – Rod Stewart chega ao topo plagiando Jorge Ben, Bowie lança seu primeiro single e o porco inflável do Pink Floyd escapa

brianepstein
3 de dezembro – Os Beatles conhecem Brian Epstein, é exibido o 1968 Comeback Special de Elvis e Bono recupera seu laptop perdido – com o disco novo do U2

deeppurple
4 de dezembro – Um incêndio inspira a faixa-símbolo do Deep Purple, o Led Zepellin anuncia seu fim e morre Frank Zappa

bobmarley
5 de dezembro – Bob Marley faz show dois dias depois de ser vítima de um atentado, Black Flag lança o primeiro disco e Adele ultrapassa Amy Winehouse

altamont
6 de dezembro – O festival de Altamont encerra os anos 60 de forma trágica, morre Leadbelly e Elvis Costello se casa com Diana Krall

otisredding
7 de dezembro – Otis Redding finaliza sua faixa-símbolo, os Beatles fecham sua Apple Store e Bowie aparece em público pela última vez

sargentelli
8 de dezembro – Nasce Sargentelli, morre John Lennon e o Metallica toca na Antártida

charlie-brown-natal
9 de dezembro – Vince Guaraldi põe jazz na trilha de Charlie Brown, o Chic chega ao topo das paradas e Ozzy sofre um acidente

cbgb
10 de dezembro – A fundação do CBGB’s, a morte de Otis Redding e a queda que quase matou Frank Zappa

velvet-underground-
11 de dezembro – O primeiro show do Velvet Underground, Jerry Lee Lewis casa-se com prima de 13 anos e Mariah Carey leva o ringtone de ouro

thedoors
12 de dezembro – O último show dos Doors, Ace Frehley quase morre eletrocutado num show e Mick Jagger vira Sir

pattismith
13 de dezembro – Patti Smith lança Horses, o semanário inglês Melody Maker acaba e Beyoncé lança um disco-surpresa

clash
14 de dezembro</strong> – O Clash lança London Calling, Os Embalos de Sábado à Noite estreia no cinema e morre Ahmet Ertegun


15 de dezembro – Dr. Dre lança The Chronic, morre Glenn Miller e Taylor Swift chega ao topo com seu 1989


16 de dezembro – O fim do The Who, o hit de Billy Paul e o seguro na língua de Miley Cyrus


17 de dezembro – Elvis Costello é banido do Saturday Night Live, Dylan chega à Inglaterra pela primeira vez e morre Captain Beefheart

keith-richards
18 de dezembro – Nasce Keith Richards, os Beatles iniciam sua última temporada em Hamburgo e Rod Stewart toca para 35 milhões de pessoas

madonna
19 de dezembro – Madonna ultrapassa Coldplay, Lady Gaga, Jay-Z e Kanye West, o roadie de Henry Rollins morre assassinado e Elton John emplaca seu primeiro hit nos EUA

adele
20 de dezembro – Adele chega ao topo de 2012, Joan Baez é presa por protestar contra a guerra e morre Reginaldo Rossi

psy
21 de dezembro – “Gangnam Style” é o primeiro clipe a bater um bilhão de views no YouTube, Elvis se encontra com Nixon e morre Júpiter Maçã

almirante
22 de dezembro – Morre o sambista e pesquisador Almirante, o pensamento vivo de Ronald Reagan em disco e a quase morte de um Motley Crue


23 de dezembro – É inaugurada a rádio pirata mais conhecida da história, Brian Wilson sofre um colapso nervoso e Ice Cube é expulso do N.W.A.


