Antes de falar de Inception

, por Alexandre Matias

Se você é daqueles que fica de mimimi quando eu fazia as terças-feiras de Lost ou reclama que eu tou postando muita foto de mulher gata (!?) ou não suporta quando eu fico monotemático, um conselho: vaze. Durante esta semana, dedicarei boa parte do Trabalho Sujo a cortejar Inception, novo filme de Christopher Nolan que, de cara, não é o melhor filme do ano – este trunfo ainda segue com Toy Story, cuja terceira parte nos humilha com uma aula magna de cinema com cenas de apertar o peito (o close em Woody quase na última cena é a prova mais recente da máxima de Hitchcock – que só o diretor importa e ator é gado).

Mas Inception é importante por outros motivos. Primeiro, porque ao mesmo tempo consagra e ultrapassa a tendência onipresente da ficção científica no imaginário do século 21 (comentei sobre isso na minha coluna de ontem no Caderno 2). Consagra da mesma forma que Fringe e Lost, criando equipamentos e engenhocas claramente pseudocientíficas, quase caricaturas de tecnologias com explicações quaisquer, mais como uma homenagem ao gênero do que como invenção – chame de metaficção científica se quiser, eu acho melhor não. E ultrapassa porque cruza uma fronteira ainda tênue tanto à ciência quanto à ficção – e, portanto, de nossas rotinas: a natureza do sonho.

Só por isso, Inception já seria motivo de análise. Mas o filme de Christopher Nolan vai além e provoca a audiência com um filme, teoricamente, complexo. Mas, uma vez assistido, ele não é tão difícil assim. Sim, há narrativas sobre narrativas, mas da mesma forma, há um grupo fixo de poucos personagens que vão sendo apresentados à medida em que se afunda num novo nível da história, mas sem que eles mesmo sejam aprofundados psicologicamente. Cada personagem é rotulado com uma função e a segue por todo o filme, aconteça o que acontecer. Ariadne, a personagem de Ellen Page, é colocada na função de iniciante apenas para que o espectador possa ser conduzido por ela – como Dorothy, Alice, Neo ou o protagonista dos livros de Castañeda, somos nós mesmos iniciados na arte-ciência-trabalho de Dom Cobb, o personagem de Leonardo Di Caprio. Mais do que um filme difícil, Inception é como ele mesmo um quebra-cabeças, brincadeira que Nolan já havia feito ao transformar seu filme anterior ao último Batman (chamado The Prestige/O Grande Truque) numa pequena peça de ilusionismo. Mas se no filme com Bale e Jackman ele opta pela distância entre a verdade e a aparência, no filme deste ano ele nos questiona sobre a natureza da realidade. E brinca com a complexidade apenas para nos preparar para entendermos mais do que precisamos.

Por isso, se você já assistiu ao filme, comente à vontade aí embaixo. Depois eu vou juntar tudo num mesmo post, que vai se atualizando durante a semana, como eu fiz no final de Lost. Mas se você ainda não assisti, nada tema: o pouco que contei do filme nesse texto de apresentação conta menos do que você já sabe pela sinopse e pelo trailer – e vou me segurar um pouco antes de começar a falar do filme em si. Antes disso, começo uma contagem regressiva até às 4:20 (a hora do kick) desta tarde que lista algumas obras aparentadas de Inception. Tudo inofensivo para quem ainda não assistiu ao filme.

Depois, mais pro final do dia até o início da madrugada de terça, dou início a outra listagem de referências, antes de começar a debater o filme em si, falando sobre sonhos e realidade, fora da ficção. Na terça, reservo o dia para os spoilers e passo a enumeras as montagens, teorias e hipóteses do filme – inclusive as suas. Por isso, se você ainda não o assistiu, tire o dia de hoje para vê-lo ou desligue suas conexões com o saite durante esta semana. Claro que no meio virão as T-girls, o Vida Fodona, o Link, os 4:20 e outras coisas que sempre aparecem (além, claro, das notícias), mas por dedico esta semana inteira a um dos grandes filmes do ano.

E aí, o que você achou?

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