24 de dezembro – O último show dos Sex Pistols na Inglaterra, o primeiro show dos New York Dolls e o Nirvana começa a gravar seu primeiro disco

whitechristmas
25 de dezembro – “White Christmas”, o single mais vendido de todos os tempos volta ao topo das paradas e morrem Dean Martin, James Brown e George Michael


26 de dezembro – Paul McCartney “morre” em um acidente de carro e os Beatles o trocam por um sósia, The Wall chega ao topo das paradas de discos e morre Curtis Mayfield

showboat
27 de dezembro – Show Boat inaugura o musical moderno, Leonard Cohen lança seu primeiro álbum e o Led Zeppelin, seu segundo


28 de dezembro – Dennis Wilson, dos Beach Boys, morre afogado no mar, Elvis Presley toma LSD e um câncer violento mata Lemmy

cassia
29 de dezembro – Morre Cássia Eller, o casal do Jefferson Airplane se separa e Aimee Mann casa-se com Michael Penn

frank-sinatra
30 de dezembro – Sinatra torna-se o primeiro ícone adolescente do mundo, o fim do Emerson Lake & Palmer e George Harrison é esfaqueado

rodstewart
31 de dezembro – Rod Stewart faz o maior show ao ar livre do mundo, o fim do Max’s Kansas City e Paul McCartney torna-se Sir

Courtney Barnett ♥ INXS

Courtney-Barnett

Enquanto esperamos por seu novo disco, Tell Me How You Really Feel, nossa musa australiana Courtney Barnett declara mais uma vez seu amor por seus conterrâneos do INXS ao regravar a balada “Never Tear Us Apart” para uma campanha da Apple.

Não é a primeira vez que ela celebra a banda do falecido Michael Hutchence: em 2014 ela fez um show inteiro em homenagem à banda, regravando o clássico Kick, de 1987.

E se a Apple comprar a Disney?

Apple-Disney

Um velho boato começa a ganhar força e agora vem com cifras: a Apple, uma das maiores empresas de tecnologia do mundo, poderia comprar a Disney, uma das maiores empresas de conteúdo do mundo, por US$ 200 bilhões – virando uma empresa de um trilhão de dólares. Mas as cifras são a parte menos preocupante, como explico no meu blog no UOL.

A revista Variety acaba de tornar público para o resto do planeta uma avaliação de um relatório de economia que pode mudar completamente os rumos do entretenimento, da cultura e da tecnologia num futuro bem próximo. De acordo com uma análise feita pela empresa RBC Capital Markets, a Apple, uma das principais empresas do mundo, poderia comprar a Disney por US$ 200 bilhões. E como se esse número não fosse assustador o suficiente, tal compra poderia fazer a empresa fundada por Steve Jobs na primeira corporação a valer um trilhão de dólares. UM TRILHÃO DE DÓLARES! Permitam-me contar os zeros: US$ 1.000.000.000.000!

Mas os números ficam pequenos comparados com o mundo que pode ser redesenhado a partir desta negociação. Uma das principais empresas de conteúdo do mundo – dona, não apenas de todo o universo criado ou cooptado por Walt Disney no decorrer do século vinte, mas também de multiversos bilionários inteiros, como a Pixar, a Marvel e a Lucasfilm – seria administrada por uma das principais empresas de infraestrutura tecnológica doméstica – e a empresa mais orgulhosa de seu universo fechado. A mesma lógica que torna seus iPhones, iMacs, Apple TVs e todos os tipos de aparehos sedutores e funcionais é a que a transforma no universo mais fechado do mundo digital, dando cada vez menos permissões para seus usuários interagirem com seus próprios produtos. Uma empresa que é constantemente acusada de programar a obsolescência de seus próprios aparelhos para que seus clientes tenham de comprar outros novos, como de censurar conteúdo digital em suas próprias dependências e dispositivos.

É um mundo cada vez mais conectado e cada vez mais controlado e se essa negociação se tornar realidade, provavelmente estaremos assistindo ao primeiro grande titã do mercado deste novo século. A transação, que não poderia ser realizada rapidamente por uma série de questões fiscais e legais, daria início a uma nova era de compras e megafusões. Imagine se o Google comprar o Facebook (ou vice-versa?), por exemplo. Estamos caminhando rumo ao 1984 cogitado por George Orwell? Ainda é apenas um rumor, mas já cogitaram. E com números.

Trocando cores de marcas concorrentes

E se o Yahoo usasse as cores do Google? Se o Mastercard tivesse as cores do Visa? Ou o McDonald’s tivesse as cores do Subway? Eis o interessante experimento iniciado pela designer catalã Paula Rúpolo em 2013, que acaba de ser revisitado. Separei algumas trocas de cores de marcas abaixo.

E tem outras lá no site dela.

O dia em que Taylor Swift desafiou a Apple

taylor-swift-1989-

Traduzi a carta pública em que Taylor Swift explica à Apple que estava tirando seu disco mais recente do novo serviço de streaming da empresa, o Apple Music, lá no meu blog do UOL.

Os polêmicos mamilos de Juçara Marçal

encarnado

O melhor disco de música brasileira do ano passado foi barrado no iTunes porque tava com os peitos de fora. Encarnado, de Juçara Marçal, não pode exibir seus peitos por puro preconceito da loja digital de Steve Jobs. Kiko Dinucci, autor da capa e cúmplice de Juçara em um monte de coisa boa, inclusive em Encarnado, meteu a boca na segunda-feira:

O assunto é:
Mamilos femininos!
Amanhã a Juçara Marçal lança pelo Laboratório Fantasma o disco Encarnado em várias plataformas de streaming.
Sairia para venda no ITunes também se eles não censurassem a capa por conter “mamilos” a mostra.
Sempre que faço arte pra capa de disco, penso em”arte”, a capa é a extensão da arte que é o disco como um todo.
Que autoridade eles têm de proibir uma arte por mostrar um mamilo? O mamilo, todos sabem, é só um pedaço do corpo, a primeira coisa que uma criança sente e põe a boca quando nasce.
O ITunes sugeriu fazermos outra capa, a Juçara se negou. Como a capa de um disco para o ITunes é somente a embalagem de um produto, pra eles pouco importa esse papo de arte, por moralismo, machismo ou simplesmente burrice, perderam a chance de vender um dos discos mais premiados e aclamados do ano passado pela crítica em nome desse tempo horrível de caretice e desamor.

E emendou na quarta:

Sobre esse lance da censura da capa do Encarnado, uma coisa ficou bem clara, as regras não são as mesmas pra todo mundo. Discos ligados a gravadoras grandes podem botar seus seios nas capas sem nenhum problema. Antes de parecer moralista, machista ou que quer que seja, a postura do ITunes me parece, antes de qualquer coisa, perseguição contra os discos ligados ao mercado alternativo.
Diretamente do país onde só os pobres são presos.

E citou exemplos que só não fazem rir mais porque o assunto é sério:

Lamentável, mas esse é um dos dramas do mundo digital, o tiquezinho no “eu aceito” quando você passa o mouse rapidinho por aquele calhamaço digital de termos e condições de uso. E a regra do jogo é a regra do dono, é o capitalismo em estado mais latente, não adianta bater de frente. Tem que fazer como o Kiko e a Juçara fizeram: caíram fora e não deixaram barato. Aos poucos a gente vai aprendendo…

Da BBC pra Apple

zanelowe

A Apple anunciou o que talvez seja sua ação mais esperta desde os tempos em que Steve Jobs era vivo. Se novidades como o relógio de pulso inteligente ou a compra da grife de fones de ouvidos de Dr. Dre não fizeram mais do que mexer algumas sobrancelhas em relação ao futuro da empresa, a contratação de um dos DJs mais importantes do rádio mundial atual é uma decisão mais do que acertada.

Zane Lowe talvez seja um dos melhores bens da decana BBC: um produtor e apresentador de rádio conhecido por seu vasto conhecimento pop, uma erudição crítica que convida os ouvintes mais rasteiros a pertinentes análises de nossos tempos e um carisma capaz de deixar nomes de diferentes estaturas no cenário pop mundial completamente à vontade. O anúncio de sua ida da BBC pra Apple não é apenas uma baita perda pra estatal de mídia inglesa, mas aponta um interessante futuro para a abordagem da Apple em relação à música.

Pois a compra da marca de fone de ouvidos Beats mexeu com o mercado mas deixou analistas suspeitos em relação àquela transação: muitos criticaram o fraco desempenho técnico dos fones de ouvido de Dr. Dre e reforçaram o fato de eles funcionarem mais como uma grife do que como uma empresa de tecnologia de áudio. Junto com os fones de ouvido veio também o serviço de streaming da empresa, que talvez seja onde a Apple esteja mirando – afinal a empresa comprou uma empresa de hardware que já traz seu próprio serviço digital embutido. E se lembrarmos que a Apple ainda não lançou seu serviço de streaming, as coisas começam a fazer ainda mais sentido.

E agora a contratação de Zane Lowe. Talvez a Apple não esteja apenas pensando num serviço de assinatura de áudio pura e simplesmente, mas queira usar sua grife para atrair nomes que possam fazer curadoria – e dar personalidade – para, quem sabe, reinventar o rádio. Se for isso, ponto pra eles.

Refletor #004: Satisfação Instantânea?

u2

Na minha coluna para o Brainstorm9 dessa semana, eu falei da inusitada forma como o U2 lançou seu novo disco, Songs of Innocence.

Satisfação Instantânea?
A Apple e o disco do U2 que apareceu no seu computador

Todos rimos quando, no início do mês, a Apple anunciou que daria para todos seus clientes o novo disco do U2 de graça. A princípio o riso era mais um desabafo mau humorado em relação à transformação destas duas marcas – Apple e U2. As duas começaram desbravando novas fronteiras em seus territórios e décadas depois se tornaram o contrário do pregavam antes.

A Apple de Tim Cook é o U2 do século 21: previsível, insosso, preocupado com os tempos modernos mas completamente convencional. Seu novo relógio de pulso não conseguiu instigar nossa curiosidade como Steve Jobs bem temperava qualquer mudancinha em sua linha linha de produtos, todos saudados como o Próximo Passo em Direção à Melhor Perfeição Possível. Sem Jobs, o Apple Watch parece o comunicador de pulso do Dick Tracy, um pequeno trambolho quadrado no pulso.

Já o fulgor carismático de Steve Jobs morreu no U2 lá pelo fim do século passado, quando saíram de um limão prateado na turnê do disco Pop. Na turnê deste disco, de 1997, a banda se autoironizava ao decorar seu palco com um único arco dourado do McDonald’s, assumindo de vez uma versão corporativa de si mesma que no início daquela década (entre suas obras-primas Achtung Baby, de 1991, e Zooropa, de 1993) era só mais uma persona da banda de Bono.

É exatamente neste período em que Bono começa a se descolar do U2, misturando-se entre políticos internacionais como uma espécie de aval artístico que qualquer projeto social ou ambiental – governamental ou não – precisava para ajudar no marketing. Se o U2 virou uma caricatura sonora de si mesmo, Bono encarnou um estereótipo deformado do terceiro setor, investidor de startups e defensor dos animais, presente em qualquer encontro cívico ou esportivo como “o cara da música”.

Nos anos Bush, Bono representava a visão neocon daquilo que deveria ser a esquerda, uma chatice conveniente, mas facilmente descartável. Sua chatice politicamente correta atingiu níveis monumentais e ofuscou qualquer tentativa de sua banda de sair do mesmo lugar (não foram muitas, convenhamos).

Aí os dois se juntam para lançar dar, de graça, o novo disco do U2, Songs of Innocence, para quem quer que já tenha comprado qualquer tipo de conteúdo através da loja online da Apple.

Mas, espera aí, música de graça? Vamos (re)ver o momento em que Bono e Tim Cook conversam sobre o novo anúncio

Bono: Há rumores que o U2 não fez nenhum disco nos últimos cinco anos, mas isso é não é verdade. Nós fizemos alguns discos, só não os lançamos. Estamos fazendo isso o tempo todo. É o que fazemos. Assim, queríamos esperar até que tivéssemos um que fosse tão bom quanto nossos melhores trabalhos – tão bom quanto o melhor que já fizemos.
Tim Cook: Você sabe que nós nos sentimos da mesma forma sobre nossos produtos.
Bono: Nós somos o sangue em suas máquinas oh mestre zen do hardware e software Tim Cook. Olha, na semana passada nós terminamos nosso disco, chama-se Songs of Innocence. Estamos bem animados. A questão agora, mestre zen, é como nós conseguimos atingir o maior público possível ,pois é isso que nossa banda faz?
Tim Cook: Nós somos os primeiros no mundo a ver isso?
Bono: Sim.
Tim Cook: É um white label?
Bono: É isso aí um white label. E a dúvida é que acho que você pode nos ajudar – como conseguimos chegar ao maior número de pessoas possível?
Tim Cook: Bem, temos o iTunes.
Bono: Acho que você tem mais de meio bilhão de usuários no iTunes. Você pode fazer isso chegar neles?
Tim Cook: Claro que sim.
Bono: Você conseguiria, em cinco segundos, apenas apertando um botão “send” mágico da Apple, fazer isso?
Tim Cook: Se dermos o disco de graça…
Bono: Mas antes você vai ter que pagar. Porque nós não estamos nessa de música de graça por aqui.
Tim Cook: Já ouvi dizer que sou um bom negociador.
Bono: Você consideraria dar Songs of Innocence de graça para mais de meio bilhão de pessoas em cinco segundos a partir de agora?
Tim Cook: Sim, podemos. Apertamos um botão e demorará um pouco mais para ir para toda a internet. Mas isso pode começar em cinco segundos.
Bono: Deixa eu ver se entendi, o novo disco do U2 Songs of Innocence irá chegar de graça para meio bilhão de pessoas nos próximos cinco segundos. 5, 4, 3, 2, 1. Uau! Isso é que satisfação instantânea.

Bono parece estar sendo irônico, mas não está. Ele não está dando música de graça para os clientes da Apple. Depois do anúncio soubemos que a música não veio assim de graça – a Apple havia comprado os MP3 da banda para colocá-los no software loja iTunes para seus mais de 500 milhões de clientes em 119 países. Quanto custou? Cem milhões de dólares. Motivos de sobra para o U2 rir sozinho.

Mesmo que, logo em seguida ao anúncio, continuassem rindo deles. Jovens querendo saber quem hackeou seus aparelhos e enfiou músicas de um tal U2 em seu sistema operacional. Na outra ponta, velhos fãs da Apple que não suportam a banda irlandesa devido ao excesso de Bono das últimas décadas que se viram, de repente, com aquela banda chata no meio de sua seleção de artistas cuidadosamente escolhida. A reação foi tamanha que a própria Apple criou um site que permitia deletar o disco de seu sistema operacional.

Sobravam motivos para considerar o anúncio do U2 com a Apple um erro de marketing, como alguns disseram. Até que as vendas começaram.

Vendas? Mas o disco não veio de graça?

Sim, mas os inúmeros fãs da Apple ou do U2 que não sairam reclamando dos dois nas redes sociais não acharam má ideia aquele novo disco da banda de surpresa em seus sistemas operacionais. Uns não conheciam a banda, outros nem lembravam dela. Bastou Songs of Innocence aparecer de graça para que muitos começassem a fuçar o catálogo passado do grupo.

E na primeira semana após o anúncio, nada menos que 24 títulos da banda voltaram ao Top 200 do próprio iTunes – estes foram comprados em vez de baixados de graça. Os discos The Joshua Tree (1987), Achtung Baby (1991), War (1983) e duas coletâneas de singles, Uma delas, U218, chegou ao top 10 no iTunes em 46 países.

Apple e U2 podem não ser mais os líderes de inovação e contestação que já foram no passado, mas a convergência das duas marcas abriu um mercado de ressurreição de catálogo que já vem sendo explorado em box-sets de CD, reedições em vinil, playlists de programa de streaming. A banda irlandesa e a empresa norte-americana deram um passo a mais nesse mercado – e talvez começaremos a receber mais “discos de graça” sem que queiramos em nossos aparelhos.

Será que estamos vendo o nascimento de um novo tipo de spam?